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Além das leituras realizadas para compreender as duas reformas em estudo, buscamos por dissertações e teses elaboradas a partir de 2000, que estivessem relacionadas ao Referencial Curricular Lições do Rio Grande, implementado no governo de Yeda Crusius, e à Proposta Pedagógica para o Ensino Médio Politécnico e Educação Profissional Integrada ao Ensino Médio.

Os trabalhos encontrados no Banco de Teses da Capes sobre o Referencial Curricular Lições do Rio Grande relacionam-se, em sua maioria, ao estudo deste juntamente com o das outras propostas pedagógicas elaboradas e implementadas no Estado do Rio Grande do Sul.

A tese de Nascimento (2015), “Documentos Oficiais para o Ensino de Língua Portuguesa na voz dos professores elaboradores e receptores”, analisou como se deu a produção e a recepção de dois documentos oficiais de Língua Portuguesa produzidos no Estado do Rio Grande do Sul: Educação Para Crescer: Projeto Melhoria da Qualidade de Ensino (1991-1995) e Referencial Curricular Lições do Rio Grande (2007-2010). Nascimento (2015) realizou entrevistas com professores elaboradores e receptores e discutiu o significado, a elaboração e a recepção desses documentos em distintos períodos da história do ensino de Língua Portuguesa. Nascimento (2015) observou, a partir do relato dos receptores, que o fato de esses virem em nome de um órgão oficial, neste caso específico, em nome da Secretaria da Educação do Estado do Rio Grande do Sul (Seduc/RS), cria uma tensão entre estes e o grupo de professores receptores.

A dissertação de Fernandes (2011), “Constituição da Língua Portuguesa na trilha de documentos oficiais do Rio Grande do Sul: conhecimento e perspectiva”, investiga o processo de constituição do ensino da Língua Portuguesa, no Estado do Rio Grande do Sul, com base em três documentos oficiais: Educação para Crescer: Projeto de Melhoria da Qualidade de Ensino; Padrão Referencial de Currículo; e Referencial Curricular Lições do Rio Grande. Fernandes identifica o contexto e as condições de produção em que esses documentos estão inseridos, suas bases teórico-metodológicas e as concepções de língua, linguagem e ensino de língua, além dos objetos de ensino previstos em cada um desses documentos para o ensino da Língua Portuguesa, verifica se há rupturas de uma orientação para outra presente nos documentos e investiga a imagem do professor de Língua Portuguesa que é construída pela voz oficial.

O estudo de Fernandes mostrou que a publicação dos três documentos oficiais ocorreu num espaço de tempo reduzido: menos de duas décadas. Conforme a pesquisa, o governo

determina o que acha ser mais recomendável para o ensino, fazendo com que esses documentos se apresentem, de certa forma, autoritários, expressando-se como verdade única e incontestável.

Outro ponto que ficou explícito no trabalho de Fernandes (2011) é o fato de que os

professores se sentiram desobrigados a envolver-se e comprometer-se com a implementação da

proposta já que não participaram da elaboração dos documentos. Além disso, segundo o autor, o governo também não está efetivamente comprometido com a implementação dessas políticas. Outra questão identificada foi a falta de continuidade dos programas: dois dos documentos estudados caíram no esquecimento após a mudança de governo.

Rocha (2012), em sua dissertação “Lições do Rio Grande: uma análise do trabalho docente”, investiga qual é o papel atribuído ao professor no material da proposta Referencial Curricular Lições do Rio Grande. O autor analisa a proposta considerando os pressupostos teórico-metodológicos do quadro do Interacionismo Sociodiscursivo, que atribui à linguagem e ao agir um papel central no desenvolvimento humano. Essa pesquisa permitiu a Rocha (2012) concluir que o Referencial se aproxima das novas propostas de renovação que ocorrem em outros estados do Brasil.

Vaz (2011), em sua dissertação, “O Referencial Curricular Lições do Rio Grande e os discursos coletivos dos professores de uma Escola Estadual”, analisa, por meio do discurso de professores de uma escola da rede estadual de ensino, como ocorreu a apropriação do Referencial Curricular Lições do Rio Grande, enquanto proposta de governo, no trabalho diário em sala de aula e na organização da escola durante o ano letivo de 2010. Vaz (2011) utilizou- se de entrevistas semiestruturadas com dez professores da escola. Para análise das respostas, foi utilizada a técnica do Discurso do Sujeito Coletivo. Quanto à organização na escola, os professores relataram que essa foi falha por parte da equipe diretiva, que não soube integrar os docentes. Quanto ao referencial, o discurso foi bastante controverso, alguns disseram que o material era bom, outros, que estava longe da realidade das escolas. Os professores relataram que as resistências surgiram por que não houve participação da comunidade escolar na elaboração do Referencial e também em função de disputas e divergências políticas. A pesquisa deixou evidente que os professores são extremamente resistentes a políticas vindas de fora da escola, ou seja, a reformas impostas.

Sobre a proposta de reestruturação do Ensino Médio foram encontrados apenas dois trabalhos acadêmicos, uma dissertação e uma tese.

Araújo (2014), em sua dissertação, “Implantação do Ensino Médio Politécnico na rede pública do Rio Grande do Sul e a pesquisa na escola: estudo de caso”, realizou uma pesquisa qualitativa, com o objetivo de compreender o Ensino Médio Politécnico na rede estadual, em

especial, no ensino na área de Ciências Exatas e da Natureza no Nível Médio. A pesquisa foi realizada por meio de estudos de casos múltiplos em duas escolas de Porto Alegre. Araújo (2014) concluiu que a implantação não ocorreu da forma como a comunidade escolar gostaria, uma vez que faltou formação pedagógica adequada e tempo para esclarecer as dúvidas referentes ao Ensino Médio Politécnico. A falta de diálogo entre a Seduc/RS e a comunidade escolar desencadeou reações de resistência entre os professores, os quais não concordavam com as mudanças impostas.

Zambon (2015), em sua tese, “Organização e desenvolvimento do trabalho escolar no contexto de implementação da proposta de reestruturação curricular do Ensino Médio da SEDUC/RS”, buscou compreender quais possibilidades se apresentam para a estabilização das mudanças introduzidas na organização e no desenvolvimento do trabalho escolar no âmbito do processo de implementação dessa proposta. Para a realização da pesquisa, foram entrevistados professores responsáveis por seminários integrados e professores do Ensino Médio, além de membros da equipe de coordenação pedagógica de Escolas de Ensino Médio. Zambon observou que as mudanças previstas na reforma não ocorreram conforme o planejado; na verdade, a proposta de reestruturação do Ensino Médio não modificou substancialmente o Ensino Médio. A autora afirma que parece ter se estabelecido um Ensino Médio duplamente adjetivado: “politécnico” e “propedêutico” – o primeiro que está documentado na reforma, e o segundo que prevalece e é efetivamente praticado.