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Perfil Conceitual como instrumento na formação epistemológica de conceitos na sala de

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CAPÍTULO 2 CONTRIBUIÇÕES DA TEORIA DO PERFIL CONCEITUAL PARA

2.1 A teoria do perfil conceitual

2.1.2 Perfil Conceitual como instrumento na formação epistemológica de conceitos na sala de

Tavares (2008) também salienta que se o educador utilizar o perfil conceitual conseguirá perceber as principais dificuldades dos estudantes nas discussões em sala de aula, como também fará melhores avaliações acerca do processo de ensino-aprendizagem. O autor ainda complementa que a inserção dos perfis conceituais na sala de aula, torna as aulas mais prazerosas, pois os conhecimentos tratados nas interações das aulas de química ganham sentidos para os diferentes contextos que participam.

Assim, acreditamos que o perfil conceitual é uma ferramenta de grande valia no ensino de química e de ciências, pois por meio dele professores e estudantes conseguem realizar conexões acerca de variados estudos da Química e da evolução de conceitos. Conforme afirma Ribeiro (2002) utilizar-se do perfil conceitual com ferramenta no processo de ensino- aprendizagem demandará do professor realizar diferentes reflexões sobre aspectos epistemológicos relacionados com os conceitos e conteúdos químicos ensinados em sala de aula. Esse é um desafio para a formação e ação docente.

Tendo em vista a contribuição do perfil conceitual no contexto da sala de aula, podemos ainda sugerir que esta linha teórica pode torna-se um forte subsídio na formação epistemológica de conceitos em sala de aula, na qual professores e estudantes irão compreender a pluralidade filosófica que os conceitos podem apresentar, e a heterogeneidade das ideias que determinados conceitos apresentam.

No próximo item apresentamos algumas discussões sobre o perfil conceitual como ferramenta na formação epistemológica de conceitos, também como uma maneira de melhorar a construção de significados de professores e estudantes.

2.1.2 Perfil Conceitual como instrumento na formação epistemológica de conceitos na sala de aula

Atualmente, observamos diversos trabalhos que mencionam acerca da necessidade de formamos sujeitos que saibam refletir e agir epistemologicamente sobre os vários desdobramentos que o contexto da sala de aula pode comportar.

Dentre os muitos desdobramentos, podemos mencionar a necessária formação epistemológica de conceitos na sala de aula. Todavia, emergem várias dúvidas e questionamentos que torna necessário serem esclarecidas quais concepções podemos exemplificar, para que arquitetamos a formação epistemológica de conceitos? A partir deste questionamento, discorremos que um dos princípios fundamentais que iremos nos embasar será norteado pela teoria do perfil conceitual (MORTIMER, 1994, 1995, 1996; MORTIMER; EL-HANI, 2014).

Segundo Sepúlveda, Mortimer e El-Hani (2007) o perfil conceitual traz consideravelmente, grandes contribuições no ensino de conceitos, uma vez que no âmbito da sala de aula, esta teoria consegue explicar a diversidade das matrizes conceituais, permitindo uma educação multicultural ancorado a partir dos diversos significados que um conceito apresenta por meio da multiplicidade de contextos que estruturam a própria sociedade. Outra grande contribuição, de acordo com os autores, é conseguir acompanhar e avaliar o processo de construção de conceitos durante os processos de aprendizagem em sala de aula, trazendo assim princípios teórico-metodológicos que têm impactos positivos sobre o potencial heurístico da teoria.

Em muitos momentos em sala de aula, nossos estudantes não conseguem organizar seus conhecimentos, para saber ao certo de qual forma deve tratar o conhecimento aprendido, assim como deve aplicar os diferentes significados que um mesmo conceito pode ter. Um grande exemplo que podemos mencionar, conforme colocado em alguns trabalhos da literatura, nossos estudantes não sabem distinguir a maneira de conceber o conceito de calor como energia que se manifesta a partir do contato entre dois corpos a temperaturas diferentes, do termo calor tratado no senso comum como uma sensação térmica de quente e frio, de acordo com Amaral e Mortimer (2001), Mortimer e Scott (2014).

Diante do exposto, verificamos que muitos estudantes, não conseguem fazer estas distinções, tratando na maioria das vezes os dois exemplos, entre outros significados que existem, como se fossem especificamente iguais, sem nenhuma distinção. Assim, constatamos claramente, um problema sério que é recorrente no contexto escolar, pois apesar destes ou outros significados conviverem no mesmo sujeito, este tem dificuldade de organizar a própria heterogeneidade de pensamentos. Contudo, é importante destacar que quando ilustramos tais

exemplos, em hipótese alguma, generalizamos todos os contextos de ensino, uma vez que cada contexto da sociedade tem suas respectivas características e perspectivas.

Dando continuidade em nossa discussão, sabemos que diariamente, enquanto sujeitos sociais nos utilizamos dos vários conceitos aprendidos na escola, seja no contexto acadêmico quanto profissional, inclusive o conceito de calor conforme exemplificado anteriormente, para explicarmos diferentes fatos e fenômenos que cercam nosso cotidiano. Diante disso, salientamos o quanto é importante uma boa formação de conceitos, pois tais conhecimentos irão se perpetuar ao longo de nossas vidas em sociedade.

De acordo com Araújo (2014) em muitos momentos vários estudantes e profissionais que fazem uso do conceito de calor durante o exercício de suas atividades de bombeiros e técnicos de refrigeração, utiliza-se de diferentes formas de falar associando a distintos modos de pensar a partir do contexto que estejam. Assim, segundo a autora estes estudantes e profissionais utilizam-se do conceito de calor, aplicando visões sob a ótica da ciência, assim como a partir de conceitos alternativos a partir da sensação térmica e da temperatura, e para estes ambas as visões são extremamente uteis, para os contextos que trabalham.

Perante isso, percebemos o quão é imprescindível ter uma compreensão acerca dos variados significados que um conceito possui. Todavia, esta compreensão tem que ser acompanhada de um saber que ajude a diferenciar o contexto e o momento para aplicação deste, seja em casa, na escola, no trabalho ou na universidade.

Diante desta discussão, segundo Mortimer (1996, 2000), Amaral e Mortimer (2001), Amaral (2004), Aguiar Júnior e Mortimer (2005), Silva (2011), Mortimer e El-Hani (2014) a compreensão e o saber de diferenciação, podem ser estabelecidos a partir da tomada de consciência, dos diversos significados que um conceito pode ter, que são diferenciado pelas zonas de cada perfil conceitual, que em sua essência correspondem a diferentes conhecimentos construídos ontologicamente e epistemologicamente em sociedade.

Assim, de acordo com Aguiar Júnior e Mortimer (2005) e Mortimer e El-Hani (2014), a tomada de consciência é dada a partir do momento que um sujeito, mesmo tendo diferentes modos de pensar e falar um conceito e convivendo em diferentes contextos, tem consciência de como deve tratar as informações acerca do conceito em uso e do ambiente que cada concepção for mais conveniente.

Para Aguiar Júnior e Mortimer (2005), a tomada de consciência de conceitos é estabelecida pela mediação do professor, a qual deve estruturar a construção de significados de maneira reflexiva, reverberando acerca de cada significado um conceito possui e em qual contexto melhor se aplica. Dessa maneira, a tomada de consciência é guiada por um pensar

metacognitivo, que possibilita o sujeito não apenas saber o conceito, mas sabe problematizar, contextualizar e diferenciar seus múltiplos significados e seus respectivos contextos de aplicação, lembrando que cada contexto corresponde a uma zona, traçada pela proposição de um perfil conceitual.

Diante disso, percebemos a emergência de uma formação epistemológica de conceitos, pois a partir desta, poderemos constituir sujeitos mais reflexivos que saibam organizar a heterogeneidade de seus pensamentos, orientados pelo pensar metacognitivo sob a ótica da teoria do perfil conceitual. É importante salientar, que quando falamos do pensar metacognitivo, nos aportamos de uma construção metacognitiva estruturada no contexto da sala de aula. Assim, para Pereira e Andrade (2012), Ribeiro (2003) e Araújo (2009), a construção metacognitiva esta relacionada com base nos processos do conhecimento, pautados nos processos do próprio pensamento, em outras palavras, significa fazer os sujeitos ir além da cognição, (re) conhecendo o próprio ato de conhecer e de pensar.

Amaral e Mortimer (2005) também defendem que a partir da inserção e da tomada de conhecimento acerca do perfil conceitual, os sujeitos que formam o contexto social da sala de aula, podem compreender a pluralidade filosófica que um conceito apresenta, permitindo, principalmente o professor que é o principal articulador de informações em sala de aula, traçar possibilidades de complementaridade entre os diversos pontos de vista sobre um conceito e a heterogeneidade de ideias que são relativas a um mesmo conceito.

Dessa forma, através da teoria do perfil conceitual, poderemos melhorar significativamente a formação de conceito em sala de aula, beneficiando diretamente a construção de significados de professores e estudantes.

Segundo Mortimer (1997, 2000) a teoria do perfil conceitual, pode auxiliar professores e estudantes, a terem melhores entendimentos acerca das diferentes formas usadas pela ciência quando perpassa por inúmeros problemas. A partir disso, ajudará desmistificar a ideia equivocada que a definição de conceito científico é única e imodificável, conforme é defendida em muitos livros didáticos, e perceber que existe vários significados e que ambos são importantes e podem ser aplicados a diferentes contextos da sociedade.

Diante disso, acreditamos que com a inserção da teoria do perfil conceitual, poderemos estabelecer uma nova cultura escolar, pautada na interpretação dos vários significados que um mesmo conceito tem como também na organização da heterogeneidade das diferentes formas de pensar, falar e constituir um conceito. Como defende Mortimer (1997), o perfil conceitual traz grandes contribuições na formação de conceitos, pois permite

incessáveis reflexões acerca das contribuições históricas, filosóficas e culturais para entendermos a dinâmica evolutiva dos conceitos.

Então, diante do que foi discutido ao longo do texto podemos inferir que a partir da inserção do perfil conceitual no contexto da sala de aula, além de possibilitarmos reflexões para a tomada de consciência, para uma formação epistemológica do professor mediador e de conceitos científicos, poderemos melhorar significativamente as interações da sala de aula, sendo estas articuladas pela linguagem, permitindo assim avanços no processo de ensino- aprendizagem.

Assim, também ressaltamos que quando colocamos as interações da sala de aula é a partir da perspectiva sociohistórica na qual colocamos o posicionamento dialético de Vigotski e Baktin como premissa para pensarmos nas interações discursivas em sala de aula como caminho para a construção coletiva de significados e como forma de nortear sentidos aos conhecimentos articulados no contexto de ensino-aprendizagem, Dessa maneira, nessa perspectiva de Baktin e Vigotski a linguagem tem um papel central nas interações discursivas, pois ajuda a compreender e organizar a heterogeneidade de pensamentos, assim como é um elemento essencial na constituição da consciência dos indivíduos (MORTIMER; SCOTT, 2014; MORTIMER; EL-HANI, 2014).

Sendo assim, logo mais expomos algumas considerações acerca das interações discursivas apoiando-se na perspectiva sociohistórica, assim como expomos os domínios genéticos de Vigotski compreendendo-os como instrumentos para entendermos a construção de significados em sala de aula.

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