• Nenhum resultado encontrado

6. DO II CONGRESSO AO MCR

6.1 Resoluções do II Congresso

O II Congresso ocorreu em junho de 1982, em São Paulo. Embora rachado, resoluções e orientações políticas foram deliberadas. Em novo estatuto, o MEP se definia da seguinte maneira:

“Tendo como base teórica o marxismo-leninismo e assumindo o centralismo democrático como princípio de organização, nós nos constituímos enquanto uma Organização comunista, com o objetivo de participar ativa e organizadamente das lutas de nosso povo, promover o internacionalismo proletário, desenvolver a fusão do socialismo científico com o movimento operário vivo, construir o partido comunista de vanguarda da luta pelo socialismo, pela completa emancipação das classes trabalhadoras e pelo comunismo”284.

Reafirma como órgão máximo o seu Congresso Nacional, instância que escolhe o Comitê Nacional e estabelece as premissas a serem seguidas até o próximo Congresso. Volta assinalar o centralismo democrático como método de atuação 282 Ivan Valente nos ajudou a recompor o quadro dessa polêmica, em entrevista concedida em 06 de abril de 2019.

283 A respeito do debate acerca da concepção de partido, mais para frente, os militantes que permaneceram no MEP passaram a defender a tese de um partido socialista, democrático e de massas, composto por quadros e filiados.

interna. Proíbe a existência de frações, embora aceite tendências em época congressual. Define como critérios de militância a concordância com o programa da organização, a participação ativa nos fóruns do MEP e nos movimentos políticos, a aceitação das normas de comportamento de segurança e na prisão, além da contribuição sistemática em termos materiais. Aponta advertências em caso de faltas sem justificativas e ausência de contribuição, podendo ser suspensão ou mesmo expulsão.

Do ponto de vista do programa, reafirma o Brasil como monopolista dependente. O país possuí na indústria moderna seu elemento mais dinâmico, ainda que dependente de tecnologia e capital externos. Este, aliás, amarra o país através da dívida externa. Logo, os setores preponderantes da economia são o industrial e o financeiro. Aponta que o desenvolvimento do capitalismo fez surgir um grande setor agropecuário. Este mesmo desenvolvimento exige para o seu funcionamento um Estado altamente centralizado e repressivo. Ainda em relação à crítica ao desenvolvimento capitalista no Brasil, entende que este é incapaz de elevar o padrão de vida e dar soluções democráticas para as questões nacionais. Contraditoriamente, a evolução capitalista criou as bases materiais para a construção do socialismo.

Do ponto de vista política, a classe trabalhadora continua sendo responsável pelo trabalho de sua própria emancipação. Para tanto, o Estado e a divisão da sociedade em classes sociais precisam ser abolidos. O MEP se coloca como parte dessa tarefa histórica, ao lado dos trabalhadores. Tarefa essa a ser levada adiante, sobretudo, pela classe operária, com os camponeses pobres, trabalhadores em processo de proletarização, artesãos, intelectuais progressistas.

O caminho aponta se ancora na Revolução de Outubro, ou seja, a aposta na insurreição operária, com base nos órgãos de poder construídos pela classe no processo de desenvolvimento das lutas. Posta a realidade brasileira, as exigências mínimas para se fazer avançar a mudança socialista são285:

• Extinção dos órgãos de repressão.

• Anistia ampla para todos que enfrentaram a ditadura militar.

• Extensão do direito dos votos a quem o tem negado, como militares de baixa patente e setores do funcionalismo público.

• Revogação do código civil, igualdade perante a lei entre homens e mulheres, respeito às tradições culturais, fim de qualquer punição pela prática do aborto, fim da discriminação de cor e sexo, liberdade de culto religioso.

• Eleições livres e diretas para todos os cargos governamentais. Criação do uma Assembleia Popular, composta pelo povo, para elaborar uma nova Constituição.

No que se refere à melhoria da qualidade de vida, aponta: • Elevação geral dos salários.

• Eliminação das horas-extras. Estabelecimento da jornada de oito horas diárias e seis horas para trabalhos degradantes.

• Fim do desemprego.

• Universalização da previdência e assistência social.

• Congelamento dos preços considerados estratégicos, como os de produtos que compõe a cesta básica e os aluguéis.

• Nacionalização da medicina.

• Programa nacional de construção de moradias populares. • Universalização do acesso à educação.

• Extensão dos direitos dos trabalhadores da cidade para os do campo.

Reafirmam a necessidade de nacionalizar os monopólios, controle operária da produção e distribuição de mercadorias. Aspectos relativos à independência nacional e a reforma agrária.

Sobre a resolução partidária, elaboram novas definições286. Começam por

comentar o desenvolvimento da luta de classes no século XX e a centralidade do partido político. A novidade em questão trata-se da perspectiva em relação ao Partido dos Trabalhadores. Afirma que existem no interior do PT correntes “autonomistas” que trabalham com uma noção vaga de partido da revolução. Por isso, abrem mãos da tradição leninista. Mais do que isso, entendem que a concepção de partido comunista encontra-se historicamente superada. Para o MEP, continua sendo central o leninismo. Outra crítica apontada direciona-se às correntes que pretendem “bolchevizar o PT”. O MEP entende que essa perspectiva limita o potencial do PT como aglutinador dos diversos movimentos populares de dos trabalhadores. Logo, a linha deveria ser a de constituir um polo comunista do PT que seria o embrião da formação do partido revolucionário. O MEP se entende como uma das forças políticas mais aptas para essa tarefa, ao lado ala esquerda do PCdoB (Ala Vermelha).

Com o foco, então, de unificar os comunistas propõe um conjunto de tarefas: avançar em direção à unificação dos comunistas, fortalecer a unidade no campo de intervenção nos diversos movimentos, fortalecer a imprensa legal e clandestina, dotar o MEP de funcionamento partidário e desenvolver a organização de base. Para dar conta da aproximação com outras organizações, sugerem a superação do “patriotismo de partido”, de modo a construir pontes mais camaradas de contato. Sintetizam a ideia propondo o aprofundamento da questão programática, a consolidação da concepção leninista de partido, a divulgação das resoluções congressuais na imprensa partidária, o avanço no trabalho de massas, a criação de cursos de formação militante e publicação regular da tribuna de debates.