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Pesquisa, desenvolvimento de expertise e geração de indicadores

F I GURA 5: E STRUTURA D A E STRATÉGIA DE RESPOSTA

5. Controle e monitoramento

2.4. Pesquisa, desenvolvimento de expertise e geração de indicadores

Para além do combate aos mosquitos e do desenho de políticas emergenciais de controle da epidemia, o governo brasileiro formou inciativas em torno de profssionais de saúde e pesquisadoras e para a divulgação de dados e indicadores sobre a epidemia. Entre as ações desenvolvidas nesse sentido, debateremos a Rede Nacional de Especialistas em Zika e doenças correlatas (Renezika) e comentaremos brevemente os boletins epidemiológicos disponibilizados semanalmente pelo MS.

140 Em 11/5/2017 o governo suspendeu a ESPIN em razão da redução do número de pessoas contaminadas por dengue, Chikungunya e Zika. Em parte, a redução é resultado do “efeito de manada”. Esse efeito diz respeito à imunização da população previamente contaminada, que restringe a capacidade de o vírus repetir sua capacidade de contaminação em relação à primeira vez que atinge determinado local.

A Renezika foi criada pela Portaria 1.046/2016 e tem como objetivos: “subsidiar o Ministério da Saúde com informações de pesquisas relacionadas ao vírus Zika e doenças correlatas no âmbito da vigilância, prevenção, controle, mobilização social, atenção à saúde e ao desenvolvimento científico e tecnológico” (Ministério da Saúde, s/d141). Ela é composta por 133 pessoas de diferentes

origens: profissionais de saúde, de bioética, ativistas de movimentos de crianças com problemas mentais e representantes do governo. Na Figura 18 é possível perceber as principais áreas de trabalho das pessoas vinculadas à Renezika. Em destaque estão os termos: saúde pública, epidemiologia, vigilância em saúde, virologia, imunologia controle vetorial, gestão pública e biologia molecular. A abordagem da saúde materno-infantil também se apresenta, apesar de ter menor destaque. Não há especialistas em direitos reprodutivos, não sendo o tema citado.

Figura 18 – Wordcloud dos temas de trabalho dos especialistas da Renezika

Fonte: Sítio institucional da Renezika. Disponível em: http://renezika.org/portal/institucional/a- renezika# Acesso em 24/5/2017.

A Renezika possui sete grupos de trabalho: Atenção à saúde das mulheres e crianças no contexto do vírus Zika, coordenado pela Esther Villela (CGSM) e Thereza Franco Netto; Monitoramento do Sistema Nacional de Laboratórios de Saúde Pública, coordenado por Mariana Pastorello Verotti e André Luiz de Abreu; Inovações em Controle Vetorial, coordenado por Cristiana Pujol Luz e Laura Cruz; Pesquisa, tradução e disseminação do conhecimento, coordenado por Cássia Fernandes, Diogo Chalegre e Alessandra Cardoso; Vigilância integrada das Alterações Congênitas relacionadas à infecção durante a gestação, coordenado por Wanderson Oliveira e Marina Bertol; Bioética, coordenado por Dirceu Greco e Sergio Rego; e Parcerias Internacionais, coordenado pela

Assessoria de Assuntos Internacionais de Saúde do Ministério da Saúde (AISA/GM/MS). Entre eles, destacamos dois GTs: Em primeiro lugar, o GT de Assistência à mulher possui três ações principais: capacitar profissionais para “implementação do Plano de Ação Estratégico para o Fortalecimento da Atenção à Saúde e da Proteção Social às Pessoas afetadas pelo vírus Zika”; propor estratégias de comunicação com a população; e produção de “tecnologia social materializada em um guia e/ou material técnico para subsídio ao apoio direto aos Estados e municípios”142. Em segundo lugar, o GT de Vigilância integrada das Alterações Congênitas relacionadas à infecção durante a gestação, que visa a propor ajustes nos critérios de notificação e confirmação.

Além do GTs, a Renezika tem realizado encontros nacionais da Redezika. Foram realizados três encontros, em que se discutiram os temas vinculados aos grupos de trabalho: o primeiro aconteceu em outubro de 2016, o segundo em Dezembro de 2016 e o terceiro em março de 2017. Durante os encontros são disseminadas informações sobre os achados e ações que estão sendo tomadas para lidar com os problemas debatidos pelos GTs. O último encontro teve duração de dois dias e contou com exposição forográfica da Campanha Macroamor, de Joelson Souza. Esta campanha tem sido, como veremos na próxima seção, criticada pelas ativistas em torno dos direitos das mulheres mães de bebês com microcefalia.

Tanto o formato do sítio institucional do Renezika – com muitos artigos em inglês e sem tradução – assim como a falta de articulação dos encontros entre profissionais de saúde e as pessoas afetadas pelas complicações causadas pelo vírus Zika demonstram que ainda há pequena permeabilidade para as mulheres mães de bebês com microcefalia ou a Síndrome Congênita do Zika de forma a atentar para suas necessidades mais prementes.

No que tange aos boletins epidemiológicos, eles trazem a informação por semana epidemiológica do número de pessoas infectadas por dengue, Chikungunya e Zika assim como o número de casos suspeitos, descartados e confirmados de microcefalia. Desde o primeiro boletim, publicado em 2015, houve mudanças na forma de divulgar os números, o que cria dificuldades para acompanhamento da distribuição dos casos ao longo do tempo. Outra dificuldade é que os dados não são disponibilizados para o público em geral em formato de planilha editável – por exemplo, os dados do DATASUS têm dados de morbimortalidade apenas até 2014 – o que dificulta a atualização de planilhas e acompanhamento externo dos dados registrados pelos serviços de saúde no país. Ademais, a falta de registro da raça/cor das mulheres infectadas com o vírus Zika, assim como outras

desagregações dos indicadores, prejudica a compreensão da epidemia e os determinantes sociais que a favorecem.

Na área de desenvolvimento de conhecimento, o MS também destaca parcerias internacionais, com redes lideradas pela OMS e o contato com o CDC do governo dos EUA. No Protocolo de vigilância a microcefalia, publicado em 2016, o MS destaca

“o apoio das instituições e especialistas nacionais, além da participação direta da Rede Mundial de Alerta e Resposta aos Surtos da Organização Mundial da Saúde (OMS), denominada GOARN (Global Outbreak Alert and Response Network). Esta rede coordenada pela OMS é composta por especialistas de vários países e instituições, como o Centro de Prevenção e Controle de Doenças dos Estados Unidos da América (CDC/EUA)” (Brasil, Ministério da Saúde, 2016, p. 10).

Essas redes de apoio têm como destaque a elaboração seja de estratégias de ação e produção de medicamentos ou formas de detectar a doença. No excerto abaixo, destaca-se a parceria entre o governo baiano e a empresa Genbody Inc no desenvolvimento do teste rápido para a serologia do vírus Zika:

“O desenvolvimento do teste rápido contra o Zika é fruto da parceria entre o Governo da Bahia e a empresa sul-coreana Genbody Inc., que firmaram um acordo de transferência de tecnologia para a Bahiafarma” (Ministério da Saúde, 2016143).

A empresa sul-corena é especializada na produção de testes rápidos para diferentes diagnósticos, tendo sido fundada em 2012.

Em que pesem os esforços do governo brasileiro em múltiplas frentes, as formas de tratar as pessoas prejudicadas pela epidemia estão aquém da necessidade de criação de políticas públicas inclusivas e que garantam a segurança de as mulheres exercerem seus direitos reprodutivos. Na próxima seção apresentaremos as reações e ações das mulheres mães de bebês com microcefalia, o que nos permitirá perceber outras dinâmicas das políticas públicas e seu alcance entre as pessoas afetadas pela epidemia do vírus Zika.

143 Disponível em: http://combateaedes.saude.gov.br/pt/noticias/856-ministerio-da-saude-vai-distribuir-teste-rapido-de- zika . Acesso em 24/5/2017.

3. Busca de apoio: resistência das mulheres no contexto da epidemia do vírus Zika como

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