• Nenhum resultado encontrado

Políticas mundiais e internacionais Da I Assembleia Mundial de Viena (1982) à

CAPÍTULO 1. ENVELHECIMENTO E POLÍTICAS SOCIAIS

2. P OLÍTICAS SOCIAIS RELATIVAS À PROBLEMÁTICA DO ENVELHECIMENTO

2.1. Políticas mundiais e internacionais Da I Assembleia Mundial de Viena (1982) à

A partir dos anos setenta, vários acontecimentos internacionais marcaram a política social relativamente às pessoas idosas. O marco inicial foi a I Assembleia Mundial sobre o Envelhecimento realizada em Viena, em 1982, que representou um grande avanço, na medida em que até então, “a questão do envelhecimento não era foco de atenção nem das assembleias gerais, nem de nenhuma agência especializada das Nações Unidas. A questão era tratada de forma marginal pela Organização Internacional do Trabalho (OIT), pela Organização Mundial de Saúde (OMS) e pela Organização das Nações Unidas para a Educação, Ciência e Cultura (UNESCO) como parte das suas atividades especializadas” (Camarano & Pasinato, 2004: 254).

Desta Assembleia resultou a aprovação do Plano de Ação Internacional sobre o Envelhecimento13 que referia as medidas a serem tomadas pelos Estados-Membros para salvaguardar

os direitos das pessoas idosas. Tinha como principais objetivos dotar os países de estratégias para abordar de maneira efetiva o envelhecimento da população, fomentando respostas internacionais adequadas aos problemas do envelhecimento, bem como o aumento das atividades internacionais de cooperação técnica, em particular, entre os próprios países em desenvolvimento (United Nations, 1982). O Plano prescrevia 62 recomendações para a ação, divididas por 7 áreas: saúde e nutrição, proteção aos consumidores idosos, habitação e meio ambiente, família, bem-estar social, segurança social e educação.

18

Na ótica de Camarano e Pasinato (2004), o plano foi determinante para colocar na agenda política questões relacionadas com o envelhecimento e com o reconhecimento do idoso como um ator social, bem como a promoção da sua autonomia e independência.

Em 1991, a Assembleia Geral das Nações Unidas aprovou os Princípios das Nações Unidas para as pessoas Idosas (em Anexo do documento “Execução do Plano de Ação Internacional sobre o Envelhecimento e atividades relacionadas14). Este estava dividido em 5 secções: independência,

participação, cuidados, autorrealização e dignidade. A primeira secção – independência - incluía o acesso à alimentação, à água, à habitação, ao vestuário e a cuidados de saúde adequados, bem como à oportunidade de ter um trabalho remunerado e de aceder à educação e à formação. A segunda secção, defendia a participação ativa das pessoas idosas na formulação de políticas que afetassem diretamente o seu bem-estar, a vantagem de partilharem os seus conhecimentos e capacidades com as gerações mais novas e o direito a formarem movimentos e associações. Na terceira secção – cuidados – referia-se a necessidade das pessoas idosas beneficiarem dos cuidados e proteção da família e comunidade de acordo com o seu sistema cultural de valores, ter acesso a cuidados de saúde, serviços sociais e jurídicos assim como gozar dos seus direitos e liberdades fundamentais quando residem em lares ou instituições. Na quarta secção – autorrealização - afirmava-se que as pessoas idosas devem ter acesso a oportunidades que lhes permitam desenvolver o seu potencial e aceder a recursos educacionais, culturais, espirituais e recreativos da sociedade. Na última secção - dignidade - defendia-se que as pessoas idosas devem viver com dignidade e segurança, independentemente da idade, sexo, origem racial ou étnica, deficiência ou qualquer outra condição e serem valorizadas independentemente do seu contributo económico.

Em 1992, a Assembleia Geral das Nações Unidas aprovou 8 objetivos globais sobre o envelhecimento para o ano 200115. Estes referiam a necessidade de apoiar os países na determinação

e integração do envelhecimento nos planos e programas nacionais; a melhorar a assistência e participação das pessoas idosas; a melhorar as investigações internacionais sobre envelhecimento; a estabelecer uma rede global de voluntários seniores e a fomentar uma cooperação mais estreita entre as organizações não governamentais e intergovernamentais sobre o envelhecimento (United Nations, 1992).

14 Resolution 46/91 16 December (1991). United Nations Principles for Older Persons. To add life to the years that have been added to life. In

Implementation of the Internacional Plan on Ageing and related activities.

19

Também em 1992, a Assembleia Geral aprovou a Proclamação sobre o Envelhecimento16 que

declarou o ano de 1999 como o Ano Internacional das Pessoas Idosas e “definiu os parâmetros para o início da elaboração de um marco conceitual sobre a questão do envelhecimento” (Camarano & Pasinato, 2004: 257). A Assembleia Geral pediu o apoio de iniciativas nacionais sobre o envelhecimento para que se elaborassem políticas e programas que respondessem às características, necessidades e capacidades das mulheres de idade; se incentivassem os homens de idade a desenvolver capacidades sociais, culturais e emocionais que, eventualmente, não tivessem desenvolvido durante os anos de trabalho remunerado; e se apoiassem as famílias na prestação de cuidados aos idosos. Solicitou ainda que se ampliasse a cooperação internacional no contexto das estratégias dirigidas a alcançar os objetivos globais sobre o envelhecimento para o ano 2001 (Resolução nº 47/5 de 16 de outubro de 1992).

Em 1999, data em que se comemorou o Ano Internacional das Pessoas Idosas, os Estados- Membros foram incentivados a aplicar os princípios das Nações Unidas para os Idosos (Camarano & Pasinato, 2004). A Comissão das Comunidades Europeias redigiu uma comunicação intitulada “Uma Europa para todas as idades - Promover a prosperidade e a solidariedade entre as gerações” 17. Esta

comunicação expunha “os efeitos do envelhecimento da população no emprego, proteção social, saúde e serviços sociais” e propunha “uma estratégia para a adoção de respostas políticas eficazes nestes domínios, com base no reforço da cooperação entre todos os intervenientes e da solidariedade e equidade entre gerações” (Comissão das Comunidades Europeias, 1999: 4). Neste documento, especificaram-se algumas das atividades que a CCE se propôs apoiar em 1999, nomeadamente, a criação de um “Fórum Europeu dos Idosos” e um programa de bolsas que permitisse aos idosos voluntários deslocarem-se até Bruxelas para trabalharem neste Fórum, durante 3 a 6 meses. Para além disso, propôs-se realizar uma grande conferência sobre políticas a favor dos idosos no âmbito do Ano Internacional das Pessoas Idosas (CEE, 1999).Em 2002 realizou-se, em Madrid, a II Assembleia Geral sobre o Envelhecimento na qual se aprovou uma Declaração Política e o Plano de Ação Internacional de Madrid sobre o Envelhecimento 18. O último, constituído por 117 recomendações, teve

o intuito de orientar a adoção de medidas sobre o envelhecimento por parte dos governos de todo o

16Resolução nº 47/5 de 16 de outubro de 1992 (1992). Proclamación sobre el Envejecimiento.

17 Comissão das Comunidades Europeias (1999). Uma Europa para todas as idades - Promover a prosperidade e a solidariedade entre as gerações

(Comunicado da Comissão). Bruxelas: Autor.

18Naciones Unidas (2002). Segunda Asamblea Mundial Sobre el Envejecimiento. Informe de la Segunda Asamblea Mundial sobre el envejecimiento. Nueva

20

mundo, especialmente dos países em desenvolvimento. O Plano de Ação de Madrid organizou-se em torno de três orientações prioritárias: a participação ativa dos idosos na sociedade e no desenvolvimento; a promoção da saúde e bem-estar na velhice; e a criação de um ambiente propício e favorável ao envelhecimento (Naciones Unidas, 2002).

A primeira prioridade – as pessoas idosas e o desenvolvimento – centrada em oito questões, pretendia “assegurar a integração permanente e o reforço da capacidade de agir das pessoas idosas, permitindo-lhes assim participar ativamente na sociedade, no desenvolvimento e na população ativa” (Centro de Informação das Nações Unidas em Portugal, 2002: 4). Para tal, incentivaram-se os governos a envolverem as pessoas idosas na tomada de decisões, a criarem oportunidades de emprego para as que ainda desejassem trabalhar e a melhorarem as condições de vida nas zonas rurais (Centro de Informação das Nações Unidas em Portugal, 2002). Esta prioridade ressalvava ainda a promoção do acesso ao conhecimento, à educação e à formação das pessoas idosas: “una sociedad basada en el conocimiento requiere la adopción de políticas para garantizar el acceso a la educación y la capacitación durante todo el curso de la vida. La educación y la capacitación permanentes son indispensables para conseguir la productividad de los trabajadores y de las naciones” (Naciones Unidas, 2002: 17).

No que diz respeito à segunda prioridade – promover a saúde e o bem-estar na velhice – os governos foram incentivados a adotar medidas que permitissem: diminuir as doenças e a dependência na velhice; promover o acesso de todas as pessoas de idade a uma alimentação e nutrição adequada; eliminar desigualdades sociais e económicas; e desenvolver os serviços de cuidados de saúde primários a longo prazo, para atender às necessidades destas pessoas (Naciones Unidas, 2002).

No que concerne à terceira prioridade – assegurar um ambiente propício e favorável – instou- se a que os governos mundiais estabelecessem nas suas políticas: a melhoria da habitação e condições de vida das pessoas idosas; a oferta de cuidados continuados aos idosos; a eliminação de todas as formas de abandono, abuso ou violência contra estes e o reconhecimento público da sua autoridade, sabedoria e produtividade (Naciones Unidas, 2002).

Assim, o Plano de Ação Internacional de Madrid teve como objetivo garantir que, em todo o mundo, a população pudesse envelhecer com segurança e dignidade e que as pessoas de idade pudessem continuar a participar nas suas respetivas sociedades como cidadãos de pleno direito (Naciones Unidas, 2002).

21

A II Assembleia Mundial sobre o Envelhecimento mostrou que o envelhecimento é uma questão global, ou seja, deixou de ser uma preocupação apenas dos países desenvolvidos para ser, também, uma preocupação dos países em desenvolvimento (Naciones Unidas, 2002).

Nos documentos que foram elaborados na II Assembleia transparece a ideia de que o envelhecimento não é apenas uma questão de segurança social, devendo antes ser visto num contexto mais geral das políticas de desenvolvimento e económicas. Por outro lado, referem a necessidade de se olhar para o envelhecimento de uma forma positiva, pondo de parte os estereótipos normalmente a ele associados (Centro de Informação das Nações Unidas em Portugal, 2002).