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PLEBISCITO NA ARGENTINA

No documento Plebiscito (páginas 142-146)

A Constituição Argentina de 1853, que já passou por algumas reformas385, estabelece um governo representativo, republicano e federal (artigo 1º), em que não há deliberação nem governo do povo, senão por meio de seus representantes (artigo 22). Os mecanismos de democracia semidireta foram introduzidos com a reforma constitucional de 1994 386, mencionados especificamente nos artigos 39387 e 40 do texto constitucional, que tratam da iniciativa popular e da consulta popular, respectivamente.

A consulta popular, referida no artigo 40 da Constituição argentina, engloba as figuras do plebiscito388 e do referendo e está classificada em dois tipos, quais

385 A Constituição argentina de 1853 foi reformada em 1860, 1866, 1898, 1949, 1957 e, finalmente,

em 1994. (Constituição Nacional. Disponível em: <http://www.argentina.gob.ar/pais/63-constitucion- nacional.php>. Acesso em 13.12.2011)

386 A Constituição argentina, em seu artigo 30, prega que ela poderá ser reformada no todo ou em

qualquer uma de suas partes, entretanto, a reforma só poderá ocorrer por meio de uma convenção convocada para tal efeito. E assim ocorreu com a reforma de 1994 que se deu por meio de uma “Convención Nacional Constituyente”. Ricardo Malheiros Fiuza explica que a convenção “não é um órgão constituído, mas, sim, um órgão especial, que vem em representação específica do povo para tomar decisões acerca da organização do Estado, em caráter supremo.”. (Direito Constitucional Comparado, 3ª edição revista, atualizada e ampliada, Belo Horizonte: Del Rey Editora, 1997, p. 327). Helio Zarini, em sua obra Derecho Constitucional, destaca alguns trechos da Convención Nacional Constituyente havida para a reforma de 1994, parte dos quais, por se referirem à consulta popular, registra-se a seguir: “...Creemos que es el momento de modificar las normas que determinen las estructuras de organización del gobierno para adecuarlas a los nuevos comportamientos y demandas sociales. Los instrumentos que hoy sometemos a consideración son los conceptos de consulta popular que engloban dos Instituciones: el plebiscito y el referendum, tratados de la manera más diversa en prácticas y conceptos doctrinarios, y la iniciativa popular, que no es outra que habilitar a la plobación a formular propuestas ante el Congreso de la Nación a través de nuevas leyes y derogación o modificación de las que están en vigência.[...] La iniciativa y la consulta popular son instrumentos a favor de la Participación. Creemos que la consulta popular y la iniciativa son figuras a favor del control de los órganos de gobierno. Creemos que la iniciativa y la consulta están a favor de las mayorias, a favor del consenso.”. (Derecho Constitucional, 2ª edición actualizada y ampliada, Buenos Aires: Editorial Astrea de Alfredo e Ricardo Depalma, 1999, pp. 309-310)

387 A seguir transcrito o artigo 39 da Constituição argentina:

“Art. 39.- Los ciudadanos tienen el

derecho de iniciativa para presentar proyectos de ley en la Cámara de Diputados. El Congreso deberá darles expreso tratamiento dentro del término de doce meses. El Congreso, con el voto de la mayoría absoluta de la totalidad de los miembros de cada Cámara, sancionará una ley reglamentaria que no podrá exigir más del tres por ciento del padrón electoral nacional, dentro del cual deberá contemplar una adecuada distribución territorial para suscribir la iniciativa. No serán objeto de iniciativa popular los proyectos referidos a reforma constitucional, tratados internacionales tributos, presupuesto y matéria penal.”.

388 Importante registrar uma experiência plebiscitária ocorrida na Argentina em 07 de março de 1835,

quando a Sala de Representantes de Buenos Aires nomeou o coronel Juan Manuel de Rosas governador e capitão geral da província, a quem foram conferidos plenos poderes pelo prazo de cinco anos. Para convalidar a lei que lhe outorgara o poder público, em 16 de março, Rosas solicita a realização de um plebiscito cujo resultado foi a aprovação da referida lei por esmagadora maioria, sendo que, dos nove mil, trezentos e vinte votos, somente oito foram contrários (cinco civis, dois militares e um sacerdote). Com Rosas instalou-se no país um longo governo ditatorial, razão pela qual aqueles que construíram e consolidaram a atual organização nacional argentina tinham suas reservas a respeito de consultas populares e, em face disso, determinaram a realização de eleições periódicas para fins de renovação do governo, com respeito ao princípio republicano de periodicidade

sejam, “consulta popular vinculante”, expressa na primeira parte do dispositivo e “consulta popular não vinculante”, estabelecida nos dois parágrafos seguintes do artigo 40:

Art. 40.- El Congreso, a iniciativa de la Cámara de Diputados, podrá

someter a consulta popular un proyecto de ley. La ley de convocatoria no podrá ser vetada. El voto afirmativo del proyecto por el pueblo de la Nación lo convertirá en ley y su promulgación será automática.

El Congreso o el presidente de la Nación, dentro de sus respectivas competencias, podrán convocar a consulta popular no vinculante. En este caso el voto no será obligatorio.

El Congreso, con el voto de la mayoría absoluta de la totalidad de los miembros de cada Cámara, reglamentará las materias, procedimientos y oportunidad de la consulta popular.

Na consulta popular vinculante, o Congresso, por iniciativa da Câmara dos Deputados, poderá submeter à consulta popular um projeto de lei, o qual se converterá obrigatoriamente em lei caso o povo vote favoravelmente a ele. Essa lei será impassível de veto e sua promulgação será automática. A consulta popular não vinculante possibilita ao Congresso Nacional e ao Presidente da Nação, nos limites da competência de cada qual, convocá-la, sendo que, nesse caso, o voto e a opinião popular não serão obrigatórios, ou seja, não têm o condão de submeter os órgãos governamentais, os quais poderão tomar decisões e exercê-las de forma diferente e até mesmo contrária ao que foi resolvido pelo povo. 389

das funções públicas e ao sistema representativo. (Helio Juan Zarini, Derecho Constitucional, 2ª edición actualizada y ampliada, Buenos Aires: Editorial Astrea de Alfredo e Ricardo Depalma, 1999, pp. 230, 236 e 308)

389 Um exemplo de consulta popular não vinculante foi o Decreto nº 2272/84 que chamou os cidadãos

a se manifestarem sobre as questões relativas ao intitulado Conflito de Beagle: Argentina e Chile disputavam a soberania das ilhas Picton, Lennox e Nueva, situadas entre o Estreito de Beagle e o Cabo de Hornos. A Santa Sé interveio e, como mediadora, impediu que se efetivasse a guerra entre os dois países. Em 1980, o Papa João Paulo II enviou proposta de conciliação em que reconhecia a soberania chilena sobre as ilhas. Tal proposta foi aceita pelo governo chileno, porém, recusada pelo governo argentino e, quatro anos mais tarde, foi objeto de consulta popular por meio da qual foi finalmente aceita, possibilitando que Chile e Argentina selassem um “Tratado de Paz e Amizade”. (EL Conflicto por el Canal de Beagle. La Guía 2000. Disponível em: <http://www.laguia2000.com/chile/el- conflicto-por-el-canal-de-beagle>. Acesso em 20.01.2012).

No ano de 2001, o instituto da consulta popular passou a ser regulamentado pela Lei nº 25.432.390 De acordo com referida lei, será submetido à consulta popular vinculante todo o projeto de lei com exceção daqueles cujo procedimento de sanção se encontre regulado pela Constituição, por exigência da Câmara de origem ou pela exigência de uma maioria qualificada para sua aprovação (artigo 1º). A convocação da consulta vinculante deverá ser aprovada pelo voto da maioria absoluta dos membros presentes em cada uma das Câmaras do Congresso (artigo 2º). A manifestação popular será obrigatória (artigo 3º) e, para que a consulta seja considerada válida e eficaz, há a necessidade de que pelo menos trinta e cinco por cento do corpo eleitoral tenham depositado suas opiniões nas urnas (artigo 4º). No caso de um projeto de lei obter aprovação da maioria de votos, será automaticamente convertido em lei, que será publicada dentro de dez dias a contar da divulgação do resultado da consulta popular. No entanto, rejeitado o projeto, este só poderá ser reiterado ou repetida a consulta após decorrido o prazo de dois anos contados de sua realização (artigo 5º).

À consulta popular não vinculante serão submetidas todas as questões de interesse geral da Nação, exceto os projetos de lei cujo procedimento de sanção se encontre regulado pela Constituição e, ao contrário da consulta vinculante, o voto não será obrigatório (artigo 6º). A convocação será realizada pelo Poder Executivo, por meio de decreto decidido e referendado por todos os ministros. A consulta não vinculante poderá ser convocada por qualquer das Câmaras e será considerada aprovada se obtido o voto da maioria absoluta dos membros presentes em cada uma delas (artigo 7º). O projeto de lei que obtiver a maioria absoluta de votos populares válidos será automaticamente incorporado ao rol de trabalho parlamentar da Câmara de Deputados da sessão seguinte ao fechamento da divulgação do resultado pela autoridade eleitoral (artigo 8º).

O jurista Carlos Santiago Nino ressalta que há duas formas de entender a participação direta dos cidadãos nas questões públicas: como um fenômeno indesejável ou como um fenômeno desejável, porém, extremamente difícil de se

390 Congreso de La Nación Argentina. Consulta Popular Vinculante y No Vinculante. Disponível em:

<http://www1.hcdn.gov.ar/dependencias/dip/textos%20actualizados/25432- consulta%20popular%20vinculante.pdf>. Acesso em 03.janeiro.2012.

concretizar. Esses dois fenômenos reforçam a apatia política que caracteriza as democracias contemporâneas, inclusive a democracia argentina. Segundo Nino, a democracia representativa está distorcida e desgastada e isso leva à busca pela democracia semidireta, pela qual os cidadãos possam participar efetivamente na tomada de decisões relativas aos assuntos de interesse nacional. 391

No documento Plebiscito (páginas 142-146)