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Após aprovação do projeto da pesquisa pelo Comitê de Ética em Pesquisa da PUCRS, estabeleceu-se contato com as mães que buscam atendimento na Casa Madre Teresa, situada na Rua Pinheiro Machado, n: 1.000, Centro, Caxias do Sul. Nesse local, há atendimento soci- al, jurídico e psicológico a pessoas de baixa renda. Algumas voluntárias da instituição tam- bém participaram da pesquisa.

As mães que desejavam participar foram informadas do objetivo e sigilo da mesma. Após, foi realizada a assinatura do Termo de Consentimento Livre e Esclarecido.218 Desse,

uma via ficou com a pesquisadora, e outra, com a participante. O roteiro utilizado como Tópi- co-Guia219 para as entrevistas foi elaborado com base nos objetivos deste estudo e em uma

revisão bibliográfica realizada. As entrevistas foram gravadas e transcritas literalmente. A pesquisa foi realizada com 20 mães enlutadas. Os critérios principais estabelecidos para a participação da pesquisa foram a mãe enlutada ser cristã, ter perdido filhos por morte violenta, ter sofrido a perda entre seis meses a três anos.

3.1.1 O perfil das mães

O perfil do grupo entrevistado agrega os seguintes dados:

 Condição social: 85% das mães possuem condição econômica baixa.

 Idade das mães: 5% delas têm menos de 40 anos; 60%, entre 41 e 50 anos; 20%, entre 51 e 60 anos; 15%, entre 61 e 70 anos.

 Número de filhos: 15% têm um filho; 55%, dois filhos (as); 20% ,três filhos; 10%, acima de três filhos.

 Número de filhos mortos: 80% têm um filho; 10%, dois filhos(as); 10%, três fi- lhos(as).

218 Cf. APÊNDICE A. 219 Cf. APÊNDICE B.

 Sexo do(s) filho(s) falecido(s): 90% são do sexo masculino; 10%, do sexo fe- minino.

 Idade do(s) filho(s) morto(s): 16% tinham menos de 5 anos de idade; 8% entre 6 e 10 anos; 12%, entre 11e 15 anos; 28%, entre 16 e 20 anos; 16%, entre 21 e 30 anos; 20%, entre 31 e 40 anos.

 Tipo de morte: 64% morreram por acidente de trânsito; 18%, suicídio; 18%, homicídio.

 Tempo de morte do(s) filho(s): 25% morreram há um e dois anos; 75%, entre dois anos e um mês a três anos.

 Confissão Religiosa: 40% delas são católicas praticantes; 30% ,católicas não praticantes; 10%, da Assembleia de Deus; 5%, da Luterana; 5%, da Batista; 5%, da Deus é Amor; 5%, da Universal do Reino de Deus.

Os dados gerais coletados na pesquisa podem ser visualizados na Tabela 1.220

220 Os dados referentes às mortes por doença ou acima de três anos, não foram computados nos percentuais por

Tabela 1 – Dados gerais da pesquisa sintetizados

Mãe Idade da

mãe Nº. de filhos Nº. de filhos mortos Sexo do filho morto Idade do filho morto Tipo de

morte Tempo de morte em anos

Confissão Religiosa

1 41 3 1 M 8 Acidente

(trânsito) 3 anos (praticante) Católica

2 47 3 3 M 14 16 18 Acidente (trânsito) Acidente (trânsito) Acidente (trânsito) 3 anos Católica (praticante) 3 66 2 1 M 33 Suicídio (drogas) 3 anos Católica (praticante) 4 49 4 3 M M M 7 2 4 dias Acidente (trânsito) Doença Doença 2 anos 5 anos 3 anos Católica (praticante) 5 45 2 1 M 17 Acidente

(trânsito) 2 anos (não prati-Católica cante)

6 51 1 1 M 20 Acidente

(trânsito) 3 anos (praticante) Católica

7 44 1 1 F 1 e meio Acidente

(trânsito) 2 anos Assembléia de Deus

8 33 2 1 F 2 Homicídio 1 ano e 10meses Assembléia de Deus 9 61 2 1 M 31 Acidente (trânsito) 2 anos e 9 meses Católica (Não prati- cante) 10 49 2 1 M 15 Acidente (trânsito) 3 anos Católica (Não prati- cante)

11 49 2 1 M 18 Homicídio 3 anos Católica

(Não prati- cante) 12 41 2 1 M 15 Acidente (trânsito) 2 anos Deus é Amor 13 54 2 1 F 27 Acidente

(trânsito) 2 anos e 11 meses (praticante) Católica

14 60 2 1 M 36 Acidente

(trânsito) 3 anos Universal do Reino de Deus 15 41 3 1 M 27 Suicídio (drogas) 3 anos Católica (praticante) 16 47 1 1 F 19 Homicídio 2 anos e 4 meses Batista 17 66 2 2 F M 17 37 (trânsito) Acidente Doença renal 3 anos

6 anos (Não prati-Católica cante)

18 49 2 1 M 25 Suicídio 2 anos e 9

meses Luterana

19 45 7 1 M 33 Homicídio 3 anos Católica

(praticante) 20 51 3 1 M 24 Suicídio 2 anos e 10 meses Católica (Não prati- cante)

3.1.2 Considerações importantes

 Uma mãe perdeu os seus três filhos em um acidente de trânsito.

 Outra mãe sofreu a morte de três filhos, sendo um por morte de trânsito e os outros dois por doença. Essa mãe ficou com um único filho.

 Uma entrevistada perdeu seus dois filhos: a filha por acidente de trânsito e o filho por doença renal.

 Quatro mães perderam o filho único.

 A grande maioria das mortes envolve jovens de 16 a 20 anos de idade.  Uma criança de dois anos morreu por homicídio.

 As mortes por suicídio aconteceram com filhos (homens) acima de 20 anos de idade. Dois casos aconteceram devido ao uso de drogas.

 Nenhuma mãe da pesquisa sofreu a perda em tempo inferior há um ano.

 30% das mães se declaram católicas, porém não frequentam ou vão à igreja ocasio- nalmente.

É importante considerar que somente três mães tiveram algum tipo de tratamento psi- cológico ou psiquiátrico. As demais não procuraram nenhum órgão público para tratamento. Dezesseis entrevistadas vivem em condições de vulnerabilidade social e dependem de auxílio para a sobrevivência. Nesse grupo, uma mãe tornou-se moradora de rua após a morte de sua filha de um ano e meio e de seus pais.

3.1.3 Leitura dos dados

Tendo em vista o objetivo da pesquisa, as categorias foram elencadas para a análise a partir do tópico-guia das entrevistas realizadas. Serão discutidas,portanto, as seguintes catego- rias:

 Sentimentos pela perda do filho;221

 Memórias do funeral;  Sentido da morte;  Consolação no luto;  Crença na Vida Eterna;  Fé na Ressurreição;

 Fé em Deus como esperança.

Para a análise dos resultados, as categorias foram subdivididas em temas, tornando mais fidedigno o discurso coletivo do grupo em estudo.

A análise dos dados foi realizada com o método denominado DSC, segundo Lefèvre e Lefèvre.222 Cada entrevista foi analisada individualmente quando foram coletadas as expres-

sões-chave – que é a própria fala da entrevistada e suas respectivas ideias centrais.223 Os te-

mas emergiram do discurso dos sujeitos entrevistados. Utilizou-se para os temas a ideia cen- tral. A construção do DSC foi extraída das expressões-chave de cada entrevista realizada. A expressão-chave é constituída por transcrições literais de partes dos depoimentos, que permi- tem o resgate do essencial do conteúdo discursivo dos segmentos em que se divide o depoi- mento. É, portanto, a fala expressa dos sujeitos entrevistados. A ideia-central é a afirmação que permite traduzir o essencial do conteúdo discursivo que se encontra explicitado pelos su- jeitos em seus depoimentos. É a análise-síntese do que foi falado. O DSC é uma estratégia metodológica com o objetivo de tornar mais clara a representatividade do grupo em estudo, neste caso, as mães enlutadas.

A partir do relato das entrevistas com as mães, foi realizado o levantamento dos resul- tados, tendo como base as categorias de análise. Os critérios utilizados para a categorização foram a reincidência e a relevância.

221 No decorrer do texto desta seção, será usada a linguagem no gênero masculino para facilitar e dinamizar a

leitura. Portanto, palavras como: homem, filho, falecido, enlutado, sempre se referirão a ambos os gêneros.

222 Cf. LEFÈVRE, F. ; LEFÈVRE, A. M.. O Discurso do Sujeito Coletivo: uma nova abordagem metodológica na

pesquisa qualitativa, p. 22.