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2017 REUNIÃO dos Produtos das Oficinas, Folhetos e

POR UMA ECOLOGIA DE SABERES

Para Carolina Tokarski, (2009) a extensão enquanto inovação pedagógica, é uma iniciativa relativamente recente, e conduz a possibilidade de ser direcionada aos estudo dos

grandes problemas nacionais e locais, possibilitando a participação das populações enquanto sujeito.

A extensão compreendida enquanto comunicação, diálogo, troca de saberes sistematizados, acadêmico e popular, é uma construção teórica recente no Brasil e remonta o contato com os ideais do movimento de Córdoba na década de 40 e mais tarde na década de 70 na obra de Paulo Freire. (op. cit. p.63)

Para essa autora tais atividades e com tal concepção, não isentaria de modo algum o rigor acadêmico e ao meu ver prepararia para um realidade concreta muito mais próxima da realidade que ele vai enfrentar ao sair dos muros da academia.

Tomando a realidade como referência do fazer pedagógico a formação universitária, torna-se campo de experimentação tanto da aprendizagem colaborativa como na vivencia de problemas concretos da sua própria condição de sujeito, preparando-o para desafios futuros a serem enfrentados com mais conhecimento da história.

O protagonismo exercido pelos estudantes em realidades com carência de recursos favorece o desenvolvimento da liderança, da flexibilidade do trabalho em equipe, da solidariedade e da capacidade de lidar com incertezas.

A extensão cumpre a sua função de conectar a universidade em suas atividades de ensino e de pesquisa e sua articulação com a comunidade, fugindo do reducionismo de formadora de profissionais e produtores de conhecimento, mas sobretudo formar cidadãos comprometidos pela superação das diferenças e desigualdades sociais.

O medo de que essa prática fosse esquecida passou a se materializar nas conversas das marisqueiras em todas as 12 comunidades. Dar significado às narrativas desse grupo feminino de trabalhadoras da pesca artesanal, tentando compreender e estimular o percurso da sua escolaridade como meio de desenvolvimento e formação humana, combinando a educação dos filhos e o papel tradicional da mulher, mãe e trabalhadora, constituiu-se num desafio teórico e metodológico a ser experimentado, usando a criatividade e o compromisso com a educação popular na sua essência.

Foi através do conhecimento de 12 colônias de pesca artesanal que pudemos identificar as demandas e subjetividades desse segmento social de mulheres trabalhadoras da pesca artesanal, que nos permitiu traduzir essas demandas em conteúdos curriculares para serem desenvolvidos coletivamente, sendo esse o sentido e o significado da oferta de um

novo desafio, desta vez voltado apenas para uma comunidade, o que se efetivou através de um componente curricular12.

Por estar geograficamente mais próxima de Salvador e ser a comunidade que mais evidenciou a sua preocupação com o apagamento da prática das marisqueiras, elegemos a comunidade de Passé situada no município de Candeias, como espaço de atuação da nossa proposta de trocas de saberes, tendo como foco vivenciar experiências de aprendizagens.

Foi ofertado então o componente Atividade Curricular em Comunidade e em Sociedade (ACCS) Práticas Educativas em EJA e Desenvolvimento Humano, em Comunidades Tradicionais: Marisqueiras de Passé Candeias. A participação no Componente implicou em estudos da educação em espaços não formais baseando-se nos preceitos da interdisciplinaridade. As atividades formativas foram desenvolvidas visando a formação e preparação dos estudantes tendo como referência a pesquisa-ação na comunidade, na perspectiva do protagonismo social feminino.

As ações de cunho sócio educacional buscavam priorizar o empoderamento e a valorização da mulher trabalhadora da pesca na perspectiva da sustentabilidade e educação ambiental, visando o protagonismo desta comunidade de mulheres sob a dinâmica da troca de saberes e produção de conhecimento, agregando qualificações, habilidades, criatividade e inovação.

Das narrativas das marisqueiras as queixas mais frequentes, principalmente as mais experientes, uma recaia sobre a universidade de modo geral, “que retira as informações das pessoas da comunidade, da vida na maré, seus saberes e depois desaparecem sem deixar nada para a comunidade, sem prestar conta do que fizeram”.

Por essas e outras queixas, e principalmente por reconhecer a veracidade da informação, a equipe decidiu não confirmar essa cultura e adotar uma postura contrária a essa queixa, informando dos produtos acadêmicos produzidos e onde encontra-los.

Durante a execução dos ACCS13as estudantes de Graduação (Regina Lúcia Portela) e Pós- graduação de doutoramento (Ana Claudia Rozo Sandoval) produziram suas pesquisas tendo o universo das marisqueiras como referência empírica para a construção de seus trabalhos acadêmicos relatando a experiência dessa convivência e dessa troca de saberes7. A produção de todos esses trabalhos hoje faz parte do acervo e da memória do Programa disponíveis para a comunidade de pesca e do distrito de Passé como também no Repositório da UFBA8.

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PROExt/UFBA oferecido pela Faculdade de Educação Departamento I - EDCH08 (2012.2/2013.1) 13

Surge desse momento, a partir de um desejo das marisqueiras, a vontade expressa de escrever o livro. Passou a ser uma prioridade para essas mulheres escrever as suas memórias, histórias de vida, como também as revelações do significado para cada uma delas sobre o sentido da mariscagem e como foram introduzidas na pesca; constituiu-se num compromisso da equipe e delas a fim de valorizar tudo que fizemos ao longo desse período, para que a história das mulheres pescadoras artesanais de Passé Candeias pudesse ser utilizada por outras gerações, na comunidade e fora dela.

Com este ACCS foram priorizadas as narrativas das marisqueiras através de rodas de conversas, gravação e filmagem das histórias, exercício da memória, a criação de um blog9e de uma página no facebook10, em que poderia contar a história de Passé e de suas marisqueiras além das oficinas de mariscar, momento em que os estudantes da UFBA participaram de uma vivência-aprendizagem de mariscagem no mangue.

Todo esforço voltou-se para organizar todo o material produzido pelas marisqueiras, mesmo com as dificuldades expressas por algumas mulheres diante da leitura e escrita, vencidas com a oferta de oficinas temáticas, como literatura, fotografia e sensibilização artística. Os escritos das marisqueiras foram digitados, organizados e encaminhados para edição do livro.

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Os trabalhos foram produzidos sob as autorias de: Uilma Rodrigues de Matos; Claudia Rozo Sandoval e Regina Lúcia Portela entre 2013 e 2014:

III SIEPE - Seminário Integrado de Ensino, Pesquisa E Extensão –FACED/UFBA (Pôster) Marisqueiras de

Passé: saberes localizados e identidades

VIII SEMPE - Seminário de Metodologia Para Projetos De Extensão – PROEXT/UNEB (Comunicação Oral)

Extensão Universitária: espaço de formação multirreferencial?

VIII COLÓQUIO INTERNACIONAL PAULO FREIRE – FACED/UFPE (Comunicação Oral)

Narrativas das marisqueiras de Passe/Candeias:expressão do feminino no discurso silenciado

SEMEX - SEMINÁRIO DE EXTENSÃO UNIVERSITÁRIA DA UFBA – PROEXT/UFBA (Pôster)

Marisqueiras de Passé: a troca de saberes em comunidades

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