• Nenhum resultado encontrado

Passé composé Pretérito perfeito e Passé Simple

3.4 Os tempos do passado

3.4.2. Passé composé Pretérito perfeito e Passé Simple

O PC - pretérito perfeito tem o valor fundamental de “acabado do presente”, e por essa razão, ele gera um efeito de proximidade, de contato entre o passado com o presente (um prolongamento no presente). Tal proximidade/distanciamento do

presente tem relação com a instância do enunciador, é o tempo do discurso. Como tempo composto, o PC expressa o acabado e a anterioridade a um outro processo com o qual ele é colocado em relação.

O PC é o tempo mais usado no cotidiano da língua francesa, pois se refere ao momento da enunciação dos sujeitos participantes do discurso. É sempre bom lembrar que o PS é utilizado, sobretudo, em textos literários e históricos (ele é reservado à língua escrita, é o tempo da história (BENVENISTE, 1974), para marcar o distanciamento do escritor com a história, com os personagens. É o tempo da enunciação histórica e aparecerá (quase) sempre na terceira pessoa. Mesmo não sendo usual, isso não impede, todavia, o aparecimento deste tempo verbal (PS) em textos jornalísticos quando o jornalista quer marcar exatamente o distanciamento do narrador, o acabado no passado, sem relação com o presente de enunciação.

Nâo sendo o PS de uso muito comum na atualidade, o PC o substitui para exprimir a anterioridade em relação ao presente, e a simultaneidade em relação a um momento passado. O PC marca, na narrativa, a sucessão dos acontecimentos no passado geralmente acompanhado de partículas temporais (para o português, o pretérito perfeito, que tem o mesmo duplo valor do PC):

Ex.1: À la fin du math, le journaliste est descendu sur le court de tennis, il a tendu

le micro au jeune champion et il lui a posé beaucoup de questions. Puis, il a pris des photos.

Ex.2: Fiz coisas boas que me trouxeram prejuízos; fiz coisas ruins que me deram lucro.

A diferença específica entre os tempos narrativos – PC - PS e imparfait – é fundamentalmente uma questão de aspecto (IMBS, 1960). A pontualidade das ações no passado, opondo-se à duração marcada pelo imperfeito, é expressa pelo PC – pretérito perfeito ou pelo PS (em textos históricos e literários, como já explicitamos anteriormente). O PC, como tempo do discurso, tem como marca temporal o momento do discurso; o PS, como tempo da história, tem como marca temporal o momento do acontecimento. Esse efeito de pontualidade faz do PC-pretérito perfeito (ou do PS) o tempo que aparece no primeiro plano.

O PC insinua uma proximidade psicológica. Na linguagem literária, o PC serve para relatar fatos recentes quando ainda são perceptíveis seus resultados no ME (momento da escrita). Ele é interiormente atrelado ao presente o que o distingue do PS.

Ex.1: Napoléon est né en Corse en 1769. 57

Ex.2: O homen abriu a porta do carro para sua mulher.

O PC - pretérito perfeito pode também ser usado para a expressão de verdades gerais, isto é, fatos que costumam acontecer e podem pertencer a qualquer tempo (Ex.: Chaque fois que j‟ai voulu lui parler, je me suis heurté à un mur. Aquele que de si deu pouco, nada fez (provérbio); Quem nunca comeu

melado, quando come se lambuza). Pode marcar, ainda, a repetição (J’ai vu ce film

quatre fois).

O PC é, antes de tudo, uma forma ambígua por diferentes razões: ele pode pertencer ao sistema das formas simples em alguns usos e para outros usos, e, por sua forma, pertence ao sistema das formas compostas, do passado. Para Imbs (1960, p. 107), “il sert en quelque sorte de transition entre les formes simples et les formes composées de l‟indicatif 58». Como tempo composto, ele exprime o aspecto

acabado, presente em todos os tempos compostos. Tal aspecto está contido no particípio passado. Cabe ao auxiliar indicar as determinações temporais (se ele se situa no passado, no presente ou no futuro), além de marcar o aspecto imperfectivo/perfectivo, durativo, iterativo.

Como o PC é um tempo composto – verbo auxiliar no presente + particípio passado, que marca o acabado – ele coloca-se em algumas situações ambíguas. O particípio, por exemplo, pode ser usado sozinho com valor de PC. Trata-se do “estilo telegráfico” (IMBS, 1960, p. 105) para contar um acontecimento recente:

Ex.: Partis à midi dix minutes. Arrivés à Etampes à trois heures et quart.

Outra questão diz respeito aos auxiliares. O PC é composto de um verbo auxiliar (être ou avoir) no presente + participe passé (Ex.: j‟ai mangé, je suis allé(e)).

O auxiliar être também é utilizado na voz passiva e com os verbos pronominais, fato que pode gerar algumas confusões59 como tentaremos mostrar nos exemplos que

se seguem:

Il est mort.

57 O emprego sistemático do PC em textos, principalmente em romances, marca o isolamento dos

fatos, uns em relação aos outros, efeito este reconhecido (e muitas vezes criticado) no romance

“L‟Étranger”, de A. Camus.

58

“ele serve de alguma maneira de transição entre as formas simples e as formas compostas do indicativo”.

A frase do exemplo anterior pode ser entendida em francês e traduzida para o português como:

− ele morreu (passado, aspecto acabado); − ele está morto (aspecto resultativo).

Essa ambiquidade, porém, desaparece quando o auxiliar é o avoir:

La guerre est finie. (voz passiva, aspecto resultativo) La guerre a fini. (passado, aspecto acabado)

ou, ainda, com os verbos pronominais, onde estão estabelecidas as oposições:

L‟affaire est arrangée. (o negócio está combinado) L‟affaire s‟est arrangé. (o negócio foi combinado)

A construção do PC com o auxiliar no presente faz com que os processos descritos por ele se aproximem da atualidade. No ensino/aprendizagem (no caso de alunos brasileiros), gera certa confusão. Uma frase como: J‟ai fait. (eu fiz) pode ser

compreendida por estudantes brasileiros como “eu tenho feito”, o que não está de acordo com a informação que o PC exprime. Trata-se do que alguns gramáticos e estudiosos do português denominam Pretérito Perfeito Composto do Indicativo (BATTAGLIA, 1996; CUNHA, 1985; INFANTE, 1997; FIORIN, 2002).

O Pretérito Perfeito Composto pertence a um nível temporal diferente de Presente (porém não se opõe completamente a ele), mas, ao mesmo tempo, serve para expressar o processo que se sobrepõe ao momento da fala. Ele descreve processos que se iniciaram no passado e que são ainda válidos no momento da fala. Também exprime processos que se repetem ou se prolongam até o presente (Ex.: Tenho lutado pelas coisas em que acredito; Ele tem feito progressos significativos no campo social. (INFANTE, 1997, p. 204)).

3.4.2.1 Efeitos de sentido com o Passé composé – Pretérito perfeito I - No sistema enunciativo:

1) Pretérito perfeito pelo presente. O que está em curso é visto como acabado:

Ex.1: J’ai bientôt fini.

Ex.2: O presidente deu posse ao novo ministro. (o presidente se preparava para assinar o ato de posse)

II – No sistema enuncivo:

1) Pretérito perfeito pelo presente. Verdades gerais que são frutos de um ensinamento do passado, que já ocorreu, mas que permanece no presente. Em geral, tais verdades são expressas pelo presente:

Ex.1: Chaque fois que j‟ai voulu lui parler, je me suis heurté à un mur.

Reprenez vos esprits ; et souvenez-vous bien qu‟un dîner réchauffé ne valut jamais rien.

Ex.2: No Brasil, em todas as épocas, o povo sofreu a ganância das elites.

2) Pretérito perfeito pelo pretérito imperfeito (PC ou PS). Algo que é habitual ou durativo, é marcado como pontual; o verbo exprime somente o acontecimento, visto da perspectiva do presente. No exemplo do francês, vê-se ainda a mistura com os dois tempos do passado: PC e PS. O PC também marca um passado não desvinculado da atualidade daquele que fala:

Ex.1: On fut bien plus surpris quand on le vit renoncer tout d‟un coup aux amusements les plus innocents de la jeunesse. Du moment qu‟il se prépara à la guerre, il commença une vie toute nouvelle, dont il ne s‟est jamais depuis écarté un seul moment.

Ex.2: Que esse negócio de casar pro bem da honra foi no tempo de Dom João Charuto.

3) Pretérito perfeito pelo pretérito mais-que-perfeito. O emprego do perfeito; as ações do eixo temporal pretérito são colocadas no mesmo plano das ações que estão acontecendo, retirando-se, então, a anterioridade (que seria marcada pelo mais-que-perfeito):

Ex.1: Le parlement vient de s‟ouvrir à Versailles... Le plus agité, le plus bruyant de tous, c‟est Roumestan. Il a déjà prononcé deux discours depuis la rentrée.

Ex.2: Rubião fitava a enseada, eram oito horas da manhã. Quem o visse, com os polegares metidos no cordão do chambre, à janela de uma grande casa de Botafogo, cuidaria que ele admirava aquele pedaço de água quieta; mas, em verdade, vos digo que pensava em outra coisa. Cotejava o passado com o presente. Que era há um ano? Professor. Que é agora? Capitalista. Olha para si, para as chinelas (umas chinelas de Túnis que lhe deu recente amigo, Cristiano Palha), para a casa, para o jardim, para a enseada, para os morros, para o céu; e tudo, desde as chinelas até o céu, tudo entra na mesma sensação de propriedade.

Quando é usado o présent historique na principal, o PC será usado no lugar do plus que parfait, para marcar a anterioridade. No exemplo do português, anteriormente transcrito, o MR pretérito é “eram oito horas da manhã” ao qual são concomitantes as ações pretéritas (fitava, admirava etc.). Em seguida, entretanto, o

narrador traz o relato para o presente, para o agora do personagem, com verbos do presente histórico (olha, entra). É em relação a esse presente que o processo “deu” é anterior, por isso o uso do pretérito perfeito, não mais ao marco temporal instalado anteriormente, mesmo que o fato seja realmente anterior ao marco temporal colocado inicialmente.

Para o francês, o PC pode também marcar a anterioridade em relação a ele mesmo, no lugar do surcomposé:

Ex.: ... sa belle soeur est descendue quelques minutes après qu‟il est monté

(après qu‟il a été monté).

4) Pretérito perfeito pelo futuro do pretérito. A incerteza e possibilidade do futuro do pretérito são apresentadas como certas e acabadas pelo perfeito:

Ex.: D. Antonio desejava saber notícias do Rio de Janeiro e de Portugal, onde se haviam perdido toas as esperanças de uma restauração, que só teve lugar quarenta anos depois com a aclamação do duque de Bragança.

5) Pretérito perfeito pelo futuro anterior. Quando o futuro é enunciado pelo presente, a anterioridade é enunciada pelo pretériro perfeito, marcando, assim, um fato acabado em relação a outro fato:

Ex.1: J’ai fini dans un instant. Dans dix ans j’ai fait fortune.

Tu n‟oublies pas de me le rendre, quand tu l’as lu.

Ex.2: Temos ainda o seguinte programa [três semanas de aulas, duas semanas de férias de Natal, duas semanas de aulas em janeiro] e, então, terminou meu estágio na Romênia.

3.4.3 Os tempos compostos do sistema enuncivo anterior: Plus que