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Pesquisas que investigam a articulação teoria e prática no contexto da formação de

CAPÍTULO 1 – DELINEANDO A PESQUISA

1.2 REVISÃO DE LITERATURA

1.2.1 Pesquisas que investigam a articulação teoria e prática no contexto da formação de

Um dos maiores problemas que surgem da análise da formação de professores é a questão da relação entre teoria e prática. Nesse contexto, se apresentam e se renovam algumas afirmações que são acatadas por professores e alunos no cenário educacional, como por exemplo a de que existe uma distância entre o que é apreendido pelos estudantes na formação e o que é praticado nas escolas da educação básica; e a de que o entendimento quanto à relação entre teoria e prática ainda permanece em posições extremas e aplicacionistas, isto é, a prática se apresenta como instrumento ou técnica que aplica regras e princípios vindos da teoria.

Neste bloco selecionamos alguns estudos envolvendo a relação entre teoria e prática entendendo que as afirmações aqui citadas evidenciam uma ausência ou fragilidade na relação entre teoria e prática.

Dutra (2010), em sua dissertação de mestrado intitulada Possibilidades para articulação entre teoria e prática em cursos de licenciatura, teve por objetivo investigar e compreender as formas de relação entre teoria e prática propostas e desenvolvidas em cursos de licenciatura, procurando identificar nos documentos oficiais as prescrições que vinculassem a promoção da articulação entre a dimensão teórica e a dimensão prática com a organização curricular e com as atividades desenvolvidas no decorrer do processo de formação inicial.

A questão de pesquisa foi: “Como ocorrem as relações entre a dimensão teórica e a dimensão prática em cursos de licenciatura?”. Segundo a autora, teoria e prática devem integrar um todo único, não podendo existir prevalência de uma sobre a outra. O que existe é uma reciprocidade, pois é na prática que a teoria tem sua fonte de desenvolvimento, é na teoria que a prática busca seus fundamentos de existência.

Dentre suas observações, a autora destaca que a articulação entre teoria e prática nas configurações curriculares é resultado de um embate político e social, ao mesmo tempo que sugere que a articulação ocorra mediante uma aprendizagem de competências mobilizadas em sua atuação futura, conforme especifica o parecer CNE/CP 9/2001:

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A aprendizagem por competência permite a articulação entre teoria e prática e supera a tradicional dicotomia entre essas duas dimensões, definindo-se pela capacidade de mobilizar múltiplos recursos numa mesma situação, entre os quais os conhecimentos adquiridos na reflexão sobre as questões pedagógicas e aqueles construídos na vida profissional e pessoal, para responder às diferentes demandas das situações de trabalho.

A autora conclui destacando a “superação da visão dicotômica” como a maior contribuição para a formação de futuros professores e apresenta seu entendimento quando relaciona teoria e prática com a seguinte afirmação: “A teoria é a compreensão da prática e prática é experimentação a partir da teoria que se tem para fazê-la evoluir, torná-la mais complexa, o que significa o sujeito tornar-se mais consciente dela” (DUTRA, 2010, p. 213).

Fürkotter e Morelatti (2007) investigaram a articulação entre teoria e prática na formação inicial de professores de Matemática em uma pesquisa qualitativa, de caráter analítico-descritivo, em uma universidade pública do interior de São Paulo. A pesquisa evidenciou que o currículo do curso investigado se constitui em um modelo híbrido de formação, com a presença do componente ‘Prática’ no bojo das disciplinas de conteúdo específico ou pedagógico.

As análises do projeto pedagógico preveem um trabalho integrado de diversas disciplinas, relacionando de forma harmoniosa a teoria e a prática, estando, portanto, articulados à formação profissional:

[...] os saberes referentes às disciplinas, os saberes pedagógicos e os saberes curriculares, considerados essenciais para o professor superar parte das dificuldades que venha encontrar no início da carreira, contribuindo para que os alunos alcancem o conhecimento matemático necessário na sociedade atual, cada vez mais complexa em termos científicos e tecnológicos. (FÜRKOTTER; MORELATTI, 2007, p. 333)

Wolff (2007), em sua tese de doutorado com o título A formação inicial de professores de Matemática: a pesquisa como possibilidade de articulação entre teoria e prática, tem por objetivo discutir a possibilidade de a pesquisa se configurar como eixo articulador da relação entre teoria e prática no contexto da formação inicial. Para a autora, a questão central é como diferenciar uma prática do professor de uma pesquisa. Para tanto apresenta algumas questões levantadas por Riggio (2003) ao considerar que a pesquisa ainda não está bem definida em processos formativos. Assim, “é pesquisa uma reflexão didática? Pode o professor inovador ou o professor que reflete sobre sua prática ser considerado pesquisador?” (WOLFF, 2007, p. 56).

A pesquisa se desenvolveu sob uma abordagem etnográfica e o levantamento de informações ocorreu por meio de instrumentos como análise documental, entrevistas e aplicação de questionários. Como espaços próprios para analisar a pesquisa como

possibilidade de articulação entre teoria e prática, a autora elegeu o estágio supervisionado e o trabalho de conclusão de curso, mas são poucas as iniciativas que convergem nessa direção.

As manifestações produzidas pelos sujeitos investigados sobre o modo como a pesquisa é compreendida no campo científico trazem alguns entendimentos, como o de que pesquisar é obter generalizações a partir de um caminho bem controlado de coleta de dados, o que, segundo a autora, deixa evidente que falar em pesquisa na formação, considerando os grupos investigados, ainda não faz sentido.

Entretanto, Wolff (2007) conclui que as reflexões produzidas sobre o tema contribuíram para o traçado de algumas possibilidades de inserção da pesquisa como articuladora da relação teoria-prática na formação dos licenciandos.

Dantas (2007), em sua tese de doutorado denominada A relação entre os saberes pedagógicos do formador na formação docente, objetivou investigar e refletir sobre os saberes pedagógicos fundamentais à docência, em especial à formação de professores.

Foram selecionadas três instituições públicas de ensino superior, contando com a participação de 12 professores-formadores atuantes dos cursos de licenciatura em Matemática, Pedagogia e Normal Superior.

O autor compreende que por meio desses saberes o docente formador torna-se capaz de desenvolver a ação formativa e favorecer a relação entre teoria e prática, utilizando-se para isso da reflexão como oportunidade de concretização dos saberes, mas os resultados evidenciados por meio da análise dos discursos demonstram que o entrelaçamento entre os saberes pedagógicos e a formação de professores está ainda distante de se fazer acontecer.

Dantas (2007) considera que teoria e prática parecem duas substâncias diferentes e de difícil combinação e apoia-se em Feldman (2001) para apresentar as representações mais comuns utilizadas pelos educadores: “diz primeiro como se faz; depois, se faz”; “não é qualquer teoria que tem relação com a prática, embora tenha relação com a realidade”; e “a dicotomia que se pensa haver entre teoria e prática, como situações distintas” (p. 94).

Dantas (2007) compreende que a superação do modelo tecnicista pelo professor- formador implica maturidade cognitiva e pedagógica, sendo portanto fundamental articular teoria e prática considerando a tese sobre os saberes pedagógicos do formador. A reflexão surge nesse contexto como uma forma de conexão entre o conhecimento e a ação.

Moreira e David (2005), no artigo intitulado O conhecimento matemático do professor: formação e prática docente na escola, apresentam um estudo com foco na formação de conteúdo, com o objetivo de descrever “formas concretas” com que se expressa a dicotomia entre a formação inicial e a prática docente. Essas formas concretas são definidas

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pelos autores como “um conjunto de exemplos específicos de questões que se colocam para o professor na prática e que são ignoradas ou tratadas de forma insuficiente ou inadequada pelo processo de formação na licenciatura” (MOREIRA; DAVID, 2005, p. 51).

Duas ideias básicas orientam o estudo:

▪ A matemática escolar não se reduz a uma versão elementar e “didatizada” da matemática científica.

▪ A prática profissional do professor de matemática da escola básica é uma atividade complexa, cercada de contingências, e que não se reduz a uma transmissão técnica e linear de um “conteúdo” previamente definido.

Os autores procuraram mostrar que “a abordagem lógico-dedutiva – nos termos em que se organiza a matemática científica – não somente é insuficiente para a sistematização da matemática escolar, como é também muitas vezes inadequada” (MOREIRA; DAVID, 2005, p. 59).

Enfatizam que a articulação do processo de formação de professores na licenciatura, com as questões que se apresentam na prática docente escolar, vai além de uma relação entre disciplinas específicas e disciplinas pedagógicas. Para Moreira e David (2005, p. 59), isso “demandaria uma concepção de formação de ‘conteúdo’ que leve em conta a especificidade do destino profissional do licenciando e tome como referencial central a matemática escolar”.

O estudo de Silva (2004), sob o título A atual legislação educacional brasileira para formação de professores: origens, influências e implicações nos cursos de licenciatura em Matemática, tem como objetivo analisar as propostas e interpretações que estão sendo dadas por coordenadores de cursos de licenciatura em Matemática a respeito da legislação atual, suas influências e o modo de compreensão da articulação entre teoria e prática nesses cursos. No campo das concepções que envolvem a relação entre teoria e prática, prevalece a visão de unidade, mas ao realizar a pesquisa de campo o autor verifica que essa visão tropeça na divisão do grupo docente, considerando as concepções pessoais do que é uma formação inicial. A ideia de prática ainda se apresenta como sinônimo de qualquer atividade no curso que não seja uma aula expositiva.

A principal conclusão desse estudo é a de que, mais importante que a quantidade de prática existente no curso, é a qualidade de sua presença, e a concepção adotada sobre a prática no momento em que o projeto do curso assume uma visão de unidade para a relação teoria-prática. Desse modo, Silva (2004) apresenta seu entendimento quanto ao papel da articulação teoria-prática nos projetos pedagógicos:

Entendemos que a articulação teoria-prática representa uma visão de impossibilidade de separação em horas entre teoria e prática, portanto todos os componentes curriculares e atividades realizadas nos cursos de Licenciatura devem apresentar esta unidade indissociável. A prática apresenta-se como papel norteador do curso, presente em sua integralidade, ora como fundamento da teoria; ora como finalidade da teoria; ora como atividade objetiva e transformadora da realidade natural e social; ora como atividade subjetiva e objetiva. (SILVA, 2004, p. 132)

Observamos que as investigações apresentadas tentam compreender as dificuldades que envolvem a relação entre teoria e prática e trazem algumas reflexões que podem contribuir para o entendimento dessa relação.

Figura 1. Visões sobre a articulação teoria-prática.

Fonte: Dados da pesquisa.

“A teoria é a compreensão da prática e prática é experimentação a partir da teoria que se tem fazê-la evoluir, torna-la mais complexa, o que significa o sujeito tornar-se mais consciente dela.” (DUTRA, 2010, p. 213)

“[...] a abordagem lógico-dedutiva nos termos em que se organiza a

matemática científica não somente é insuficiente para a sistematização da matemática escolar, como é também muitas vezes inadequada.”

(MOREIRA e DAVID, 2005, p. 37) A articulação teoria-prática

representa uma visão de separação entre teoria e prática, portanto, todos os componentes curriculares e atividades realizadas nos cursos de licenciatura devem apresentar esta unidade indissociável [...]

(SILVA,2004, p.132)

A aprendizagem por competência permite a articulação entre teoria e prática e superar a tradicional dicotomia entre essas duas dimensões definindo-se pela capacidade de mobilizar múltiplos recursos numa mesma direção, entre os quais, os saberes adquiridos na reflexão [...].

No campo das concepções que envolvem a relação teoria e prática, prevalece a visão de unidade, porém ao realizar a pesquisa de campo, o autor verifica que esta visão tropeça na divisão do grupo docente, considerando as concepções pessoais do que é uma formação inicial. [...] mais importante do que a

quantidade de prática existente no curso é a qualidade de sua presença e a concepção adotada sobre a prática no momento que o projeto do curso assume uma visão de unidade para a relação entre teoria e prática.

“[...] A reflexão surge nesse contexto como uma forma de conexão entre o conhecimento e a ação.”

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A Figura 1 apresenta o que se mostra como coerente no entendimento dos pesquisadores acerca da relação entre teoria e prática. Enunciamos, portanto, alguns aspectos considerados relevantes para a compreensão sobre o conhecimento da prática revelado pelos PPP do curso.

Desvelamos a partir dessas leituras que não se trata apenas de perceber as relações postas em evidência quando nos referimos à articulação entre teoria e prática, e muito menos torná-las visíveis a partir das fragilidades que já se encontram bastante explicitadas na literatura nacional, mas buscar compreender como se apresenta essa relação na estrutura do PPP do curso de licenciatura em Matemática.

1.2.2 Pesquisas que revelam entendimentos de estudantes de curso de licenciatura em