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Policy making & policy decision nas dimensões do governo eletrónico

CAPÍTULO 2 – OS IMPACTOS NA SOCIEDADE DA INFORMAÇÃO

2.5 Policy making & policy decision nas dimensões do governo eletrónico

Na obra ‘Cidadania Digital’84 os autores revelavam algumas inquietações, decorrentes das análises desenvolvidas a realidades diversas, cujo enquadramento comum consistia nos usos que os cidadãos fazem das redes digitais, sendo referido ser a cidadania um exercício político que se pratica em ambiente digital “uma

realidade que paulatinamente vai aprofundando a ação participativa dos governados nos regimes democráticos”, questionando, porém, “se tal não deixa de

ser um simulacro de uma realidade que é apenas visionada por alguns, mas cuja ação e efeitos são irrelevantes para os que efetivamente controlam o poder”.85 Nesse contexto constata-se serem bandeiras das governações as apresentações dos objetivos dos programas, as apostas nas qualificações, na inclusão, na acessibilidade em e com as TIC, na valorização da simplificação e na melhoria da prestação de serviços públicos aos cidadãos e às empresas, na modernização da administração pública no sentido de uma Administração Pública eletrónica, na disponibilização de conteúdos digitais e de infraestruturas e serviços em banda larga, no reforço das redes de colaboração, na criação e na transferência do conhecimento e das tecnologias emergentes, no estímulo à internacionalização e na observação e benchmarking da utilização e desenvolvimento das TIC86.

As instituições políticas e administrativas têm sido beneficiadas com uma oportunidade singular para ampliar a sua presença perante os cidadãos e, por outro, as faculdades proporcionadas pela Internet passaram a ser entendidas como possíveis instrumentos privilegiados no relacionamento entre aquelas e os cidadãos, podendo vir a proporcionar condições para um maior envolvimento em futuros processos de poIicy making e policy decision87, embora na prática os Estados tenham aparentemente estabelecido como primeira prioridade retirar desse processo tecnológico o melhor partido possível, nomeadamente quanto à sua rentabilização em termos de reorganização estrutural e, a título de exemplo,

84 Obra organizada por Isabel Salema Morgado e António Rosas – Coleção Pesquisas em comunicação –

2010 - ISBN: 978-989-654-051-7 (Consultado em 2014-01-18)

85 http://www.livroslabcom.ubi.pt/book/7#sthash.nDsAGLKa.dpuf (Consultado em 2’014-03-10)

86 Fonte - UMIC – Agência para a Sociedade do Conhecimento, IP-Documento de trabalho (2010) Disponível

em www.ama.pt/index2.php_option=com_docman&task=doc_view&gid=78 (Consultado em 2014-03-10)

87 In Cidadania Eletrónica – Cidadania e Governo na Sociedade da Informação [Em Linha] disponível em

http://www.umic.pt/images/stories/osic/DossierDemocraciaElectronicaVersaoWebsite_23_Dez.pdf (Consultado em 2011-06-19)

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num eficaz processo de arrecadação de receitas, (Figura 13) ou na gestão dos fluxos de fundos.

A este propósito, o relatório do Observatório da Sociedade da Informação e do Conhecimento (2002 – 2006)88 evidenciava que embora a emergência de novas formas de participação política dos cidadãos, ao nível global, se apresentassem

Figura 13 – Campanha promocional para a submissão das declarações do IRS89

como uma das dimensões da SI mais enunciadas e publicitadas pelos atores políticos, a reinvenção da democracia numa perspetiva de base eletrónica, para vir a fixar-se no desenvolvimento de novos instrumentos tecnológicos ao serviço da participação política dos cidadãos, pressupunha a criação de condições que garantissem o acesso equitativo a estes instrumentos, de modo a evitar a exclusão de extratos da população que, por razão diversa, ainda se mantinham numa lógica de exclusão em relação às novas tecnologias. Acrescentava-se no mesmo relatório que “a democraticidade da SI ao nível da difusão das infraestruturas que garantam

um acesso universal às TIC e a disseminação das competências necessárias à sua efetiva utilização assumem-se como requisitos para o objetivo consubstanciado na democracia eletrónica."

Com o início do novo século, nomeadamente em 2001, surgiu um conjunto de publicações contendo dados relativos à disponibilização de serviços de governo eletrónico e processos de avaliação de políticas públicas para a SI produzidos a

88 14 Relatório do Observatório da Sociedade da Informação e do Conhecimento (2002 – 2006) [Em Linha] –

disponível em

http://www.umic.pt/images/stories/osic/DossierDemocraciaElectronicaVersaoWebsite_23_Dez.pdf [Consultado em 2011-06-19]

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partir de indicadores dos serviços de governo eletrónico disponibilizados e à presença online das administrações públicas, onde se incluía a portuguesa. É o caso de um estudo das Nações Unidas (ONU) sobre governo eletrónico, integrando um conjunto de dimensões, para a elaboração de um indicador global de e- readiness90.

A primeira dessas dimensões referia-se à presença na Internet que era caraterizada através da tipificação de cinco níveis de presença, referenciados como ‘emergente’, ‘reforçado’, ‘interativo’, ‘transacional’ e ‘em rede’ (Figura 14). A segunda dimensão agregava um conjunto de variáveis de caracterização da infraestrutura de telecomunicações, onde os valores mais elevados correspondiam a uma maior disponibilidade de equipamentos, redes e serviços. A terceira dimensão referia-se ao capital humano, sendo baseada em indicadores do Programa de Desenvolvimento das Nações Unidas (PNUD), sobretudo para a área da educação e a quarta dimensão respeitava ao nível de participação permitida aos cidadãos através dos serviços de governo eletrónico, ponderando três níveis distintos como a ‘informação’, ‘consulta’ e ‘participação na tomada da decisão final’91.

Figura 14 – URL da UN-DESA92

De acordo com os indicadores recolhidos no contexto anteriormente referido e respeitantes ao ano de 2010 (últimos indicadores publicados por aquela Entidade), os resultados apontavam para um afastamento de Portugal face à média da União Europeia, sustentada na ausência de mecanismos de interação entre a administração e os administrados, constatando-se a disponibilização de

90 Meio de retratar a situação das infraestruturas das tecnologias da informação e comunicação de um país

recorrendo a critérios quantitativos e qualitativos. Fonte (UNDESA)

91 Fonte - UN Department of Economic and Social Affairs (UNDESA)

Disponível em http://www2.unpan.org/egovkb/about/index.htm (Consultado em 2011-06-15)

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ferramentas suportadas online que agilizariam os procedimentos, mas que, em última instância, mais serviam os interesses económicos e financeiros do Estado, não sendo percetível a disponibilização de recursos conducentes ao exercício de ações participativas por parte dos cidadãos.93 Como referiam os pressupostos do estudo das Nações Unidas citado, era dada atenção especial nos inquéritos ao nível de participação dos cidadãos na vida pública, através de meios eletrónicos, e eram os países com maiores índices de participação que apresentavam melhores posições no ranking global (Países do Norte e Centro da Europa).94

O cenário atrás descrito conduz a acreditar-se que tendo os Estados aproveitado os princípios residentes nas políticas da UE para as áreas tecnológica, num percurso digital mais abrangente e consequentemente com a transposição de diretivas comunitárias para as legislações nacionais, tem existido um cenário de aproveitamento político por parte dos governos, com base nos impactos positivos das TIC na opinião pública, muito no sentido da melhoria da eficácia do setor administrativo do Estado. Todavia, encontramos em Vidigal uma posição muito crítica quanto às políticas ligadas aos projetos tecnológicos em Portugal quando afirmou, com algum desencanto aparente, que se a administração pública continuasse a fazer as coisas como até então e não alterasse os seus valores e as suas atitudes, o dinheiro que se estava a gastar em qualquer plano tecnológico não iria resultar na melhoria dos serviços aos cidadãos, “mas decerto iria avolumar a burocracia eletrónica que apenas serve para alimentar territórios de poder e feiras de vaidades" (VIDIGAL, 2010)

Competindo a cada entidade pública a opção quanto aos termos da disponibilização do espaço consignado à participação dos cidadãos nos seus sítios na Internet, parece relevante ter ocorrido em Portugal a criação e a coexistência de pequenas redes regionais de base digital (Figura15), que têm permitido o suporte no acesso à rede por parte das autarquias locais e a disponibilização aos cidadãos do acesso a redes sem fios, no sentido de alargar a democratização no acesso à Internet, facto que revela o papel que o poder local tem assumido neste contexto. Com base em critérios de análise política poder-se-á sempre questionar se esta abertura de canais aos atores sociais de uma freguesia, de uma cidade ou de um município tenderá a inserir-se numa estratégia comum, dirigida, quiçá em primeira instância à inovação, à inclusão social e à participação cívica, ou numa mudança de paradigma ao transformar a lógica do serviço público, numa perspetiva que considere o cidadão como parceiro na busca das melhores soluções. Por outro lado, a criação destas redes de acesso à Web não coincidiu necessariamente com

93 Fonte – Division for Public Administration and Development Management (DPADM) of the United Nations

Department of Economic and Social Affairs (UNDESA)

Disponível em http://www2.unpan.org/egovkb/global_reports/10report.htm (Consultado em 2011-06-11)

94 Comentários e outros dados estatísticos disponíveis em

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a abertura de canais de interação entre as administrações e os cidadãos, que passaram a dispor, na esmagadora maioria dos casos, apenas de um acesso gratuito e ainda assim com limitações técnicas, à Internet.

Figura 15 – Portal “Cidades Digitais”95