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CAPÍTULO 2: PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS

2.4 Planejando as discussões em sala de aula

Nesta Seção, apresentamos, de modo sintetizado, como nos organizamos/preparamos para conduzir as discussões em sala de aula, tendo como referencial teórico os estudos sobre a importância da mediação do professor nos movimentos discursivos produzidos em sala de aula, apresentados na Seção 1.7 do Capítulo 1.

Almejando a ocorrência em sala de aula de um discurso que possibilite os envolvidos analisar criticamente as ideias apresentadas, argumentar em defesa destas ideias, assim como avaliá-las durante a resolução de problemas verbais, refletirmos sobre as possíveis dificuldades que poderiam surgir no decorrer das discussões promovidas em sala de aula. Com isso, planejamos nossas ações, como provedores do discurso em nossa pesquisa, tendo como hipótese algumas ações que poderiam ser

efetivadas pelos alunos. Consideramos, portanto, em nosso planejamento (discursivo)60 as seguintes questões e providências:

Quando algum indício relacionado aos problemas, como: questão central,

condicionante e solução, for apontado por um aluno, que ação o professor pode pôr em prática? Caso isso ocorra, o professor pode solicitar de imediato uma

explicação sobre o porquê daquele apontamento. Entendemos que o aluno ao ter que explicar/justificar, por exemplo, os dados que ele selecionou para a resolução de um problema, ele terá que tratar do problema como um todo, indicando também a questão central e, possivelmente, as relações que há entre as condicionantes do problema. Tendo que fazer isso, o aluno indica que critérios (e possíveis estratégias metacognitivas) ele utilizou para selecionar os referidos dados.

Quando algum aluno auferir alguma negação sobre a assertiva do outro, sem

haver contraposição de ideias, que ação o professor pode pôr em prática? Caso

isso ocorra, o professor pode solicitar de imediato que ele indique e justifique o seu ponto de vista. Tal medida contribui de modo semelhante ao item anterior, estimulando o aluno a tratar da sua própria ideia. O professor possibilita aos envolvidos que percebam que toda fala que tenha alguma natureza conflitante deve ser justificada.

Quando algum aluno se posicionar contra alguma ideia apresentada pelo outro,

a fim de justificar seu próprio ponto de vista, que ação o professor pode pôr em prática? Caso isso ocorra, o professor pode solicitar ao aluno que busque

fundamento para sua justificativa, apoiando-se em alguma informação contida no enunciado do problema (trecho) ou em alguma outra informação que esteja coerente ao que se discute. Agindo dessa maneira o professor possibilita aos alunos que percebam a importância de se argumentar utilizando evidências mais plausíveis.

Quando algum aluno não conseguir explicar, contrapor ou defender algum

ponto de vista, que ação o professor pode pôr em prática? Caso isso ocorra, o

professor pode solicitar a outros alunos, que possuam a mesma opinião daquele,

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Vamos indicar este planejamento como planejamento discursivo, pois tratou de ideias, movimentos, ações e planos voltados para a promoção e manutenção das discussões em sala de aula.

que o auxiliem nesta explicação. Dessa forma, se estará contribuindo para que todos possam compreender, a partir de seus pares, como realizar tais ações.  Quando houver algum aluno que apresente um posicionamento diferente (sendo

este incorreto) dos outros alunos, que ação o professor pode pôr em prática?

Caso isso ocorra, o professor deve tentar conduzir a situação de tal modo que os outros alunos possam tentar convencer aquele aluno do ponto de vista correto. Para isso, o professor deve ter como objetivo buscar o consenso entre os alunos.  Quando algum aluno fornecer uma solução errada para um determinado

problema, que ação o professor pode pôr em prática? Caso isso ocorra, o

professor não deve julgar a referida solução (dizendo se está certa ou errada), mas conduzir a discussão de tal modo que possibilite ao aluno entender que sua resposta também é importante para a compreensão e resolução do problema. Portanto, deve-se ter o cuidado para que os outros alunos não inflijam constrangimento ao respondedor, sendo, então, estimulados a buscarem, a partir da resposta dada, o prosseguimento da discussão na tentativa de solucionarem o problema.

Além destas ações, que outros cuidados o professor deve ter no decorrer das

discussões? No interior do discurso, o professor deve tentar instruir/orientar os

alunos a fim de mediar as discussões, atentando para a disciplina ao zelar pelo respeito e o bom comportamento, além de encorajar os estudantes, elogiando-os e incentivando interações entre eles.

Como já mencionado, estas foram algumas medidas previstas e planejadas por nós, que intencionaram a manutenção do discurso de modo que favorecesse o surgimento de justificativas para as estratégias utilizadas pelos alunos durante as etapas que compõem a resolução de problemas verbais.

Além das questões e providências indicadas há pouco, relativas ao nosso planejamento para a promoção do discurso, refletimos também sobre outras ações que poderiam ser tomadas a partir do envolvimento dos alunos nas discussões relativas à compreensão e à resolução do problema. Para iniciar tais discussões, indicamos que seja solicitado que algum aluno do grupo seja voluntário para apresentar, verbalmente, os procedimentos que utilizou durante as etapas que compõem o problema. Por outro lado, caso não haja voluntários, deve-se indicar um, solicitando-lhe que justifique suas

estratégias. Este procedimento deve ocorrer sem perder de vista o propósito de fazer com que os alunos se sintam à vontade para discutir o problema.

Embora tenhamos elencado estas possibilidades discursivas, considerávamos que, ao longo do desenvolvimento da intervenção, outras possibilidades de ocorrência poderiam surgir, ainda decorrentes do envolvimento dos estudantes, já que o nosso intuito foi o de estimular o confronto de ideias entre eles, pressupondo, assim, uma atuação mais específica do docente.

Compreendíamos que, independentemente da quantidade de alunos em uma turma, as possibilidades apresentadas a seguir (assim como outras) poderiam, de fato, ocorrer. Desse modo, passamos a refletir sobre que possíveis ações o professor poderia efetivar se:

 Todos os alunos escolherem a resposta correta.  Todos os alunos escolherem a resposta errada.

 A maioria dos alunos escolheu a resposta correta ou a errada.  Houvesse empates entre as escolhas.

Diante destas possibilidades, traçamos uma sequência inicial de ações tendo como pressuposto que, após a sua aplicação, poderíamos ter clareza sobre qual das ocorrências há pouco mencionadas, estaríamos lidando, a saber: 1) solicitar para que algum aluno explicasse sua escolha; 2) questionar ao mesmo se ele teve dificuldades para compreender o problema; 3) repetir novamente toda a assertiva do aluno ou algum ponto exaltando-o; 4) perguntar aos outros alunos se eles concordam com a escolha indicada.

Assim, buscamos nos preparar minimamente para realizar ações a partir de cada uma daquelas ocorrências. Por exemplo, para a possibilidade de ocorrência: Se todos os

alunos escolherem a resposta correta, que ações o professor pode efetivar?, tomou-se

as seguintes possibilidades de atuações, a fim de possibilitar a ampliação das discussões  O professor deve solicitar a outro aluno que explique sua escolha.

 O professor pode repetir toda a assertiva ou algum ponto exaltando-o.

 O professor pergunta ao aluno se ele teve dificuldade para compreender o problema.

 O professor deve solicitar ao aluno que explique o porquê de não ter escolhido a outra resposta (Que se posicione contra as outras opções).

 O professor deve solicitar ao restante do grupo (incluindo o aluno questionado na sequência inicial) que auxilie este aluno em sua explicação, a fim de comparar as justificativas.

 O professor deve solicitar a um terceiro aluno (caso haja uma terceira resposta), que explique o porquê de não ter escolhido outra resposta.

 O professor deve solicitar ao restante do grupo que auxilie este terceiro aluno em sua explicação, a fim de comparar as justificativas.

 O professor repete as principais justificativas.

Nesse caso, em que todos os alunos escolhem a resposta correta, refletimos sobre o que fazer para que ocorresse algum confronto de ideias/opiniões. Para isso, tivemos como propósito conduzir as discussões de modo que os alunos também fornecessem justificativas para a não escolha da(s) resposta(s) considerada(s) incorreta(s), buscando, dessa forma, perceber os critérios utilizados por eles para não só indicarem a resposta correta, como a(s) incorreta(s) também, permitindo analisar se os critérios adotados, de fato, justificam a escolha dos alunos.

Para cada possibilidade de ocorrência, planejamos possíveis estratégias de atuação. Contudo, temos clareza de que estes planejamentos não podem ser caracterizados como receitas, prontas e acabadas, para dar conta de todas as dificuldades que surgissem no processo discursivo. Mas, ao planejarmos, foi possível pensar em alternativas para a manutenção das discussões, no momento em que elas estavam ocorrendo, permitindo-nos lembrar de algum comando ou questionamento que pudesse ser adotado para dar continuidade às discussões, de modo a promover confrontos de opiniões e obter dados para alcançarmos os nossos objetivos de pesquisa.

Tendo os dados sido coletados, não só por meio das discussões em sala de aula como também pelos registros escritos dos alunos, iniciamos, então, o processo de análise. As estratégias adotadas para o desenvolvimento desse processo são apresentadas na Seção a seguir.

2.5 Das análises

Considerando os objetivos traçados para o desenvolvimento de nossa pesquisa, além das reflexões teóricas sobre as etapas que compõem a resolução de problemas verbais tratadas no Capítulo 1 desta Tese, focamos a nossa análise sobre os seguintes aspectos:

1. Procedimentos de leitura

 Quais procedimentos de leitura foram utilizados pelos alunos para compreender o problema?

2. Identificação dos elementos estruturantes de um problema verbal

 Quais critérios os alunos utilizaram para identificar a incógnita e, assim, a questão central do problema?

 Quais critérios os alunos utilizaram para identificar as condicionantes do problema?

3. Resolução do problema: estratégias utilizadas e validação dos resultados

 Quais critérios os alunos utilizaram para selecionar a estratégia utilizada na resolução do problema? E para validar o resultado encontrado?

Compreendemos que estes aspectos se referem às etapas que compõem a resolução de um problema verbal; partindo de sua compreensão, busca-se uma estratégia para pô-la em prática visando à resolução do problema e finaliza-se o problema avaliando o seu resultado.

Com relação ao primeiro aspecto analisado, lançamos o nosso olhar sobre os procedimentos de leitura utilizados pelos alunos na busca de compreenderem o problema. A análise considerou informações expressas oralmente a partir do estímulo a questionamentos do professor ou apresentadas espontaneamente pelos alunos.

O segundo aspecto analisado em nossa pesquisa pautou-se na identificação, pelos estudantes, dos elementos estruturantes de um problema verbal, especificamente, nos critérios utilizados por eles para identificarem a questão central do problema e as condicionantes do mesmo. Para isso, novamente, os alunos foram estimulados pelo professor, por meio de questionamentos, a descreverem, verbalmente, tais critérios, quando não os apresentassem espontaneamente.