• Nenhum resultado encontrado

CAPÍTULO 2. ENVELHECIMENTO ATIVO E QUALIDADE DE VIDA: O PAPEL DA EDUCAÇÃO,

2. Q UALIDADE DE VIDA

Valentini e Ribas (2003) consideram que para além da evolução científica que acarreta uma maior longevidade, a busca de qualidade de vida é também um dos aspetos a considerar para o processo de envelhecimento ativo do indivíduo.

A expressão qualidade de vida tem vindo a ser definida desde a década de 60. Inicialmente conotada com um significado apenas económico, com o passar do tempo o conceito foi evoluindo e na década de 80 ganhou um caráter multidisciplinar assumindo as dimensões: biológica, cultural, económica e psicológica. Na década de 90, o conceito ampliou-se, passando a integrar a noção de subjetividade, ou seja, a perceção que cada indivíduo tem da sua vida e dos seus domínios (saúde, dinheiro, etc.), de acordo com as suas perspetivas e expectativas (Simões, 2010).

Ferraz e Peixoto (1997: 318) consideram os diferentes fatores que interferem na qualidade de vida dos indivíduos, nomeadamente: indicadores sociais objetivos e indicadores subjetivos. Incluem nos

primeiros “condições de saúde, aspetos do ambiente físico, qualidade da habitação, emprego e

qualidade do trabalho, lazer, acesso a bens e serviços, segurança, justiça, oportunidades e participações sociais”. No que concerne aos aspetos subjetivos afirmam que estes abrangem termos como “felicidade, satisfação com a vida, bem-estar geral; que por sua vez estão relacionados com uma descrição positiva do casamento e situação familiar, relacionamento com o outro, amizades, forte crença religiosa, diferença entre as expectativas de vida e as realizações alcançadas, entre outros” (Ferraz & Peixoto, 1997: 319).

Martín e Pastor (1990 in Tamer & Petriz, 2007: 197) concebem a qualidade de vida das pessoas como “a relação global que se estabelece entre os estímulos positivos (favoráveis, agradáveis, etc.) e os estímulos negativos (adversos, desagradáveis, etc.) no decurso da sua vida social”. Segundo estes, esta relação está intimamente relacionada com a reação subjetiva do sujeito aos aspetos objetivos e concretos que o rodeiam.

O conceito de qualidade de vida deve, pois, ser pensado “como um possível estado de maneira dinâmica, como um processo socioeconómico, cultural e sociopsicológico de produção de valores, positivos e negativos, referentes à vida social de distribuição social desses valores, da perceção social desses valores pela população” (Tamer & Petriz, 2007: 197).

Este conceito inclui, entre outros, o conceito de bem-estar subjetivo que também tem vindo a ser definido por vários autores. Resende et al. (2010) afirmam que este abarca termos como felicidade, satisfação e estado de espírito.

29

De acordo com Galinha e Pais Ribeiro (2005: 204) o bem-estar subjetivo é ao mesmo tempo, “um conceito complexo, que integra uma dimensão cognitiva e uma dimensão afetiva, e um campo de estudo que abrange outros grandes conceitos e domínios de estudo como são a qualidade de vida, o afeto positivo e o afeto negativo”.

Giacomoni (2004: 44) considera que nos últimos 30 anos, o estudo deste conceito tem sido orientado por duas conceções de funcionamento positivo. Umas das orientações “iniciada pelo trabalho de Bradburn (1969 in Giacomoni, 2004: 44) diferencia o afeto positivo do negativo e define a felicidade como o equilíbrio entre os dois. A segunda conceção que vem ganhando atenção entre sociólogos, enfatiza a satisfação com a vida como o principal indicador do bem-estar”.

A satisfação com a vida relaciona-se com o valor que as pessoas atribuem às coisas, às situações. Assim, a satisfação é a concordância entre a imagem daquilo que se espera alcançar e o que realmente se alcança. A concordância, ou não, entre o modelo e as expectativas das pessoas gera insatisfação ou prazer (Kotler, 1998 in Oliveira, Gavira & Araújo, 2001; Tamer & Petriz, 2007).

Já Keyes e Magyar-Moe (2003 in Barros, 2006) consideram que a satisfação com a vida representa uma avaliação da vida a longo prazo.

Por seu turno, outros investigadores como Veenhoven (1991 in Barros, 2006: 13) consideram a felicidade como um sinónimo de satisfação com a vida definindo-a como “o grau com que um indivíduo julga a sua qualidade de vida global positivamente”.

Apesar da diversidade de definições, a investigação aponta para o tratamento dos dois termos (felicidade e satisfação com a vida) como sinónimos. Segundo Veenhoven (1996 in Barros, 2006: 25) uma

das vantagens em usar o termo satisfação com a vida em vez da palavra felicidade é que este enfatiza o caráter subjetivo do conceito, enquanto que a palavra felicidade é também usada, especialmente pelos filósofos, quando se querem referir a um bem objetivo. Além disso, o termo

satisfação com a vida tem uma vantagem sobre o da expressão felicidade, pois refere-se a uma

avaliação global da vida, em vez de emoções momentâneas.

No estudo de Resende et al. (2006), com o grupo de teatro “Os Mais Vividos” constituído por 12 idosos, com a idade média de 68 anos, constatou-se que as “pessoas que apresentam maior satisfação com a vida foram as que recebiam mais suporte afetivo, ou seja, parece que participar no grupo “Os Mais Vividos” proporciona aos seus integrantes sentimentos de compreensão, atenção e companheirismo”. Para Rodriguez e Cohen, (1998 in Resende et al., 2010: 601) “o apoio social é considerado capaz de gerar efeitos benéficos tanto para a saúde física como mental, guardando uma

30

estreita relação com o bem-estar”. Assim, segundo Resende et al. (2010), as pessoas participantes neste projeto sentiram-se estimadas e valorizadas, o que as auxiliou a sentirem-se integradas no grupo, com o qual se identificaram e no qual encontraram motivação. Tal motivação parece ter-lhes atribuído um novo significado à vida. Para os mesmos autores (Resende et al. 2010: 601), os dados deste estudo “corroboram a afirmação de Freire e Resende (2001), quando dizem que a busca e a realização do sentido pessoal representam uma nova perspetiva de promoção de bem-estar, de enfrentamento e de adaptação, porque possibilita ao indivíduo experimentar uma continuidade no crescimento pessoal, mesmo vivendo as perdas e o declínio físico associados ao envelhecimento”.

No estudo de Ferraz e Peixoto (1997) – “Qualidade de vida na velhice: estudo em uma instituição pública de recreação para idosos” - salientam-se as conclusões atinentes à importância das atividades físicas, mentais e intelectuais que, muitas vezes, são interrompidas quando as pessoas deixam a vida laboral. Assim, os idosos participantes neste estudo “encontraram na instituição, alternativas de manutenção do convívio social e de envolvimento em atividades físicas, recreativas e ocupacionais, levando-os a ter uma perceção de autorrealização, felicidade e bem-estar, parâmetros mais significativos na avaliação de qualidade de vida” (Ferraz & Peixoto, 1997: 334). Segundo os mesmos autores, um dos aspetos fundamentais para a perceção da felicidade “é o convívio social, através da integração do idoso em grupos onde se sinta amado, respeitado, útil (…)” (Ferraz & Peixoto, 1997: 334).

No estudo de Valentini e Ribas (2003) – “Terceira idade: tempo para semear, cultivar e colher” – reflete-se sobre a necessidade de organizar atividades para este coletivo, numa perspetiva de educação permanente, dando-lhes a oportunidade de desenvolverem as suas capacidades e a motivação para vivenciar a velhice de uma forma positiva. Assim, concluem que “há que se organizar atividades educativas sugerindo estímulo à afloração de habilidades adormecidas e cultivo de novos paradigmas que direcionariam a uma estruturação mais coerente de comportamento e formação de hábitos nos idosos, de forma com que esses ampliassem as suas perspetivas de vida com qualidade e bem-estar” (Valentini & Ribas, 2003: 143). Os mesmos autores sugerem ainda, que estas atividades sejam baseadas em valores sociais, afetivos e humanos, para proporcionar aos idosos equilíbrio e conforto emocional, fundamental para um envelhecimento saudável (Valentini & Ribas, 2003).

Assim, é necessário que a sociedade una esforços no sentido de desenvolver o potencial dos idosos, para que desfrutem de um envelhecimento saudável e ativo.

A investigação aponta para que as medidas de promoção do envelhecimento ativo possam ir desde programas de atualização de conhecimentos numa lógica de aprendizagem ao longo da vida,

31

aos programas de animação sócio-cultural e, mais especificamente, animação teatral, através dos quais se objetiva a ressignificação da velhice, dando ao idoso um papel ativo e intencional no seu processo de desenvolvimento.