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A Política Nacional de Agroecologia e Produção Orgânica (PNAPO) e o Plano Nacional de Agroecologia e Produção Orgânica

Figura 05 Histórico da Legislação sobre Produção Orgânica no Brasil*

3.4.2.1 A Política Nacional de Agroecologia e Produção Orgânica (PNAPO) e o Plano Nacional de Agroecologia e Produção Orgânica

(PLANAPO)

Diante da abrangência dessas políticas e de sua particularidade em termos conceituais, uma vez que assinala uma diferença entre a Agroecologia e a produção orgânica, julgamos ser oportuno detalhar seus propósitos e analisar como elas contribuem para o fortalecimento dos sistemas de produção em análise.

Em relação às definições empregadas o PNAPO define o sistema orgânico de produção como aquele estabelecido pelo art. 1º da Lei nº 10.831, de 23 de dezembro de 2003 (anexo A). A produção de base agroecológica é definida como

aquela que busca otimizar a integração entre capacidade produtiva, uso e conservação da biodiversidade e dos demais recursos naturais, equilíbrio ecológico, eficiência econômica e justiça social, abrangida ou não pelos mecanismos de controle de que trata a Lei nº 10.831, de 2003, e sua regulamentação (BRASIL, 2003).

Apesar da separação textual entre as duas definições, que deveria marcar as diferenças e particularidades dos sistemas produtivos, percebe-se que o seu conteúdo é muito similar, podendo inclusive ser confundido. Ademais, elas apresentam as mesmas diretrizes de atuação.

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O Programa tem como meta, para 2015, atingir 10 mil estabelecimentos orgânicos no Paraná, 05 mil estabelecimentos orgânicos consolidados, 16.500 hectares de área de produção orgânica com um total de 180.000 toneladas de produção.

A "diferença" conceitual é tributária dos grupos articulados para a sua construção. No campo da agroecologia os debates foram conduzidos pela Articulação Nacional de Agroecologia (ANA), Associação Brasileira de Agroecologia (ABA) e a Articulação no Semiárido (ASA), enquanto que em relação à produção orgânica, o diálogo ocorreu por meio da rede de Comissões da Produção Orgânica das Unidades da Federação (CPOrgs) e pela Câmara Temática de Agricultura Orgânica (CTAO) do MAPA. Além destes, as reivindicações dos movimentos sociais em relação à agroecologia e outros fóruns de discussão em nível regional e nacional também foram fundamentais para a elaboração das diretrizes do documento (CIAPO, 2013).

O PNAPO, instituído pelo Decreto nº 7.794 tem como objetivo

integrar, articular e adequar políticas, programas e ações indutoras da transição agroecológica e da produção orgânica e de base agroecológica, contribuindo para o desenvolvimento sustentável e a qualidade de vida da população, por meio do uso sustentável dos recursos naturais e da oferta e consumo de alimentos saudáveis (BRASIL, 2012).

Como parte da operacionalização do PNAPO foi criado o PLANAPO. Este último foi elaborado pela Câmara Interministerial de Agroecologia e Produção Orgânica (CIAPO) com participação da sociedade via Comissão Nacional de Agroecologia e Produção Orgânica (CNAPO). Os dois órgãos são responsáveis pela gestão do Plano.

Os recursos para custeio e investimento no âmbito do PLANAPO ocorrem por meio do Programa Nacional de Fortalecimento da Agricultura Familiar (PRONAF) do MDA e do Plano Agrícola e Pecuário do MAPA. Entretanto, o próprio Plano reconhece que o sistema de financiamentos ainda se orienta pelas especificações do sistema convencional, encontrando dificuldade de inserir as particularidades da produção orgânica e agroecológica nos projetos75.

O Plano reconhece também o impacto da erosão genética produzida pela agricultura convencional e a deficiente oferta de sementes de base genética diversificada no mercado; a baixa oferta de

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Essa, alias, foi uma das principais reclamações constatada durante nossa pesquisa de campo, ou seja, a dificuldade encontrada pelos agricultores para acessar linhas de crédito já existentes, com destaque para o Pronaf Agroecologia.

produtos fitossanitários para uso na produção orgânica (que em parte vem sendo resolvida pelo Decreto nº 6.913, de 23 de julho de 2009); as dificuldades atreladas à produção orgânica animal, notadamente em relação aos insumos para alimentação animal; os entraves na agroindustrialização da produção (diante da baixa oferta dos produtos primários, inadequação da regulamentação sanitária às agroindústrias de pequeno porte e exigências específicas para o processamento de orgânicos); a desconsideração com as particularidades do extrativismo vegetal (defasagem de informações sobre a atividade e desajuste na oferta de crédito); a necessidade de ampliar a atenção aos jovens e mulheres no campo, bem como ampliar os esforços para diminuir os gargalos na comercialização da produção.

No que se refere à produção e aplicação do conhecimento sobre a agroecologia e produção orgânica, em que pesem os avanços já conquistados76, o documento reconhece os problemas relacionados à ATER e o ainda insuficiente número de profissionais aptos para desenvolver esse sistemas de produção.

Para fazer frente aos problemas identificados no documento, parcialmente aqui elencados, o documento foi estruturado em quatro eixos: (i) produção, (ii) uso e conservação de recursos naturais, (iii) conhecimento e (iv) comercialização e consumo. Para cada meta proposta dentro de cada eixo há um conjunto de iniciativas a serem adotadas, com seus respectivos responsáveis e período de execução. Nesse sentido, mesmo algumas iniciativas se apresentando mais genéricas, há um conjunto de ações importantes para o avanço da agroecologia e da produção orgânica.

Destaque para o eixo do conhecimento77, onde há maior predominância do termo agroecologia em relação à produção orgânica.

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Destaque para a Política Nacional de Assistência Técnica e Extensão Rural (PNATER), para as chamadas públicas de ATER relacionadas com o tema e a inclusão, desde 2005, da política setorial de Ater para mulheres no PNATER. Em relação à formação, destaque para os cursos de nível técnico em agroecologia, ou superior com ênfase no tema. Em relação às pesquisas, destaque para o trabalho da Embrapa e a inclusão do tema em linhas de pesquisas de profissionais de diferentes áreas em universidades do país.

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Este eixo tem como objetivos: "ampliar a capacidade de geração e socialização de conhecimentos em sistemas de produção orgânica e de base agroecológica, por meio da valorização e intercâmbio do conhecimento e cultura local e da internalização da perspectiva agroecológica nas instituições e ambientes de ensino, pesquisa e extensão" (p.65) e "estimular a autonomia,

Enquanto que no restante do documento o texto corrente é "produtos orgânicos e de base agroecológica" ou "produção orgânica e de base agroecológica", no eixo citado, há uma inclinação em reforçar a agroecologia nos serviços de assistência técnica e extensão rural (ATER), na educação do campo, na formação dos diferentes profissionais que atuam no campo e de fortalecer a agroecologia nas redes já existentes. Uma das estratégias do Plano que exemplifica essa afirmação é a de "fortalecer os conceitos e princípios da agroecologia nas instituições de ensino, pesquisa e extensão rural, por meio de intersetorialidade e inter-relação, temática e programática, entre os diversos organismos envolvidos na PNATER" (CIAPO, 2013, p.66).

Apesar de sinalizar soluções para muitos dos problemas diagnosticados, inclusive no que se refere à adequação da legislação vigente, a efetivação do Plano dependerá de uma efetiva articulação dos diferentes Ministérios, conselhos e agentes envolvidos no cotidiano desse processo.

Diante do exposto, como ressaltado por Assis (2006) o Estado brasileiro, por meio de políticas públicas, tem uma responsabilidade central para superar muitas das dificuldades presentes nos sistemas agroecológicos de produção. Pelo apresentando até aqui, conclui-se que as políticas públicas com foco na produção orgânica e na agroecologia têm ganhado fôlego na última década.

As ações colocadas em marcha representam, antes de tudo, o esforço de representantes da sociedade civil que ao galgarem participação na esfera institucional pública foram abrindo espaço para um debate mais amplo sobre o tema em análise. Por outro lado, o papel desempenhado pelas ONGs foi central para dar visibilidade a esses sistemas produtivos, sobretudo nas décadas de 1980 e 90, quando o Estado se encontrava ausente e não chegava até a base social responsável por desenvolver a agricultura ecológica.

Diante do exposto, é evidente que as políticas públicas implementadas têm diminuído a distância entre as propostas de desenvolvimento rural defendidas pelas ONGs, com destaque para a incorporação da agroecologia, e aquelas do Estado. Isso, entretanto, não significa que compartilham de um mesmo projeto de desenvolvimento rural. O Estado, ao mesmo tempo em que cria espaços de expansão da produção orgânica e agroecológica, também reforça o sistema de produção convencional.

visando à emancipação da juventude rural, na produção orgânica e de base agroecológica, por meio da sua permanência e sucessão no campo" (p.71).

Finalmente, parte das conquistas no âmbito das políticas públicas aqui expostas têm se constituído como importantes, uma vez que conseguiram se caracterizar em um projeto de Estado e não de governo, tendo sua continuidade assegurada.

4 AS INTENCIONALIDADES, OS VÍNCULOS E OS FLUXOS