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CAPÍTULO 7 – RESULTADOS

7.4 RESULTADOS

7.4.1 O curso de licenciatura em Matemática descrito no Projeto Político-Pedagógico apresenta mecanismos de articulação teoria-prática?

Para responder a primeira questão de pesquisa, utilizamos como fonte de informação as análises produzidas do PPP do curso, já mencionadas anteriormente.

O texto inicial do PPP do curso traz em sua redação a importância de articular teoria e prática na formação inicial de professores, e como mecanismos de articulação apresenta a definição de carga horária, de sua organização curricular, uma aprendizagem por competências e o eixo articulador.

Nossa análise do PPP do curso de licenciatura em Matemática da UNEB deixa evidente que, na organização curricular, os componentes curriculares próprios para promover a articulação entre teoria e prática são os eixos ST, ICM e FDEM. Nesse contexto, não podemos incluir a prática como componente curricular, por razões amplamente justificadas no capítulo anterior, mas registra-se que essa prática é definida pelas diretrizes curriculares como o eixo articulador da relação teoria e prática.

O desenvolvimento de outras atividades em outros espaços que não sejam na própria unidade formadora é considerado, podendo ser contabilizadas nas Atividades Acadêmico- Científico-Culturais.

Os licenciandos reconhecem nos componentes do eixo FDEM, ST, espaços em que são trabalhados mecanismos de aproximação entre as duas dimensões, mas compreendem que na relação entre teoria e prática estas permanecem em posições extremas e com o sentido de

aplicação. O não atendimento de suas expectativas em relação ao curso se revela em pontos considerados frágeis como carga horária de prática reduzida e falta de articulação entre as disciplinas específicas e disciplinas pedagógicas. No conjunto das disciplinas cursadas, os licenciandos reconhecem o componente ‘Laboratório de ensino de Matemática’, como espaço de construção e investigação de situações que favorecem o ensino e a aprendizagem de Matemática, voltada para uma atuação na educação básica.

Direcionando nossas conclusões para as ementas, não é possível, em grande parte, reconhecer os mecanismos a ser utilizados nas atividades que serão desenvolvidas, e que contribuem para a aproximação, uma vez que seus textos vão de um extremo ao outro, ou seja, são muito densos ou pontuais, tornando assim impossível qualquer tipo de reconhecimento.

Entendemos que as orientações previstas na legislação precisam ser consideradas durante o processo de construção de uma proposta curricular; no entanto, mais do que assegurar o cumprimento mínimo exigido ou uma descrição de proposta bem fundamentada, isso revela a necessidade do conhecimento e entendimento dos dispositivos legais, tendo em vista a melhoria na formação inicial de professores. Um curso de licenciatura em Matemática pautado nos princípios da articulação não pode prescindir de fundamentos da área da Educação Matemática, suas pesquisas e propostas, fundamentos que vão contribuir para aproximar o licenciando da formação da prática de ensino. Isto só vai se processar se os fundamentos da formação estiverem fundados na relação teoria-prática.

7.4.2 Que tipos de conhecimentos previstos no Projeto Político-Pedagógico favorecem o licenciando para a aquisição do conhecimento prático de ensino?

Para responder essa questão de pesquisa, elegemos o PPP do curso e sua organização curricular, buscando reconhecer nos componentes curriculares, os conhecimentos necessários para a aquisição do conhecimento prático de ensino.

Mais uma vez a organização curricular do curso de licenciatura em Matemática, apresenta uma composição em eixos de formação, na qual cada um, considerando sua especificidade, contribui para revelar conhecimentos necessários ao ensino. Porém o conhecimento prático não se revela apenas por uma aquisição de conhecimentos específicos, quer seja de natureza científica, quer seja de natureza pedagógica. Ele se revela por meio de atividades organizadas que vão favorecer o desenvolvimento de competências e estimular o potencial de reflexão.

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Assim, segundo as descrições extraídas do PPP do curso de licenciatura em Matemática, os eixos mais apropriados para esse fim, seriam os Seminários Temáticos e o eixo do FDEM. Os ST propõem uma abordagem na qual sejam utilizados o domínio do conhecimento matemático e o sentido lógico-matemático, fornecendo subsídios para as discussões que envolvem a resolução de problemas. A restrição que se apresenta para este eixo é que seu potencial de articulação fica, conforme já discutido, restrito à primeira metade do curso.

Para os estudantes investigados, os conhecimentos teóricos sobre a Matemática (específico ou pedagógico) auxiliam a pensar em práticas diversificadas, porém é preciso muito mais do que pensamento, existe a necessidade de assegurar na formação espaços nos quais seja possível “vivenciar”, “discutir”, “manipular materiais concretos”, etc. Outra necessidade revelada pelos estudantes faz referência à integração entre disciplinas específicas e pedagógicas. Os discursos deste grupo revelam que o conhecimento prático de ensinar só vai acontecer na prática, em espaços de vivência e experimentação e, nesse quesito, o curso tem deixado inúmeras lacunas.

Entendemos que saber o conteúdo de ensino, saber planejar o conteúdo, ter clareza nos objetivos, refletir, ser crítico, avaliar-se e avaliar o outro compõem o repertório eleito pelos licenciandos como fundamentais para a prática do professor.

Concordamos com Tardif (2013), para quem “os saberes que servem de base para o ensino não se reduzem a um sistema cognitivo, ou seja, os fundamentos do ensino são a um só tempo existenciais, sociais e pragmáticos” (p. 16).

7.4.3 O que revelam os estudantes que estão em diferentes momentos do curso de licenciatura em relação aos saberes provenientes da matriz curricular

Um dos primeiros resultados produzidos pelos estudantes da licenciatura em Matemática foi a afirmação de que a matriz curricular do curso não atendia às expectativas projetadas para o curso e, como justificativa, apontam para o perfil do curso e a falta de articulação entre as disciplinas, a ênfase aos conhecimentos teóricos e a existência de uma lacuna na prática de ensino.

No quesito articulação entre disciplinas, os estudantes revelam um descompasso explicitado pela valorização das disciplinas pedagógicas nos primeiros semestres, enquanto as disciplinas de conteúdos específicos, ou seja, “de Matemática pura”, são enfatizadas nos últimos semestres. Outro depoimento que se refere à prática de ensino afirma que são poucos os momentos em que esta é trabalhada. Todos os posicionamentos apresentados concorrem

para o seguinte entendimento: a matriz curricular do curso de licenciatura não fortalece a identidade de professor de Matemática, e demonstram que os alunos de licenciamento acreditam que essa matriz acaba por deixá-los mais próximos de um curso de bacharelado.

A prática de ensino é visualizada no interior da formação como sendo eminentemente prática, uma prática no sentido de aplicação de conhecimentos, de adequação de cada conteúdo a uma determinada forma de aplicação. O domínio do conteúdo é basilar, pois contribui para pensar em formas diferenciadas de aplicação, possibilitando uma articulação com outras áreas, mas precisa ser significativo para a prática de ensino.

As análises revelam uma sequência de significados construídos durante o período formativo e nelas constam saberes que não ficam restritos aos eixos de fundamentos ou pedagógicos, como a necessidade de motivação para ensinar, de se manter atualizado, de conhecer metodologias variadas, se autoavaliar e avaliar os alunos, promover a formação do cidadão, capacidade de inovar com o uso de tecnologias, ser crítico e reflexivo em suas ações.

Para compor esse quadro, os dados revelam que, no leque de contribuições trazidas pelo curso de licenciatura em Matemática, podemos indicar o amadurecimento no domínio do conteúdo, na busca por novas informações, aquisição de um conhecimento maior nas disciplinas da área específica e experiências com disciplinas de estágio.

Nesse mesmo contexto, as informações revelaram ações que precisam ser reforçadas como: mais espaço para o desenvolvimento de prática, sair do campo do discurso para a comprovação na prática, melhorar a aproximação entre o que é ensinado na área de educação para a prática, crescimento nas produções acadêmicas e promover ações que despertem o interesse do aluno em permanecer no curso.

Os depoimentos dos estudantes da licenciatura nos permitem entender que as atividades didáticas realizadas por eles atendem parcialmente a necessidade de se tornarem bons professores e que a relação estabelecida entre a dimensão teórica e prática é entendida como um obstáculo a ser superado, tanto para a aquisição de saberes como o desempenho nas situações de prática.