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A opinião sobre o PD em vigência foi solicitada aos entrevistados e as respostas ao questionamento dividiram-se em variados temas. Coloca-se os temas mais citados, selecionados por apresentarem relevância ao cumprimento dos objetivos desta pesquisa.

O tema mais citado foi o referente a instabilidade gerada no mercado imobiliário devido às sucessivas alterações de zoneamento junto ao PD. Alterações realizadas muitas vezes quando já de investimentos realizados pelos incorporadores onde o Entrevistado D observa que: "Em Florianópolis 2/3 da legislação da Câmara dos Vereadores e tudo que a Câmara fez nos últimos 25 anos 66% foi alteração do PD.

Têm muitos interesses...".. Esta instabilidade é citada por 64% dos entrevistados,

como o Entrevistado A quando coloca:

Acho que o PD cria instabilidade no mercado. Ele deve ser único e não ficar sendo alterado a todo momento. Um empreendimento leva 6 meses, 1 ano até 2 anos em fase de planejamento, demora para começar a ser construido. Depois de comprar o terreno e planejar a obra muda o PD. Aconteceu com a empresa na [...], já tinha comprado o terreno, e ia começar a construir quando mudou o zoneamento do bairro. No [...] também, queriam mudar o zoneamento com o prédio já levantado.

O Entrevistado D também cita um exemplo em um balneário onde investiu uma soma considerável na compra de lotes e quando do projeto e alvará de construção já aprovados pela Prefeitura o zoneamento do local foi alterado, como observa:

[...] íamos começar um prédio lá. Eu já estou há 2 anos aguardando prá ver se não tem nenhum problema prá poder lançar. Tô com o dinheiro lá preso, já existe prédio (no local), já existe tudo, projeto, alvará, tudo. Demoraram 2 anos prá aprovar... depois de aprovado por causa de uma resolução [...]

O histórico dos planos diretores revela que estes são uma verdadeira "colcha de retalhos": uma centena de leis e leis complementares os alteram, modificam e complementam. A maioria de alterações de zoneamento são pontuais, ocorrendo em todas as gestões municipais, sendo que na atual gestão, de janeiro a maio de 2005, já foram realizadas 6 alterações. Fato que gera instabilidade junto ao mercado imobiliário, pois uma vez realizados investimentos, por parte dos incorporadores, em compra de terrenos e pagamentos aos profissionais para execução de projetos, o zoneamento do local pode ser alterado, inviabilizando o empreendimento pretendido e vendo seus investimentos já realizados perdidos.

Para os empresários que colocaram a sua percepção sobre o PD como gerador de instabilidade observa-se que pela visão destes o PD têm como função principal disciplinar o uso e a ocupação do solo. Esta função é citada por 27% dos entrevistados quando questionados sobre a função do PD, como o Entrevistado C quando define na sua percepção o que é o PD: "É o Plano Diretor que define o valor dos terrenos".

Dos entrevistados 18% declararam que o PD em vigência, através de maiores restrições dos índices urbanísticos que os planos anteriores, proporciona edificações

mais salubres, como coloca o Entrevistado K: "Estou de acordo com os afastamentos do plano diretor, eu não moraria em prédios colados, não têm qualidade de vida".

Uma observação realizada por 27% dos entrevistados é a de que o Poder Público municipal só se preocupa em restringir e limitar a atuação das construtoras que agem na legalidade, ou seja, observam o crescimento da cidade ilegal, das ocupações clandestinas e nos morros da cidade, com intervenção limitada por parte da municipalidade em conter este crescimento. O Entrevistado B coloca a grande preocupação em se restringir os empreendimentos de grande e médio porte quando que: "Se tu bota 200 casinhas, tu tens um grande empreendimento desorganizado".

O Entrevistado D também coloca esta questão: "Há um descompasso entre os órgãos públicos (PMF, IBAMA, etc.), dificultando construções legais dentro do PD e permitindo a ocupação desornada em outras áreas".

Esta percepção, de que o PD tem sua função limitada em restringir o uso do solo, onde suas determinações são continuamente alteradas quanto ao potencial construtivo em determinadas áreas e a falta de critérios, também é colocada pelo Entrevistado H:

Só ligar prá não deixar fazer, não resolve o problema. O que tem se que ter é um planejamento com todos os órgãos sejam eles ambientais, ou qualquer um. Concordo que seja feito tudo dentro desses (critérios) com planejamento. Só dizer: não pode, não pode, não pode, sempre vai ter alguém que vai poder. Então isso fica desagradável para o mercado. É muito complicado. É uma pena porque eu acho que deveria ter uma fiscalização maior, e também um critério maior. Só prá dizer o que não pode, o que pode não tá escrito, no momento que você diz que não pode, você tem que dizer também o que pode.

Na percepção do Entrevistado G o PD também se limita à função de ordenamento do uso do solo tanto que observa que o Poder Público não se ocupa do crescimento ilegal da cidade e devido às sucessivas alterações não funciona como proposto, como coloca: "Aumentou só a bagunça, tudo desordenado tem leis só para nós, para os outros tudo pode, nós não burlamos a lei [...]. O PD não funciona, porque se funcionasse todo mundo ia poder construir a mesma coisa".

Assim observa-se uma tendência de descrédito das determinações do PD em função de sucessivas alterações.

Um das deficiências do PD, de não haver um plano único que abranja todo o munícipio, ou até considere a Região Metropolitana de Florianópolis é levantada pelo Entrevistado B que coloca:

Hoje você não pode segmentar ele ( o PD) dentro da Ilha. Você tem que fazer da Ilha e da Grande Florianópolis como um todo. Um sistema de integração. Então na verdade é o seguinte o órgão de planejamento urbano, retalhou, nós não temos, então temos um plano central e aqueles planos setoriais, o que também não funciona [...] daí você não consegue reunir as coisas. Hoje temos que pensar num plano global, da Ilha inteira, o que nós vamos fazer na Ilha inteira, como é que vai ser esse sistema e tal, algo exequível.

Assim coloca-se os seguintes tópicos sobre a percepção dos incorporadores participantes da pesquisa sobre a legislação urbana:

a) o PD em vigência proporciona maior salubridade nas edificações do que os planos anteriores;

b) restringe-se a ordenar o uso e ocupação do solo;

c) devido às sucessivas alterações de zoneamento, movidas por interesses pontuais é fator de instabilidade e insegurança no mercado;

d) por ser dividido em planos setoriais sua abrangência é limitada não existindo um planejamento integrado;

e) o Poder Público trata apenas de restringir a atuação dos que trabalham na legalidade de acordo com as determinações do PD, não atuando com a mesma intensidade no crescimento das construções ilegais.