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REVITALIZAÇÃO URBANA DE ÁREAS PORTUÁRIAS

A revitalização de áreas portuárias e seus entornos corresponde ao estágio atual da evolução porto- cidade, tendo em vista o processo de degradação das zonas portuárias e seu afastamento da dinâmica urbana enquanto uma questão sensível em diversas cidades do Brasil e do mundo. Inseridas no contexto de competitividade por investimentos no mercado internacional, as metrópoles buscam realizar ações voltadas à atração de investimentos, por meio das quais se busca uma nova caracterização dos antigos espaços de portos como frentes marítimas qualificadas.

Nesse contexto, as características de gestão e planejamento urbano tomam como princípios a capacidade de geração de recursos financeiros dos projetos localizados em bordas d’água e a formação de polos de empregabilidade e de renda voltados à economia municipal. Essas áreas têm despertado interesse por seu valor turístico-paisagístico e de atendimento a tais objetivos. Foram levantadas 18 iniciativas acerca dessa temática no Brasil, indicando uma tendência crescente, principalmente a partir dos anos 2000. O Gráfico 30 indica o status das iniciativas de revitalização no Brasil.

33%

33% 28%

6%

Realizado Em estudo Projeto elaborado Em obras

Gráfico 30 – Distribuição das revitalizações de áreas portuárias e entornos por status no Brasil

Com relação às revitalizações de áreas portuárias e entornos no Brasil, em Belém, o projeto Estação das Docas desponta como a experiência pioneira no País, concebida com o objetivo de valorizar o caráter patrimonial local e integrar visualmente a cidade à Baía do Guajará através de um complexo de lazer, cultura e turismo, responsável pela criação de 800 empregos diretos e 1.600 empregos indiretos (PROGRAMA CIDADES SUSTENTÁVEIS, 2014). No Rio de Janeiro, o projeto Porto Maravilha investe em requalificação de infraestruturas, redes técnicas e equipamentos de uso coletivo, além de projetos imobiliários voltados para usos de habitação, administração pública e comercial, abrangendo um total de 5 milhões de m² (CDURP, 2018; MONIÉ; SILVA, 2015). Destaca-se a relevância do montante de investimentos já realizados em ambas as intervenções, que compreende aproximadamente R$ 30 milhões entre recursos públicos e privados (PROGRAMA CIDADES SUSTENTÁVEIS, 2014; KEMPF, 2018). Tendo em vista a baixa representatividade de revitalizações de áreas portuárias e entornos finalizadas em âmbito nacional, foi realizada uma análise das experiências internacionais relacionadas à temática de revitalizações portuárias para o diagnóstico das principais tendências atuais. Além dessas revitalizações, foram considerados os apontamentos dos instrumentos de planejamento dos portos, como os Planos Mestre dos portos de Dublin e Roterdã. Nessa análise, alguns fatores despontam como norteadores das iniciativas de requalificação de áreas portuárias e como objetivos relevantes para esses investimentos levantando os aspectos descritos na Figura 79.

ENVOLVIMENTO COMUNITÁRIO

Promoção de acesso público à orla: o reconhecimento e a aproximação da comunidade externa à

instalação com o espaço da zona portuária garante vitalidade urbana, investimentos e segurança.

HERANÇA HISTÓRICA

Interpretação da história do Porto como mecanismo de desenvolvimento econômico: a economia

ligada ao turismo é um tópico em destaque nos empreendimentos ligados às revitalizações portuárias, como um novo recurso de ganhos de receita para a instalação com ênfase no envolvimento da cultura local e patrimônio documental e arquitetônico.

PLANEJAMENTO PARTICIPATIVO

Criação de um desenvolvimento que apoie a comunidade através do crescimento econômico e geração

de empregos: a participação de todas as partes interessadas no ecossistema da cidade portuária é um

tema fundamental nos planejamentos de municípios como Vancouver e Dublin. No Brasil, o engajamento comunitário nas discussões de planejamento da cidade está previsto pela Lei n° 10.257 (Estatuto da Cidade) de forma a assegurar que as melhorias e o crescimento das cidades atendam às demandas de toda a comunidade envolvida, como autoridades públicas, mercado e sociedade civil.a

MITIGAÇÃO DOS IMPACTOS E DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL

Mitigação das perturbações entre o porto, a cidade e o meio ambiente:temas como impactos em

mobilidade (tráfego), odores e ruídos têm sido apontados em discussões internacionais sobre o planejamento de cidades portuárias, visando a diminuição do incômodo da atividade dos portos sobre a experiência dos transeuntes e moradores que circulam e vivem no seu entorno, idealizando-o como um espaço adequado e agradável em termos de qualificação de infraestrutura urbana e meio ambiente.

DIVERSIDADE DE USOS

Requalificação das zonas portuárias com base na diversificação de usos: as tendências nos projetos de

requalificações mostram a implementação de zonas residenciais, comerciais e de uso corporativo, como forma de atrair investimentos, os quais poderão também contribuir para requalificações na zona pública do porto, garantindo melhorias na qualidade do espaço público e de infraestrutura de serviços. 

Figura 79 – Principais tendências nos projetos de revitalizações de áreas portuárias e entornos

Com relação à recorrência de tais objetivos no Brasil foram analisadas as revitalizações portuárias já implementadas, em estudo, projeto e obras. Primeiramente, não foram constatadas iniciativas no sentido de desenvolvimento sustentável nas revitalizações portuárias brasileiras, entretanto, ações relacionadas à mitigação dos impactos podem ser encontradas nos investimentos em infraestrutura urbana do Porto Maravilha, ou a inclusão do transporte hidroviário nas propostas do Cais Mauá em Porto Alegre, este último ainda em projeto. De forma geral, a característica mais recorrente é a valorização da herança histórica e da cultura inerente às áreas portuárias que remonta ao processo de povoamento dos municípios. A presença de tais características nas revitalizações portuárias brasileiras já realizadas está demonstrada na Figura 80.

LEGENDA

Incentivo à cultura Comércio e serviços Revitalização portuária concluída

Planejamento Participativo Envolvimento comunitário Herança histórica RIO DE JANEIRO Porto Maravilha RECIFE Porto do Recife SALVADOR

Terminal Marítimo de Passageiros do Porto de Salvador

FORTALEZA

Terminal Marítimo de Passageiros de Fortaleza BELÉM

Estação das Docas

BELÉM

Estação das Docas

Figura 80 – Análise das características das revitalizações de áreas portuárias no Brasil

De modo geral, a partir do desafio enfrentado por portos e cidades com o objetivo de investir em revitalizações – seja pelas urgências globais, como mudanças climáticas e aumento do nível da água do mar, ou urgências locais, como educação e criação de empregos –, procura-se obter suporte das partes interessadas no desenvolvimento tanto da cidade quanto da instalação portuária. Um dos principais objetivos é fazer com que os stakeholders reconheçam problemas individuais e compartilhados, para que se possa discutir, gerar soluções e configurar alterações urbanas que atendam às diferentes entidades envolvidas nas áreas portuárias e de seu entorno (LDE METROPOLIS AND MAINPORT, 2018). Os portos de Vancouver e de Dublin também inserem esses princípios como estratégia de seus Planos Mestres, nos quais é proposta a criação de um planejamento que apoie e envolva a comunidade externa, incentivando o crescimento econômico local e a geração de empregos futuros.