• Nenhum resultado encontrado

1 A CONSTRUÇÃO DO PROBLEMA DE PESQUISA

3 INTENCIONALIDADE, AGÊNCIA E AS AÇÕES EM TORNO DA AGROECOLOGIA E DA PRODUÇÃO ORGÂNICA

3.3.1 Aspectos históricos e o escopo de atuação das ONGs

3.3.1.2 Os recursos e a área de atuação

O mapa a seguir apresenta os municípios de atuação direta das ONGs. É importante destacar que além dos municípios apresentados também ocorre a atuação indireta em diversas outras áreas. A

participação de um representante de uma determinada ONG na equipe de elaboração de uma política pública estadual, por exemplo, faz com que o trabalho desenvolvido pela mesma tenha uma ação indireta para todos que acessam a política elaborada. Os municípios em destaque são aqueles onde efetivamente ocorre maior articulação com outras instituições para viabilizar as ações apresentadas no item anterior. Nesse sentido, o mapa destaca a localização dos agricultores que recebem a assessoria direta e onde a produção agroecológica é praticada.

Os recursos para as atividades das ONGs têm forte dependência das agências da cooperação internacional. As três principais financiadoras são: a Inter-American Foudation (IAF), a MISEREOR e a Pão para o Mundo56. O Comitê Católico Contra a Fome e a Favor do Desenvolvimento (CCFD), com sede em Paris; o Serviço das Igrejas Evangélicas na Alemanha para o Desenvolvimento (EED, em alemão); e a Kerk in Actie, uma agência da Igreja Protestante da Holanda, também aparecem como instituições financiadoras. As ONGs atuam como parceiras dessas agências internacionais buscando garantir que os projetos estejam adequados às necessidades e à realidade local.

56

A fusão, em 2012, da Pão para o Mundo e do Serviço das Igrejas Evangélicas na Alemanha para o Desenvolvimento (EED, sigla em alemão) deu origem à Organização Protestante para a Diaconia e o Desenvolvimento. Como os dados do campo referem-se aos anos de 2013 e 2014, os entrevistados ainda citaram os nomes das agências anteriores à fusão, por isso os mantivemos no texto.

Mapa 01 - Localização, municípios de atuação das ONGs e origem dos

recursos para as atividades relacionadas à

A MISEREOR, com sede em Aachen na Alemanha, desenvolve projetos na Ásia, África e América Latina. Ela está ligada à Igreja Católica da Alemanha e dois terços do seu orçamento são assegurados pelo governo alemão por meio do Ministério Federal de Cooperação Econômica e Desenvolvimento. Além disso, conta com doações de diferentes grupos e pessoas. Tem como objetivo melhorar as condições de vida das pessoas onde atua (MISEREOR, 2015). A Inter-American Foudation é dirigida por um conselho composto por nove membros do setor privado e do governo federal dos Estados Unidos. A instituição trabalha com contra partida das organizações e pessoas atendidas, buscando elevar o número de projetos financiados. Atua na América Latina e Caribe e conta com recursos provenientes do Congresso dos Estados Unidos e do Fundo Fiduciário de Progresso Social, administrado pelo Banco Interamericano de Desenvolvimento (IAF, 2015). A Pão para o Mundo (Brot für die Welt) tem sede em Berlim e apoia projetos em aproximadamente 100 países na África, Ásia e América Latina. Tem como foco a segurança alimentar, mas também atua em outras áreas como a educação, a saúde e os direitos humanos (PPM, 2015).

O CEPAGRO, localizado em Florianópolis, desenvolve atividades em cerca de 18 municípios da porção leste do estado de Santa Catarina e trabalha com 17 grupos de base. Essa atuação ocorre a partir do trabalho de uma equipe composta por 22 pessoas da própria ONG e mais os agentes das comunidades onde os projetos são desenvolvidos. A equipe multidisciplinar é composta por agrônomos, biólogos, profissionais da comunicação, da administração e estagiários, sobretudo do curso de agronomia da UFSC57. Os recursos para as atividades relacionadas com a agroecologia têm como principais fontes as agências da cooperação internacional, MISEREOR e IAF, e o governo federal.

O CETAP conta com equipes nos municípios de Sananduva, Ibiaçá e na região de Vacaria trabalhando diretamente com assentamentos. O Centro conta com uma equipe de cerca de 20 pessoas, que sofre oscilação de acordo com o número de projetos em execução.

57

Diante de sua proximidade com a UFSC — a sede localiza-se na mesma área do Centro de Ciências Agrárias (CCA) da Universidade — o CEPAGRO acaba envolvendo maior número de estudantes e professores do meio acadêmico em suas atividades. Por outro lado, também participa com frequência de atividades promovidas pela Universidade.

Com a diminuição dos recursos da cooperação internacional começa uma aproximação com editais para viabilizar recursos do governo federal, a partir de diferentes projetos que dependem de constante renovação. Um deles, que conta com recursos do MDA, pretende estimular a agroecologia por meio da atuação de 250 mulheres agricultoras em cerca de 20 municípios próximos a Frederico Westphalen. A produção deverá ser destinada ao mercado institucional. Outro projeto que ainda conta com o apoio do IAF e da MISEREOR tem como objetivo auxiliar os agricultores a abrir e/ou fortalecer espaços de comercialização. Isso ocorre por meio de atividades de capacitação, intercâmbios, criação de logística no mercado de abastecimento local e regional, promoção de reuniões com os agricultores, entre outros. Na região de Vacaria, o Centro trabalha com um projeto de Sistemas Agroflorestais e Aproveitamento das Frutas Nativas, com recursos do BNDES. Em relação aos recursos para os projetos o CETAP contou com aproximadamente 1 milhão e 600 mil reais no biênio 2013/2014. Deste montante cerca de 25% tem origem nas entidades da cooperação internacional (MISEREOR e IAF), 55% nas chamadas Públicas do Governo Federal, 15% por meio de convênios com o Governo Estadual do Rio Grande do Sul e 05% tem outras fontes.

O núcleo do CAPA de Erechim58 atende principalmente agricultores vinculados à Rede Ecovida. O Centro trabalha com assessoria a agricultores dos núcleos da Rede do Alto Uruguai e Vale do Rio Uruguai59 além de dividir a coordenação do primeiro com o

58

O CAPA foi criado em 1978 e iniciou suas atividades em 1979 com um núcleo em Santa Rosa, no Rio Grande do Sul. Inicialmente o Centro chamava- se Centro de Aconselhamento ao Pequeno Agricultor, mas a partir de 1988 passou a ser chamado de Centro de Apoio ao Pequeno Agricultor. A sigla permaneceu a mesma. O CAPA desenvolve as atividades por meio de cinco núcleos localizados em Pelotas, Santa Cruz do Sul e Erechim no Rio Grande do Sul (o núcleo de Santa Rosa foi transferido para Erechim em 1988) e em Verê e Marechal Cândido Rondon, no Paraná. Não há uma coordenação geral, cada núcleo possui um coordenador que estabelece objetivos comuns e realiza o planejamento juntamente com os demais coordenadores e a Fundação Luterana de Diaconia. Apesar desse trabalho conjunto, os núcleos possuem autonomia para discussão, encaminhamento e avaliação das atividades.

59

Fazem parte do núcleo Alto Uruguai os municípios de Erechim, Itatiba do Sul, Barra do Rio Azul, Aratiba, Três Arroios, Severiano de Almeida, Barrão de Cotegipe, Paulo Bento no Rio Grande do Sul e Concórdia, Alto Bela Vista, Itá em Santa Catarina. O grupo Vale do Rio Uruguai é constituído por

CETAP, de Passo Fundo. No total, são 70 famílias que trabalham com a certificação participativa. O CAPA contou com cerca de R$ 1.000.000,00 para desenvolver atividades diretamente ligadas com a agroecologia em 2013 e 2014. Desse total, 80% são oriundos da Pão para o Mundo e 20% referem-se à contratos de prestação de serviços com prefeituras.

A unidade técnica de Agroecologia e Educação Popular do Centro Vianei tem a maior parte dos seus recursos com origem internacional (MISEREOR e IAF), mas as fundações, como a da Petrobrás, também financiam projetos das outras unidades do Centro. Em relação aos recursos da cooperação internacional destaca-se o projeto que visa assessoria técnica e organizacional dos grupos de mulheres na agroecologia. O projeto promove a discussão de gênero, educação popular e agroecologia. A produção tem como destino a subsistência da família e o abastecimento dos mercados institucionais. O Núcleo possui 350 unidades produtivas em processo de certificação. O Centro é parte da Rede Ecovida de Agroecologia, ligado ao Núcleo Planalto Serrano da Rede. A rede pertencente ao núcleo citado é composta por 48 organizações entre associações formalmente constituídas, sindicatos, cooperativas e grupos informais, abrangendo 18 municípios da região serrana e outros próximos (como Curitibanos, Celso Ramos, Alfredo Wagner). Nestes últimos municípios o trabalho ocorre sobretudo em relação à certificação participativa.

A ASSESOAR atua na porção sudoeste do Paraná. De 2012 a 2014 contou com recursos próximos de 1 milhão de reais para as atividades relacionadas com a agroecologia, sendo pouco mais de 70% desse total com origem nas agências IAF (EUA), Pão para o Mundo (Berlim/Alemanha) e o Comitê Católico Contra a Fome e a Favor do Desenvolvimento (CCFD) (Paris/França), 20% recursos próprios e o restante têm outras fontes como a Caixa Econômica Federal. Na área da agroecologia a Associação conta com 03 profissionais fixos que desenvolvem as atividades em cerca de 20 municípios do sudoeste paranaense.

A Fundação RURECO atua diretamente em 11 municípios do centro do Paraná. Os principais financiadores de seus projetos em 2013 e 2014 foram a Secretaria de Agricultura Familiar do Ministério do Desenvolvimento Agrário e a Kerk in Actie. A Fundação ainda conta com técnicos que atuam em outros municípios do Paraná.

agricultores de Saltinho, São Miguel do Oeste, Palmitos, Descanso e Tunápolis em SC e Erval Seco e Cristal do Sul no RS.

A APACO atua em municípios do oeste catarinense, mas não possui recursos próprios e projetos financiados por agências da cooperação internacional e nem do governo federal. Os recursos necessários para a manutenção das equipes são oriundos dos próprios agricultores que pagam pelos serviços recebidos (como a responsabilidade técnica nas agroindústrias, por exemplo) ou das cooperativas que trabalham com a Associação.

Em relação aos recursos para os projetos, há dificuldade na captação dos editais públicos, por isso eles são muito pontuais. Um entrevistado aponta que as exigências para a execução não é adequada à dinâmica das ONGs, acarretando em dificuldades na prestação de contas e no excesso de burocracia. A principal dificuldade financeira refere-se à disponibilidade de recursos para a contratação de pessoal. Como o entrevistado ressalta: "nós temos o dinheiro pra finalidade (atividade para os agricultores, para cursos, pra encontros, pra seminários), nós não temos recursos para o administrativo e nem pra contratação, pras horas técnicas. [...] Se tu não tem gente, tu não tem trabalho!" (ENTREVISTADO 08, 2013). Para contornar o problema, muitas vezes a solução vem do interior do grupo, e os agricultores tornam-se os protagonistas do processo, já que "eles mesmo acabaram aprendendo, fazendo muitas experiências, tem algumas propriedades que já faz muito tempo que são certificadas, aquelas ajudam os outros a fomentar a agroecologia, na parte de conhecimentos, nos encontros, em alguns debates" (ENTREVISTADO 11, 2013).