• Nenhum resultado encontrado

A pesquisa empírica realizou entrevistas e transcreveu todos os discursos (Anexo 3) para facilitar a análise de conteúdo empreendida. Realizou-se uma apropriação das interpretações pessoais sem, contudo, dissecá-las. Em possível pesquisa futura seria interessante ampliar as análises para os processos cognitivos e sua formação constitutiva, sua difusão e prováveis modificações. Seriam interessantes também estudos que diferenciassem a parte central dos modelos mentais das periféricas, com suas inter-relações e dependências. Para essa dissertação, observou-se a noção como um todo, ou seja, na forma de bloco de sentido articulado, elementos de uma rede de significações socialmente elaboradas.

Antes de examinar os estereótipos sobre o Senado, os políticos e os próprios funcionários, buscou-se um perfil desses servidores. O grupo é pequeno, parece coeso e, de acordo com os próprios funcionários, possui um bom relacionamento. O conjunto é majoritariamente masculino, com 67% de homens e 33% de mulheres. O grupo possui formação acadêmica bastante distinta e predominantemente na área de humanas. Cerca de 73% ingressaram no Senado há mais de 24 anos, por isso não fizeram concurso público.

Apenas 27% são concursados e a maior parte do grupo teve no Senado sua primeira experiência profissional.

Esses aspectos são especialmente relevantes, pois mostram que exercício da função de Secretário e Adjunto não exige formação específica, estando muito mais relacionado com um conhecimento sobre o funcionamento interno da Casa e seu aparato normativo. Isso pode ser verificado pelo longo período em que esses servidores trabalham no Senado, pela comum experiência em outras comissões e pelo bom conhecimento sobre a Casa que afirmam ter.

Encontrou-se substancial consonância entre os discursos dos entrevistados. Mesmo quando as falas pareciam caminhar em direções diferentes, foi possível elaborar categorias a partir de seus próprios conteúdos e classificar as respostas em função dessas categorias, organizando o material coletado e evidenciando seus elementos de consonância e dissonância.

Esses servidores relacionam o cotidiano do Senado com sua realidade como funcionários, e não com as atividades legislativas em si. A Casa é vista tanto como uma instituição que deve ser respeitada como também na forma de um lugar que não funciona muito bem. O Senado foi comparado ao Brasil, apontando que a representação que alguns desses servidores possuem do país também o coloca como um todo formado por partes contraditórias ou opostas. A complexidade de sua formação e funcionamento talvez expliquem a grande quantidade de ponderações e ambiguidades das respostas dos entrevistados. O grupo acredita que há muita interferência do Executivo no Legislativo, mas, dentro deste, Câmara e Senado contribuem de igual forma para o processo legislativo. A importância equitativa das duas câmaras foi justificada pela forma como são tratadas na Constituição Federal, que lhes confere competências distintas, porém complementares. A existência de outro órgão com funções semelhantes possibilita a comparação da produção legislativa, do regramento e funcionamento interno, da atuação dos parlamentares e funcionários.

A unanimidade dos entrevistados compreende as comissões como muito importantes no processo legislativo, desempenhando papel central na discussão e deliberação de matérias. Sobre os setores da Casa mais relevantes para o processo

legislativo, 12 entrevistados apontaram as comissões; em segundo lugar veio a Secretária Geral da Mesa. Apenas dois entrevistados citaram o Plenário.

A convivência muito próxima com os parlamentares não faz com que esses indivíduos tenham uma visão positiva dos políticos brasileiros. As poucas valorações positivas foram superadas pelas ambiguidades ou ponderações. Contudo, o relacionamento cotidiano com os senadores foi majoritariamente apontado como harmônico, mas também bastante explicitado como autoritário. A dicotomia entre respostas foi acompanhada por esforço na relativização das afirmações.

O último estereótipo investigado refere-se aos próprios funcionários. O servidor do legislativo considera que é bem remunerado, contudo afirma que são mal vistos pela sociedade. Como sua imagem está extremamente vinculada à do Senado, a má fama da instituição os atinge. Para os servidores, os parlamentares veem de forma positiva o trabalho dos Secretários e Adjuntos, mas muitas ponderações e algumas valorações negativas foram feitas. Quanto à forma como são vistos pelos outros funcionários da Casa, a maioria acredita que também são valorados positivamente, por mais que a quantidade de respostas positivas tenha diminuído e as negativas aumentado, mostrando que os Secretários e Adjuntos acreditam que são mais bem vistos pelos parlamentares do que pelos próprios colegas.

Algumas perguntas forma feitas sobre a Secretaria das Comissões, pois partiu-se do pressuposto de que a importância do Secretário e do Adjunto estaria diretamente relacionada com a importância do órgão administrativo que administram. Todos os funcionários enfatizaram a relevância da Secretaria, mas diversos foram os argumentos apresentados. Em sua maior parte as justificativas derivavam do caráter administrativo do órgão, mas seus aspectos técnico e político também foram lembrados. O grupo compreende que as principais funções de um Secretário e Adjunto são de natureza administrativa, mas as dificuldades são administrativas, técnicas e políticas, nesta ordem.

A natureza administrativa e política do cotidiano dos servidores pode ser mais bem observada em relação ao Regimento Interno e aos parlamentares, os quais balizam a atuação dos Secretários e Adjuntos. O Regimento Interno parece funcionar como guia, indicando, limitando e legitimando a atuação dos funcionários. Todavia, sua autonomia e controle restringem-se ao escopo técnico e administrativo, ao passo que, para as decisões

políticas, depende-se inteiramente da vontade do presidente da comissão. De forma ampla, a natureza da inserção dos Secretários e Adjuntos no Senado Federal é mais técnica, seguida pela política e, por fim, a administrativa. Esses resultados são bastante curiosos, pois, por mais que a esfera política tenha aparecido nos questionamentos anteriores, agora se mostrou com bastante força.

A natureza técnica esteve presente em todos os momentos de forma mais ou menos constante. As maiores variações ocorrem com as esferas administrativa e política. Por mais que as atividades dos Secretários e Adjuntos tenham grande apelo técnico e administrativo, os servidores percebem, sentem e falam sobre sua natureza política. Mesmo enfatizando o caráter predominantemente administrativo de seus afazeres, reconhecem que parte da importância e algumas das dificuldades são políticas. Sendo assim, por mais que o elemento administrativo seja incentivado e ressaltado, ele consegue até afastar, mas não é suficiente para anular o elemento político.