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Perfil Conceitual e a sala de aula

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CAPÍTULO 2 CONTRIBUIÇÕES DA TEORIA DO PERFIL CONCEITUAL PARA

2.1 A teoria do perfil conceitual

2.1.1 Perfil Conceitual e a sala de aula

Presentemente, no contexto do ensino de ciências é percebida a inserção de diferentes pesquisas que buscam entender a dinâmica das interações da sala aula, visando compreender os diferentes modos de pensar e conceituar o mundo.

Dentre essas linhas de pesquisas, podemos mencionar a teoria do perfil conceitual que busca produzir mecanismos e ferramentas para organizarmos os variados modos de ver e explicar os diferentes contextos da sociedade, sob a ótica da heterogeneidade do pensamento dos distintos sujeitos, segundo Mortimer (1995, 2000), Silva (2011), Silva e Amaral (2013), Sabino (2015), Mortimer e Scott (2014) e Mortimer e El-Hani (2014). Conforme já

discutimos em outros momentos do texto, a noção de perfil conceitual surgiu como uma maneira de estruturar os diversos modos de pensar um conceito, incluindo as concepções informais apresentadas pelos estudantes, muitas vezes observadas no processo de aprendizagem (MORTIMER, 2000; AYALA FILHO, 2010).

Na perspectiva do perfil conceitual, devemos considerar como importante o fato de que diferentes sujeitos da sociedade têm distintas maneiras de observar e representar o mundo, e as utilizam nos variados contextos que convivem. Isso poderá possibilitar uma discussão mais ampla sobre os vários conceitos científicos ensinados na escola, promovendo uma aprendizagem mais significativa.

Mortimer (1995), Putnam (1995), Amaral e Mortimer (2005) defendem que os variados modos de pensar e interpretar conceitos podem coexistir em um mesmo indivíduo, o que nos leva a considerar o pluralismo de ideias e suas complementaridades. Neste sentido, observamos a importância da noção do perfil conceitual no contexto da sala, considerando que este consegue subsidiar o entendimento dos múltiplos conceitos que emergem durante o processo de ensino-aprendizagem. Então, através da noção do perfil conceitual é possível constituirmos afinidades entre diferentes maneiras como as pessoas compreendem e aplicam seus conhecimentos em distintos contextos (DINIZ JÚNIOR; SILVA; AMARAL, 2014).

Segundo Mortimer e Scott (2002) ao longo dos anos, com o crescimento de diversas pesquisas a noção do perfil conceitual foi ampliada teoricamente, alinhada com a perspectiva sociocultural, a partir da qual a aprendizagem em ciências é compreendida como a aprendizagem da linguagem social da ciência escolar. Conforme Mortimer e El-Hani (2014), a perspectiva sociocultural, atrelado à teoria da aprendizagem de Vigotski (1978, 1981, 1987) permite compreender que as funções mentais não apenas são internalizadas em si, mas a sua potencialidade. Assim, para os autores, o que é internalizado é a potencialidade do surgimento das funções mentais semelhantes a um tipo de relação socialmente situada, entre o cérebro, corpo e ambiente.

Consideramos que esta associação possibilita aos sujeitos, principalmente o professor que tem um papel de mediador do conhecimento, acompanharem o processo de construção de significados, na sala de aula, ao mesmo tempo em que (re)consideram e refletem acerca dos seus próprios conhecimentos. Logo, as funções mentais, como o pensamento conceitual, que emergem na dinâmica das interações da sala de aula, ocorrem de maneira mais organizada. De acordo com Mortimer e El-Hani (2014) essa organização, é dada a partir do reconhecimento dos diversos significados que um conceito pode apresentar, considerando os contextos de aplicação de cada conhecimento aprendido. Dessa forma, o pensamento conceitual ajudará

tanto a professores quanto estudantes a problematizarem o conhecimento e percebê-los, sob olhares contextualizados, elaborados pelo próprio desenvolvimento sóciohistórico da sociedade.

Outros pressupostos teóricos, que corroboram acerca da importância do perfil conceitual na sala de aula é construtivismo contextual (COBERN, 1996) e da linguagem (BAKHTIN, 1981, 1986), que aos poucos se tornaram modelos para analisar os modos de pensar e falar e do processo de conceituação em situações de ensino e aprendizagem de ciências (MORTIMER et al. 2014). Cobern (1996) relata que o processo de conceituação é um dos principais domínios da aprendizagem, que ajuda professores e estudantes compreender o conhecimento científico a partir de diferentes perspectivas da sociedade. Mas, para que haja uma melhor compreensão, conforme discorre o autor é necessário que os educadores entendam as diferentes crenças, concepções dos estudantes, para que assim não crie conflitos cognitivos e permita uma melhor aprendizagem.

Assim, percebemos o quão é necessário trazermos o debate do perfil conceitual sob a ótica da sala de aula, pois ajuda de um ponto de vista ímpar o desenvolvimento das interações discursivas e do processo de ensino-aprendizagem.

Segundo Mortimer e Scott (2002), com as recorrentes pesquisas sobre perfis conceituais, esta linha de pesquisa integrou um grande arcabouço teórico, o qual contribui diretamente para a aprendizagem de ciências. Logo, para os autores, esse arcabouço entrelaça a aprendizagem escolar à construção de significados que podem ser expressos por cada sujeito a partir da maneira com que expõe seus diferentes pensamentos.

Ressaltamos que, em muitos momentos da sala de aula, professores demonstram ter dificuldades na mediação dos diferentes conteúdos discutidos em sala de aula, o que pode resultar em um reforço a compreensões equivocadas que se refletem no modo como os estudantes se expressam. Por não terem uma formação voltada para a discussão sobre os diversos significados que determinados conceitos podem apresentar, os professores podem reforçar dificuldades apresentadas pelos estudantes. Essas dificuldades não são necessariamente e apenas relacionadas aos aspectos ontológico ou epistemológico do conceito, mas, como dizem Mortimer e Scott (2014), podem advir de um trabalho limitado com a linguagem científica, a partir da qual o professor deverá apresentar novos significados para os conteúdos estudados.

Diniz Júnior (2014) e Diniz Júnior, Silva e Amaral (2015) também complementam que no contexto da sala de aula muitos professores, durante suas aulas, não apresentam diferentes visões acerca dos conceitos estudados, empregando assim, na maioria das vezes a visão

simplista ilustrada no livro didático, e em outras ocasiões simplesmente concepções do senso comum. Logo, diferentes perspectivas associadas aos conceitos que venham emergir, por meio das ideias dos estudantes, ou mesmo a visão científica, podem ser desconsideradas, por não se enquadrarem no modelo que os professores já possuem.

Segundo Mortimer et al. (2014) e Mortimer e El-Hani (2014) é partir dessas problemáticas que surge a emergência dos professores tomarem conhecimento do perfil conceitual, para que assim utilizem-se do conjunto de quadros teóricos-metodológicos que o perfil apresenta, a qual permite entender sobre aprender e ensinar ciência em sala de aula. Para Mortimer (1995, 2000) e Mortimer e El-Hani (2014) por meio da inserção do perfil conceitual no contexto da sala de aula, a aprendizagem e a construção do conhecimento poderão ocorrer a partir de olhares holísticos, considerando o desenvolvimento sociohistórico da humanidade, como unidade para construção dos diversos significados que cada contexto possa apresentar.

Nessa perspectiva, consideramos que o perfil conceitual possibilita a professores e estudantes, no contexto da sala de aula, articularem concepções e conhecimentos, incorporando-os ao processo de construção de novas formas de pensar e falar, levando esses sujeitos a tornarem-se conscientes da heterogeneidade do pensamento.

Araújo (2014) também coloca que o discurso dos sujeitos que integram o plano social da sala de aula torna-se mais completo tomando conhecimento dos perfis conceituais, assim o professor consegue mediar fatos e informações sem desconsiderar as concepções dos estudantes, ou seja, reconhecerá que a fala dos estudantes faz parte do conhecimento produzido e articulado na sala de aula. Diniz Júnior (2014) e Diniz Júnior, Silva e Amaral (2014, 2015) também colocam que o perfil conceitual pode se constituir em um forte subsídio para o trabalho na sala de aula, uma vez que possibilita a professores e estudantes a construção de uma visão abrangente sobre as diversas formas de compreensão de conceitos, aplicadas a diferentes contextos. Silva e Amaral (2013) destacam o fato de que o indivíduo pode apresentar uma forma de pensar não científica em seu dia a dia, e ter a consciência de que tal concepção não é aceita em um contexto científico, compreendendo assim que determinadas situações e fenômenos podem ser explicados de maneira diferente pela Ciência. No contexto da sala de aula, Silva (2011), Silva e Amaral (2013),Diniz Júnior (2014) e Sabino (2015) relatam que em cada momento das aulas de química emergem diferentes modos de pensar sobre um único conceito, e podem ser verificados através da fala dos estudantes. Todavia, sabemos como o professor tem um papel importante como articulador de informações e mediador de conhecimentos, em várias ocasiões, estes influenciam os

estudantes a construírem entendimentos conectados a visões do senso comum, com poucas incidências sobre concepções científicas, entre outras, que correspondem a outros contextos.

Diante disso, Diniz Júnior (2014) e Sabino (2015) defendem que é emergente introduzirmos reflexões acerca dos modos de pensar, e fazer com que professores de química se tornem conhecedores do perfil conceitual para que, quando atuarem no contexto de ensino, tenham consciência das diversas formas de discutir o conhecimento nas interações da sala de

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