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CAPÍTULO 3. A procura e oferta de turismo e recreação

3.4. Evolução e tendências dos fenómenos turístico e recreativo

3.4.3. Perspectivas futuras e novas formas de consumo

“No fundo, muitas pessoas viajam para chegar ao lugar de onde partiram”. Este paradoxo, assim expresso por Boniface e Fowler (1993: 13) é bem revelador das motivações contraditórias que

estão na base do acto de viajar, na sociedade contemporânea. Essas contradições tornam porventura ainda mais difícil identificar tendências e prever o futuro do turismo e recreação.

Como referem Pigram e Jenkins (1999: 271), “os únicos factos que são certos quanto ao futuro é a incerteza e a inevitabilidade da mudança e a necessidade de ajustamento”. No entanto, face à necessidade de tempo para adequação dos produtores de serviços à realidade futura, as previsões são essenciais e têm ocupado numerosos autores, ainda que sob a reserva de que não são profecias inescapáveis30. Holloway (2002: 42) distingue dois tipos de factores: os imprevisíveis

(situações económicas, políticas, climáticas, desastres naturais e provocados) e aqueles relativos a mudanças culturais, sociais e tecnológicas que podem, muitas vezes, ser previstos, permitindo adaptar os produtos às novas necessidades e expectativas. Porém, este processo de previsão não está, sublinhe-se de novo, ao abrigo de erros e limitações. Por outro lado, há a identificação de movimentos sociais que se contrariam entre si e o turismo é ele próprio, ao mesmo tempo, agente e consequência da mudança.

A revisão da literatura de vários autores (Inskeep e OMT, 1998: 19-20; Holloway, 2002: 43-45; Moscardo et al., 2000; Page et al., 2001: 435-59; Poon, 1993; Costa, 2001: 69-70) permite a identificação de várias tendências de natureza sociocultural, demográfica, político-legal, económica e tecnológica (Quadro 3.3), factores que influenciam o mercado do turismo e recreação.

Quadro 3.3. І Tendências que afectam a evolução do turismo e recreação

FACTORES SOCIOCULTURAIS

Alteração de atitudes e estilos de vida | Papel das mulheres

|

Idosos mais activos

|

Papel das crianças como influenciadores de consumo | Individualismo | Diversidade cultural | Interesses especiais | Preocupação com saúde e segurança | Fuga à megacidade | Desconforto com ritmo de vida e níveis de consumo | Contemplação sobre o passado | Interesse crescente sobre valores religiosos e espirituais

Ambientalismo | Desenvolvimento sustentável como referência | Sensibilidade para práticas

amigas do ambiente |

Globalização versus localismo | Uniformização versus diversidade | Pressões para manter identidade individual e cultural | Conflito nos países em desenvolvimento entre identidade e modernidade

Pós-modernismo | tecnologias da simulação | realidade virtual | sedução do espectáculo

30 Page et al. (2001: 436-38) elencam diversos métodos de previsão e identificação de tendências quantitativas e

Quadro 3.3. ІІІІ Tendências que afectam a evolução do turismo e recreação (cont.)

FACTORES POLÍTICO-LEGAIS

Reforço da participação pública, individual e organizada | Participação da comunidade no planeamento e prioridades estratégicas

Desregulamentação (aérea, barreiras à competição) versus regulamentação (qualidade, serviços) | Protecção do consumidor | Sofisticação da avaliação do impacto do turismo (ex: Conta Satélite do Turismo)

Organizações supranacionais ou de associação comercial | Declínio do conceito de nação | Mais fácil harmonização da regulação de movimentos entre fronteiras | Pressão de migração em massa

FACTORES DEMOGRÁFICOS

Declínio da natalidade e envelhecimento da população nos países ocidentais | Mercado sénior com mais tempo livre e rendimento discricionário | Casamento tardio e casais sem filhos até mais tarde | Diversidade dos padrões familiares | Aumento demográfico nos países em desenvolvimento | Instabilidade gerada por disparidades económicas e sociais no mundo

Práticas de trabalho mais flexíveis | Vida activa mais curta Urbanização crescente

FACTORES ECONÓMICOS

Sobreposição da economia sobre a ideologia | Economia de mercado e menor financiamento público | Mudança de padrões de consumo dos bens físicos para serviços e experiências | Países em desenvolvimento com falta de qualificação dos recursos humanos e tecnológicos

Importância da indústria integrada do entretenimento, lazer e consumo | Cidade pós-moderna | Mudança funcional de centros de produção para centros baseados no consumo de turismo e lazer

FACTORES TECNOLÓGICOS

Primado das tecnologias da informação | Instrumento de comunicação de mercado e meio de experiência virtual | Sistemas integrados | Redução dos custos de operação | Procura crescente de soluções flexíveis e individualizadas

Dilema entre os recursos humanos e tecnológicos | Vantagens da informação versus recursos naturais

Busca de transportes alternativos (ex: comboio rápido)

Fonte: Inskeep e OMT (1998: 19-20); Holloway (2002:43-45); Moscardo et al. (2000); Page et al. (2001: 435-59); Poon (1993) e Costa (2001: 69-70).

Os vários factores de mudança referidos no Quadro 3.3. decompõem grandes tendências verificadas na sociedade contemporânea, algumas com particular incidência sobre a evolução do turismo e recreação:

• a globalização em contraponto com a localização;

• importância crescente da tecnologia a par da valorização da interacção humana (porque “quanto mais nos apoiamos na tecnologia informática para conduzir os nossos negócios e vida quotidiana, mais valorizamos e procuramos o contacto humano”, como sustentam Moscardo et al., 2000: xxvi);

• a polarização dos gostos dos turistas (com a criação de novos produtos que privilegiam ou combinam diferentes necessidades e desejos, como por exemplo, a comodidade versus aventura, segurança versus risco, etc., embora o mesmo turista possa consumir, em diferentes momentos, produtos “opostos”);

• a procura do insólito e do inexplorado (com a fuga à cidade e procura de destinos longínquos e diferentes);

• a preferência por destinos e produtos em função da moda;

• a hipersegmentação de mercados com base nas motivações e produtos (como, por exemplo, natureza; entretenimento, em que se espera grande desenvolvimento das artes do espectáculo; aventura; educação, etc.);

• crescente impacto das campanhas por um desenvolvimento turístico sustentável (com a assunção da interdependência entre ambiente e turismo e da necessidade de desenvolvimento planificado) e

• o conflito entre a crescente consciencialização socioambiential do consumidor e a necessidade sentida como imperiosa de consumir viagens.

A influência das tendências de ordem sociocultural, demográfica, político-legal, económica e tecnológica (Quadro 3.3.) sobre a oferta e a procura de turismo e recreação fora de casa procura ilustrar-se na Figura 3.3. Realçando a inevitável incerteza relativamente ao futuro e seleccionando como principais vectores a competição/diferenciação, a globalização/ identidade e o contexto de crescimento da procura a par da referência do desenvolvimento sustentável, procura representar-se de forma diagramática como a envolvente externa condiciona este mercado específico. Essa influência condiciona um conjunto de perspectivas futuras quer para o sistema da oferta, quer para a procura de turismo e recreação, que, por sua vez, interagem entre si.

No que se refere à procura turística e respigando vários contributos da literatura, há um novo perfil de turista (Figura 3.3) que tende a preferir formas mais activas de lazer do ponto de vista físico e intelectual; é mais individualista, mais informado e tem centros de interesse próprios, aderindo em menor grau a “pacotes” massificados; procura novos destinos e produtos; preocupa-

Fonte: Elaboração própria a partir de Page et al. (2001: 435-59), Inskeep e OMT (1998: 19-20), Holloway (2002: 43- 45), Moscardo et al. (2000), Poon (1993), Costa (2001: 69-70), Hernández (2003: 27-28) e Rojek (1997: 69).

Figura 3.3. І Tendências de evolução do mercado de turismo e recreação • Competição agressiva

• Globalização da actividade turística • Uniformização e padronização de

processos versus orientação para o consumidor

• Produção flexível

• Diversificação de produtos • Microsegmentação do mercado • Gestão da qualidade

• Pressão de inovação de produto • Vida curta do produto

• Integração horizontal, vertical, diagonal • Importância de alianças

• Achatamento organizacional • Redes de organizações

• Alterações do circuito tradicional de distribuição

• Concentração espacial de atracções e experiências para máximo consumo em menor tempo

• Crescimento de ambientes artificiais no turismo e lazer

• Serviço interpessoal versus experiên- cia virtual

• Conservação e sustentabilidade como novos temas do turismo e recreação • Códigos de ética

• Eventual limite às viagens não essenciais em áreas sobrecarregadas ou sensíveis

Factores demográficos Factores tecnológicos

PROCURA OFERTA C O M PET IÇ ÃO / D IF ER EN C IAÇ ÃO GLO BAL Z AÇ ÃO / I D EN T ID AD E MUDANÇA / INCERTEZA

DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL / PROCURA CRESCENTE

Factores económicos

Factores socioculturais Factores não previsíveis Factores político-legais

• Procura heterogénea e motivação complexa

• Rejeição do consumo de massas em certos segmentos

• Aumento do poder do cliente • Importância do segmento sénior • Hibridez dos gostos dos turistas • Declínio progressivo da procura de ‘sol

e praia’; combinação com outros produtos

• Práticas de poliespacialidade • Turismo especializado

• Incremento do turismo cultural, urbano, rural, religioso, termal e de saúde, de raízes, ecoturismo, eventos

• Novos destinos, exóticos e longínquos e novos produtos

• Fraccionamento das férias

• Crescente combinação de turismo de negócios e recreação

• Procura de experiências personaliza- das e interactivas

• Turistas mais activos física e

intelectualmente; mais independentes, experimentados e sofisticados • Consumidores mais sensíveis do

ponto de vista ambiental e social • Crescente recurso à Internet na

recolha de informação, planeamento e compra

-se mais com a saúde e forma física; fracciona mais as suas férias e tempos de lazer; está mais consciente dos problemas ambientais e sociais, sendo mais sensível na avaliação do produto oferecido nestes domínios; é mais exigente na qualidade dos serviços e associa mais o lazer às viagens profissionais.

No entanto, em contraponto com a posição de Poon (1993), não se defende aqui, como se verá mais adiante, que exista um novo turista, mas antes a coexistência de diferentes tipos de turistas, com necessidades, atitudes e motivações diversas.

Com efeito, se bem que se possam identificar novas características no comportamento turístico de certos segmentos, estas são apenas tendências e a sua forma precisa é muito variável. Por exemplo, Holloway (2002: 44) refere e ilustra comportamentos contraditórios até dos mesmos turistas em momentos diversos ou no decurso da mesma viagem. A par da coexistência de preferências opostas (compra de viagens com tudo incluído ou, pelo contrário, em que se adquire alimentação por conta própria31, deslocações de curta ou longa distância), o mesmo autor

(Holloway, 2002: 44) menciona, por exemplo, os “Hilton hippies” para descrever aqueles turistas que “decidem envolver-se em actividades radicais” durante o dia, mas “procuram alojamento luxuoso para passar a noite”.

No âmbito do turismo e lazer, tem incidência relevante a referida tendência de alteração dos modos típicos de consumo para padrões mais individualizados, que Urry (1990: 13) contextualiza no cenário mais vasto de mudança das sociedades contemporâneas com “a mudança do capitalismo organizado para o capitalismo desorganizado”; do fordismo para o pós-

fordismo. Nessa medida, a leitura dos factores que produzem estas alterações no comportamento

turístico e recreativo tem estado muito centrada nas alterações culturais associadas ao conceito de pós-modernismo, que Mowforth e Munt (1998: 31) explicam como relativo à ideia de que se vive actualmente numa época social que ultrapassou a modernidade.

Nesta linha de argumentação, alguns académicos e comentadores profetizaram o fim do turismo de massas ou fordista baseado na produção e consumo standardizados e massivos, espacial e temporalmente concentrado, fonte de pressões ambientais, de experiências “mercadorizadas” e de uma “autenticidade encenada” (Shaw e Williams, 2002: 218-225). A substituição do turismo de massas por um turismo pós-industrial, pós-fordista ou pós-moderno constitui um debate particularmente actual e com especial interesse para os estudos relativos a atracções de visitantes.

MacCanell (1976, 1999, citado por Rojek, 1997: 71) e Urry (1990) constituem obras centrais neste debate como estudos sociológicos “do visual no contexto do turismo” (Crouch e Lübbren, 2003: 4), tratando o fenómeno como indistinto das rotinas ordinárias (Rojek, 1997: 71). MacCanell (1999)

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aborda a questão da autenticidade, central na literatura, segundo Ritzer e Liska (1997: 107), defendendo que os turistas procuram experiências autênticas, nem sempre com sucesso. Pelo contrário, estes autores (Ritzer e Liska, 1997: 108) sustentam que, muitos turistas, hoje em dia, procuram deliberadamente a inautenticidade e a simulação, apesar de haver aqueles que continuam a procurar ambientes autênticos e conseguem até, em certa medida, encontrá-los. Para Rojek (1997: 70), “(O) retorno à familiaridade e ordem de vida quotidiana é o pré-requisito da experiência turística agradável”. Também por isso, entende o autor (Rojek, 1997: 71-72) que “a procura da autenticidade é uma força em declínio na motivação turística”, acrescentando que a experiência turística deve ser estudada como tendente a uma condição de “pura mobilidade”. Esta crítica de que “o turista olha apenas superficialmente para o país que visita, explorando-o somente com o olho da sua máquina fotográfica, insensível ao autêntico, e permanecendo no universo artificial do típico” (Cavaco, 1996: 6) aplica-se também ao pós-turista, sobre quem há igualmente “fortes pressões para reduzir a paisagem a uma check-list activity” (Rojek, 1997: 72).

O que muda então? Segundo Urry (1990: 83), o pós-modernismo conduziu à dissolução das fronteiras entre alta e baixa cultura; entre o turismo e outras formas culturais como a arte, a educação, a fotografia, a televisão ou fazer compras. Num contexto de indiferenciação, o turismo torna-se altamente eclético; “pastiche de diversos interesses” (Ritzer e Liska, 1997: 102), dissipando-se a distinção entre elite e popular; realidade e ficção (Rojek, 1997: 70). Por outro lado, as novas tecnologias permitem a criação e recriação de ambientes de lazer, o que faz desaparecer as barreiras espaciais e temporais entre o turismo e a actividade não-turística e pode promover qualquer espaço a “centro de espectáculo” (Shaw e Williams, 2002: 241). É o predomínio da cultura visual (Crouch e Lübbren, 2003) sobre o conhecimento que conduz a esta espectacularidade da cultura pós-moderna. Neste sentido, Urry (1990: 83) confirma o desvanecimento do conceito de autenticidade e o turismo é visto como uma espécie de “jogo”. O

pós-turista aceita a “mercadorização” da experiência turística (Rojek, 1993, citado por Ritzer e

Liska, 1997: 102) e se a falta de autenticidade não é procurada é, pelo menos, conscientemente consentida.

Porém, argumentam Shaw e Williams (2002: 243), “embora a emergência de novas formas de turismo tenha de ser reconhecida, devem ser vistas como crescendo a par do turismo de massas que continua não só a ser a forma mais significativa de turismo, mas a aumentar pelo menos em termos absolutos”. O reconhecimento destas novas tendências não significa que o turismo de massas se encontre em declínio terminal: esta forma de turismo tem ainda margem de crescimento do ponto de vista social e geográfico. Por outro lado, por vezes, confundem-se mudanças genéricas com mudanças de estâncias individuais; e, finalmente, os próprios produtos massificados têm vindo a alterar-se, tornando-se mais flexíveis, oferecendo mais liberdade de escolha de alojamento, transporte e actividades, em adaptação às mudanças sociais e culturais e preferências dos turistas (Shaw e Williams, 2002: 242-43).

Também na opinião de Rojek (1970: 70), a orientação “pós-turística” apenas se aplica a uma minoria de viajantes. A este propósito, Ritzer e Liska (1997: 96) advogam que mais do que ver a modernidade e a pós-modernidade como épocas, é útil tomá-las como perspectivas alternativas de análise dos fenómenos sociais em mudança, ou seja, a leitura pós-moderna não dispensa a abordagem positivista dos fenómenos turístico e recreativo, mas são antes paradigmas de análise alternativos (Jennings, 2001). Assim, a par do pós-modernismo, aqueles autores (Ritzer e Liska, 1997) apresentam a tese da “McDisneyzação”32 como abordagem teórica explicativa, que realça a

procura de experiências turísticas previsíveis, homogéneas, calculáveis, eficientes, dominadas por tecnologias não-humanas, em ambientes controlados, como são por exemplo os parques temáticos; para concluir que “tanto o turista Mcdisneyzado como o pós-turista existem”; para alcançar “a verdade do turismo” ambas as perspectivas moderna e pós-moderna devem ser tidas em conta.

Ainda que seja indubitável a crescente evidência de novos padrões de consumo pós-fordista, nesta dissertação, tende-se a concordar com os argumentos de Ritzer e Liska quanto à coexistência de diferentes formas de turismo.

3.5. Conclusão

A estrutura deste capítulo partiu da concepção do turismo como um sistema inter-relacionado dos factores da oferta e da procura. Contudo, no estudo das atracções e seus clientes, não se pode ficar por este ponto de partida, circunscrevendo-nos ao fenómeno turístico ou à sua definição estatística de visitante. Por isso se procurou analisar, sempre que possível, a procura e oferta quer de turismo, quer de recreação, sobretudo no sentido de salientar os factores comuns relativos aos dois fenómenos e não tanto procurando distingui-los entre si. Esta linha de raciocínio afigurou-se a mais adequada dada a relativa comutabiilidade entre as teorias e modelos que a eles se referem, na literatura e na sua aplicação prática, que deriva da inter-relação entre o lazer, a recreação e o turismo, abordada no capítulo anterior.

Se os visitantes são os protagonistas, as atracções são o motor do mercado de turismo e recreação fora de casa. A complexidade em caracterizar a motivação e comportamento da procura, por um lado, e as componentes e os produtos disponibilizados pela oferta, pelo outro, explica-se, desde logo, pela natureza experiencial do turismo e recreação. Na discussão destas especificidades, recorreu-se sobretudo à análise do produto em Turismo já que, pese embora o facto deste ser ainda uma disciplina imatura; em contraponto com o recreio, o Turismo apresenta porventura uma superior sistematização como campo científico.

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Também no que respeita à caracterização da evolução e tendências dos fenómenos em questão, os dados estatísticos permitem caracterizar de forma mais fundamentada a dimensão e impacto actuais do turismo. Como sector económico, este é hoje considerado a maior indústria a nível mundial e também aquela com maior taxa de crescimento. O turismo nacional, por sua vez, apresenta também uma tendência evidente de crescimento, em termos absolutos, nos seus principais indicadores. No entanto, com o declínio da quota de mercado da Europa, a evolução desfavorável de Portugal e dos países da região ocidental em favor dos países localizados a leste do Mediterrâneo e a acesa competição dos países do Norte de África (Costa, 2001: 66), o desempenho do sector não pode deixar de causar alguma preocupação. Apresentado sucessivamente como tábua de salvação nos momentos económicos mais críticos, o turismo português continua a carecer de medidas correctivas de enfermidades endémicas, como a extrema concentração espacial, temporal, de produtos e mercados internacionais. Na diversificação qualitativa e espacial de produtos turísticos, uma das linhas estratégicas frequentemente apontadas, inscreve-se o papel e importância do desenvolvimento e gestão competitiva de atracções de visitantes, designadamente no âmbito do turismo urbano, cultural e recreativo.

Neste contexto de crescimento geral da procura, é fundamental tentar despistar as perspectivas de evolução não apenas do turismo mas também da recreação e lazer, com uma importância crescente. A existência de forças contraditórias (economia de mercado versus ambientalismo; globalização versus identidade local, turismo de massas versus pós-turismo) é, porventura, o facto que mais avulta no cenário do futuro, em que a mudança e a incerteza são as únicas certezas. Por isso, se requer neste âmbito mais investigação e planeamento do que nunca.

A par com assinaláveis alterações nas práticas de lazer, nos anos 90, o declínio do sol e praia como produto turístico único e o crescente interesse por novos produtos, relativos ao ambiente, às férias desportivas e actividades culturais, têm sido atribuídos às mudanças de atitudes, necessidades, exigências e expectativas dos novos consumidores. Mas a natureza das mudanças no consumo turístico são complexas e contestadas. Se algumas tendências identificadas parecem mais consensuais (férias mais activas, combinação de outras formas de recreio e produtos complementares ao turismo balnear, maior sensibilidade à referência da sustentabilidade e valores ambientais, crescente recurso à tecnologia, procura de mais liberdade de escolha e produtos flexíveis, orientação para o consumidor, segmentação e flexibilidade da oferta), já a visão toda optimista de um “novo turista” ou a certeza da agonia do turismo de massas produzem críticas e descrença.

Segundo vários autores, mesmo em férias, procuram-se o conforto, a segurança e a familiaridade das experiências quotidianas. As chamadas formas alternativas de turismo, que o pós- modernismo explica no seu contexto de indiferenciação e de hibridez de interesses, não estão isentas de impactos negativos sobre o ambiente. O turista pós-moderno continua a viver a pressão

da velocidade, a tirania do tempo sobre o espaço, do olhar sobre o conhecer. Não distingue, na vida prática, a actividade turística das restantes formas de lazer e de cultura; a elite do popular; a realidade da ficção. O pós-turista aceita a “mercadorização” da experiência turística, o valor kitch dos souvenirs e réplicas e a falta de autenticidade pelo envolvimento consentido na simulação e no “jogo”, com vista à diversão e entretenimento. No entanto, até porque o turismo de massas está longe de definhar e a orientação pós-turística apenas se aplica a uma minoria de viajantes, esta leitura pós-moderna não dispensa a perspectiva positivista dos fenómenos turístico e recreativo; são antes paradigmas de análise alternativos.

Por outro lado, se há mudanças nas expectativas, atitudes e necessidades dos turistas, até que ponto se pode afirmar que isso se consubstancia num novo turismo? Até que ponto o turismo de massas está a ser substituído por novas formas dele distintas? A emergência de novas formas de turismo tem lugar a par do domínio do turismo de massas, que continua não só a ser a forma mais significativa de turismo, como a crescer pelo menos em termos absolutos. Com efeito, alguns segmentos não podem ser confundidos com toda a procura turística e, em muitos casos, deve antes falar-se de alterações dentro das próprias formas de turismo de massas.

No centro desta argumentação, como se comportam as atracções de visitantes? Quais as