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2 A PROTEÇÃO DO PATRIMÔNIO NATURAL NO CAMPO CULTURAL

2.2 O PATRIMÔNIO MUNDIAL NATURAL NO BRASIL

Para elaborar esta seção, foi fundamental a consulta aos dossiês de candidaturas43, aos pareceres técnicos dos órgãos consultivos e aos relatórios sobre o estado de conservação dos bens brasileiros reconhecidos como patrimônio mundial, o que nos possibilitou conhecer os critérios e as justificativas do valor universal excepcional, bem como as tratativas de cada patrimônio com a Unesco.

Os dossiês de candidatura são compostos pela justificativa de inscrição, em que é feita a defesa do valor universal excepcional do patrimônio, e pelos planos de manejos dos parques nacionais, a fim de cumprir as exigências de apresentar os mecanismos para a proteção, conservação e valorização dos sítios no nível nacional (UNESCO, 1972).

O Brasil assinou a Convenção do Patrimônio Mundial em 197744. Em 2017, possuía 21 bens inscritos na Lista do Patrimônio Mundial, 14 inscritos como patrimônio cultural e 7 como patrimônio natural. A Figura 2.6 apresenta a localização dos 7 conjuntos de

43 O dossiê do Parque do Iguaçu foi pesquisado no Arquivo Noronha Santos, no Iphan do Rio de Janeiro. As

decisões finais do Comitê do Patrimônio Mundial e os pareceres técnicos da UICN são documentos importantes e foram imprescindíveis para fundamentar esse texto. Dado que o patrimônio analisado neste trabalho é classificado como natural, coube somente à UICN elaborar os pareceres técnicos.

44 O instrumento brasileiro de aceitação foi depositado junto à Diretoria-Geral da Unesco em 2 de setembro de

sítios naturais brasileiros, bem como os critérios de inscrição na Lista do Patrimônio Mundial, isto é, os valores pelos quais os sítios foram reconhecidos como patrimônio da humanidade.

É interessante notar que todos os sítios do Patrimônio Mundial Natural no Brasil satisfazem o critério x, isto é, todos eles correspondem a

habitats naturais representativos e importantes para a conservação in situ da diversidade biológica, notadamente aqueles em que sobrevivem espécies ameaçadas que tenham um valor universal excepcional do ponto de vista da ciência ou da conservação (UNESCO, 2015a, tradução nossa).

Um sítio inscrito como Patrimônio Mundial pode ser composto por um mosaico de áreas protegidas, por exemplo, as Reservas de Floresta Atlântica do Sudeste são compostas por 25 áreas protegidas entre os estados de São Paulo e do Paraná. O Quadro 2.5 apresenta todas as áreas protegidas que fazem parte dos 7 sítios do patrimônio mundial natural no Brasil.

Quadro 2.5 - Áreas Protegidas que integram o Patrimônio Mundial

Ano Áreas Protegidas

1939 Parque Nacional do Iguaçu, PR

1950 1961 1998 1980 1982 1998 1999 2012

Reservas de Floresta Atlântica da Costa do Descobrimento

Reserva Natural Vale – ES45

Parque Nacional do Monte Pascoal - BA Estação Experimental Pau-Brasil – BA Reserva Biológica de Una - BA Reserva Biológica de Sooretama - ES

Reserva Particular de Proteção Natural Estação Veracel/Veracruz - BA Parque Nacional Pau-Brasil - BA

Parque Nacional do Descobrimento - BA 1958 1962 1982 1984 1984 1984 1984 1984 1987 1987 1989 1994 1995 2008 2013 1979 1982 1990 1990 1992 1994 1994 1996 1997 1997

Reservas de Floresta Atlântica do Sudeste

Parque Estadual Alto Ribeira (PETAR) - SP Parque Estadual da Ilha do Cardoso - SP Parque Estadual Carlos Botelho - SP

Zona de Vida Silvestre das Serras do Cordeiro, Paratiú, Itapuã e Itinga - SP Zona de Vida Silvestre das Serras do Arrepiado e Tombador - SP

Zona de Vida Silvestre Mangues - SP

Zona de Vida Silvestre Serra do Itapitangui (e Mandira) - SP

Zona de Vida Silvestre Ilhas oceânicas: Ilhas do Bom Abrigo e Ilhote - SP Estação Ecológica de Chauás - SP

Estação Ecológica de Xituê – SP

Zona da Vida Silvestre de Ilha Comprida – SP Parque Estadual Campina do Encantado - SP Parque Estadual Intervales - SP

Mosaico de UCs do Jacupiranga - SP Estação Ecológica da Jureia - Itatins - SP Parque Estadual Lauráceas – PR Estação Ecológica da Ilha do Mel - PR Parque Estadual Pico do Marumbi – PR Parque Estadual Serra da Graciosa - PR Estação Ecológica de Guaraguaçu - PR Parque Estadual Roberto Ribas Lange - PR Parque Estadual Pau Oco – PR

Reserva Particular do Patrimônio Natural Salto Morato – PR46 Estação Ecológica de Guaraqueçaba – PR

Parque Nacional de Superagui – SP e PR 1980

1981 1996

Complexo de Áreas Protegidas da Amazônia Central

Parque Nacional do Jaú - AM Parque Nacional Anavilhanas - AM

Área de Demonstração da Reserva de Desenvolvimento Sustentável Mamirauá - AM

45

A Reserva Natural Vale foi adquirida pela Empresa Vale na década de 1950, era chamada anteriormente de Reserva Florestal de Linhares.

46 A RPPN Fazenda Figueira teve seu nome alterado por meio da Portaria nº 30 do ICMBio para RPPN Salto

1998 Reserva de Desenvolvimento Sustentável Amanã – AM 1981

1996 1996 1996

Áreas Protegidas do Pantanal

Parque Nacional do Pantanal Mato-grossense - MT Reserva Particular de Proteção Natural de Dorochê - MT Reserva Particular de Proteção Natural de Acurizal – MT/MS Reserva Particular de Proteção Natural de Penha – MS 1979

1988

Ilhas Atlânticas Brasileiras

Reserva Biológica do Atol das Rocas - RN Reservas de Fernando de Noronha – PE 1961

1961

Áreas Protegidas do Cerrado

Parque Nacional da Chapada dos Veadeiros - GO Parque Nacional das Emas – GO

Fonte: Unesco (2016a); Tirapeli (2010). Organizado pela autora.

O Parque do Iguaçu foi a primeira área natural protegida brasileira a ser reconhecida como patrimônio mundial, em 1986. Além de ser a mais antiga inscrição, uma série de situações polêmicas e paradoxais, ameaçaram a integridade do Parque, tais como, o excesso de voos de helicóptero, a construção de usinas hidrelétricas, a reabertura da Estrada do Colono (antiga BR-163), que atravessa uma zona intangível47 de proteção em que é proibida a visitação de turistas. Por ser o recorte espacial desta tese, a apresentação da inscrição do Parque na Lista do Patrimônio Mundial será objeto de uma seção exclusiva no capítulo 4. As inscrições dos demais sítios naturais estão apresentadas aqui.

As Reservas de Floresta Atlântica da Costa do Descobrimento juntamente com as Reservas de Floresta Atlântica do Sudeste receberam o título de Patrimônio Mundial da Unesco em 1999. As duas reservas fazem parte dos seis remanescentes de mata atlântica identificados pela UICN como potenciais bens do patrimônio mundial durante a reunião “Florestas do Patrimônio Mundial”, realizada em 1999 na Indonésia pela Unesco (UICN, 1999a, p. 16). A Mata Atlântica é o bem de valor universal excepcional e a atual raridade do bioma é um dos principais argumentos para a sua patrimonialização. Restam apenas 7% da floresta tropical atlântica, que originalmente se estendia por toda a faixa litorânea do Rio Grande do Norte à Santa Catarina e adentrava o interior do país por uma largura de 40 a 50 quilômetros (AB’SABER, 2010).

As duas reservas foram inscritas na Lista do Patrimônio Mundial por inscrições diferentes. Isso porque existe uma grande distância que separam os fragmentos de mata e porque tais fragmentos contêm espécies endêmicas distintas (UICN, 1999a). O reconhecimento como Patrimônio Mundial não é o primeiro instrumento internacional de

47 Em função do processo de recomposição vegetal, a Estrada foi enquadrada, segundo o plano de manejo de

1999, como Zona de Recuperação. Após a regeneração da vegetação será incorporada a Zona Intangível (IBAMA, 1999).

proteção das Reservas, pois em 1991, a Unesco aprovou a criação da Reserva da Biosfera da Mata Atlântica (RBMA), com o objetivo de intensificar a proteção de todos os remanescentes do bioma.

As Reservas da Floresta Atlântica da Costa do Descobrimento48 são compostas por 8 fragmentos florestais, localizados entre o sul da Bahia e o norte do Espírito Santo. Esses fragmentos de mata atlântica são protegidos em três parques nacionais: Monte Pascoal, Descobrimento e Pau-Brasil; em duas reservas biológicas: Una e Sooretama; e em três reservas particulares: a Vale, a Estação Veracel/Veracruz e a Estação Experimental Pau- Brasil.

Existem dois dossiês de candidatura da região: um primeiro de 1998, elaborado em parceria do Ibama e do Iphan, que pretendia a inscrição como patrimônio misto, e um segundo documento, de 1999, elaborado somente pelo Ibama, para a inscrição como patrimônio natural.

O primeiro documento apresentava como candidata à Lista do Patrimônio Mundial uma ampla região composta de variados bens, que figurariam como patrimônio natural, cultural e paisagem cultural. Além dos sítios naturais da mata atlântica, estavam as barreiras de corais, as falésias costeiras, os estuários e vales. Entre os bens culturais estava o sítio arqueológico das Ruínas da Igreja do Outeiro Da Glória, o Santuário Nossa Senhora da Ajuda e os centros históricos de Porto Seguro, de Trancoso, de Santa Cruz Cabrália, de Vale Verde e o de Caraíva.

O nome Costa do Descobrimento fazia referência à chegada dos portugueses ao Brasil. Nesse sentido, o dossiê justificou que a região seria muito mais do que uma mistura de paisagens preservadas com cidades históricas, pois seria representativa de fatos históricos relevantes para a construção da identidade brasileira. Além disso, o documento destacou que a região é o marco da “criação de uma nova entidade cultural na Terra”, referindo-se ao processo de ocupação e colonização portuguesa e justificando sua importância internacional (IPHAN e IBAMA, 1998, p. 06, tradução nossa).

Em relação à mata atlântica, esse primeiro dossiê apontou que os fragmentos eram os maiores remanescentes de floresta atlântica da região nordeste e possuía espécies de árvores diferentes dos demais remanescentes, em especial, possuía a maior reserva de Pau Brasil, árvore que marcou o primeiro ciclo de exploração colonial e deu nome ao país. Com

48 A UICN sugeriu a mudança de nome de “Costa do Descobrimento” para “Reservas Florestais Atlânticas da

relação às paisagens dos corais, das falésias, das praias, das restingas, dos manguezais, justificou que eles representavam uma complexa interação biológica entre o mar e a terra, e constituíam paisagens de beleza excepcional. Quanto à arquitetura, o documento apontou que as construções características dos séculos XVI, XVII e XVIII representavam um excepcional exemplo da primeira ocupação europeia no novo mundo e, portanto, compunham um testemunho da história moderna (IPHAN e IBAMA, 1998, p. 06, tradução nossa).

Entretanto, sem perspectivas de aprovação do primeiro dossiê, o Brasil enviou um novo no ano seguinte, propondo apenas a inscrição dos sítios naturais de mata atlântica. Foram mantidas as justificativas sobre o alto grau de desmatamento sofrido pela floresta atlântica e o alto grau de endemismo que ainda conservavam os remanescentes.

O documento brasileiro salientou que os fragmentos florestais possuíam biodiversidade e o endemismo representativos de processos ecológicos e biológicos em curso, e cuja continuidade estava garantida em função da gestão eficiente e da integridade da área (critério ix). Além disso, argumentou que os fragmentos continham os habitats naturais mais representativos e mais importantes para a conservação in situ da diversidade biológica, concentrando 77% dos remanescentes do tipo demata atlântica (critério x) (MMA e IBAMA, 1999a). O Comitê do Patrimônio Mundial aceitou a inscrição dos sítios, destacando o fato de serem remanescentes de uma grande floresta, o que por si só os tornava uma parte importante do patrimônio florestal mundial (WHC, 2000).

As Reservas de Floresta Atlântica do Sudeste49 são compostas por 25 fragmentos descontínuos de mata atlântica, localizados entre os estados de São Paulo e Paraná, protegidos como parques, estações ecológicas, zonas de vida silvestre e RPPNs.

O documento ressaltou a exuberância da mata atlântica, a paisagem formada pelos Picos do Marumbi e do Itatins circundados por uma planície fluvial, pelo estuário costeiro bastante preservado, e pela beleza e raridade das cavernas e cachoeiras (critério vii). O dossiê apontou que a formação da Serra do Mar é testemunho do movimento tectônico que provocou a separação dos continentes africano e sul-americano e a existência de mais de 300 cavernas e sambaquis evidenciaram a evolução geomorfológica e a variação do nível do mar (critério viii). Os fragmentos abrigam diversas formas de vida integradas em um sistema complexo (critério ix), e são o habitat de espécies ameaçadas de extinção, tais como o mico-leão-de- cara-preta e o jacaré-de-papo-amarelo (critério x).

49 A UICN recomendou a modificação do nome “Floresta Atlântica do Sudeste” para “Reservas da Floresta

O parecer da UICN recomendou que as Reservas de Floresta Atlântica do Sudeste fossem inscritas em razão dos critérios vii, ix e x, mas não do viii por não considerar os sítios testemunho significativo da história da Terra (UCIN, 1999b). O Comitê do Patrimônio Mundial encorajou o Brasil a recompor as condições naturais do Parque Estadual da Serra do Mar para que ele pudesse futuramente ser integrado ao sítio inscrito (WHC, 2000).

O Complexo de Áreas Protegidas da Amazônia Central foi reconhecido como patrimônio mundial em 2003. Tratou-se, na verdade, da ampliação de inscrição do Parque Nacional do Jaú, reconhecido em 2000, por ser representativo da floresta amazônica central e da biodiversidade associada ao sistema de águas escuras (WHC, 2000). Além do Parque do Jaú, o Complexo é composto pelo Parque Nacional de Anavilhanas, pela Reserva de Desenvolvimento Sustentável de Amanã e pela Zona de Demonstração da Reserva de Mamirauá (WHC, 2003).

A priori, o Iphan e o MMA pretendiam candidatar o Complexo como patrimônio misto, que abrangesse tanto seu valor como o sítio natural e como paisagem cultural, com o argumento de que os sítios formam uma paisagem organicamente evoluída, mantida pelo contínuo e ativo papel social de mais de 8 séculos de povoamento de tribos ameríndias, comprovado por meio de achados arqueológicos na região (critério iv).

Para isso, o documento justificou que as Reservas de Desenvolvimento Sustentável de Mamirauá e de Amanã eram importantes amostras de habitats naturais para a conservação in situ da diversidade biológica (critério x). Além disso, eram um exemplo excepcional da história da Terra dos processos geológicos (critério viii) e representavam fenômenos naturais notáveis ou áreas de beleza natural e de importância estética excecionais (critério vii). Por fim, o documento também argumentou que as reservas eram tradicionalmente habitadas e protegidas por organizações coletivas e, por isso, constituíam um exemplo excepcional de povoamento humano tradicional (critério v) (MMA, 2001).

A UICN julgou os argumentos insuficientes para o reconhecimento como patrimônio misto e paisagem cultural. Segundo a Instituição, existem outros sítios que ilustram um período mais longo na evolução da Terra, já que as formações geológicas da região são constituídas principalmente de depósitos sedimentares recentes. Com relação à beleza natural, o parecer da UICN afirmou que as paisagens naturais presentes nas áreas protegidas eram encontradas em outros grandes rios da bacia amazônica, não satisfazendo, portanto, a condição de excepcionalidade (UICN, 2002). Por outro lado, a UICN julgou que o Complexo da Amazônia Central é formado por várzeas, florestas, igapós, lagos, rios e ilhas que demonstram os processos ecológicos em curso a partir da perspectiva da evolução dos

ecossistemas terrestres e de água doce (critério ix). Além disso, o Complexo constitui os habitats e espécies ameaçadas de extinção que são encontrados na região da Amazônia Central (critério x).

Quanto à extensão do Complexo de Áreas Protegidas da Amazônia Central, a UICN desaconselhou a inscrição da então Estação Ecológica de Anavilhanas e recomendou a inscrição parcial da Reserva de Mamirauá. Para a UICN, a então Estação Ecológica de Anavilhanas não apresentava condições efetivas de gestão e proteção governamental. Isso porque essa UC está localizada às margens do rio Negro, rio navegável e de fluxo regular de navios de transporte de produtos petrolíferos, e não possuía os sistemas de prevenção de vazamentos de óleo, situação que poderia danificar os recursos naturais da região. A UICN recomendou que fosse estabelecido um programa de gestão e marcações de navegação para limitar as ameaças à Estação. Além disso, recomendou que o governo brasileiro alterasse a categoria de proteção, de Estação Ecológica para Parque Nacional, a fim de permitir o desenvolvimento de ecoturismo, que não é permitido nas Estações Ecológicas. O turismo, segundo a UICN, incentivaria o apoio público à preservação da região.

Com relação a inscrição parcial da Reserva de Mamirauá, a UICN apontou que essa reserva era a área de proteção amazônica que mais havia recebido recursos financeiros para as atividades de pesquisa, de proteção e desenvolvimento comunitário, mas que todo o investimento ficou restrito à Zona de Demonstração, enquanto as demais áreas – Zona Subsidiária – não eram controladas com o mesmo rigor. Segundo a UICN, inscrever toda a Reserva como patrimônio natural seria incoerente, uma vez que, fora da Zona de Demonstração existiriam habitantes exercendo atividades extrativistas (UICN, 2002). Sendo assim, o Comitê do Patrimônio Mundial optou por não incluir toda a Reserva de Mamirauá na Lista do Patrimônio Mundial, mas incentivou o Brasil a reinscrever a Zona Subsidiária da Reserva quando as exigências de integridade da região forem satisfeitas (WHC, 2003).

As Áreas de Conservação do Pantanal50 estão localizadas no sudoeste do estado do Mato Grosso e no noroeste do estado do Mato Grosso do Sul e foram inscritas na Lista da Unesco em 2000. São formadas pelo Parque Nacional do Pantanal Mato-grossense e por três Reservas Particulares de Proteção Natural: a Dorochê, a Acurizal e a Penha. Essas três áreas foram adquiridas na década de 1990 pela ONG Fundação de Apoio à Vida nos Trópicos (ECOTRÓPICA), sediada em Cuiabá. Além de ser Patrimônio Mundial, as Áreas de

50 A UICN sugeriu a alteração do nome Complexo de Conservação Pantanal para Área de Conservação do

Conservação do Pantanal compõe, desde 1993, o Sítio Ramsar do pantanal e fazem parte da RB do pantanal, desde 2000.

O documento de candidatura das Áreas de Conservação do Pantanal argumentou que o local é representativo do bioma do pantanal e de seus processos ecológicos e biológicos (critério ix). Além disso, ressaltou que a associação da Serra do Amolar com as zonas úmidas de água doce confere ao lugar caráter excepcional e uma paisagem surpreendente (critério vii). O documento também destacou o papel fundamental que o local desempenha na dispersão de nutrientes para toda a bacia e que a área preserva habitats representativos para uma série de espécies ameaçadas (critério x) (MMA e IBAMA, 1999b). Por fim, o documento de candidatura defendeu que as Áreas Protegidas do Pantanal eram exemplo excepcionalmente representativo dos grandes estágios da história da Terra, de processos geológicos em curso ou de elementos geomórficos ou fisiográficos de grande significado (critério viii). De todos as justificativas apresentadas, a UICN apenas não aceitou a baseada no critério vii, pois entende que a região não é representativa de sequências complexas da evolução geológica da Terra (UICN, 2000).

As Ilhas Atlânticas Brasileiras também foram inscritas na Lista do Patrimônio Mundial em 2001. Esse patrimônio natural é composto pelo Parque Nacional Marinho de Fernando de Noronha (PE) e a Reserva Biológica Marinha do Atol das Rocas (RN).

As ilhas foram inscritas na Lista do Patrimônio Mundial por representarem fenômenos naturais notáveis e áreas de beleza natural e de importância estética excepcional, uma vez que, em função da paisagem espetacular na maré baixa, quando os recifes formam lagoas e piscinas, como um aquário natural (critério vii). As Ilhas também são exemplos excepcionalmente representativos de processos ecológicos e biológicos em curso na evolução e desenvolvimento de ecossistemas, uma vez que são fonte de alimento para espécies como o atum, o cetáceo, o tubarão e a tartaruga marinha (critério ix). Além disso, as ilhas são um local indispensável para a proteção da biodiversidade e de espécies ameaçadas de extinção no Atlântico Sul, em especial, de tartarugas marinhas, além de ser um centro de endemismo de espécies de pássaros e conter o único remanescente de mata atlântica insular (critério x) (UICN, 2001b, p. 143-144).

O documento brasileiro de candidatura defendia ainda que as Ilhas eram exemplos dos grandes estágios da história da Terra (critério viii), mas o argumento não foi aceito pela UICN, que alegou a existência de outros sítios mais representativos do processo de formação dos sistemas submarinos de montanhas e de atóis (UICN, 2001b).

As Áreas Protegidas do Cerrado, reconhecidas como patrimônio mundial em 2001, são compostas pelo Parque Nacional da Chapada dos Veadeiros, em Goiás, e o Parque Nacional das Emas, em Goiás e no Mato Grosso do Sul. Os Parques foram inscritos em função dos processos ecológicos que têm desempenhado papel fundamental por milênios na manutenção da biodiversidade do cerrado, tendo em vista a sua localização central e variação de altitude (critério ix); e pelo fato de conter amostras dos habitais que caracterizam o ecossistema do cerrado (critério x) (UICN, 2001a). O documento de candidatura ainda defendia que os Parques representavam fenômenos naturais notáveis ou áreas de beleza natural e de importância estética excecionais (critério vii), mas a UICN argumentou que as paisagens do Parque Nacional das Emas eram monótonas e sem acidentes geográficos significativos e, dessa forma, considerou que os Parques não cumpriam esse critério (UICN, 2001a).

Antes da inscrição, uma missão avaliativa da UICN recomendou que o Brasil criasse uma grande zona de amortecimento adjacente ao Parque Nacional da Chapada dos Veadeiros, a fim de contribuir para a sua integridade. Essa recomendação foi acolhida pelo governo brasileiro que ampliou a área do Parque de 65.515 ha para 235.970 ha, por meio de