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2 RESGATE HISTÓRICO

2.3 SOBRE OS DOCUMENTOS OFICIAIS DA EDUCAÇÃO BRASILEIRA

2.3.2 O Plano Nacional de Educação

Em seu artigo 9º, a Lei das Diretrizes e Bases da Educação, promulgada em 1996, estipulou ser incumbência da União, com a colaboração dos Estados, Distrito Federal e Municípios, a elaboração de um Plano Nacional de Educação (PNE) para o Brasil. Estipulou, também, em seu artigo 87, que o referido Plano deveria estar em consonância com a Declaração Mundial sobre Educação para Todos, elaborada na Conferência Mundial sobre Educação para Todos, ocorrida em Jontien, na Tailândia, em 1990.

13 Fundo Monetário Internacional (FMI), Banco Internacional de Reconstrução e Desenvolvimento (BIRD), Banco

Interamericano de Desenvolvimento (BID), Organização Mundial do Comércio (OMC), Programa para as Nações Unidas para o Desenvolvimento (Pnud), Comissão Econômica para a América Latina Caribe (Cepal), Associação Latino-Americana para o Desenvolvimento Industrial e Social (Aladis).

Em atendimento a essa declaração, a LDB estabeleceu como objetivos do PNE a elevação global do nível de escolaridade da população, a melhoria da qualidade do ensino em todos os níveis, a redução das desigualdades sociais e regionais no tocante ao acesso e à permanência na educação pública e a democratização da gestão do ensino público, nos estabelecimentos oficiais, obedecendo aos princípios da participação dos profissionais da educação na elaboração do projeto pedagógico da escola e a participação das comunidades escolar e local em conselhos escolares.

O PNE, enquanto documento-referência da política educacional brasileira, estabelece princípios, diretrizes, prioridades, metas e estratégias de ação para o enfrentamento dos problemas educacionais do Brasil.

Na vigência da primeira Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional14, foi

elaborado, no Brasil, em 1962, o primeiro PNE, que era basicamente um conjunto de metas quantitativas e qualitativas a serem atingidas num prazo de oito anos. Esse plano não foi proposto na forma de um projeto lei: ele foi uma iniciativa do MEC, aprovada pelo Conselho Federal de Educação (CFE). Uma semana após esse conselho entregar o referido plano a Darcy Ribeiro (à época, Ministro da Educação), o presidente da República João Belchior Marques Goulart, por meio do Decreto nº 1.422, de 27 de setembro de 1962, nomeou Celso Monteiro Furtado para Ministro Extraordinário de Planejamento e submeteu a Pasta da Educação a esse ministério. Com o fim do MEC, esse plano foi abandonado. Para substituí-lo, o Ministério do Planejamento passou a elaborar seu Plano Trienal de Educação.

O Plano do CFE foi abandonado e o Ministério passou a elaborar, por orientação do novo Ministério do Planejamento, seu Plano Trienal de Educação 1963-1965, no qual, após diagnóstico (estatístico) da situação da educação, apresentava as diretrizes gerais do programa e objetivos para o ensino primário, médio e superior, contemplando a expansão de matrículas, formação de docentes, construções de prédios, tudo com previsão de recursos. Interessante destacar o título dado ao plano: Pré-investimento para aperfeiçoamento do fator humano (BORDIGNON, 2011, p. 11).

Com o golpe civil-militar ocorrido no Brasil em 31 de março de 1964, novas orientações foram direcionadas à Educação, e a escola passou a ser utilizada como espaço privilegiado de inculcação dos ideais do novo regime militar implantado no país.

Em 1965, sofreu uma revisão, quando foram introduzidas normas descentralizadoras e estimuladoras da elaboração de planos estaduais. Em 1966, uma nova revisão, que se chamou Plano Complementar de Educação, introduziu importantes alterações na distribuição dos recursos federais, beneficiando a implantação de ginásios orientados para o trabalho e o atendimento de analfabetos com mais de dez anos (BRASIL, 2001, p. 5)

De acordo com Saviani (2010)15, o planejamento educacional, durante os governos militares, foi transferido dos educadores para os tecnocratas. Essa transferência fica explícita

quando os dirigentes e os técnicos do Ministério da Educação, subordinados ao Ministério do

Planejamento, passam a ser oriundos das áreas de formação correspondente às ciências econômicas. Nesse período, os planos para a educação ficaram diretamente ligados aos Planos Nacionais de Desenvolvimento (PNDs) do país, ganhando a denominação de Planos Setoriais de Educação e Cultura.

Essa tendência se explicita na reforma do ensino traduzida pela lei n. 5.692/1971, cujo artigo 53 define que “o Governo Federal estabelecerá e executará planos nacionais de educação, esclarecendo no parágrafo único que o planejamento setorial da educação deverá atender às diretrizes e normas do Plano-Geral do Governo, de modo que a ação a cargo dos órgãos da direção superior do Ministério da Educação e Cultura se integre harmonicamente nesse Plano-Geral”(Saviani, 1996, p. 136). Nesse contexto, os planos para a área de educação decorriam diretamente dos Planos Nacionais de Desenvolvimento (PNDs), recebendo, por isso mesmo, a denominação de Planos Setoriais de Educação e Cultura (PSECs) (SAVIANI, 2010, p. 390).

Com o fim da Ditadura Militar, inaugurou-se, no Brasil, um período denominado Nova

República. Nesse período, foi elaborado, com base no Plano Educação para Todos16, o I Plano

Nacional de Desenvolvimento da Nova República, com vigência prevista para o período de 1986 a 1989.

Em 1993, o MEC elaborou o Plano Decenal de Educação para Todos voltado exclusivamente à educação fundamental, procurando encontrar os caminhos para diagnosticar o Ensino Fundamental e as soluções para enfrentar os obstáculos, formulando, para tanto, estratégias que visassem erradicar o analfabetismo, bem como universalizar a educação fundamental.

Em 2001, em obediência à Lei nº 10.172, de 9 de janeiro de 2001, foi promulgado o primeiro PNE, para o Brasil, com vigência para o decênio 2001/2010. Esse plano apresentou um diagnóstico da realidade educacional brasileira, estipulou as diretrizes e as metas a serem executadas nesse decênio e estabeleceu a obrigatoriedade dos Estados, Distrito Federal e Municípios de elaborarem seus respectivos planos decenais (BRASIL, 2001).

15 “Sistema Nacional de Educação articulado ao Plano Nacional de Educação” (SAVIANI, 2010): Texto base da

exposição feita no Simpósio de Abertura da Conferência Nacional de Educação (Conae), em Brasília, no dia 29 de março de 2010.

16 “Documento elaborado em 1993 pelo Ministério da Educação (MEC) destinado a cumprir, no período de uma

década (1993 a 2003), as resoluções da Conferência Mundial de Educação Para Todos, realizada em Jomtien, na Tailândia, em 1990, pela Unesco, Unicef, PNUD e Banco Mundial. Esse documento é considerado ‘um conjunto de diretrizes políticas voltado para a recuperação da escola fundamental no país’” (MENEZES, 2001).

Os objetivos do PNE 2001-2010 são:

 a elevação global do nível de escolaridade da população;

 a melhoria da qualidade do ensino em todos os níveis;

 a redução das desigualdades sociais e regionais no tocante ao acesso e à permanência, com sucesso, na educação pública e

 democratização da gestão do ensino público, nos estabelecimentos oficiais, obedecendo aos princípios da participação dos profissionais da educação na elaboração do projeto pedagógico da escola e a participação das comunidades escolar e local em conselhos escolares ou eqüivalentes. (BRASIL, 2001, p. 7)

No que diz respeito ao Ensino Médio, o PNE 2001-2010 afirma que esse nível de ensino tem um papel importante na “modernização” que está ocorrendo no Brasil e que a sua expansão pode ser um poderoso fator de formação para a cidadania e de qualificação profissional.

O diagnóstico realizado para a elaboração das diretrizes do Ensino Médio presentes no PNE não se restringe unicamente à sua expansão:

[...] no caso do Ensino Médio, não se trata apenas de expansão. Entre os diferentes níveis de ensino, esse foi o que enfrentou, nos últimos anos, a maior crise em termos de ausência de definição dos rumos que deveriam ser seguidos em seus objetivos e em sua organização. Um aspecto que deverá ser superado com a implementação das Novas Diretrizes Curriculares para o Ensino Médio e com programas de formação de professores, sobretudo nas áreas de Ciências e Matemática (BRASIL, 2001, p. 24).

As diretrizes do PNE apontam, também, incentivos para a permanência e conclusão dos jovens no Ensino Médio.

O aumento lento, mas contínuo, do número dos que conseguem concluir a escola obrigatória, associado à tendência para a diminuição da idade dos concluintes, vai permitir que um crescente número de jovens ambicione uma carreira educacional mais longa. Assim, a demanda pelo Ensino Médio ‒ terceira etapa da Educação Básica ‒ vai compor-se, também, de segmentos já inseridos no mercado de trabalho, que aspirem melhoria social e salarial e precisem dominar habilidades que permitem assimilar e utilizar, produtivamente, recursos tecnológicos novos e em acelerada transformação (BRASIL, 2001, p. 25).

Entre os objetivos e as metas presentes nesse documento, estão: implementar uma nova concepção curricular elaborada pelo CNE; melhorar o desempenho dos alunos de Ensino Médio para atingir níveis satisfatórios de desempenho, definidos e avaliados pelas instituições governamentais; reduzir a evasão e a repetência em 5% a cada ano; além de outros relativos à infraestrutura e à formação de professores, em especial, os das áreas de Ciências e Matemática.

Com a Emenda Constitucional nº 59/2009 (BRASIL, 2009a), o PNE, que até então era uma disposição transitória da LDB da Educação Nacional nº 9.394/1996, passou a se constituir

como exigência constitucional com periodicidade decenal. A partir de então, com esse preceito constitucional, o PNE passou a ser norteador de todo o Sistema Educacional Brasileiro.

A Emenda Constitucional nº 59/2009 (EC nº 59/2009) mudou a condição do Plano Nacional de Educação (PNE), que passou de uma disposição transitória da Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (Lei nº 9.394/1996) para uma exigência constitucional com periodicidade decenal, o que significa que planos plurianuais devem tomá-lo como referência. O plano também passou a ser considerado o articulador do Sistema Nacional de Educação, com previsão do percentual do Produto Interno Bruto (PIB) para o seu financiamento. Portanto, o PNE deve ser a base para a elaboração dos planos estaduais, distrital e municipais, que, ao serem aprovados em lei, devem prever recursos orçamentários para a sua execução (BRASIL, 2014a, p. 5).

Sob essa nova ordem, em 05 de junho de 2014, foi sancionada, sem vetos, a Lei nº 13.005 e entrou em vigor o PNE para o decênio 2014-2024.

O Plano Nacional de Educação (PNE), Lei nº 13.005/2014, é um instrumento de planejamento do nosso Estado democrático de direito que orienta a execução e o aprimoramento de políticas públicas do setor. Neste novo texto, fruto de amplos debates entre diversos atores sociais e o poder público, estão definidos os objetivos e metas para o ensino em todos os níveis – infantil, básico e superior – a serem executados nos próximos dez anos. (BRASIL, 2014b, p. 8).

Segundo seus autores, esse PNE está comprometido com o esforço contínuo de eliminação de desigualdades que são históricas no Brasil. Para eles, esse PNE incorpora “[...] os princípios do respeito aos direitos humanos, à sustentabilidade socioambiental, à valorização da diversidade e da inclusão e à valorização dos profissionais que atuam na educação de milhares de pessoas todos os dias” (BRASIL, 2014a, p. 9).

Para o PNE, a miríade de atores do setor educacional envolvidos na sua elaboração foi assim constituída:

Atores governamentais

a) Poder Executivo no plano federal: Presidência da República, Casa Civil, Secretaria de Relações Institucionais (SRI), Ministério da Educação (MEC), Ministério da Fazenda (MF);

b) Congresso Nacional: Câmara dos Deputados e Senado Federal. Movimentos sociais

a) Entidades representativas dos segmentos da comunidade educacional: CNTE, UNE, Ubes, Andes, Fasubra, Andifes, Crub, Proifes, Contee;

b) Entidades científicas: Anped, Anpae, Anfope, FCC, SBPC, Cedes, Fineduca; c) Redes de movimentos: Mieib, Campanha Nacional pelo Direito à Educação, Apaes/Fenapaes, Fórum Nacional de Educação Inclusiva, Feneis, Todos pela Educação.

Sociedade civil (gestores)

a) Entidades representativas de gestores dos entes federados na esfera educacional: Consed, Undime;

b) Entidades representativas de gestores dos entes federados em outros setores: CNM, Confaz, Abrasf.

Sociedade civil vinculada ao setor privado na área educacional

a) Segmento privado empresarial da educação: Anup, Anaceu, Abmes, Confenen, Fenep, Sistema S, Grupo Positivo;

b) Interesses privados na área da educação relacionados a grupos de educação de capital aberto: Abraes.

Organizações da sociedade civil e think thanks voltadas à formulação de políticas públicas: Cenpec, Instituto Alfa e Beto, Centro de Políticas Públicas do Insper (BRASIL, 2014a, p.18-19).

As diretrizes desse PNE são:

I − erradicação do analfabetismo;

II − universalização do atendimento escolar;

III − superação das desigualdades educacionais, com ênfase na promoção da cidadania e na erradicação de todas as formas de discriminação;

IV − melhoria da qualidade da educação;

V − formação para o trabalho e para a cidadania, com ênfase nos valores morais e éticos em que se fundamenta a sociedade;

VI − promoção do princípio da gestão democrática da educação pública; VII − promoção humanística, científica, cultural e tecnológica do país;

VIII − estabelecimento de meta de aplicação de recursos públicos em educação como proporção do Produto Interno Bruto (PIB), que assegure atendimento às necessidades de expansão, com padrão de qualidade e equidade;

IX − valorização dos(as) profissionais da educação;

X − promoção dos princípios do respeito aos direitos humanos, à diversidade e à sustentabilidade socioambiental (BRASIL, 2014a, p. 43).

No que diz respeito ao Ensino Médio, esse PNE se propõe a universalizar, até o final de 2016, o atendimento escolar para toda a população de 15 a 17 anos e elevar, até o final do decênio de sua vigência, a taxa líquida de matrículas no Ensino Médio para 85%. Para que essa meta seja alcançada, há um conjunto de estratégias, das quais a primeira é relacionada à importância de um Ensino Médio com práticas pedagógicas voltadas para os interesses do educando. Sobre isso, o documente estabelece:

Institucionalizar programa nacional de renovação do Ensino Médio, a fim de incentivar práticas pedagógicas com abordagens interdisciplinares estruturadas pela relação entre teoria e prática, por meio de currículos escolares que organizem, de maneira flexível e diversificada, conteúdos obrigatórios e eletivos articulados em dimensões como ciência, trabalho, linguagens, tecnologia, cultura e esporte, garantindo-se a aquisição de equipamentos e laboratórios, a produção de material didático específico, a formação continuada de professores e a articulação com instituições acadêmicas, esportivas e culturais (BRASIL, 2014a, p. 22).

As outras estratégias estabelecidas pelo PNE também buscam incentivar o acesso dos jovens ao Ensino Médio e a sua permanência neste, diminuindo os índices de evasão e repetência. Além disso, essas outras estratégias são voltadas à preparação dos alunos para a Educação Superior – utilizando avaliações como o Exame Nacional do Ensino Médio (Enem)

e o Sistema de Avaliação da Educação Básica (Saeb) – e, para aqueles alunos que não se propõem a isso, possibilitam o Ensino Médio integrado à educação profissional.