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Capítulo 2 – A QUALIDADE DO ENSINO SUPERIOR NO CONTEXTO

2.8 Resumo

Este capítulo teve como objectivo contextualizar o ensino superior na actual crise a nível mundial deste nível de ensino, atendendo à complexidade e diversidade crescentes dos sistemas de ensino superior modernos, bem como, a sua qualidade.

É reconhecido por diversas organizações mundiais, que o ensino superior vive actualmente um ambiente global dinâmico, onde se destacam, para além de outros, pelo menos quatro aspectos a ter em conta de acordo com o Word Bank (2002): o conhecimento como factor-chave do desenvolvimento; o mercado laboral de âmbito

garantia da qualidade que dependem de um sistema melhorado de informação e avaliação, e estabeleceram novas normas para o financiamento das Instituições de Ensino Superior públicas tendo em conta indicadores de eficiência e equidade (Mundet, 2003). Cerca de vinte países em transição e desenvolvimento implementaram sistemas de acreditação, enquanto que outros estabeleceram comissões de avaliação ou organismos para a realização de estudos externos. Em muitos casos, constituíram-se novos organismos. Ainda que a organização mais frequente consta de um só entidade a nível nacional, em alguns países, como a Colômbia e o México, são distintas as entidades, que se encarregam de diferentes instituições, regiões, objectivos e tipos de programas académicos. Tais variações nas abordagens referentes aos organismos de garantia da qualidade reflectem, as preferências politicas e culturais de cada país, as diferenças próprias dos governos e as etapas de desenvolvimento em que se encontram os sectores do ensino superior. O alcance da responsabilidade concedido aos sistemas de garantia de qualidade sofrera grandes variações. Na Escócia e na Inglaterra, por exemplo, utilizam-se procedimentos para vigiar a efectividade do ensino, enquanto que em Hong-Kong (China) a abordagem dirige-se a processos de gestão da alta qualidade. Alguns países, como o Chile, instalaram sistemas de atribuição de licenças de funcionamento (autorização) de novas instituições e certificação de credenciais educativas. Outros têm orientado os seus esforços a premiar a produtividade da investigação que seja realizada por académicos individuais (como no México) ou por faculdades (como no Reino Unido). Também se observa uma ampla variação na forma como os organismos de garantia da qualidade conseguiram abordar os problemas relacionados com a mobilidade de estudantes e os estudos no exterior. Os países e organismos diferem no que respeita às inquietudes relativas à expansão das novas modalidades educativas, incluindo

internacional; as novas tecnologias da informação e da comunicação; e as transformações sociais e políticas globais.

Por outro lado, em nenhum outro momento da história foi mais importante, o investimento na educação superior, devido à sua condição de força primordial para a construção da sociedade do conhecimento integradora e para promover a investigação, a inovação e a criatividade.

A formação ministrada pelas Instituições de Ensino Superior orientada para o Desenvolvimento Socioeconómico e Humano deve estar em consonância com as necessidades sociais, as quais devem ser identificadas antecipadamente. Daí que seja imperioso a promoção da investigação, a implementação de novas tecnologias, a garantia da oferta de formação técnica e profissional, a educação para o empreendedorismo68, programas de aprendizagem ao longo da vida e a disponibilização de sistemas nacionais de acreditação e garantia da qualidade de estudos.

Deste modo, existe um conjunto de aspectos, a ter em conta; Gardner (2002) refere os seguintes: o Sistema Nacional de Inovação, a formação de Capital Humano, a aprendizagem contínua, o reconhecimento internacional de graus académicos e a coesão social.

Nas últimas décadas muitos países experimentaram uma extraordinária diversificação nos seus sectores de ensino superior. Surgiram diversas instituições novas - por exemplo, as instituições para estudos de curta duração, as instituições politécnicas, as universidades abertas, os centros de ensino a distância – as quais proporcionam novas oportunidades para a satisfação da procura social crescente.

Novos actores e novas instituições surgiram no mercado do ensino superior sem fronteiras, é o caso das Universidades Virtuais (Virtual Universities), as Universidades em Regime de Franquia (Franchise Universities), as Universidades Corporativas (Corporate Universities) e outras instituições69 e intermediários académicos.

Novas modalidades de organização e funcionamento ocorreram no mundo das Instituições de Ensino Superior, onde sobressaem cinco aspectos considerados

68 Refere-se ao processo dinâmico realizado pelo indivíduo que, por iniciativa ou vontade própria, procura identificar,

analisar, planear e implementar produtos ou serviços comercializáveis de base tecnológica, considerados como oportunidades de negócio.

relevantes (Garder, 2002): os novos programas educativos e novos públicos, a organização e gestão, os métodos pedagógicos, a infra-estrutura e a profissão de docente.

A educação é um processo complexo pelo que, as Instituições de Ensino Superior deverão estar cada vez mais conscientes da importância que tem a melhoria da qualidade das suas diversas actividades.

A qualidade do ensino superior70 e da formação deverá ser um objectivo dos países e não só uma mera resposta formal e obrigatória às avaliações externas. Contudo, o conceito de qualidade do ensino superior não é um conceito unívoco e fixo, pelo que deve ser construído através de consensos e negociação entre as diversas partes envolvidas. De acordo com especialistas, o conceito de qualidade é uma construção social, que varia segundo os interesses dos grupos envolvidos que reflectem as características da sociedade que se deseja para hoje e que se projecta para o futuro.

A qualidade do ensino superior é um conceito complexo e multidimensional (UNESCO, 1998), isto é, a qualidade, fenómeno complexo (Bernheim & Chaui, 2003), refere-se, neste caso, a todas as suas funções e actividades principais destacando-se: a qualidade do ensino, da formação e da investigação; o que significa a qualidade do capital humano e dos programas, e qualidade da aprendizagem, como corolário do ensino e da investigação. Contudo, há que ter a consciência que a procura da qualidade, tem muitas facetas e vai mais longe do que uma interpretação demasiado simplista, da função de docência dos diversos programas. Pressupõe, também, portanto, que se preste atenção às questões referentes à qualidade dos estudantes e das infra-estruturas e ao meio envolvente da instituição. Todas estas questões relacionadas com a qualidade, e com o interesse por alcançar uma boa direcção e gestão, desempenham um papel importante no tipo de funcionamento de uma determinada instituição, na sua avaliação e na imagem institucional que pode projectar na comunidade docente e na sociedade em geral.

Ao longo do tempo, com algumas excepções, a qualidade e pertinência do ensino, da investigação e da aprendizagem têm vindo a decair nalgumas Instituições de Ensino Superior, em particular, nos países em desenvolvimento.

São muitas as Instituições de Ensino Superior, que funcionam com excesso de serviços e em condições de deterioração física, com recursos bibliográficos escassos e desactualizados, equipamentos e materiais de ensino insuficientes, currículos ultrapassados, docentes não qualificados e estudantes do ensino secundário com preparação deficiente, para além da falta de rigor académico e de uma avaliação sistemática do desempenho.

Os problemas da qualidade e pertinência não se circunscrevem unicamente às instituições de ensino tradicionais. Inclusivamente, os países que contam com uma estrutura diversificada de ensino superior, a pertinência, pode converter-se num problema grave se não existir a articulação adequada entre as Instituições de Ensino Superior e o mercado de trabalho.

Também, muitos dos países que duplicaram ou triplicaram o número de estudantes no ensino superior tiveram que enfrentar os efeitos negativos desta rápida expansão na qualidade do ensino. Os problemas de garantia da qualidade e melhoria da qualidade converteram-se num assunto prioritário (El-Kwawas, De Pietro-Jurand & Holm-Nielsen, 1998).

No caso de Portugal, o Governo solicitou uma avaliação internacional do sistema de ensino superior à OCDE (para além da avaliação da OCDE houve, também, a avaliação conduzida pela ENQA sobre o sistema de garantia de qualidade, bem como as avaliações institucionais desenvolvidas pela EUA - European University Association, sendo exemplos para a mudança estruturada e organizada com base na experiência internacional), tendo esta organização proposto algumas recomendações (devendo a reforma do sistema, segundo a OCDE, ser integral e profunda, assim como bem fundamentada), decorrentes do processo de avaliação solicitado, que se agrupam em seis grandes tópicos: a coordenação e gestão do sistema; a governação e estatuto legal; o financiamento e eficiência do sistema; o acesso e equidade; a qualidade e excelência nos sistemas de ensino superior e de ciência e tecnologia; e a abertura das instituições à sociedade.