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5 ANÁLISE E DISCUSSÃO DOS RESULTADOS

5.1 Análise dos resultados dos alfabetizadores

5.1.1 Perfil dos alfabetizadores

Durante a aplicação do questionário, e entrevistando individualmente os alfabetizadores, podemos perceber que a maioria vem de famílias cujos pais são analfabetos e oriundos de grupos familiares muito humildes, que residem e estudam no próprio Município, veem no projeto uma boa oportunidade profissional, acham o trabalho realizado altamente gratificante, selecionam seus alunos pessoalmente, vão de casa em casa tentar convencê-los a participar do projeto; muitas vezes são necessárias várias tentativas até conseguir formar a turma. Constatamos nas entrevistas que algumas salas são formadas nas residências dos alfabetizadores e grande parte dos alunos matriculados pertence a mesma família do professor.

Esses professores vivenciam muitas dificuldades em sala de aula, utilizam metodologia de alfabetização que, na verdade são, reproduções de geração em geração de alfabetizadores. Por mais que a IES parceira encaminhe profissionais qualificados para acompanhá-los durante o módulo, os professores não conseguem absorver, com muita facilidade, as orientações recebidas no curso de capacitação. Os motivos variam da carga horária muitas vezes insuficiente à falta de um acompanhamento sistemático nas aulas. O número de visitas que a organização (AlfaSol) disponibiliza para a orientação dos alfabetizadores no Município é sempre inferior à real necessidade apresentada por eles. O coordenador municipal, responsável pelo acompanhamento dos professores no Município, não se sente habilitado para tirar todas as dúvidas durante o percurso do módulo em atividade. A maioria dos alfabetizadores não está mais na AlfaSol (92,3%), continua atuando em EJA (76,9%), a maioria no programa Brasil Alfabetizado(53,9%). (Cf. Tabelas 7,8)

5.1.2 Formação

A necessidade de aprender se estendeu a quase todos os rincões da atividade social. Estamos na sociedade da aprendizagem e somos todos, em maior ou menor grau, alunos e professores. Segundo um recente informe do Banco Mundial, foi introduzido como novo critério de riqueza o “capital humano”, medido em termos de educação e formação. Segundo esse informe, o capital humano proporciona, não apenas no presente como também no futuro, dois terços de prosperidade de uma nação.

Essa demanda crescente de formação, entretanto, produz condições nem sempre favoráveis ao êxito da aprendizagem. Houve época, na AlfaSol, em que os alfabetizadores não tinham condições de ser treinados para se tornarem alfabetizadores, pois estavam mais na condição de alunos. Hoje, o que vemos são alfabetizadores graduados e pós-graduados, porém com a mesma dificuldade de alfabetizar um adulto.

Na apresentação dos dados, o leitor atento perceberá que, em alguns casos, os percentuais, se somados, ultrapassam 100%. Isto decorre do fato de que nesses itens do questionário o sujeito podia responder a mais de uma opção.

No gráfico a seguir, está a situação desse alfabetizador hoje; muitos continuam ensinando e a maioria ainda atua em educação de jovens e adultos-EJA, a maior parte no programa Brasil Alfabetizado.

Gráfico 1: Formação dos professores

Como podemos observar no gráfico 1, em relação à formação dos professores, 61,5% dos alfabetizadores são graduados, 7,7% estão na pós-graduação e 7,7% cursando a graduação, 23,1% continuam no nível médio, segundo os alfabetizadores por questões financeiras, pois, se dependesse só da vontade deles, já estariam na faculdade. A maioria dos professores da AlfaSol é de formados pela Universidade Vale do Acaraú – UVA, cerca de 46,2% dos entrevistados, e o restante formado por instituições dessa natureza.

Os dados permitem afirmar que os alfabetizadores que estavam no módulo XX da AlfaSol continuam a trabalhar como professores (69,3%), alguns em escolas, outros em programas de alfabetização e 76,9% possuem experiência em EJA.

Quando entraram na AlfaSol, 38,5% dos alfabetizadores já se encontravam com formação superior, 7,7% cursando uma especialização e 7,7% na graduação. Quando abordamos sobre o curso de educação continuada, 69,2% disseram ter feito o curso, a maior parte pelo programa Brasil Alfabetizado (53,9%). Atualmente, 30,8% dos alfabetizadores trabalham nesse programa (cf. Tabelas 2 a 11).

O quadro 5, a seguir, mostra a formação que os professores apresentavam em 2006, quando iniciaram na AlfaSol e atualmente, época em que realizamos a pesquisa, 2009

QUADRO 5 – Formação dos alfabetizadores antes e depois do projeto

Formação dos alfabetizadores no ano de 2006 Formação dos alfabetizadores no ano de 2009

Experiência com EJA Trabalho atual

1

Ensino Médio (Pedagógico)

Ensino Médio (Pedagógico)

Brasil Alfabetizado e AlfaSol Brasil Alfabetizado e Mais Educação

2 Ensino Fundamental Ensino Médio Brasil Alfabetizado Escola– séries iniciais

3 Graduação Especialização AlfaSol Sem trabalho

4 Ensino Médio Graduação Brasil Alfabetizado e AlfaSol Escola– Ensino Fundamental-Português

5 Graduação Graduação AlfaSol Sem trabalho

6

Ensino Médio Ensino Médio AlfaSol Escola– séries iniciais

7

Especialização Especialização Brasil Alfabetizado e AlfaSol AlfaSol

8

Graduação Graduação Brasil Alfabetizado e AlfaSol,

Projeto todas as Letras e BB Educar

Escola Creche Nosso Lar – Brasil Alfabetizado 9

Graduação Graduação AlfaSol e BB Educar Escola – 2º e 3º anos

10

Graduação Graduação Brasil Alfabetizado e AlfaSol,

Projeto SESI e Alfalit

Escola Creche Nosso Lar – Brasil Alfabetizado

11 Ensino Médio Graduação SESI por um Brasil Alfabetizado e AlfaSol Sem trabalho

12 Ensino Médio Ensino Médio (Pedagógico) Brasil Alfabetizado e AlfaSol Brasil Alfabetizado

13 Ensino Médio Ensino Médio Brasil Alfabetizado e AlfaSol Brasil Alfabetizado

Vale ressaltar que a AlfaSol tem como uma de suas propostas o incentivo à qualificação, à continuação dos estudos dos alfabetizadores. E nesse ponto, os professores estão tentando fazer a sua parte.

Os alfabetizadores continuam trabalhando em escolas (69,2%); apenas dois professores continuam ensinando na AlfaSol, fato previsível, já que a organização defende a mudança dos alfabetizadores a cada módulo. O objetivo, segundo seu modelo político-pedagógico, é dar novas oportunidades a várias pessoas da localidade envolvida.

A estratégia utilizada pela organização não é a mais adequada pois, os alfabetizadores levam algum tempo para aprimorar a forma de ensinar os jovens e adultos e, quando começam a desenvolver a habilidade para o trabalho, interrompem, prejudicando todo o processo que poderia ser melhorado.

Kleiman, Signorini e colaboradores (2001, p.29) nos mostram que os alfabetizadores exercem hoje uma função para a qual nem sempre são preparados no curso de magistério. Por força da instituição, eles passam a ser o representante dos grupos letrados na sala de aula, sendo que a formação, a sua extração social e a sua condição econômica não lhes permitem exercer com segurança esse papel.

Os alfabetizadores de jovens e adultos convivem com a frustração do fracasso do cotidiano da aula e podem até alfabetizar, mas, certamente, não formarão sujeitos letrados que utilizem a escrita para o seu desenvolvimento e do seu grupo social (KLEIMAN, 2001).

5.1.3 Práticas individuais de leitura e escrita dos professores (avaliação do nível de