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1. UM PANORAMA DAS ESQUERDAS NOS ANOS

1.4 A Polop desmembra-se

O imperativo prático de sobrevivência política impunha suas regras e dificuldades. A POLOP, depois de surgir em 1961, realizou outros três congressos: em 1963, 1964 e, o último, em 1967, quando a organização rachou. O grupo de Minas Gerais e alguns membros da Guanabara criaram o que veio a ser os Comandos de Libertação Nacional (COLINA), ao lado de militantes de movimentos de militares. Nomes como Maria do Carmo Brito, Juarez Guimarães Brito e Carlos Alberto de Freitas estavam nesse processo. Dilma Vana Rousseff e Fernando Pimentel depois se somariam. Vinda de São Paulo, outra seção da POLOP aproximou-se de Onofre Pinto, ex-sargento, e formou a Vanguarda Popular Revolucionária (VPR). Os dois agrupamentos, atacados pela repressão, formaram – em 1969 – a Vanguarda Armada Revolucionária – Palmares (VAR-Palmares).

Aqueles que não foram para os COLINA nem para a VPR, uniram-se à Dissidência Leninista do Rio Grande do Sul, vinda do PCB, dando origem ao Partido Operário Comunista (POC). Marco Aurélio Garcia, Flávio Koutzi e Nilton Santos estavam lá70.

69 Ibidem. Pg. 148.

70 Mattos, Marcelo Badaró. “Em busca da revolução socialista. A trajetória da POLOP (1961-1967)”. In: Ridenti, Marcelo; Reis Filho, Daniel Aarão (org.). História do Marxismo no Brasil – partidos e

Com bases no Rio Grande do Sul, São Paulo, Minas, Rio de Janeiro, Paraná, Bahia e Pernambuco, o POC buscava fazer um trabalho de agitação entre operários e estudantes. Chegaram a editar dois periódicos, o União Operária e o Universidade

Crítica. Seu primeiro congresso reivindicava o Programa Socialista para o Brasil71.

Em junho de 1968, o Comitê Nacional do POC editou um documento chamado

Por uma prática partidária. O objetivo era refletir sobre os limites da sua própria

organização. Ao mesmo tempo em que o POC reconhece que seu traço distinto é a ênfase dada ao protagonismo da classe operária, percebe como sua maior debilidade a incapacidade de intervenção no interior da classe. Mais do que isso, anuncia as dificuldades de ganhar militantes oriundos da classe operária, formar ativistas para intervir em nome do partido e mesmo ganhar novos membros em geral. A grande questão no texto trata-se de como sobreviver. Esse dilema é existente em praticamente todas as organizações do período. Reflete, aliás, o clima de cerco da ditadura, com o qual as possibilidades de ação estavam cada vez mais esgarçadas. A postura autocentrada também fica muito nítida, quando se questiona a ação unitária entre organizações socialistas.

“A prática mostrou e continua mostrando que todas as alianças feitas com outras organizações tornaram-se precárias para nós quando estendidas à atividade prática no seio da classe operária. Isso ocorre pelo simples fato de que não pudemos, ainda, oferecer uma alternativa prática, clara e definida no nível da militância revolucionária no seio do proletariado72”.

A citação acima demonstra uma dificuldade geral de ação. Quanto mais difícil se tornava agir publicamente, mais centradas em si mesmas as organizações ficavam. Curiosamente, a disposição de partir para a luta armada aumentava conforme se intensificavam os tormentos da ditadura. Isso levou o POC à divisão em março de 1970, após as resoluções da Conferência de São Paulo. As diferenças quanto à luta armada e questionamentos ao PSPB levaram à criação da Organização organizações dos anos 1920 aos 1960, V 5. Campinas. Unicamp, 2002. Pgs. 198-199.

71 Silva, Antonio Ozai da. História das tendências no Brasil: origens, cisões e propostas. São Paulo. DAG, 1986. Pg. 124.

72 Reis Filho e Ferreira de Sá. Imagens da Revolução. Documentos Políticos das organizações

Comunista Marxista Leninista – POLOP, a qual se manteve fiel ao documento. A OCML-POLOP era chamada de PO (Política Operária)73.

O novo grupo surgiu com contatos em São Paulo, Minas Gerais, Bahia, Paraná, Pernambuco e, principalmente, no Rio de Janeiro. Possuía entrada, sobretudo, no movimento estudantil e algum contato com círculos operários. Do ponto de vista programático, dava ênfase no trabalho operário. Seu documento fundador chama-se Declaração Política, datado em abril de 197074.

Neste, destaca-se que o maior problema da esquerda se dava pela falta de inserção no seio do proletariado e pelo predomínio de ideias e métodos pequeno- burgueses. A tarefa central da esquerda consistia em tornar-se proletária. Entendem que o fracasso das direções reformistas e o fim da ilusão quanto ao caminho pacífico abriram espaço para uma política revolucionária. A luta armada e seus feitos exemplares não poderiam, entretanto, substituir o trabalho no seio da classe, o qual deveria se dar através dos polos proletários. A PO criticava o desvio militarista, que afastou um conjunto de militantes da prioridade política, ou seja, atuar com os operários. Afirmavam que a ditadura militar, dado o estado de miséria e exploração do povo, mantinha uma estabilidade frágil, a qual, em algum momento, enfrentaria levantes de indignação. Para dar vazão ao sentimento de revolta, seria necessário organizar um partido político com organizações operárias dispersas e embrionárias, em uma direção anticapitalista75.

Mal surgida, a OCML-POLOP sofreu críticas no seu interior em relação ao dogmatismo de suas posições. As linhas gerais eram consideradas corretas, embora o exagero ideológico agisse no sentido de impedir o crescimento da influência da organização. Os responsáveis por essas críticas criaram a Fração Bolchevique.

73 Mattos, Marcelo Badaró. Em busca da revolução socialista. A trajetória da POLOP (1961-1967). In: Ridenti, Marcelo; Reis Filho, Daniel Aarão (org.). História do Marxismo no Brasil – partidos e

organizações dos anos 1920 aos 1960, V 5. Campinas. Unicamp, 2002. Pg. 198.

74 Reis Filho e Ferreira de Sá. Imagens da Revolução. Documentos Políticos das organizações Reis Filho e Ferreira de Sá. Imagens da Revolução. Documentos Políticos das organizações Clandestinas

de esquerda dos anos 1961-1971. São Paulo. Expressão Popular, 2006. Pg. 364. 75 Idem. Pg. 369.