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O Poder de Polícia em Sentido Estrito

3 O PODER DE POLÍCIA ESTATAL

3.2 O Poder de Polícia em Sentido Estrito

O sentido restrito, por sua vez, corresponde apenas à atividade administrativa. Com sua sagacidade particular, Diogo de Figueiredo Moreira Neto aponta que o Legislador, “ [...] depois de assentar as bases legais amplas do exercício da polícia, lança mão da discricionariedade para cometer ao administrador

96 MELLO, Celso Antônio Bandeira de. Op. cit., p. 707. 97 Idem. Ibidem, p.707.

público o encargo de regulá-lo e de aplicá-lo aos casos concretos, enquanto funções de polícia.”98

Maria Sylvia Zanella Di Pietro muito bem assinala:

A Administração Pública, no exercício da parcela que lhe é outorgada do mesmo poder, regulamenta as leis e controla sua aplicação, preventivamente (por meio de ordens, notificações, licenças e autorizações) ou repressivamente (mediante imposição de medidas corecitivas).99

Hely Lopes Meirelles, o qual destina mais atenção ao poder de polícia como função administrativa, evitando grandes considerações sobre o sentido amplo, assim resume:

Em linguagem menos técnica, podemos dizer que o poder de polícia é o mecanismo de frenagem de que dispõe a Administração Pública para conter os abusos do direito individual. Por esse mecanismo, que faz parte de toda Administração, o Estado detém a atividade dos particulares que se revelar contrária, nociva ou inconveniente ao bem-estar social, ao desenvolvimento e à segurança nacional.100

Os citados ensinamentos permitem-nos concluir que incumbe ao poder de polícia administrativa a prevenção, a verificação e a repressão do exercício irregular (abuso) dos direitos individuais, com o objetivo maior de assegurar a livre fruição dos direitos de cada um, zelando pelo convívio social harmonioso.

É imperioso destacar que a utilização do poder de polícia pela Administração Pública deve sujeitar-se aos parâmetros legais. Nunca é demais lembrar que se trata sempre de atividade subjacente à lei. O princípio da legalidade, mormente quando se trata de limitação de direitos, é um limite insuperável pela função administrativa.

Nesse sentido de subordinação à lei, irrepreensível o conceito estrito construído por Diogo de Figueiredo Moreira Neto:

Denomina-se polícia à função administrativa que tem por objeto aplicar concreta, direta e imediatamente as limitações e os condicionamentos legais ao exercício de direitos fundamentais, compatibilizando-os com interesses públicos, também legalmente definidos, com a finalidade de possibilitar uma convivência ordeira e valiosa.101

98 MOREIRA NETO, Diogo de Figueiredo. Op. cit., p. 396. 99 DI PIETRO, Maria Sylvia Zanella. Op. cit., p. 111. 100 MEIRELLES, Hely Lopes. Op. cit., p. 131. 101

Ao falar-se em poder de polícia, a rigor, refere-se ao poder do Estado para limitar a conduta individual em prol dos interesses de toda a coletividade. Com efeito, “poder de polícia” pode referir-se tanto às leis condicionadoras da liberdade e da propriedade quanto aos atos administrativos pelos quais se procede a suas concreções, como observa Celso Antônio Bandeira de Mello102, após manifestar sua reprovação quanto à vetusta terminologia.

Para tratar do sentido estrito, da função administrativa, torna-se necessário o uso das expressões poder de polícia administrativa, função de polícia, atividade de polícia ou somente polícia, por serem mais específicas e restritivas.

Esta clareza e distinção, entretanto, não foi reproduzida pelo legislador brasileiro. O conceito de poder de polícia (restrito) no direito positivo pátrio encontra- se no artigo 78 do Código Tributário Nacional, o qual abaixo se transcreve:

Art. 78. Considera-se poder de polícia atividade da administração

pública que, limitando ou disciplinando direito, interesse ou liberdade, regula a prática de ato ou a abstenção de fato, em razão de interesse público concernente à segurança, à higiene, à ordem, aos costumes, à disciplina da produção e do mercado, ao exercício de atividades econômicas dependentes de concessão ou autorização do Poder Público, à tranqüilidade pública ou ao respeito à propriedade e aos direitos individuais ou coletivos.

(Redação dada pelo Ato Complementar nº 31, de 28.12.1966)

Parágrafo único. Considera-se regular o exercício do poder de polícia quando desempenhado pelo órgão competente nos limites da lei aplicável, com observância do processo legal e, tratando-se de atividade que a lei tenha como discricionária, sem abuso ou desvio de poder.103

No mesmo sentido, assim prescreve a Constituição Federal Brasileira de 1988, em seu artigo 145, inciso II:

Art. 145. A União, os Estados, o Distrito Federal e os Municípios poderão instituir os seguintes tributos:

I - impostos;

102 MELLO, Celso Antônio Bandeira de. Op. cit., p. 709.

103 BRASIL. Código Tributário Nacional. Lei n. 5.172, de 25 de Outubro de 1966. Dispõe sobre o

Sistema Tributário Nacional e institui normas gerais de direito tributário aplicáveis à União, Estados e Municípios. Disponível em: < http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/LEIS/L5172.htm>. Acesso em: 04 novembro 2009.

II - taxas, em razão do exercício do poder de polícia ou pela utilização, efetiva ou potencial, de serviços públicos específicos e divisíveis, prestados ao contribuinte ou postos a sua disposição; III - contribuição de melhoria, decorrente de obras públicas. [...]104

Há que se ter em mente, na interpretação, que o CTN trata da disciplina jurídica geral dos tributos. Assim, apenas para fins de verificação de incidência da taxa, poder de polícia deve ser considerado somente a atividade da administração pública.

Conclui-se que o mencionado artigo 78 do CTN expressa somente o conceito estrito do poder de polícia, pois é apenas a atividade administrativa, efetivamente exercida, que importa para o fato gerador de taxa. A função legislativa de limitação dos direitos individuais, portanto, não é conhecida como fato jurídico tributário.

Este também o entendimento de Hugo de Brito Machado, ao tratar das taxas de polícia:

A rigor, segundo autorizados doutrinadores, poder de polícia não é atividade da Administração. É poder do Estado. Deve ser exercido mediante produção legislativa. A Administração Pública, com fundamento nesse poder, e dentro dos limites impostos pelo ordenamento jurídico, exerce atividade de polícia. O que o CTN define como poder de polícia, no dispositivo supratranscrito, na verdade é atividade de policia. Prevaleceu, no Código, a terminologia mais difundida.105

Dessa forma, este conceito positivado não é capaz de bem defini-lo, uma vez que desconsidera seu sentido amplo, como manifestação do poder do Estado. É um conceito aceitável, porém, apenas para o sentido restrito.

104 BRASIL. Constituição (1988). Constituição da República do Brasil. Ibidem.