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3.4 O papel da Lingüística enquanto ciência no ensino de língua

4.1.1 Seqüências didáticas

A noção de seqüência didática foi introduzida nos anos 90 e corresponde a uma progressão em diferentes etapas no ensino e aprendizagem em função de objetivos específicos. Segundo Langlade (1992) e Denizot (1994), elaborar seqüências didáticas consiste em organizar atividades de diferente natureza que levem o aluno a desenvolver, de modo progressivo, as habilidades necessárias para adquirir a(s) competência(s) almejada(s). Mas para que esse processo didático funcione, o professor precisa acompanhar a aprendizagem do aluno em cada etapa e toda seqüência deve ser construída por meio da apreciação dos saberes por ele já adquiridos, avaliando se a seqüência anterior foi realmente apreendida.

Na situação específica do ensino de língua, a seqüência didática corresponde a organizar, a partir de um conjunto de várias etapas, atividades de leitura, de escrita e de fala com vistas a que o aluno adquira determinados saberes, desenvolvendo habilidades e competências previamente definidas. A seqüência também constitui-se por uma coerência interna: um conjunto ordenado de operações direcionadas a objetivos específicos, fazendo

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“l´élaboration d’un enseignement intentionnel et réfléxi qui trouve dans les savoirs savants convoqués des justifications aux contenus et aux démarches qu’il propose” (tradução nossa)

referência a um conjunto mais amplo, no qual se insere: o plano global da escola. É importante que se estabeleça o nível teórico que está diretamente relacionado ao nível real da competência do aluno e das necessidades particulares manifestadas, levando sempre em conta as orientações efetuadas pelos órgãos oficiais, e pelo projeto anual do professor, no qual a seqüência se insere, pois esse é um importante elemento à contextualização do saber selecionado.11

Tendo como base os autores estudados, sintetizamos da seguinte maneira o processo e os elementos envolvidos na elaboração de seqüências didáticas de língua materna.

1 Determinação do objeto de ensino, especificando a natureza da seqüência:

- delimitar o saber e o saber-fazer que se pretende que o aluno adquira durante a seqüência programada, respeitando as orientações do texto oficial;

- informar-se sobre o estado dos conhecimentos no domínio visado pelo objeto de ensino, ou seja, os saberes científico-teóricos (ou mesmo técnicos);

- especificar a natureza particular da seqüência: aquisição das noções, dos saberes essenciais, escolha do(s) texto(s), como serão abordados, tipos de exercícios, de exemplos, modo de avaliar;

2 Contextualização dos saberes, elaboração dos objetivos:

- verificar e considerar a que nível a seqüência é destinada, assim como as demais particularidades do grupo de alunos;

- situar a seqüência no projeto anual de ensino, perguntando-se: esse conteúdo será trabalhado antes de quê ? Depois de quê ? Por quê ?;

- formular os objetivos: estabelecer o que o aluno deve conhecer e saber pôr em prática a partir daquela seqüência;

- verificar os conhecimentos prévios necessários às aquisições projetadas (os pré- requisitos);

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No que se refere ao estudo de seqüências didáticas em diferentes tipologias textuais, sugerimos a leitura de dois artigos: “Élaboration et évaluation de deux séquences didactiques relatives à trois types de textes”, de Dolz, Rosat, et Schneuwly (1991) e “Cadre théorique d´une typologie séquentielle”, de Adam (1991). No primeiro, encontramos uma abordagem sobre duas seqüências didáticas, uma centrada na estrutura interna dos textos, outra, nas formas textuais articuladas a seus contextos, analisando três diferentes tipos de textos (explicativo, descritivo e narrativo). Já no segundo artigo, inspirado na teoria bakhtiniana, o autor estuda a seqüência didática com base em diferentes tipos de textos (e de gêneros discursivos), apoiando-se em um plano de organização de suas textualidades, abordando cinco tipos de textos: narrativo, descritivo, argumentativo, explicativo e diálogo-conversação.

3 Colocação em prática do dispositivo didático:

- selecionar o(s) textos(s) em conformidade com a natureza da seqüência, do objeto de ensino e dos objetivos propostos;

- organizar o estudo dos textos a partir dos seguintes questionamentos: como torná-los acessíveis ao aluno? Sob qual ordem os textos serão abordados? O que é importante ressaltar? Por que estudar estes textos e destas maneiras ?;

- pôr em prática dispositivos de avaliação em torno da seqüência, fazendo aparecer as representações e os saberes que o aluno já domina para então poder verificar qual foi o grau de aquisição dos objetivos propostos.

Como vimos, sistematização e seqüenciação são características importantes ao processo operatório de transposição didática que constitui a prática educacional. Dessa forma, nos perguntamos: o que diferencia o processo didático do pedagógico? Quais suas relações com o ensino e aprendizagem?

4.1.2 Relação entre processo didático e processo pedagógico

Para Jordy (1992), o processo didático consiste na elaboração do conteúdo a ser ensinado, respondendo às questões: o que ensinar? Quando ensinar? Por que ensinar? A quem ensinar? Diferente então da pedagogia, que é uma prática única e jamais repetida, a didática é um campo reflexivo, um saber acadêmico, sob o domínio da teoria. Enquanto a didática diz respeito à preparação da aula (escolha do conteúdo, objetivos, textos, atividades, avaliação…), centrando-se no objeto de ensino, no saber, a pedagogia remete à sua execução, focalizando-se nos sujeitos envolvidos no processo de ensino e aprendizagem. Enquanto a pedagogia define os métodos, os passos que permitem levar o aluno a aprendizagens variadas, a didática remete a uma reflexão de como nominalizamos (definimos) os saberes teóricos e a forma de transpô-los, integralmente ou em parte, para que se tornem ensináveis. Como vemos, a pedagogia é transversal, pois define métodos comuns a todas as disciplinas, de modo generalizado, e a didática é específica de determinada disciplina, dividindo-se em didática de LP, didática de Física, didática de Geografia, citando apenas alguns exemplos.

A Pedagogia, complementa Brossart e Reuter (1992), é a teoria que se preocupa com as práticas educacionais (escolares, familiares) podendo, conforme seu objetivo, buscar apoio