• Nenhum resultado encontrado

Assegurar o ensino e a valorização permanente da língua e da cultura portuguesas, defender o seu uso e fomentar a sua difusão internacional constituem tarefas fundamentais do Estado, tal como se encontram definidas na Constituição.

(Decreto-Lei n.º 165/2006, de 11 de Agosto)

Tentaremos reproduzir, com a máxima fidelidade possível, o resultado da nossa pesquisa sobre o PLCP em Espanha. Como se poderá verificar, tivemos em conta a procura do essencial, de modo a permitir uma abordagem orientada para o conhecimento das principais etapas e características do programa em causa.

Resultante do Acordo Cultural entre Portugal e Espanha, assinado em Madrid a 22 de Maio de 1970 e da sua aplicação, o PLCP teve início, de direito, em 28 de Junho de 1985, na

Reunião da Subcomissão Mista para a Acção Educativa e Cultural na Emigração28. Contudo,

apenas se iniciou no ano escolar de 1987-88. Mencionamos agora os trabalhos preparatórios que levaram à sua concretização:

Em 1984, as Associações de Portugueses da zona mineira da Província de León – Tremor de Arriba, Torre del Bierzo, Bembibre e Villablino – reivindicaram o ensino de Português para os seus filhos. A Embaixada de Portugal em Madrid, através do seu conselheiro social, encarregou-se de apresentar esta pretensão aos Institutos de Emigração espanhol e português. Foi assim iniciada a procura de soluções para o problema em apreço.

O primeiro resultado das reuniões preparatórias foi ter sido acordado que dois docentes portugueses do 1.º Ciclo do Ensino Básico fossem requisitados para exercer funções na zona mineira de León. Assim, verificar-se-ia, in loco o grau de aceitação ou de rejeição do ensino do Português, tanto por pela Comunidade Portuguesa residente como pela comunidade educativa e pelo meio social envolvente.

No dia 04 de Fevereiro de 1988, aqueles docentes iniciaram funções na área consular de León, nos Colégios Públicos de Villablino, Bembibre, Torre del Bierzo e Tremor de Arriba. Até 30 de Junho de 1988, o ensino do Português foi ali ministrado a 103 alunos portugueses, luso-descendentes e luso falantes que frequentavam a Educación Primária - do 1.º ao 6.º ano de escolaridade.

A avaliação daquele ensino-prospecção – assim denominado pelos Ministérios da Educação espanhol e português porque, na verdade, era de uma auscultação que se tratava –

28

considerou o ensino de português como muito positivo, aconselhando, portanto, a sua implementação.

No final daquele ano lectivo, o conselheiro social da Embaixada de Portugal negociou com o ministério da educação espanhol o melhor que o sistema educativo espanhol de então permitia, ou seja, o ensino do Português na Educación Primária, mas integrado na Educación Compensatória. Nesta fase, e porque se procurava um estatuto para a Língua Portuguesa, encontrava-se uma barreira que parecia quase intransponível por ser do foro legislativo: o Sistema Educativo Espanhol, durante a escolaridade obrigatória (então até ao 8.º ano), apenas permitia o ensino do inglês ou do francês.

Valeu então a aplicação em Espanha da Directiva n.º 486/CEE/77 e do Programa Língua. A primeira determina, para todos os estados-membros, a obrigação de serem adoptadas medidas necessárias para a escolarização dos filhos dos trabalhadores migrantes, com especial atenção para a língua do país de acolhimento que, coordenada com o ensino vigente no país, apoie o ensino da língua materna e da cultura do país de origem. Por outro lado, o Programa Língua refere que deve ser potenciado o ensino das línguas comunitárias menos faladas no espaço europeu. E é este o caso do Português. Nesta conformidade, foi a aplicação destas duas normas comunitárias que tornaram possível a implementação do PLCP

em Espanha29.

Os interlocutores neste processo, desde 1985 até ao presente, foram os seguintes: Pela parte espanhola:

- Ministério de Educación y Ciencia e Ministério de Asuntos Exteriores

De 1989 a 1993 – competência da Subdirección General de Educación Compensatória, da Subdirección General de Alta Inspección e do Instituto de Emigración;

De 1993 até ao presente ano – competência da Dirección General de Centros na sua Subdirección General de Educación Especial y Atención a la Diversidad ( no seu Gabinete de Educación Intercultural y Relaciones Internacionales), da Dirección General de Acción Educativa, da Dirección General de Alta Inspección, e da Subdirección General de Cooperación Internacional;

A partir do ano 2000 até ao presente ano – para além das entidades educativas atrás mencionadas, o PLCP passou a ser também uma das competências das

29

Consejerías de Educación das Comunidades Autónomas, dado que, pelo Governo Central, foram concedidas competências plenas para a Educação aos Governos das 16 (dezasseis) Comunidades Autónomas espanholas.

Pela parte portuguesa:

Ministério da Educação e Ministério dos Negócios Estrangeiros

De 1979 até ao corrente ano – Instituto de Alta Cultura (IAC), Instituto da Cultura e da Língua Portuguesa (ICALP), Direcção-Geral de Apoio e Extensão Educativa (DGAEE), Departamento da

Educação Básica (DEB), Direcção-Geral de Inovação e

Desenvolvimento Curricular (DGIDC) no seu Gabinete de Relações Internacionais (GAERI) e, presentemente, o Instituto Camões.

O acompanhamento local do PLCP é feito pelas Direcciones Provinciales de Educación, e aí é da competência da respectiva Inspecção Escolar e de um Assessor da Unidade de Programas Educativos.

Este último, participa nas Reuniões de Coordenação e

Acompanhamento (mensais até ao ano 2000) e na concertação prévia dos pontos a incluir na Ordem de Trabalhos de cada reunião.

Depois do ano 2000, estas reuniões passaram a ser anuais, realizadas no Ministério da Educação em Madrid, e nela participam representantes do MEC, das Comunidades Autónomas e da Embaixada de Portugal (um diplomata e a Coordenadora Pedagógica).

O PLCP encontrava-se em 9 (nove) Comunidades Autónomas e em 14 (catorze) Províncias, a saber:

Comunidades Autónomas – Aragón, Astúrias, Cantábria, Castilla y León, Extremadura, Galicia, Madrid, Navarra e País Basco;

Províncias – Zaragoza, Oviedo, Santander, León, Burgos, Salamanca, Badajoz, Cáceres,

Ourense, Pontevedra, Madrid, Pamplona, Guipúzcoa e Vizcaya30.

Cabe aqui mencionar três novas situações decorrentes da evolução da política educativa para o ensino do Português nas Comunidades Autónomas da Extremadura e de Castilla y León. São as seguintes:

30

No ano escolar de 2005-06, teve início o ensino do Português como segunda língua estrangeira, com carácter obrigatório para os alunos que frequentavam o 5.º ano de escolaridade nos Colégios Públicos de Cilleros e Vegaviana, ambos na Província de Cáceres. Este ensino é assegurado pela docente portuguesa, requisitada para o PLCP e o seu acompanhamento está a ser realizado pela Inspección Provincial de Educación da referida Província.

No dia 22 do passado mês de Janeiro, na Cimeira Luso-espanhola, realizada em Zamora, foi assinado um Memorando de Entendimento entre o Ministério da Educação da República Portuguesa, o Ministério da Educação, Política Social e Desporto do Reino de Espanha e a Junta da Extremadura do Reino de Espanha sobre a adopção do português como língua estrangeira de opção curricular no sistema educativo da Comunidade Autónoma da

Extremadura31.

Empreende-se assim uma nova fase do ensino do Português como Língua estrangeira de opção e avaliação curricular em todos os níveis do ensino oficial na Comunidade Autónoma da Extremadura, a implementar no ano lectivo de 2009-2010, em regime experimental durante um período de quatro anos, nos Colégios Públicos de três municípios da Província de Badajoz e de três municípios da Província de Cáceres, a designar pela Junta da Extremadura.

No primeiro encontro oficial32 entre Juan Vicente Herrera, presidente da Junta de

Castilla y León e o Embaixador de Portugal em Madrid, Álvaro Mendonça e Moura, realizado em Valladolid, no passado dia 30 de Maio, foi acordado que será dada prioridade ao ensino do Português como língua de opção curricular nas etapas obrigatórias do Sistema Educativo, em todos os Colégios Públicos e Institutos daquela Comunidade Autónoma, a partir do próximo ano escolar.

Poderemos concluir que o processo de implementação do ensino do Português no Sistema Educativo Espanhol tem sido bastante lento, talvez por ser politicamente complexo. Todavia, a diplomacia portuguesa, com a sua persistência, vai avançando.

31

Vide, Anexo V. 32