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Para conhecer os estereótipos que os Secretários e seus Adjuntos possuem sobre o Senado, sobre os políticos e sobre si mesmos, é importante conhecer quem são esses servidores, qual sua formação, há quanto tempo trabalham no Senado e como ingressaram na Casa. A primeira parte das entrevistas foi dedicada a colher o perfil dos funcionários.

Quanto ao sexo, do total de quinze entrevistados, dez são homens e cinco, mulheres, como exposto no Gráfico 1. Esses dados estão em consonância com o quadro geral do Senado Federal, disponibilizado pela Secretaria de Recursos Humanos, pois, dos servidores efetivos (categoria na qual se inserem os Secretários e Adjuntos), 35% são mulheres e 65% são homens, números que se alteram para 34% e 66%, respectivamente, quando se trata de servidores efetivos ativos e aposentados.

Gráfico 1: Distribuição dos Secretários e Adjuntos das Comissões Permanentes do Senado Federal por sexo – Nov e Dez de 2008

33%

67% feminino

mascuclino

Fonte: Pesquisa Empírica da mestranda

Todos os servidores entrevistados possuem formação superior, contudo, em cursos bastante diversos. No Senado Federal, a qualificação e capacitação para desempenho da função parecem ser independentes da formação original, conforme Tabela1, sugerindo a relevância do aprendizado interna corporis.

Tabela 1: Distribuição dos Secretários e Adjuntos das Comissões Permanentes do Senado Federal por área de formação - Nov e Dez de 2008

Área de Formação Servidores

Sociologia 1 Comunicação Social 1 Direito 3 Letras 1 Ciência Política 1 Serviço Social 1 Administração 2 Contabilidade 1 Estatística 1 Educação física 1 Matemática 2

A formação bastante diversificada dos entrevistados possui convergência quanto ao campo de conhecimento. Dos entrevistados, 11 dedicaram-se às áreas das Ciências Sociais e Humanas e apenas quatro as Exatas e Biológicas.

O aprendizado sobre o funcionamento da Casa parece ser bastante sólido entre esses funcionários, pois a grande maioria teve o Senado como primeira experiência profissional. Dentre os servidores que contaram com outra experiência, ela foi bastante diversificada, não constituindo um arcabouço comum. Em outras palavras, comumente esses servidores ingressaram com pouca idade no Senado e nele construíram toda sua carreira profissional, como visto na Tabela 2:

Tabela 2: Distribuição dos Secretários e Adjuntos das Comissões Permanentes do Senado Federal por Experiência profissional anterior – Nov e Dez de 2008

Experiência Profissional Anterior Servidores Administração Federal 2 Organismo Internacional 1 Instituição Filantrópica 1 Setor privado 2 Primeiro Emprego 9

Fonte: Pesquisa Empírica da mestranda

Além da ausência de experiência profissional anterior, o longo tempo trabalhado no Senado parece ser um fenômeno comum entre esses servidores. Do conjunto pesquisado, o servidor que possuía o menor tempo de Casa trabalhava no Senado havia 14 anos e o de maior tempo já contava com 36 anos de Senado. A média situava-se entre os vinte e os trinta anos, ou seja, os Secretários e Adjuntos entrevistados eram pessoas ambientadas com o Senado Federal, a maior parte sem vivência profissional anterior, com sua carreira profissional construída dentro da Casa; alguns deles já próximos da aposentadoria.

Se em um primeiro momento os dados sobre a formação profissional desses servidores pareciam ir de encontro com a definição de burocracia construída por Weber (1997), que a conceitua como corpo de trabalhadores qualificados e capacitados por meio de treinamento especializado, os dados sobre o tempo de serviço na Casa parecem indicar que a qualificação e treinamento ocorrem dentro do Senado, interna corporis.

O primeiro concurso promovido pelo Senado ocorreu na década de 1970 e o seguinte foi realizado em 1984. Portanto, grande parte dos servidores admitidos antes de 1984 e ainda em atividade entrou sem passar por concurso público e foi efetivada. Já os servidores que ingressaram depois de 1984 foram admitidos por meio de concurso para as mais diversas áreas.

Gráfico 2: Distribuição dos Secretários e Adjuntos das Comissões Permanentes do Senado Federal sobre a forma de ingresso no Senado – Nov e Dez de 2008

Como o Sr. (a) ingressou no Senado?

27%

73%

Concurso Sem concurso

Fonte: Pesquisa Empírica da mestranda

O fato de 73% dos Secretários e Adjuntos terem mais de 24 anos de Casa remete à afirmação de Guerreiro Ramos (1983) de que a burocracia não possui natureza intrínseca e sim características históricas. Assim, o grupo formado pelos Secretários e Adjuntos compartilha longa experiência e socialização dentro do Senado, pois a maior parte de sua vida profissional passou-se no interior da Casa. As características desse grupo estarão configuradas pela instituição, pelo histórico e pelo cotidiano compartilhado.

Retoma-se o argumento de Durkheim (1995) de que as representações são um produto de experiências repetidas e a repetição é a fonte de sua ascendência e autoridade. Logo, quanto maior seu tempo de vigência, maior a autoridade emanada. Esses apontamentos teóricos indicam provável convergência entre os modelos mentais dos Secretários e Adjuntos. Uma vez que a burocracia apresenta características históricas e as representações são produtos da experiência, espera-se que os modelos mentais (como elemento pessoal das instituições e das representações) apresentem elevado nível de uniformidade.

Como o Senado é uma Casa complexa, com setores especializados nas áreas administrativa, legislativa e política, a consolidação do aprendizado institucional depende em muito da lotação do servidor. Antes de ocuparem suas funções nas atuais comissões, os Secretários e Adjuntos estavam lotados em diversas áreas, incluindo os Gabinetes, a Secretaria Geral da Mesa, a Secretaria de Expediente, o gabinete da Diretoria das Comissões, as lideranças de Partidos Políticos, as Comissões Parlamentares de Inquérito – CPIs e outras Comissões. A experiência em outras comissões se mostrou bastante frequente. Dos 15 entrevistados, dez já tinham trabalhado em outras comissões e quatro deles em CPIs, o que incrementa o argumento sobre o aprendizado institucional.

O tempo que esses servidores exercem as funções de Secretário e de Adjunto varia bastante, como expresso no Gráfico 3. Há um grupo de sete servidores que possuem mais de nove anos na função, enquanto três vivenciam entre cinco e oito anos e cinco possuem até quatro anos na função de secretário ou de adjunto. Para ilustrar o tempo de exercício da função, agregou-se todo o período em que os servidores foram secretários ou adjuntos (a comissão atual e as anteriores, quando existiram):

Gráfico 3: Distribuição dos Secretários e Adjuntos das Comissões Permanentes do Senado Federal pelo tempo de trabalho na função – Nov e Dez de 2008

0 1 2 3 4 5

1 a 4 anos 5 a 8 anos 9 a 12 anos 13 a 16 anos 17 a 20 anos

Há quanto tempo o Sr. (a) trabalha como Secretário ou Adjunto?

Quando perguntados se o período em que estão no Senado é suficiente para conhecer a Casa, as respostas tenderam a concordar, como apontado no Gráfico 4. Em geral, as respostas positivas afirmaram que já tinham bastante tempo de Casa, o que lhe conferia significativo conhecimento. Já as duas pessoas que responderam “parcialmente” justificaram que a Casa possui muitos setores distintos, logo é possível trabalhar anos em setores administrativos, como a Gráfica e o Arquivo, e com isso não conhecer o processo legislativo.

Gráfico 4: Consentimento dos Secretários e Adjuntos das Comissões Permanentes do Senado Federal sobre o conhecimento do Senado – Nov e Dez de 2008

Esse tempo de Trabalho no Senado é suficiente para conhecer a Casa?

12 10 8 6 4 2 0

Sim Parcialmente Não

Fonte: Pesquisa Empírica da mestranda

A consonância nas respostas acima não evitou a grande variedade de respostas à pergunta: “Quanto tempo o(a) Senhor(a) acha que é suficiente para conhecer a Casa?”. Comumente os entrevistados convergiam quanto ao grande número de áreas dentro do Senado e das subdivisões dentro de cada área. Logo, o conhecimento substancial da Casa demandaria experiência em vários setores. Foi enfatizada a dicotomia existente entre setores dedicados ao processo legislativo e setores de caráter mais administrativo, que dão suporte ao legislativo. Para entender o Senado seria então preciso conhecer essas duas grandes áreas. Entre os entrevistados que responderam sobre o tempo necessário para se conhecer o Senado, a resposta variou entre seis meses a dez anos, com algumas respostas

intermediárias, como dois e cinco anos. Para outros servidores, a grande quantidade de setores e suas especificidades impossibilitariam o conhecimento da Casa.