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Os portos causam interferências diretas nas utilizações das vias urbanas por se configurarem como polos geradores de tráfego, uma vez que abarcam “atividades em um porte e escala capazes de [...] produzir um contingente significativo de viagens, necessitar de grandes espaços para estacionamento, carga e descarga e embarque e desembarque” (REDPGV, c2019, não paginado). Dentre os possíveis conflitos de mobilidade provocados pela instalação da atividade portuária, encontram-se as disputas da utilização das vias urbanas entre o tráfego urbano e o transporte de carga, os estacionamentos irregulares dos veículos de carga e o desgaste acelerado das condições das vias (EPV, [201-]).

A fim de mitigar tais conflitos, torna-se de extrema importância para as cidades que abarcam a atividade portuária o desenvolvimento de um PMU, o qual se configura no instrumento de efetivação da Política Nacional de Mobilidade Urbana. Esse instrumento é previsto, a exemplo do PDM, para todos os municípios com mais de 20 mil habitantes, e antevê a concordância entre os objetivos e as diretrizes dos dois documentos (BRASIL, 2012b). Tal instrumento de planejamento urbano torna-se ainda mais pertinente, tendo em vista que 74% das instalações portuárias alegaram que a principal rota de acesso ao porto passa por áreas densamente urbanizadas. Conforme ilustrado no Gráfico 46, 32% dos municípios portuários brasileiros possuem PMU disponível on-line10.

Ordenamento territorial/zonamento abrange atividade portuária Ordenamento territorial/zoneamento não abrange atvidade portuária

65% 35%

Gráfico 45 – Municípios que têm ordenamento/zoneamento de atividades portuárias

Fonte: IBGE (2015), Leis Municipais (2019) e sites das prefeituras municipais. Elaboração: LabTrans/UFSC (2019)

10 Para esta análise, não foram incluídos os municípios nos quais as instalações portuárias não estão em operação e que possuem apenas

É de importante destaque que 58% dos municípios que não possuem PMU estão elaborando o documento em questão e possuem informações referentes a ele disponíveis on-line. Ademais, alguns municípios, apesar de possuírem atividades portuárias, são de menor porte e acabam sendo englobados pelos Planos de Mobilidade de suas respectivas regiões metropolitanas. O processo de elaboração do PMU também conta com a possibilidade de participação popular, a exemplo do PDM. Destaca-se que, embora 74% das instalações portuárias tenham declarado que as rotas de acesso principal ao porto passam por áreas densamente urbanizadas, apenas 5% delas participaram da elaboração do documento.

O PMU deve propor diretrizes relativas às melhorias em circulação viária, infraestruturas do sistema de mobilidade urbana e disciplinamento do transporte de cargas e dos polos geradores de tráfego (BRASIL, 2012b). Essa ferramenta de planejamento tem como objetivo, por meio de diretrizes e ações, desenvolver um sistema de transporte urbano seguro, eficiente e acessível (BÖHLER-BAEDEKER; KOST, 2014). Dessa forma, além de possuir um PMU, é fundamental que sejam incorporadas ao documento as atividades portuárias em seu diagnóstico, objetivos e diretrizes. De acordo com o Gráfico 47, dos municípios portuários que possuem PMU, 54% citam a atividade portuária no documento.

Salienta-se que as grandes instalações portuárias em municípios de pequeno porte provocam significativas alterações na mobilidade urbana. A expansão do Complexo Portuário de Paranaguá no município de Pontal do Paraná, por exemplo, prevê uma série de alterações da malha viária. Com intuito de garantir o abastecimento do novo TUP com a menor interferência possível no meio urbano, o Governo do Estado do Paraná planeja a implantação de uma nova rodovia de infraestrutura, um canal de drenagem e um espaço para a construção de uma nova ferrovia (PARANÁ, ca. 2016). O município de Pontal do Paraná possui população inferior a 30 mil habitantes em um território de cerca de 200 km², sendo assim, grandes infraestruturas tendem a causar impactos na dinâmica da cidade (IBGE, c2017a).

Gráfico 46 – Municípios com instalações portuárias que possuem PMU disponível on-line

Fonte: Leis Municipais (2019) e sites das prefeituras municipais11. Elaboração: LabTrans/UFSC (2019)

Gráfico 47 – Municípios com instalações portuárias que citam a atividade portuária no seu PMU

Fonte: Leis Municipais (2019) e sites das prefeituras municipais. Elaboração: LabTrans/UFSC (2018)

11 Para as análises referentes aos Planos de Mobilidade foram utilizados como referências documentos e informações encontrados nos sites das prefeituras dos municípios portuários em questão.

Possui PMU Não possui PMU 32%

68%

PMU cita atividade portuária PMU não cita atividade portuária 54% 46%

Apesar da importância ressaltada, apenas dois dos 22 municípios portuários com menos de 50 mil habitantes analisados possuem PMU publicado e disponível on-line.

O município de Macaé é exemplo de PMU atualizado e integrado às atividades portuárias presentes na sua região, relacionadas ao polo petrolífero do estado do Rio de Janeiro. A cidade de Macaé conta com o PMU publicado em 2015, no qual estão expostos objetivos estratégicos que envolvem direta ou indiretamente o TUP presente no município. O documento prevê a segregação dos veículos de transporte de carga dos veículos de transporte de pessoas na área urbana, construindo e definindo vias com faixas prioritárias para o transporte de carga, com destino ao TUP, ao aeroporto e às zonas industriais, visando à fluidez e à segurança no trânsito. Ademais, o PMU de Macaé indica a implantação da Rede Logística de Transporte (TransLog) no município, uma rede viária própria e prioritária para a circulação de caminhões e carretas, visando à separação do transporte de carga do sistema viário existente (MACAÉ, 2015).