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CAPÍTULO 1. ENVELHECIMENTO E POLÍTICAS SOCIAIS

2. P OLÍTICAS SOCIAIS RELATIVAS À PROBLEMÁTICA DO ENVELHECIMENTO

2.2. Políticas nacionais

À medida que na Europa e no resto do mundo foram sendo lançadas políticas sociais relativas às pessoas idosas, também em Portugal isso aconteceu. Estas orientações que valorizavam, numa fase inicial, essencialmente a ação social e a saúde foram, com o passar do tempo, valorizando também a necessidade de educação e formação ao longo da vida. Este processo acompanhou as grandes orientações mundiais e europeias, nomeadamente da I e da II Assembleia Mundial do Envelhecimento, da comemoração do Ano Internacional das Pessoas Idosas, entre outras.

Em Portugal, entre 1976 e 1985, constata-se uma mudança na forma de tratar as pessoas idosas. Este período foi caracterizado pela transformação dos asilos em lares e pela emergência de instituições para a terceira idade tais como, centros de dia, centros de apoio domiciliário e centros de convívio, para promover a manutenção dos idosos no domicílio (Veloso, 2008).

O centro de dia é “uma resposta social, desenvolvida em equipamento, que consiste na prestação de um conjunto de serviços que contribuem para a manutenção dos idosos no seu meio sócio-familiar” (Bonfim & Saraiva, 1996: 7).

Os centros de apoio domiciliário (SAD) asseguram “a prestação de cuidados individualizados e personalizados no domicílio a idosos quando, por motivo de doença, deficiência ou outros impedimentos, não possam assegurar, temporária ou permanentemente, a satisfação das suas necessidades básicas e/ou as atividades da vida diária” (Bonfim & Veiga, 1996: 7).

O centro de convívio é uma “resposta social desenvolvida num equipamento, de apoio a atividades sócio-recreativas e culturais, organizadas e dinamizadas com participação ativa dos idosos” (Segurança Social, 2003 in Osório, 2007: 151). Porém, apesar de esta ter sido uma medida com um caráter humanizante, Veloso (2008) considera que teve um fundamento prioritariamente de ordem económica com o fim de reduzir as despesas do Estado.

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Entre 1985 e 1995, continuou a preconizar-se uma política de manutenção do idoso no seu domicílio. O envolvimento de outros parceiros sociais como as Instituições Particulares de Solidariedade Social (IPSS), associações mutualistas, entre outros, foi notório nesta fase. Surgiu no início da década de 90, o primeiro Programa de Apoio Comunitário às Pessoas Idosas. Neste momento, foi dada maior visibilidade à terceira idade, através dos media e da comemoração de determinados anos dedicados aos seniores, nomeadamente o Ano Europeu das Pessoas Idosas, em 1994. Neste ano, foi criado o primeiro PAII - Programa de Apoio Integrado às Pessoas Idosas (Veloso, 2008).

O PAII foi criado pelos despachos conjuntos dos Ministérios da Saúde e do Emprego e da Segurança Social 19, de 1 de julho de 1994, com os seguintes objetivos:

a) Assegurar a oferta de cuidados, com caráter urgente e permanente, que visam primordialmente manter a autonomia do idoso no domicílio e no seu ambiente habitual de vida;

b) Estabelecer medidas destinadas a assegurar a mobilidade dos idosos e a acessibilidade a benefícios e serviços;

c) Implementar respostas de apoio às famílias que tenham de assegurar cuidados e acompanhamento adequados a familiares que se encontrem em situações de dependência, nomeadamente idosos;

d) Promover e apoiar iniciativas destinadas à formação inicial e em exercício, de profissionais, voluntários, familiares e outras pessoas da comunidade;

e) Promover atitudes e medidas preventivas do isolamento, da exclusão e da dependência e contribuir para a solidariedade intergeracões, bem como para a criação de postos de trabalho (MTSSS, 2008: 42031).

Assim, ao abrigo do PAII, foram desenvolvidos os seguintes projetos: Serviço Telealarme (STA), Passes da terceira idade, Programa Saúde e Termalismo Sénior, Serviço de Apoio Domiciliário (SAD), Centro de Apoio a Dependentes/Centro Pluridisciplinar de Recursos (CAD) e Formação de Recursos Humanos (FORHUM).

O STA foi criado para permitir que as pessoas idosas, ao acionarem o botão de um alarme de um aparelho que possuem no domicílio, contactassem rapidamente a rede social de apoio para responder à sua necessidade ou encaminhar para o serviço adequado (Bugalho, 2006).

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Com a criação dos passes da terceira idade pretendeu-se eliminar as restrições nos horários para as pessoas com mais de 65 anos, nos transportes das zonas urbanas e suburbanas de Lisboa e Porto (Bugalho, 2006).

O projeto “Saúde e Termalismo”, financiado pelo PAII e gerido pelo INATEL, teve como objetivo que as pessoas com 60 ou mais anos e com menores recursos, tivessem acesso a tratamentos termais e atividades sócio-recreativas (Bugalho, 2006).

O SAD teve como objetivo promover a manutenção das pessoas idosas ou pessoas com dependência no seu ambiente habitual, junto da família, vizinhos ou amigos (Bugalho, 2006).

A FORHUM visou habilitar profissionais (das áreas de ação social e de saúde), bem como familiares, vizinhos, voluntários, etc. com formação para a prestação de cuidados às pessoas idosas ou dependentes (Bugalho, 2006).

O CAD é constituído por centros para apoio temporário com o objetivo de promover a prevenção ou reabilitação de pessoas com dependência (Bugalho, 2006).

Segundo Veloso (2008), o PAII enfatizou essencialmente os serviços de ação social e os serviços de saúde, não contemplando uma política global para a terceira idade. Continuou a preconizar- se uma política de manutenção do idoso no seu domicílio, dirigindo-se essencialmente para idosos mais velhos e dependentes.

Entre 1995 e 2002, o PAII continuou a ser desenvolvido.

Em 1997, através do Decreto-lei nº 102/97 de 28 de abril (in Veloso, 2008), instituiu-se a “Fundação Cartão do Idoso”, com o fim específico de lançar e gerir o cartão do idoso - Cartão 65 - enquanto meio de acesso a bens e serviços, em condições especialmente vantajosas para os cidadãos com mais de 65 anos.

Outra das medidas implementadas foi o Programa de Idosos em Lar (PILAR), que “visava a melhoria dos cuidados para a população idosa, aumentando a oferta do número de lugares em lares e também criando novas respostas como o alojamento temporário” (Despacho nº 6, de 21/01/97 in Veloso, 2008: 12).

O Livro “Prevenção da Violência Institucional. Perante as pessoas idosas e as pessoas em situação de dependência”, criado em 2002, foi outra das medidas implementadas para a população idosa. Este manual dirige-se a diretores técnicos, ajudantes de lar ou familiares, pessoal administrativo, pessoal de limpeza e auxiliar, voluntários e outros profissionais que trabalham em equipamentos para pessoas idosas e/ou em situação de dependência. Com este documento pretendeu-se criar mecanismos que contribuíssem para a prevenção da violência em relação a pessoas idosas ou em

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situação de dependência, em serviços e equipamentos (Ministério da Segurança Social e do Trabalho, 2002).

Como constata Veloso (2008), neste período, continuou a privilegiar-se a área de ação social e da saúde dinamizando-se os projetos definidos no PAII e fomentando-se outras respostas sociais.

A partir de 2002, após a II Assembleia Mundial, começou a preconizar-se um estilo de vida mais ativo para a população idosa, nomeadamente, com a introdução do conceito de envelhecimento ativo. O Programa Nacional de Saúde para as Pessoas Idosas é um exemplo das políticas mais voltadas para a saúde, no qual se estabeleceram três grandes estratégias de intervenção, nomeadamente:

1) promover um envelhecimento ativo;

2) adequar os cuidados às necessidades das pessoas idosas;

3) promover o desenvolvimento de ambientes capacitadores (Circular Normativa nº 13 de 02/07/04: 15).

A partir desta altura, apesar de se continuar a dar ênfase à área da ação social e da saúde, começa a salientar-se a necessidade de promover programas de formação e educação para as pessoas idosas, numa perspetiva de aprendizagem ao longo da vida, tal como havia sido debatido no Seminário de Encerramento do Ano Internacional das Pessoas Idosas. Começam, então, a surgir atividades de educação e formação para o público sénior.

Síntese

Da análise documental conduzida sobre os documentos oficiais constata-se que, ao longo das últimas décadas, a questão do envelhecimento veio ganhando um peso social cada vez maior no plano político, deixando de ser um problema apenas dos países desenvolvidos para passar a ser uma questão à escala mundial.

Estes documentos denotam uma preocupação crescente em salvaguardar os direitos das pessoas idosas, promovendo a sua autonomia, independência e participação. Para além disso, as políticas que se foram propondo através destes documentos preconizam a criação de oportunidades de acesso ao conhecimento, à formação, à educação e à cultura, permitindo aos idosos desenvolver o seu potencial, partilhar os seus conhecimentos, adquirir novas aprendizagens e conviver com outras gerações.

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CAPÍTULO 2.