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3.3 Diferentes abordagens do fenômeno lingüístico oração relativa (adjetiva)

3.3.3 Perspectiva da Gramática de Usos (Funcional)

Através de uma abordagem funcional, Maria Helena de Moura Neves (1997, 2000), em sua gramática acima citada, com uma abordagem mais arrojada e analisando os elementos lingüísticos não como meras formas mas a partir de seu funcionamento, ou seja, do sentido que constroem, define e especifica a oração relativa como sendo uma oração adjetiva que exerce o papel de adjetivo ou de adjunto adnominal. Em síntese, aquela que caracteriza algo ou alguém. Para a autora, a relativa exprime uma propriedade de uma entidade à qual o

predicado é atribuído, conforme vemos no exemplo: “A criança que venceu o torneio acabou não recebendo o prêmio prometido” em que vencer o torneio é a propriedade atributiva da entidade criança, cujo predicado é acabou não recebendo o prêmio prometido.

A ligação entre a oração subordinada adjetiva e o termo da oração que ela modifica efetua-se por meio de elementos denominados pronomes relativos. Esses podem ser variáveis ou invariáveis. Além de interligar duas orações, o pronome relativo desempenha uma função sintática na oração subordinada, na proporção em que ocupa o papel que seria exercido pelo termo que o antecede. Embora apresente uma definição bastante hermética, até mesmo a gramática tradicional reconhece haver casos em que o pronome relativo não tem um antecedente específico na frase, pois, em termos de sentido, sempre haverá uma referência, por mais remota que seja. Nos exemplos: “Quem não deve não teme” e “Ficou sem se mexer onde sua mãe o deixou”, o quem e o onde são pronomes indefinidos, mas, semanticamente, podemos criar hipóteses sobre seus referentes, por exemplo, podemos substituir quem por “a pessoa que, ou por aquele que” e onde por “no local em que ou no lugar em que”. E quando analisamos em uma situação específica, funcionando em um determinado contexto, encontramos pistas lingüísticas e/ou discursivas que nos fornecem informações sobre seus possíveis referentes. Em síntese, são pronomes indefinidos que, em situação enunciativa, deixam de ser indefinidos, pois se referem a algo ou a alguém em particular.

Neves (2000) separa o pronome relativo em dois tipos: a) o fórico – relativo que faz referência a um antecedente – “Este é o amigo de que tanto lhe falei”; e b) o relativo que não se refere a um antecedente, correspondente a um sintagma nominal – “Quem casa quer casa” (quem = aquele que; a pessoa que). No que se refere à natureza do pronome relativo, a autora explicita que ele pode fazer referência a pessoas e/ou a coisas. Os seguintes pronomes relativos podem referir-se tanto a um quanto a outro: Que e qual não possuem significado próprio e sempre ocorrem com antecedente; Quanto indica quantidade indefinida, podendo ora ter um pronome indefinido como antecedente (tanto(s), todos, tudo), ora ocorrer sem antecedente, correspondendo à expressão tanto(s) quanto(s), todos quantos; Cujo expressa o valor de um genitivo (do qual, de quem), ocorrendo sempre com antecedente. Ele corresponde ao uso dos pronomes relativos que, quem, o qual, precedidos pela preposição de. No valor semântico do relativo cujo, esclarece a autora, já está incluído um artigo definido, por isso a impossibilidade do uso desse artigo (o, a) no sintagma nominal que o relativo introduz.

Dentre os pronomes relativos, ressalta Neves (2000), o que é o mais freqüente deles, sendo, por isso, chamado de relativo universal. Além do que, há outros invariáveis como quem quando, como e onde; já os variáveis (flexionam-se em gênero e/ou em número) são (o) qual, cujo, quanto. Boa parte deles pode vir antecedida por preposição, o que dependerá do sentido produzido pelo elemento que o antecede. Segundo a autora, esses pronomes podem desempenhar a função de elemento nuclear ou periférico dentro do sintagma em que operam. É nucelar quando por si mesmo constitui o núcleo de um sintagma, apresentando a mesma distribuição de um sintagma nominal. São os chamados pronomes substantivos: que, quem, onde, como. Já o periférico incide sobre um substantivo, atuando como determinante, e fica à margem do núcleo substantivo, sempre vindo antes dele. São os chamados pronomes adjetivos. Seu representante é o cujo, mas o relativo qual, precedido de artigo, também pode funcionar como elemento periférico no sintagma.

No que se refere à relação que o pronome relativo estabelece com o termo que caracteriza, a oração subordinada relativa pode efetuar dois papéis: ora restringe o sentido do termo ao qual se refere, individualizando-o (trata-se da adjetiva restritiva); ou realça determinado detalhe, ampliando ou explicitando dados sobre o antecedente, pois esse já se encontra definido (trata-se da adjetiva explicativa). Enquanto a primeira pode vir com ou sem antecedente, a segunda sempre ocorre com antecedente. Normalmente, a explicativa vem marcada pelo uso da vírgula, o que é bastante raro na restritiva. Nessa situação, é fácil perceber que o emprego da vírgula ultrapassa a marca de uma pausa, ela tem influência na construção do sentido do enunciado, como podemos observar nos exemplos que seguem: As casas Sandoval têm mais de mil funcionários que trabalham em período integral. As casas Sandoval têm mais de mil funcionários, que trabalham em período integral.

Na primeira situação, temos a informação de que a referida empresa tem mais de mil funcionários trabalhando em regime integral, mas existem outros funcionários que trabalham em período parcial. A oração adjetiva limita o sentido do termo funcionário, sendo, portanto, restritiva. Já no segundo caso, em que a oração relativa está separada por vírgulas, o sentido é outro: a empresa tem mais de mil funcionários e todos eles trabalham em período integral. Nesse exemplo, a oração é explicativa, pois esclarece qual é a situação geral de todos os funcionários da Loja. Para Neves (2000, p. 375), a informação introduzida pela oração restritiva “serve para identificar um subconjunto, dentro de um conjunto maior, restringindo a extensão de seu antecedente”. Já a informação introduzida pela explicativa é suplementar,

pois não serve para identificar nenhum subconjunto dentro de um conjunto maior. “A presença das vírgulas marca uma oração explicativa que não predica um grupo delimitado, mas introduz uma informação adicional” (idem, ibidem).

O antecedente de uma relativa, esclarece a autora, pode ser tanto um substantivo (com ou sem determinante) quanto um pronome (indefinido ou demonstrativo). Além disso, o pronome relativo exerce função sintática na oração adjetiva em que atua. Enquanto os pronomes que e qual podem exercer as funções de sujeito, objeto direto, objeto indireto, complemento nominal ou adjunto adverbial; o pronome quem (com antecedente) funciona como complemento e vem introduzido por preposição; e o pronome cujo (com ou sem preposição) sempre funciona como adjunto adnominal do substantivo que acompanha (sendo sempre periférico); por fim, o pronome onde sempre exerce a função de adjunto ou de complemento adverbial de lugar.

Quanto à forma, a oração subordinada adjetiva pode ser tanto desenvolvida quanto reduzida. Dizemos que é do primeiro tipo quando seu verbo está no modo indicativo ou subjuntivo e é introduzida por um pronome relativo; e no segundo, quando não apresenta pronome relativo – podendo ser introduzida por preposição – e o verbo se encontra em uma das formas nominais: infinitivo, gerúndio, particípio, conforme o exemplo: Márcia foi a primeira funcionária que apareceu no local. Márcia foi a primeira funcionária a aparecer no local (reduzida do infinitivo, introduzida pela preposição a).

Além dos estudos da relativa sob os três enfoques acima abordados, apresentamos outras pesquisas que descrevem o mesmo fenômeno lingüístico, através de diferentes pontos de vista, todas preocupadas em entender e aperfeiçoar seu ensino, principalmente no que se refere à natureza sintática e semântica dessas orações.