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5. CRESCIMENTO, NACIONALIZAÇÃO E CHEGADA DO PT

5.1 A volta do movimento operário

Depois de dez anos das grandes greves de 1968, que tiveram maior impacto em Osasco e Contagem, o movimento operário volta a surgir, abrindo uma nova janela na história do movimento dos trabalhadores. Em meados dos anos 1970, as oposições sindicais tentavam mobilizar as bases, na contramão da ditadura e da estrutura sindical controlada por pelegos. Pequenas mobilizações nunca deixaram de ocorrer, como bem retrata o jornal Nova Luta, todavia essas eram dispersas e seus atores contavam com pouco elaboração em nível de consciência política. Anos de arrocho salarial, aumento do custo de vida e repressão criavam um caldeirão de pólvora. O abrandamento da censura à imprensa permitiu a veiculação de matérias que denunciavam a manipulação em índices de inflação e na correção salarial. Esta parece ter sido a senha que fez explodir uma greve espontânea na Scania, em 12 de maio de 1978, em São Bernardo do Campo. Os operários resolveram cruzar os braços em frente às máquinas. A mobilização seguiu como rastilho, envolvendo outras fábricas. A figura de Luiz Inácio Lula da Silva apareceu neste momento no cenário nacional. No ano seguinte, nova greve. Dessa vez, mais preparada pelo Sindicato dos Metalúrgicos do ABC. A mobilização grevista começou em 13 de maio de 1979. Os operários desafiaram as leis da ditadura para empenhar seu movimento. Houve repressão e intervenção no sindicato. Reuniões e assembleias ocorriam dentro da Igreja e na Praça Matriz de São Bernardo. A justeza das reivindicações, centradas no reajuste salarial, logo conquistou apoio de amplas parcelas da opinião pública, intelectuais, estudantes, mobilizando o conjunto das 214 Contribuição enviada por escrito por Luiz Arnaldo, em 05 de maio de 2019.

forças democráticas215.

Não só no ABC havia agito operário. Em 1978, os metalúrgicos de São Paulo também pararam, à revelia do sindicato, então comandado pelo Joaquinzão. Em 1979, a oposição metalúrgica na cidade de São Paulo - composta por organizações clandestinas, lideranças independentes e fortemente alicerçada nas bases da igreja católica – conseguiu organizar uma grande paralisação. O comando de greve suplantou a direção do sindicato e chegou a criar cinco subsedes nos bairros para articular melhor as reivindicações216. Foi no contexto dessa luta que tombou com um

tiro no peito o operário Santo Dias, fato que aumentou ainda a mobilização.

Já em 1980, nova greve geral dos metalúrgicos ocorreu, tendo São Bernardo como epicentro. Durou 41 dias, com direito a prisões das lideranças, Lula incluso, novas intervenções no sindicato, repressão nas ruas e assembleias históricas na Vila Euclides217. Embora as demandas não tenham sido atendidas, o saldo político

desses anos de luta operária era inegável. Consolidava-se ali o chamado sindicalismo autêntico. Surgia dessas experiências a compreensão da necessidade de se formar um partido dos trabalhadores, capaz de levar para a esfera política as pautas econômicas. Ainda que toda essa explosão tenha tido o ABC Paulista como centro, lutas operárias pipocavam em todo o país.

O MEP esteve presente nesse momento de efervescência, saudando os grevistas com entusiasmo. A perspectiva de retomada das lutas operárias era esperada desde o surgimento do grupo. Para uma organização que compreendia que o processo de transformação derivava justamente da participação política da classe trabalhadora, a entrada em cena desses atores acendia a expectativa da mudança. O MEP desenvolvia uma política de incentivo das oposições sindicais. Conseguiu algum retorno, sobretudo, em Osasco, São Paulo, Rio de Janeiro e Niterói. Apostava também na construção de comitês da fábrica e círculos operários, 215 Frederico, Celso. A esquerda e o movimento operário (196401984) – a reconstrução. Vol. 3. Editora Oficina de Livros. Belo Horizonte, 1991. Pg. 14.

216 Idem. Pg. 20. 217 Ibidem. Pg. 17.

espaços dedicados à formação de militantes, que deveriam atuar no sindicato mesmo este estando atrelado ao Ministério do Trabalho e amarrado pelas direções pelegas. Sem embargo, sempre houve empenho no sentido de construir uma intervenção junto ao proletariado.

Em São Paulo, Miguel Carvalho comenta que o trabalho do MEP na oposição metalúrgica começou em meados de 1977. A organização participou da greve de 1978. Nessa época, existiam algumas células operárias. Na zona sul de São Paulo, era composta por Lurdinha, Almeidinha, pelo próprio Miguel e outros militantes. A assistente era Maria, militante vinda do Rio de Janeiro após as prisões. Havia também em Osasco, onde se destacavam Waldir e Manetão. Por Guarulhos, o dirigente era o Albertão. Posteriormente, o MEP veio a ter alguma entrada no ABC. A organização ajudou a chapa da oposição metalúrgica em São Paulo, em 1979, e participou efetivamente da disputa de 1981, quando a chapa da oposição era encabeçada por Waldemar Rossi. Miguel compôs a chapa pelo MEP.

No Rio de Janeiro, o grupo tinha atuação na oposição metalúrgica na própria capital e presença de destaque entre os metalúrgicos de Niterói. Nessa cidade, o MEP dirigiu a primeira grande greve operária no Estado do Rio de Janeiro desde 1964, ocorrida em 1979. Ainda neste ano, participou da eleição vitoriosa do sindicato dos metalúrgicos, constituindo uma das primeiras diretorias combativas do estado. Mais tarde, o MEP teve assento na diretoria do sindicato dos metalúrgicos de Volta Redonda, atuando em novas greves218.

Em Minas Gerais e Pernambuco houve alguma influência219. No estado nordestino

em questão, o MEP atuou na oposição Metalúrgica de Recife, cuja liderança João Paulo foi posteriormente eleito prefeito da capital pelo PT. Nacionalmente, o MEP chegou a se envolver no Encontro Nacional de Trabalhadores em Oposição à Estrutura Sindical (ENTOES), ocorrido em setembro de 1980, sem grandes retornos.

Um interessante trabalho coletivo, resultado da disciplina “Economia Política e 218 Contribuição enviada por escrito por Luiz Arnaldo, em 05 de maio de 2019.

Vida Política”, do curso de Ciências Sociais da USP, no 2º semestre de 1981220,

analisa diversas posições a respeito das polêmicas do mundo sindical, a partir da leitura dos periódicos de algumas organizações políticas, dentre as quais o MEP com seu jornal Companheiro. Vale aqui pontuar algumas opiniões. Em relação à unicidade e ao pluralismo sindical, defende que o pluralismo, embora apareça como algo democrático, serve à divisão do movimento. Considera que a unicidade sindical, como pode ser sintetizada com a criação da CUT, é a que deve ser encarada pelo sindicalismo autêntico221. Quanto à contribuição sindical, se posiciona contrariamente

pontuando a independência frente ao Estado, embora defenda a permanência pontual enquanto o movimento não se estrutura de maneira adequada222. A respeito

da avaliação do movimento sindical, afirma que este possui duas tendências: pelegos e autênticos. Enquanto os primeiros defendem os interesses dos patrões e do Estado, os segundos avançam em defesa dos direitos dos trabalhadores223. A

respeito da CUT, defende a sua criação em 1982 e a formação de uma comissão pró-CUT. Alinha-se à “CUT pela base”224. Sobre as formas de luta, afirma que a

greve geral é a principal arma do movimento sindical225. Quando o assunto é a

Assembleia Geral Constituinte, não há posição clara226. Defende a reforma agrária

radical, a expropriação de terras e ocupação por posseiros e favelados227. Considera

que a Conferência Nacional da Classe Trabalhadora (CONCLAT), ocorrida em agosto de 1981, foi um sucesso, pois serviu para organizar as lutas sindicais e por conferir aos trabalhadores a noção de que estavam sendo protagonistas de um fato histórico228.

220 Araújo, Braz José. A imprensa alternativa e a Conclat. In: Frederico, Celso. A esquerda e o

movimento operário (196401984) – a reconstrução. Vol. 3. Editora Oficina de Livros. Belo Horizonte,

1991. Pg. 259 221 Idem. Pg. 267. 222 Ibidem. Pg. 274. 223 Ibidem. Pg. 280. 224 Ibidem. Pg. 288. 225 Ibidem. Pg. 295. 226 Ibidem. Pg. 299. 227 Ibidem. Pg. 303. 228 Ibidem.. Pg. 311.