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Zonas do Perfil Conceitual de Molécula

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CAPÍTULO 3 OS PERFIS CONCEITUAIS DE MOLÉCULA EDE SUBSTÂNCIA

3.2 Perfil Conceitual de Molécula

3.2.1 Zonas do Perfil Conceitual de Molécula

Com base nos diferentes compromissos ontológicos e epistemológicos, Mortimer (1997) apontou as seguintes zonas para o perfil conceitual de molécula:

A primeira zona de um perfil conceitual de molécula: os ‘princípios’: Durante muito

tempo, a influência filosófica permaneceu e ainda prevalece na contemporaneidade, os materiais, átomos, moléculas, entre muitos outros exemplos, eram formados pelos quatro elementos (água, terra, fogo e ar) conforme a visão aristotélica. Diante disso, estas características influenciam fortemente a ideia de que as moléculas são formadas por elementos. E a partir de outros desdobramentos após o período da alquimia, o conceito de moléculas também pode ser entendido como algo constituído por outras substâncias, por exemplo, conforme aponta Mortimer (1997) para pensador Paracelso (1493-1541) constituir a

tria prima (espécie de composto) era necessário inserir sal ao mercúrio e enxofre (neste

período o sal era considerado o princípio da solubilidade na água, da cristalinidade e da manutenção da saúde, já que era pelas salgas que os alimentos eram conservados). Destarte, é a partir dessas diferentes percepções que o conceito de molécula ficou entendido como algo formado por distintos materiais.

Substancialismo: a segunda zona do perfil conceitual de molécula: Nesta zona, as ideias

atribuídas ao conceito de molécula são ancoradas sob o ponto de vista do substancialismo. Assim, a partir desta visão, as moléculas são constituídas a partir das substâncias que a formam. Como complementa Mortimer (1997) independente do processo que modifique os materiais, conforme na filosofia grega apontava que a matéria é formada por menores unidades da própria matéria, uma molécula também sobrepuja as características a qual é constituída.

A terceira zona do perfil de molécula: átomos geometricamente arranjados: a partir desta

visão, a molécula é vista essencialmente pelo olhar mecanicista da ciência, em que a molécula trata-se da menor unidade de uma substância, representada por uma estrutura molecular a qual tem um arranjo geométrico de átomos. Segundo Mortimer (1997) um bom exemplo a ser colocado são os compostos oticamente ativos, em que permitem observarmos que o átomo de carbono pode arranjar-se de duas maneiras diferentes, sendo que dentre essas duas, as moléculas resultantes seriam distintas, em relação à organização do arranjo molecular. Para o autor, “a representação tetraédrica do átomo de carbono abria a possibilidade de se representar moléculas como objeto reais” (p. 204). Então, essa visão clássica da estrutura molecular

estável, tornou-se uma forma aceitável no contexto da ciência como uma forma de nomear o conceito de molécula.

Química Contemporânea: trazendo novas zonas para o perfil de molécula: nesta última

zona, a ideia de molécula vai além do racionalismo clássico, e passa a admitir que a estrutura molecular é algo dinâmico e não estável, como exposto na zona anterior. Diante disso, a molécula é relacionada a estrutura molecular e é compreendida como algo dinâmico que não pode ser considerado apenas como um grupo de átomos cujo número, tipo e arranjo geométrico determinam todas as suas propriedades químicas. Segundo Mortimer (1997) a característica da estrutura molecular clássica e sua geometria fixa, não podem ser descritas como uma geometria única. Para o autor no contexto da química, podemos apontar variados exemplos, para confirmar a dinamicidade da estrutura molecular, por exemplo, podemos observar a natureza dinâmica da estrutura molecular partir de alguns estudos acerca de trocas isotópicas, dessa maneira, “ao se misturar iguais quantidades de vapor de H2O e de D2O obtém, num período muito curto de tempo, um sistema com aproximadamente 50% de moléculas de HDO” (p. 205). Então, conforme coloca Mortimer (1997) a química contemporânea vai mais adiante da perspectiva da química clássica, quando adota que uma molécula pode ser descrita sem se mencionar aos seus átomos constituintes, um grande exemplo segundo o autor é que a teoria do Orbital Molecular (MO) e o uso da Combinação Linear de Orbitais Atômicos (LCAO) apenas organizar as informações e a forma que a molécula deve ser gerenciada pela ciência, e não como uma característica mandatária de um esquema.

Diante do que percebemos as quatro zonas, para esta dissertação a denominaremos de maneira diferente, pois a partir da análise aos diferentes compromissos epistemológicos e ontológicos do perfil conceitual de substâncias, verificamos que as ideias, apesar de tratar de outro perfil conceitual, inferem em interpretações semelhantes. Deste modo, em relação à primeira zona, denominada por Mortimer (1997) de “ Os princípios”, o autor aponta que as moléculas são formadas por elementos, e que por um período histórico em que a alquimia regia as discussões acerca do que hoje denominamos da Ciência Química, o conceito de moléculas era tratado como algo constituído por outras substâncias, podendo ser formado por distintos materiais.

Diante disso, essa generalização, pode ser tratada como uma concepção ingênua, sem requerer um embasamento científico quando expressado, pois partem de interpretações do dia a dia das pessoas (AMARAL, 2004). Que podem ser usadas diariamente pelas pessoas, pois

como diz Mortimer (1997, p.202), “existem contextos culturais em que elas parecem funcionar tão bem ou melhor do que as ideias científicas”. Perante isso, alinhando as observações de Silva (2011), quando percebeu que um dado momento o conceito de substância é tratado de forma generalista, admitindo que qualquer material é uma substância, e esta visão foi denominada de Zona Generalista. Verificamos que a zona denominada de “Os princípios”, em um dado momento pode ser tratada de diferentes formas, sendo assim, indicamos denomina-la de Zona Generalista, com base em Amaral (2004) e Silva (2011).

A segunda zona proposta por Mortimer (1997) foi denominada de “Substancialismo”, aponta que uma das definições para o conceito de molécula é que a molécula pode ser uma quantidade unitária de matéria, apesar de não reter totalmente as propriedades da substância original, pode apontar algumas características da substância que a molécula for proveniente. Em outros momentos, Mortimer (1997, p. 203) faz uma relação apoiada com as visões filosóficas de Anaxágoras (500? – 428) e Aristóteles, que uma substância é denominada em função daquilo a predomina, podendo ser aumentado ou diminuído. Por isso, o autor coloque acerca da existência de menores partículas de um dado tipo de matéria que seriam determinadas pela natureza específica da substância que a constitui, como por exemplo, as menores partículas de enxofre apresentariam propriedades pela substância enxofre. Diante disso, alinhando as discussões propostas por Silva (2011), percebemos características da Zona Substancialista, em que tem concepções que átomos, moléculas e elementos contêm propriedades as quais constitui. Dessa forma, a zona denominada por Mortimer (1997) de “Substancialismo”, em nosso trabalho denominamos de Zona Substancialista.

Em relação à terceira zona, proposta por Mortimer (1997) chamada de “Átomo geometricamente arranjados”, que diz a molécula é a unidade na qual uma substância pode ser dividida, esta ancorada nas visões mais aceitas atualmente pelo meio científico, segundo Atkins e Jones (2012), molécula é um grupo discreto de átomos ligados em um arranjo específico.

Para Amaral (2004), ter essas visões aceitas, se enquadra em um pensamento racional, que é validado pela experiência no universo. Nesse caso, ter a visão uma mesma visão expressa, aponta uma estabilidade do conceito, permitindo um consenso geral para todos os homens, lugares, tempo e qualquer fenômeno. Destarte, esse racionalismo aponta acerca da melhor forma de instituir e organizar uma ideia, que em nosso discussão encontra-se o conceito de molécula. Assim como aponta Silva (2011) essas ideias que circulam na química atual, que são bem compreendidas, isto é, aceitas pelo meio científico, podem ser enquadradas na Zona Racionalista. Diante disso, para a zona que Mortimer (1997) denominou de “Átomos

geometricamente arranjados”, nesta dissertação será tratada como Zona Racionalista para o conceito de molécula.

A respeito da quarta zona, proposta por Mortimer (1997), essa foi compreendida como “Química Contemporânea: trazendo novas zonas para o perfil de molécula”. Segundo o propositor, esta zona vai para além do racionalismo clássico, e trata a molécula como uma característica molecular, que vai além da geometria fixa, conforme é compreendida a zona racionalista, esta nova zona compreende a molécula em que une os átomos que vibram em torno de suas posições, e que também não se restringem a uma geometria única.

Para Amaral (2004) essas ideias buscam colocar em discussão ideias que requer um maior grau de abstração, como algo além do racionalismo vigente, isto é, é uma forma de pensar mais complexa que uni várias interpretações, dentro de um jogo dialético. Diante disso, com base nessas interpretações, Silva (2011), propôs a Zona Relacional, para o conceito de substância, em que segundo o autor a ideias para o conceito são levadas a um nível mais complexo de compreensão. Com base nisso, e na constatação que a quarta zona proposta de por Mortimer (1997), aponta acerca da necessidade de uma compreensão mais elevada para o conceito de molécula, para este trabalho, denominamos de a quarta zona chamada por Mortimer (1997) de “Química Contemporânea: trazendo novas zonas para o perfil de molécula”, de Zona Relacional para o conceito de molécula.

Então, diante dessa discussão, ilustramos no quadro abaixo, um resumo apontando a forma que iremos tratar as zonas do perfil de molécula nessa dissertação.

Quadro 2: Zonas e características do perfil conceitual de molécula

Perfil Conceitual

Nomes das Zonas propostas por Mortimer

(1997) Novos nomes propostos para as Zonas Características Molécula

Princípios Generalista As moléculas são formadas por determinados materiais (elementos ou substância). Substancialismo

Substancialista A molécula contém todas as propriedades da substância que ela compõe.

Átomos geometricamente

arranjados

Racionalista

A molécula tem a menor unidade na qual uma substância pode ser dividida sem que haja uma mudança na sua natureza química.

Química Contemporânea Relacional

A molécula é relacionada a estrutura molecular, é compreendida como algo dinâmico que não pode ser considerado

apenas como um grupo de átomos cujo número, tipo e arranjo geométrico determinam todas as suas propriedades

químicas. Fonte: Mortimer (1997) adaptado.

Com base no Quadro 2, iremos nos guiar para as discussões acerca do conceito de molécula, adotando as características apontadas acima.

No próximo capítulo, apresentamos nossa metodologia, apontando todo o percurso metodológico detalhadamente. Além disso, expomos todo o processo de análise de nossa pesquisa.

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