O papel das associações profissionais

As associações profissionais são comumente entendidas como agentes de reprodução e não de mudança. Através das rotinas de licenciamento, treinamento e desenvolvimento profissional e na monitorização e disciplinamento do comportamento, as associações agem para apoiar as convenções e os valores existentes. As práticas mais utilizadas transformam-se em rotinas organizacionais das associações e, na medida em que as rotinas permanecem inalteradas, as lógicas institucionais codificadas são reproduzidas. No entanto, as rotinas não impediram a reconceituação radical tanto dos limites das profissões quanto dos modelos adequados de or-

das por rotinas é uma simplificação (Greenwood, Suddaby, & Hinings, 2002).

Em um campo organizacional altamente institucionalizado, o papel das associações profissio- nais em processos de mudança, ao contrário, pode ser significativo na legitimação dessas mu- danças. As associações profissionais são, na verdade, agentes reguladores importantes. Ao contrário do que se observa acerca de seu papel institucional, que revela o lado essencialmen- te conservador das associações, como no reforço a prescrições existentes sobre a conduta a- propriada, o papel das associações em momentos de desinstitucionalização e mudança pode revelar posição de vanguarda (Greenwood, Suddaby, & Hinings, 2002).

As associações podem contribuir para as mudanças legitimando esses processos através da adoção de um discurso no qual a mudança é debatida e aprovada. Esse fenômeno ocorre por meio da negociação e gestão de debates dentro da profissão e pela reformulação das identida- des profissionais. Essa reformulação se refere a forma como os profissionais são apresentados a outras pessoas fora da profissão (Greenwood, Suddaby, & Hinings, 2002).

As associações profissionais são motivadas pela crença de que elas podem melhor controlar o nível de qualidade dos profissionais, bem como a entrada de pessoas na profissão, através do estabelecimento de um programa de certificação profissional. Este tipo de atividade de contro- le é percebido como um impedimento contra profissionais incompetentes. É a este nível de controle que o motivo para um programa de certificação profissional começa a ser guiado pelo desejo de melhorar a profissão, constituindo-se assim em elemento de aprimoramento e mudança. (Galbraith & Gilley, 1986).

As associações profissionais são arenas através das quais os profissionais interagem e coleti- vamente representam-se a si mesmos. Elas são espaços que possibilitam a construção de re- gras que delineiam o domínio de uma profissão. Profissões não são necessariamente comuni- dades homogéneas. A tomada de decisão dentro de uma profissão pode, assim, ser um proces- so político em que os interesses concorrentes de subcomunidades são reconciliados e subju- gados em uma base contínua. A qualquer momento, profissões apresentam um consenso tem- porário. Um papel importante da associação profissional é, assim, a construção e manutenção

de acordo intraprofissional sobre as fronteiras, a adesão e comportamento (Greenwood, Sud- daby, & Hinings, 2002).

Conforme Galbraith e Gilley (1986), as associações profissionais também começaram a ex- plorar o processo de credenciamento em um esforço para determinar a competência dos seus profissionais. Em 1979, a Sociedade Americana de Associação de Executivos (ASAE) infor- mou que mais de 450 associações estavam oferecendo programas de certificação. As associa- ções desenvolveram programas de certificação para atender vários objetivos:

a. Para aumentar a visibilidade da associação;

b. Para aumentar o reconhecimento dos trabalhadores por elas qualificados; c. Para melhorar o desempenho e as qualificações dos membros;

d. Para aumentar o prestígio da associação e dos seus membros.

As associações profissionais têm reconhecido a outro propósito de certificação profissional como sendo um impedimento para níveis elevados de atrito. Muitas têm desenvolvido e utili- zado programas de certificação profissional para estabilizar sociedades e impedir seus mem- bros de serem recrutadas por outras associações profissionais, que é referido como "caniba- lismo". Uma vez que muitas associações profissionais podem representar o interesse e o al- cance de uma determinada profissão, a certificação profissional é muitas vezes vista como uma vantagem competitiva distinta para admitir e reter sócios (Galbraith e Gilley, 1985).

Mais de 400.000 profissionais americanos, atuantes em laboratórios clínicos já foram certifi- cados pela sua associação profissional, que promove a saúde e segurança do público por meio da certificação de profissionais de laboratório competentes e também mantem um registro dos certificados. Resultados de estudos apresentam evidências de que a atividade de certificação pode ajudar a diminuir a intenção posterior em deixar uma ocupação. Um mecanismo para explicar este comportamento pode ser o fato de a atividade de certificação representar uma forma de investimento na ocupação. Investimentos são fatores identificáveis que podem obri- gar uma pessoa a continuar um curso de ação, porque a cessação irá resultar na perda de bene- fícios (Blau, et. al, 2006).

Ainda outra finalidade para programas de certificação profissional é a crença popular de que este processo é estabelecido na expectativa de evitar regulamentações governamentais exter- nos e / ou ação legislativa. No entanto pesquisas indicam que 93 por cento das associações e sociedades pesquisados não iniciam ou aceleram os seus programas de certificação profissio- nal em antecipação de tal ação. Independentemente desta evidência de pesquisa, muitas asso- ciações continuam a manter a crença de que programas de certificação profissional devem ser desenvolvidos para evitar a intervenção governamental (Galbraith & Gilley, 1986).

As associações profissionais visualizam ainda programas de certificação profissional como uma forma de aumentar as receitas das associações ou rendimentos pessoais. Um aumento de receita para a associação é realizado como resultado das taxas cobradas para a participação na certificação programa. As despesas com a administração do programa, como os custos de promoção, custos operacionais, e taxas legais são compensados através deste aumento das receitas. Algumas associações profissionais até mesmo geram um lucro que pode reduzir ain- da mais as despesas operacionais totais da associação ou fornecer receitas para serviços adi- cionais (Galbraith & Gilley, 1986).