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2 REVISÃO DA LITERATURA

2.4 Teoria Institucional

2.4.2. Institucionalização

2.4.2.5 Veículos e pilares institucionais segundo Scott (2008)

2.4.2.5.2 Pilares institucionais

Os três pilares institucionais seguem um contínuo e podem ser vistos como três facetas contribuindo, de forma independente, mas complementar, para uma poderosa modelagem

social. Nesta abordagem integrativa, segundo Scott (2008), as instituições parecem ser sistemas determinados, no sentido de que sanções mais pressões por conformidade, mais recompensas diretas, mais valores, agem geralmente juntos para dar uma força ao sistema de significados. A seguir, como indicado no Quadro 7, estes pilares institucionais são explanados a partir de suas bases de complacência, de suas bases ordem, de seus mecanismos, lógica, indicadores, sentimentos e base de legitimidade.

Quadro 7 - Os Três Pilares Institucionais Pilares Institucionais

Regulativo Normativo Cultural-Cognitivo

Base de Complacência Utilidade Obrigação Social Dado como

certo/Entendimento compartilhado Base de Ordem Regras regulativas Expectativas

Comprometidas

Esquema Constitutivo

Mecanismos Coercitivo Normativo Mimético

Lógica Instrumental Adequação Ortodoxo

Indicadores Regras/Leis/Sanções Certificação/Acreditação Crenças comuns/Lógicas de ações

compartilhadas/Isomorfismo Sentimentos Culpa/Inocência Vergonha/Honra Certeza/Confusão

Base de Legitimidade Legalmente sancionada Moralmente governada Compreensível/Sustentado culturalmente

FONTE: Scott, 2008, (tradução nossa).

(a) O Pilar Regulativo

As instituições limitam e regularizam o comportamento. O processo regulatório envolve a capacidade de estabelecer normas, inspecionar a conformidade de terceiros a estas normas e manipular recompensas e punições, com a finalidade de influenciar comportamentos futuros. Dessa forma, a conformidade é apenas uma das muitas respostas possíveis daqueles que estão sujeitos às instituições regulatórias. Além disso, os códigos de condutas não escritos complementam regras formais escritas (SCOTT, 2008).

O principal mecanismo de controle observado na tipologia de DiMaggio e Powell (1983) é a coerção. Muitos tipos de regulações permitem que os atores sociais deem licenças, poderes especiais e benefícios a alguns tipos de atores. As instituições trabalham tanto para restringir quanto para fortalecer o comportamento social.

A força, sanções e respostas utilitárias são os principais elementos do pilar regulatório. Apesar disso, os criadores de regras não baseiam suas regras na força apenas, mas cultivam a

crença na legitimidade destas regras. O uso da autoridade permite que o poder coercitivo seja legitimado através de uma plataforma normativa que tanto apóia quanto restringe o exercício do poder (SCOTT, 2008).

Por fim, Scott (2008) verifica ainda que os sentimentos envolvidos no pilar regulatório se constituem em um importante instrumento do poder deste pilar e expressa, de um lado o medo, o receio e a culpa e, de outro lado a crença, a inocência e a justificação.

(b) O Pilar Normativo

As regras normativas introduzem uma dimensão prescritiva, avaliativa e obrigatória na vida social. As regras podem ser formalmente construídas e há um pensamento generalizado de que as organizações seguem regras e de que os comportamentos organizacionais são, em sua maior parte, especificados por procedimentos operacionais padrões (SCOTT, 2008).

Segundo Meyer e Rowan (1991), as normas de racionalidade não são simplesmente valores gerais, mas existem de forma bem mais específica e poderosa nas regras, entendimentos e significados atrelados às estruturas sociais institucionalizadas. “As normas especificam como as coisas poderiam ser feitas, elas definem os significados legitimados para alcançar fins valorados” (SCOTT, 2008, p. 52).

As expectativas normativas correspondem a preceitos de como atores específicos devem se comportar, quais papéis os atores devem exercer. “Papéis são concepções dos objetivos e atividades adequados a indivíduos específicos ou posições sociais específicas” (Scott, 2008, p. 52). Ainda segundo Scott (2008), tais expectativas exercem pressão externa sobre o ator local e podem se tornar internalizados por este ator.

Para Katz e Kahn (1970), as normas e valores possuem o objetivo de vincular os indivíduos aos sistemas, dando mapas cognitivos para seus membros e facilitando a interpretação e o ajustamento ao ambiente, além de justificarem suas atividades moralmente e socialmente. Os processos de integração das organizações se baseiam na forma, função, normas e valores. Os padrões formais de comportamentos impostos por regras são legitimados por normas que, por sua vez, são justificadas por valores.

Assim, pode-se dizer que os sistemas normativos são responsáveis pela definição de objetivos e metas e também pelo estabelecimento dos meios para alcançá-los. Sistemas normativos tanto impõem restrições como fortalecem a ação social, conferindo diretos e obrigações, privilégios e tarefas. Tais sistemas estão presentes onde crenças e valores comuns são mais prováveis de existir e constituir uma base importante de ordem (SCOTT, 2008).

Por fim, Scott (2008) aponta que os sentimentos associados ao descumprimento de normas incluem principalmente um senso de vergonha ou descrédito, enquanto que para os cumpridores das normas, os sentimentos são de orgulho e honra. Estes sentimentos favorecem a aceitação das normas prevalecentes.

(c) O Pilar Cognitivo-Cultural

De uma perspectiva cultural-cognitiva, o conceito de organização como tendo um propósito especial é um produto de processos institucionais que definem as capacidades dos atores coletivos. Esta visão da Teoria Institucional mina a distinção entre organização e ambiente, sendo as organizações penetradas pelo ambiente de modos não previstos por muitos modelos teóricos (SCOTT, 2008).

Muitos sociólogos, como Berger e Luckmann (1996), DiMaggio e Powell (1983) e Scott (2008) enfatizam a concepção do pilar cognitivo-cultural de que as instituições constituem a natureza da realidade social e os moldes através dos quais o significado é feito. Neste contexto, crenças e cultura são fundamentais às organizações.

A perspectiva cultural do sistema cognitivo-cultural foca nas facetas semióticas da cultura, tratando-as como crenças subjetivas e como sistemas simbólicos objetivos e externos. Berger e Luckmann (1996) falam da sedimentação e até mesmo da cristalização de significados em formas objetivas. Scott (2008), por sua vez, reconhece os processos interpretativos internos como modelados por estruturas culturais externas.

Scott (2008) afirma ainda que os elementos culturais variam de acordo com o grau de institucionalização, com sua ligação com outros elementos, com seu envolvimento com rotinas e esquemas organizacionais e com crenças.

A aceitação no sistema cognitivo-cultural ocorre muitas vezes porque outros tipos de comportamentos são inconcebíveis e as rotinas são dadas como certas, ou seja correspondem “a forma como as coisas são feitas” (SCOTT, 2008, p. 58).

Outro ponto importante apresentado por Scott (2008) são os papéis dos atores nas organizações que podem se desenvolver como padrões repetitivos de ações que se tornam gradualmente habituais e objetivas.

Por fim, segundo Scott (2008), as emoções sentidas neste pilar são expressadas, num extremo, por um sentimento positivo de acerto e confiança e, em outro extremo, por sentimentos negativos de confusão e desorientação.