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CAPÍTULO 4 – ANÁLISE DOCUMENTAL

4.2 Concepções sobre surdez e políticas educacionais

4.2.5 O surdo como sujeito vulnerável às barreiras sociais

4.2.5.1 O Plano Viver sem Limite

Com base nesse mesmo discurso, em 17 de novembro de 2011 o governo federal lançou o Plano Nacional dos Direitos da Pessoa com Deficiência – Plano Viver sem Limite, através do Decreto nº 7.612, expressando o objetivo de intensificar ações já desenvolvidas e implementar novas iniciativas em benefício das pessoas com deficiência, conforme consta em seu Art. 1º:

Fica instituído o Plano Nacional dos Direitos da Pessoa com Deficiência – Plano Viver sem Limite, com a finalidade de promover, por meio da integração e articulação de políticas, programas e ações, o exercício pleno e equitativo dos direitos das pessoas com deficiência, nos termos da Convenção Internacional sobre os Direitos das Pessoas com Deficiência e seu Protocolo Facultativo, aprovados por meio do Decreto Legislativo no 186, de 9 de julho de 2008, com status de emenda constitucional, e promulgados pelo Decreto no 6.949, de 25 de agosto de 2009. 115

Elaborado com a participação de mais de 15 ministérios e do Conselho Nacional dos Direitos da Pessoa com Deficiência (CONADE),116 que trouxe demandas e contribuições da sociedade civil, o Plano envolve todos os entes federados e prevê um investimento total no valor de R$ 7,6 bilhões até 2014.

As políticas prenunciadas pelo Viver sem Limite estão estruturadas em quatro eixos: Acesso à Educação, Inclusão Social, Atenção à Saúde e Acessibilidade, sendo que, segundo a SECADI,...

... cada ação presente nesses eixos é interdependente e articulada com as demais, construindo redes de serviços e políticas públicas capazes de assegurar um contexto de garantia de diretos para as pessoas com deficiência, considerando suas múltiplas necessidades nos diferentes momentos de suas vidas.

No eixo Acesso à Educação, o Viver sem Limite prevê, entre outras ações, a implantação até 2014 de mais 17 mil Salas de Recursos em todo o Brasil, além das 24 mil que já estavam em funcionamento quando foi lançado.

O Plano pretende, também, incrementar as operações do programa Escola Acessível117 e garantir que, até 2014, 57 mil unidades, em todo o Brasil, tenham recebido recursos para promoção de acessibilidade a todos os estudantes.

115 O Plano encontra-se disponível em: http://www.brasil.gov.br/viversemlimite/plano-nacional-dos-

direitos-da-pessoa-com-deficiencia

116 A FENEIS tem assento no CONADE, ligado à Secretaria Especial dos Direitos Humanos da Presidência da República, com direito a voto e voz.

117 O Programa Escola Acessível (instituído em 2007, no âmbito do Plano de Desenvolvimento da Educação - PDE, através do Decreto nº 6.094/2007) disponibiliza recursos financeiros às escolas públicas por meio do Programa Dinheiro Direto na Escola (PDDE), para a promoção de acessibilidade arquitetônica e compra de materiais e equipamentos de tecnologia assistiva. Por meio dessa ação, as escolas podem adequar e construir rampas, sanitários acessíveis e vias de acesso; alargar portas, adquirir e instalar bebedouros e mobiliários acessíveis, corrimãos e equipamentos de sinalização visual, tátil e sonora; adquirir cadeiras de rodas e outros recursos. Informações colhidas em 10/07/2013 no site:

No que concerne especificamente à Educação de Surdos, o Plano reconhece a necessidade da ampliação da formação específica de professores e tradutores- intérpretes, assim como a premência de contratação e efetivação de maior número de profissionais especializados. Nesse sentido, e em referência à graduação, afirma na página 14:

O Plano Viver sem Limite criará 27 cursos de Letras/Libras – Licenciatura e 27 cursos de Letras/Libras – Bacharelado, com 2.700 vagas por ano para a formação de tradutores-intérpretes e 12 cursos de Pedagogia com ênfase na educação bilíngue, ofertando 480 vagas por ano para a formação de professores.

Com respeito à expansão dos cursos de Letras-LIBRAS, conforme apontado anteriormente neste trabalho, alguns polos da modalidade semipresencial já estão funcionando como presenciais, aproveitando os profissionais, o espaço físico e o equipamento utilizado no curso de EAD. Outros estão ainda em fase de implantação, com as universidades aguardando, entre outras providências e trâmites burocráticos, autorização dos órgãos competentes para provimento de vagas para professores efetivos das disciplinas e outros profissionais necessários para o oferecimento do curso presencial em seus campi.

Em relação à criação dos cursos de Pedagogia Bilíngue, em agosto de 2012, a convite do MEC, o INES assumiu a responsabilidade de centralizar e gerir essa formação na modalidade semipresencial (EAD), a ser realizada a partir de 2015, em 10 polos distribuídos pelas diversas regiões do país, de acordo com determinação e meta do Programa Viver sem Limite.

Estão confirmadas e com os coordenadores de polo já definidos as seguintes instituições: Universidade Federal do Amazonas (UFAM), Universidade Federal do Ceará (UFC), Universidade Federal de Pernambuco (UFPE), Universidade Federal da Bahia (UFBA), Universidade Federal da Grande Dourados (UFGD), Universidade Estadual de Campinas (UNICAMP), Universidade Federal do Paraná (UFPR) e Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), Universidade do Estado do Pará (UEPA) e Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia de Goiás (IFG), Campus Aparecida.

No que se refere à ampliação da contratação de profissionais para atuar na Educação de Surdos, o Viver sem Limite declara (também na página 14), que...

... possibilitará a contratação de mais de 1.300 profissionais, entre professores e tradutores-intérpretes de Libras, para garantir acessibilidade aos estudantes com deficiência auditiva e/ou surdos nas Instituições Federais de Ensino Superior (IFES).

No Departamento de Ensino Superior do INES a expansão já foi iniciada. Com a realização, em janeiro de 2013, de concurso público para provisão de 96 vagas no Quadro de Pessoal da instituição como um todo,118 foram efetivados 28 Tradutores- Intérpretes, 16 dos quais direcionados para o Curso (presencial) de Pedagogia e para as turmas de Pós-Graduação, número que ainda tem se mostrado insuficiente, tendo em vista o compromisso assumido pela instituição de disponibilizar em todas as atividades pedagógicas, de manhã, à tarde e à noite, de segunda a sábado, a presença de tradutor intérprete como mediador linguístico.119 Mesmo assim, a entrada desses servidores, em substituição aos antigos funcionários temporários terceirizados (muitos com formação apenas de Ensino Médio), representou um marco importante tanto no percurso de consolidação dessa profissão em nosso país120 quanto na trajetória de construção de uma educação sem barreiras e com respeito à condição e aos direitos linguísticos das pessoas surdas.

Para complementar essa equipe, assim como para formar a que vai trabalhar na modalidade de EAD, novo concurso foi realizado em março/abril de 2014 para a efetivação de 40 professores, 40 tradutores-intérpretes, 10 técnicos administrativos em Educação e 5 técnicos em Tecnologia da Informática.121

118 Em cumprimento à Portaria do Ministério do Planejamento, Orçamento e Gestão ( MPOG) nº 450, de 18 de setembro de 2012, publicada no DOU de 19/09/2012.

119

De acordo com a Associação dos Profissionais Tradutores e Intérpretes de LIBRAS do Rio de Janeiro (APILRJ), devido ao alto grau de concentração necessário para realizar suas funções, um intérprete só pode trabalhar sozinho até uma hora ininterrupta. A partir de uma hora são necessários dois intérpretes, alternando-se a cada 20 minutos, para que seja possível assegurar o mesmo nível de qualidade ao longo de todo o trabalho.

120

A profissão de Tradutor-Intérprete de LIBRAS foi regulamentada pela Lei nº 12.319, de 1º de setembro de 2010.