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PLEBISCITO NA COSTA RICA

No documento Plebiscito (páginas 175-179)

Na Costa Rica o plebiscito assemelha-se muito ao referendo473 e, de modo

geral, é entendido como o mecanismo pelo qual se adota uma decisão política relevante474. As decisões plebiscitárias são tomadas pela maioria simples de votos e

geram efeito vinculante, obrigando o Poder Público a executar a vontade soberana do povo. O resultado obtido por meio de plebiscito pode ser revisto pela convocação de outro plebiscito, apesar dos altos custos do procedimento serem apontados como obstáculo para sua realização. 475

Na Constituição costarriquense, o plebiscito em âmbito nacional está previsto no artigo 168 que determina a sua realização para criação de novas províncias, com participação de todas as províncias que forem afetadas por tal modificação

473 Sobre o referendo costarriquenho,

esclarece Francisco Obando León: “En Costa Rica existe el referendo a nivel municipal, y está regulado también por el numeral 2.1.3 del Manual para la Realización de Consultas Populares a nivel Cantonal y Distrital. Se define como la consulta popular que tiene por objeto la aprobación, modificación o derogación de un reglamento o disposición municipal de carácter normativo. Aquí, el pueblo interviene con una potestad plena, para intervenir en la creación, modificación o derogación de un acto de carácter normativo municipal y hasta tanto no se realice esa consulta el texto normativo no tiene eficacia.”. (Instrumentos de Participación Ciudadana en el Derecho Público Costarricense. In: Revista El Foro - Colegio de Abogados, nº 11. Disponível em: <http://dialnet.unirioja.es/servlet/articulo?codigo=3709216>. Acesso em 05.02.2012)

474 Rebeca Ma. García Pandolfi e Jéssica González Montero explicam que o termo plebiscito em

âmbito nacional tem sido reservado tecnicamente para designar as votações sobre questões não constitucionais e não legislativas. Na maioria dos casos, significa uma votação popular sobre questões territoriais, ou seja, sobre modificação de fronteiras internas ou externas do Estado ou mudança de soberania de todo um território. (Repaso Histórico de los Institutos de Democracia Semidirecta en Costa Rica. In: Revista de Derecho Electoral – Tribunal Supremo de Elecciones, nº 5, primer semestre 2008, p. 08. Disponível em: <http://www.tse.go.cr/revista/art/5/gracia_gonzalez.pdf>. Acesso em 05.02.2012).

475 Violeta Pallavicini, Proceso presupuestario municipal y participación ciudadana en Costa Rica.

Disponível em:

<http://cgrw01.cgr.go.cr/pls/portal/docs/PAGE/PORTALCGR2008/SECCIONES%20PUBLICO/SERVI CIOS/BIBLIOTECA/DOCUMENTOS%20DE%20INTERES/06_COSTA%20RICA.PDF>. Acesso em 05.02.2012.

territorial. Nesse ponto, o instituto se assemelha ao referendo, porquanto referido dispositivo exige que o projeto submetido à consulta popular seja posteriormente aprovado por processos de reforma constitucional:

Articulo 168.- [...]

La Asamblea Legislativa podrá decretar, observando los trámites de reforma parcial a esta Constitución, la creación de nuevas provincias, siempre que el proyecto respectivo fuera aprobado de previo en un plebiscito que la Asamblea ordenara celebrar en la provincia o provincias que soporten la desmembración. La creación de nuevos cantones requiere ser aprobada por la Asamblea Legislativa mediante votación no menor de los dos tercios del total de sus miembros. 476

Embora a figura jurídica do artigo 168 possa ser considerada plebiscito (plebiscito para criação de novas províncias) por se referir a assunto territorial, e não legislativo, o que se submete à consulta popular é um projeto de lei já formulado pelos Poderes constituídos. Trata-se, assim, de um texto normativo que para entrar em vigor depende da confirmação do povo, que se manifesta sobre a criação de uma nova província proposta em um projeto de lei cujo objeto é a divisão territorial da República.477

476 Constitución Política de la República de Costa Rica. Disponível em:

<http://www.oas.org/juridico/mla/sp/cri/sp_cri-int-text-conspol.pdf>. Acesso em 03.02.2012.

477 Rebeca Ma. García Pandolfi e Jéssica González Montero destacam um exemplo histórico de

plebiscito convocado mediante a promulgação de uma lei sem fundamento constitucional expresso: “[...] el gobierno de 1952, encabezado entonces por Otilio Ulate Blanco, presentó un proyecto de ley para consultar al pueblo por medio de un plebiscito, acerca de la conveniencia o no de reformar el artículo 132, inciso 1) constitucional, a fin de rebajar el plazo de espera de los expresidentes para volver a aspirar a la Presidencia de la República de ocho a cuatro años. El citado proyecto desató una ardua polémica parlamentaria sobre su constitucionalidad. La comisión que lo estudió rindió dos dictámenes uno de mayoría y otro de minoría. El primero manifestaba sin mayor fundamento constitucional, que por tratarse de un mecanismo de participación popular, la facultad de la Asamblea Legislativa de convocar a un plebiscito se encontraba implícita en el artículo 195 constitucional, que regula el procedimiento de reforma parcial de la Constitución. En tanto, el dictamen de minoría se presentaba como jurídicamente más consistente. Indicaba por ejemplo que el plebiscito carecía de fundamento jurídico, puesto que no había en la Constitución ninguna norma que lo autorizara. Igualmente, su eventual resultado no podía ser vinculante para la Asamblea Legislativa, en virtud de que ésta en los casos de proyectos de reforma constitucional, actúa como poder constituyente derivado. La ley respectiva fue finalmente aprobada el 28 de marzo de 1953 y el plebiscito se realizó el 26 de julio de ese mismo año con un resultado ampliamente favorable para la tesis de Don Otilio Ulate. Posteriormente, en setiembre de ese mismo año, la Asamblea conoce en primera legislatura el proyecto de reforma constitucional y lo desecha por mayoría, fracaso que se debió probablemente a que el mandato de Don Otilio Ulate había terminado el 8 de mayo anterior y el nuevo gobierno era de un partido contraio al suyo, el cual contaba además con más de dos tercios del total de diputados de la Asamblea Legislativa.”. (Repaso Histórico de los Institutos de Democracia Semidirecta en Costa Rica. In: Revista de Derecho Electoral – Tribunal Supremo de Elecciones, nº 5, primer semestre

No âmbito local, os institutos de participação, dentre eles o plebiscito, são regulados pelo Código Municipal de 1998 478. O artigo 13, inciso “j” desse diploma legal, informa que cabe ao Conselho Municipal decidir sobre a realização de plebiscitos e demais instrumentos participativos, de acordo com o regulamento a ser elaborado com a assessoria do Tribunal Supremo de Elecciones. A realização dos plebiscitos conta com a presença obrigatória de delegados designados pelo Supremo Tribunal de Elecciones, os quais devem zelar pelo cumprimento de todas as formalidades exigidas pelo Código Municipal e pelo regulamento acima citados, a fim de garantirem o regular desenvolvimento das consultas populares.

Ainda a nível local, há que se ressaltar que o ordenamento jurídico da Costa Rica conta com o instituto denominado plebiscito de revocatória de mandato (artigo 19 do Código Municipal) que confere à população de determinado “cantón”, a possibilidade de se manifestar contra ou favorável à revogação do mandato de seu respectivo Prefeito. Esse plebiscito é convocado pelo Conselho Municipal, por moção assinada ao menos pela terça parte do total de seus membros e aprovada por no mínimo três quartos dos membros integrantes. A decisão do Conselho Municipal de convocar o plebiscito não poderá ser vetada. Para que se proceda à destituição do Prefeito, duas condições devem ser atendidas: a) que os votos emitidos em plebiscito sejam de pelo menos dez por cento do total de eleitores inscritos no cantão; b) que pelo menos dois terços dos votos emitidos decidam pela destituição. A decisão popular é de acatamento obrigatório para o Conselho Municipal. 479

Pelo decreto nº 03-98 de 09 de outubro de 1998, o Tribunal Supremo de Elecciones aprovou o Manual para la realización de consultas populares a escala cantonal y distrital 480 que, além de outras orientações, define as modalidades de consulta popular, dentre elas o plebiscito, no item 2.1.2 que especifica: “Plebiscito

2008, pp. 05-06. Disponível em: <http://www.tse.go.cr/revista/art/5/gracia_gonzalez.pdf>. Acesso em 05.02.2012)

478 MUNICIPALIDAD DE SAN JOSÉ. Código Municipal de 1998. Disponível em:

<http://www.msj.go.cr/doc_municipal/archivos/codigos/CO-01.pdf>. Acesso em 05.02.2012.

479 Item 2.8 (Eficacia del resultado de la consulta) do Manual para la realización de consultas

populares a escala cantonal y distrital.

480 Manual para la realización de consultas populares a escala cantonal y distrital. Disponível em:

es la consulta popular mediante la cual los habitantes del cantón se pronuncian sobre un asunto de trascendencia regional, o se manifiestan sobre la revocatoria del mandato de un alcalde municipal.”.

A Costa Rica registra que os plebiscitos convocados nos últimos anos referem-se, em maior número, à revogação de mandato de prefeitos. Pode-se mencionar como exemplo desse tipo plebiscitário, aquele ocorrido em Oreamuno de Cartago, em 2004, convocado por dois terços do Conselho Municipal, por diversos motivos, dentre os quais, o não cumprimento de deveres, má conservação de estradas e conflitos com membros do Conselho Municipal. 481

Menos freqüentes são os plebiscitos territoriais, podendo ser citados como exemplos o plebiscito de Puntarenas, convocado em 1999 e o plebiscito de La Tigra, de 1950. O plebiscito de Puntarenas foi o primeiro a realizar-se no país depois da promulgação do Código Municipal de 1998 e objetivou consultar o povo de Cóbano, Lepanto e Paquera sobre duas questões: se desejava continuar pertencendo à Província de Puntarenas e se desejava transformar-se em cantão. Do total de 3.431 votantes, 94% foram favoráveis à transformação em cantão e 87,5 favoráveis a continuar pertencendo à Província de Puntarenas. No tocante ao plebiscito de La Tigra, anota-se que, em 1949, a municipalidade de San Carlos promoveu um movimento para que, em consulta plebiscitária, os cidadãos vizinhos das terras chamadas Bajos de San Carlos, conhecidas como La Fortuna e La Tigra, situadas no extremo norte do Cantão de San Ramón, se manifestassem sobre se queriam passar a pertencer a San Carlos, ao que o povo respondeu “sim”. Importante destacar que essa foi a primeira vez na história da Costa Rica em que as mulheres votaram com igualdade de direitos em relação aos homens.482

481 Rebeca Ma. García Pandolfi, Jéssica González Montero, Repaso Histórico de los Institutos de

Democracia Semidirecta en Costa Rica. In: Revista de Derecho Electoral – Tribunal Supremo de Elecciones, nº 5, primer semestre 2008, pp. 10 e 14. Disponível em: <http://www.tse.go.cr/revista/art/5/gracia_gonzalez.pdf>. Acesso em: 05.02.2012.

482 Rebeca Ma. García Pandolfi, Jéssica González Montero, Repaso Histórico de los Institutos de

Democracia Semidirecta en Costa Rica. In: Revista de Derecho Electoral – Tribunal Supremo de Elecciones, nº 5, primer semestre 2008, pp. 10-12. Disponível em: <http://www.tse.go.cr/revista/art/5/gracia_gonzalez.pdf>. Acesso em: 05.02.2012.

Também têm sido alvo de plebiscito as questões ambientais, como a de Sarapiquí, em que se objetivou a proteção da bacia do rio de mesmo nome, em 2000. A questão submetida à apreciação popular é se a bacia do rio Sarapiquí deveria ou não ser declarada como Monumento Histórico Nacional. Nessa ocasião, registrou-se a participação de 2.254 pessoas, das quais 90,33% se manifestaram favoráveis a tal declaração. Do mesmo modo, o plebiscito convocado por Ángeles, um distrito de San Ramón de Alajuela, em que se discutiu a abertura ou fechamento de granjas avícolas e suínas. Por fim, pelo plebiscito de Guácimo, em 2001, consultou-se o povo sobre se a Corporação Municipal deveria ou não permitir a execução de atividades humanas ou econômicas como a construção de habitações, projetos de produção de energia elétrica, exploração florestal e demais atividades lucrativas na Zona Protetora de Aquíferos de Guácimo, de acordo com as determinações do Decreto nº 17390 MAG-S de 1987. O resultado popular foi de 97,3% pelo “não”. Esse foi um dos plebiscito com maior participação do povo costarriquenho. 483

No documento Plebiscito (páginas 175-179)