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As práticas de Slow Food investigadas nas seções anteriores são interligadas através de links estabelecidos entre compra, preparação e consumo. Por exemplo, na figura 17, podem ser observadas fotos de pratos preparados pelos entrevistados e que ajudam na identificação desses links em conjunto com as descrições dos registros fotográficos.

Figura 17: Pratos preparados pelos entrevistados

Fonte: Dados da pesquisa.

As descrições das fotos foram fornecidadas pelas próprias entrevistadas com relação ao momento de almoço. Sarah disse: “foi ovo caipira lá da feira com baião” (Sarah, 27, Caroá). Essa descrição é indicativa do consumo de um alimento produzido localmente (i.e. atributo “de produtor local”), por meio da aquisição de ovos caipira da feira, e da preparação caseira de um prato regional (baião) ocorrendo por meio da conexões entre a prática de compra e as práticas de preparação e consumo, uma evidencia de que estas se encontram interligadas. A interligação entre praticas também pode ser percebida no trecho em que um dos entrevistados revela utilizar um produto comprado na feira (tomate) para preparar molho caseiro para o momento da refeição:

“[...] eu compro muito tomate [da feira], eu experimento muito tomate maduro porque eu gosto de fazer molho de tomate quando eu chego em casa [...]” (Jessica, 58, Benfica).

O depoimento de Diana corrobora essa ideia. Nele se percebe a associação do momento de consumo à recordação do preparo e da origem de compra do alimento. Sophia também evidencia a interligação das práticas constituintes do Slow Food investigadas nesta pesquisa:

“[...] eu tô comendo e tal, aí isso é bem legal porque eu já me recordo dessa questão da sustentabilidade, da onde veio o alimento que eu tô comprando e do gosto [do preparo]” (Diana, 25, Benfica).

Eu acho...é...uma das coisas que acontece, as vezes, quando eu abro a geladeira pra eu ver o que eu vou fazer e eu vejo um produto que eu comprei lá, rola, tipo, um prazer assim de saber onde eu comprei, é legal saber de onde vem, eu acho que é o máximo assim. Não sei se é tipo um carinho maior pela comida, mas é quase um tipo de afeto assim, é legal saber de onde veio, me sinto bem vendo aquilo ali cozinhando (Sophia, 33, Caroá)

Essas práticas se manifestam na forma de práticas de compra, preparo e consumo atrelados à determinados significados, conhecimentos e materiais que possibilitam que o Slow Food seja concebido como uma prática composta e sustentável. Nesta perspectiva, podem ser relacionadas com os princípios norteadores do movimento (i.e. bom, limpo e justo), e aos seus respectivos atributos de produtos. No quadro 19 são apresentadas as conexões entre atributos de produtos bons, limpos e justos identificadas ao longo dos depoimentos dos participantes da pesquisa para cada uma das práticas de Slow Food investigadas nas seções anteriores.

Fonte: Elaborado pela autora (2020).

Por exemplo, as percepções dos entrevistados acerca do princípio bom variam de acordo com a prática. Nesse sentido, atributos associados à noção de bom alimento identificada na prática de preparação (e.g. saudável, sazonal, orgânico/agroecológico, nutritivo e saboroso/gostoso) variam com relação ao que representaria o princípio de bom alimento na prática de compra, na qual o atributo “de produtor local” foi mais levado em conta pelos entrevistados pelo seu significado de contribuição social, no sentido de ajudar o pequeno produtor por meio da compra. Dentro desta perspectiva, variações de percepções de atributos entre as práticas foram observadas com relação aos três princípios.

Com base no quadro, os atributos mais representativos na visão dos entrevistados ao longo dos depoimentos são: “saudável”, “sazonal” e “saboroso/gostoso”. Esses atributos decorrem, principalmente, da visão sobre o tipo de produção, “orgânica/agroecológica”,

Quadro 19 - Slow Food: princípios, práticas e atributos

SLOW FOOD COMO COMPOSTO DE PRÁTICAS PRINCÍPIOS

DE SLOW FOOD PRÁTICAS

ATRIBUTOS DE SLOW FOOD

Bom

Compra: aquisição de produtos saborosos, naturais, frescos, saudáveis, da estação, de produtores locais, orgânicos/agroecológicos. - Saboroso - Natural - Fresco - Saudável - Sazonal - De produtor local - Orgânico/agroecológico

Preparação: alimentos considerados saborosos, nutritivos, saudáveis, sazonais, orgânicos/agroecológicos. - Saboroso - Nutritivo - Saudável - Sazonal - Orgânico/agroecológico Consumo: alimentos saborosos, saudáveis, de

produtores locais.

- Saboroso - Saudável - De produtor local

Limpo

Compra: aquisição de produtos naturais, da estação, saudáveis, orgânicos/agroecológicos.

- Natural - Sazonal - Saudável

- Orgânico/agroecológico Preparação: alimentos naturais, sazonais,

orgânicos/agroecológicos.

- Natural - Sazonal

- Orgânico/agroecológico

Consumo: alimentos saudáveis - Saudável

Justo

Compra: aquisição de produtos de pequenos produtores locais (socialmente justo), da estação (ambientalmente justo) e economicamente justo (remunerações para trabalhadores enquanto é saudável e acessíveil para consumidores)

- De produtor local - Economicamente justo - Sazonal

Preparação: alimentos considerados saudáveis, sazonais e de protutores locais

- Saudável - Sazonal

- De produtor local Consumo: alimentos saudáveis e de produtores locais - Saudável

também mencionada pelos participantes da pesquisa, e que acabou sendo utilizada como atributo de produto. Os atributos “natural” e “fresco” estão aliados à ideia de sazonalidade de produtos. Por isso, podem ser englobados dentro do atributo “sazonal”, mas, ainda assim, são elencados no quadro enquanto atributo sempre que foram mencionados pelos entrevistados.

A ideia de economicamente justo está relacionada aos discursos que evidenciaram noções de produtos saudáveis e de preços acessíveis para os consumidores, além de justo economicamente para os produtores em termos de remunerações. Já a noção de socialmente justo foi atrelada à um produto de pequeno produtor local, modo de aquisição que os consumidores utilizam para valorizar e apoiar esses trabalhadores. A ideia de sazonalidade dentro do principio “justo” está relacionada também à justiça com relação ao meio ambiente, uma vez que a visão sobre a produção dos alimentos é aquela que leva em conta a produção segundo à época em que eles são eferecidos pela própria natureza.

Esses resultados permitem a construção de uma figura sintética dessas relações (FIGURA 18).

Figura 18 – Slow Food: práticas, princípios e atributos associados

A figura apresentada estrutura quais atributos citados pelos entrevistados compõe suas visões acerca de alimentos bons, limpos e justos (princípios) de modo sintético, sem repetições, as quais foram detalhadas no quadro 20. Mostra, ainda, como, nesta lógica, cada atributo se relaciona a cada uma das práticas constituintes do Slow Food enquanto composto de práticas sustentáveis (compra, preparação e consumo).

6 DISCUSSÃO

A fim de discutir o Slow Food como um composto de práticas sustentáveis no consumo de alimentos é necessário resgatar alguns conceitos-chave apresentados em seções anteriores.

Práticas são concebidas como variedades espaço-temporais abertas de atividades organizadas (SCHATZKI, 2016b), ou seja, são atividades humanas organizadas. Nesse sentido, aqueles que vivem o Slow Food diariamente, ou que manisfestam ações e diretrizes fundamentadas nos princípios do movimento (SCHNEIDER K., 2015), encontram prazer em diversas práticas e suas atividades: práticas de compra, práticas de cozinhar ou preparar alimentos e refeições, práticas de consumo (HAYES-CONROY, 2010). Lee, Scott e Packer (2014) defendem que tais práticas se organizam por meio de atividades vinculadas ao que comer, onde comprar e como preparar as refeições diárias.

O Slow Food é um fenômeno contemporâneo (GENTILE, 2016), um movimento social inciado na Itália na década de 1980 (VAN BOMMEL; SPICER, 2011). Nessa perpectiva, Schatzki (2016a, p. 29) argumenta que as TdP “estão unidas na crença de que os fenômenos sociais devem ser analisados por referência à práticas, ações, e organizações e relações entre práticas”, o que permitiu que este, enquanto fenômeno social, fosse analisado por referência à práticas, ações, organizações e relações entre práticas.

Warde (2016) destaca que o Slow Food pode ser entendido como uma tentativa de enquandrar componentes das práticas alimentares em uma prática composta. Por prática composta, entende-se modalidades de conexões entre práticas dentro do domínio alimentar, como Spaargaren (2011) exemplifica na forma de práticas de comprar comida, de cozinhar, de comer em casa, etc. Essas modalidades capazes de formar uma prática composta de Slow Food se assemelham à definição de composto de prática proposto por Warde (2016) para o estudo das práticas alimentares.

Dentro do estudo do consumo, as lentes das práticas são usadas ao posicionar o ato de consumir como um momento dentro das práticas, ocorrendo de forma contínua e inter- relacionada com outras práticas da vida cotidiana, sendo assim, originado e explicado por elas (WARDE, 2005). Especificamente sobre o estudo das práticas alimentares estas estão situadas em meio à intersecção de múltiplas práticas (e.g. práticas de produção, distribuição, compra, preparação e consumo dos alimentos) (DEVANEY; DAVIES, 2016), as quais podem estar sujeitas à mudanças em direção à sustentabilidade.

Os achados deste estudo confirmam que o Slow Food enquanto prática composta se aproxima dos princípios da sustentabilidade (MUNJAL; SHARMA; MENON, 2016), visto que permitiu que consumidores explorem o consumo sustentável de alimentos por meios alternativos (CHAUDHURY; ALBINSSON, 2014), realizando, por exemplo, a prática da compra em feiras orgânicas ou agroecológicas onde pequenos produtores locais vendem seus produtos sustentáveis e regionais.

Materias, significados e competências foram identificados para cada prática de Slow Food. No entanto, elementos de cada prática investigada não foram compartilhados por todos os participantes da pesquisa. Vale ressaltar que aspectos políticos e culturais ganharam mais atenção à nível de tipologia. Por esse motivo, o Slow Food enquanto composto de práticas sustentáveis no consumo de alimentos se encontra em estágio de proto-prática com relação às suas práticas constituintes (compra, preparação e consumo). Neste estágio de vida, os elementos estão dispostos de modo desconexo até as conexões serem feitas no momento adequado para a composição efetiva da prática, isto é, sua existência (SHOVE; PANTZAR; WATSON, 2012). O estágio de vida em que a prática de compra de Slow Food se encontra de acordo com os resultados da pesquisa está evidenciado na figura 19.

Figura 19 – Estágio da prática de compra de Slow Food

“Práticas sociais são compartilhadas, rotineiras, maneiras de fazer e dizer, representadas por agentes humanos conhecedores que – enquanto interagem com os elementos que co-constituem a prática – sabem o que fazer em seguida de maneira prática” (SPAARGAREN; LAMERS; WEENICK, 2016, p. 8). Nesse sentido, a figura 19 expõe em que aspectos a prática de compra de Slow Food se encontra comprometida, isto é, seja pela ausência de um elemento ou pelo fato de um ou mais deles não terem sido compartilhados por todos participantes da pesquisa.

A falta de sinalização de preços no ambiente de uma das feiras dificulta a ocorrência da prática de compra por parte dos consumidores com relação ao elemento material. Além disso, a presença de sacolas plásticas em uma das feiras dificulta a perpetuação da sustentabilidade nesse ambiente. O significado da compra não foi associado à noção de planejamento com base na preparação e consumo, pensando em evitar desperdícios, algo presente na literatura de Slow Food (e.g. ROMBACH; NELLEN; BITSCH, 2016) nem motivada por aspectos políticos (e.g. CHAUDHURY; ALBINSSON, 2014; SASSATELLI; DAVOLIO, 2010; VAN BOMMEL; SPICER, 2015) ou pela aquisição de produtos representantes da cultura local (e.g. GAYTÁN, 2004; MIELE; MURDOCH, 2002; PAGE, 2012; SIMONETTI, 2012; VAN BOMMEL; SPICER, 2011; 2015). A competência comprometida diz respeito aos praticantes não saberem dos benefícios da aquisição de um produto local (WEXLER; OBERLANDER; SHANKAR, 2017), além da contribuição no âmbito social e econômico para os produtores locais por meio da compra de tais produtos.

Os demais materiais, significados e competências envolvidos na prática de compra estão todos em conformidade com os critérios estabelecidos para que o Slow Food fosse manifestado enquanto prática de compra sustentável.

Dois modos de constituição material descobertos Twine (2017) em seu estudo do veganismo como prática se destacam para o Slow Food enquanto composto de práticas sustentáveis: nova exploração de alimentos e transição de gosto. A nova exploração de alimentos permite que praticantes explorem e incorporem nas suas rotinas alimentos que não haviam consumido antes da transição para as práticas de Slow Food, sobretudo elevando o nível de consumo de frutas e vegetais, que, nesta pesquisa, tinham como característica principal serem alimentos orgânicos ou agroecológicos. A transição para o gosto também foi fundamental para os praticantes de Slow Food. Isso se deu uma vez que foram identificadas competências associadas à avaliação do gosto dos produtos das feiras, considerados pelos entrevistados como de melhor sabor em relação ao dos alimentos de supermercados, com agrotóxicos. Nesta lógica,

o prazer sensorial, no sentido de refinamento do gosto, está relacionado às escolhas alimentares características do Slow Food (SASSATELI; DAVOLIO, 2010).

O enlace social (significado) estabelecido entre consumidores e produtores nas feiras (material) através de contato mais direta entre eles cria o que Tencati e Zsolnai (2012) e Williams et al. (2015) sugerem acontecer no movimento Slow Food: o fortalecimento de conexões entre produtores e coprodutores. Segundo os autores, essas conexões são reforçadas pelas trocas de informações e conhecimentos acerca dos alimentos e de seus processos produtivos. Nesta perspectiva, a atmosfera agradável de feira (significado) também faz parte dessas conexões criadas, visto que os visitantes revelaram sentir prazer por estarem cientes de trocas de informações entre os próprios consumidores (material). Hayes-conrey (2010) afirma que o Slow Food está vinculado à sentimentos e sensações experimentadas através de ambientes específicos como feiras e mercados tradicionais de alimentos.

A incorporação de conhecimentos sobre sustentabilidade advindos de produtores locais também foi identificada no grupo entrevistado. No desempenho da prática de compra de Slow Food eles recebem informações sobre a sustentabilidade na produção dos alimentos (“de onde vem”, “quem fez”, “como foi feito”), além de dicas sobre melhor forma de escolher o produto, sobre higiene, preparação e consumo. A aquisição de conhecimentos desta natureza contribui para aprendizagem dentro do processo de educação do gosto pregado pelo Slow Food (BENTIA, 2014; HAYES-CONROY; MARTIN, 2010), em direção à compra de produtos mais sustentáveis. O impulsionador desse processo é o envolvimento dos consumidores com os produtores locais e as trocas de informações que ocorrem entre eles (DUNLAP, 2012).

O julgamento avaliativo dos produtos das feiras por seus atributos sustentáveis (competência) e a presença sensações de conexão entre produtores e consumidores (significado de enlace social) pelos participantes da pesquisa concordam com as características de consumo alimentar alternativo investigada por Paddock (2016b) com relação às práticas alimentares. Essa visão de prática de consumo alternativa está atrelada à pratica de Slow Food, visto que Strate e Marsden (2006) entendem que este constitui uma forma de consumo alternativo de alimentos.

A aquisição de produtos orgânicos/agroecológicos (saudáveis, sazonais, naturais, frescos) de produtores locais por preços acessíveis também foi mencionada pelos entrevistados. Eles estão cientes diversos aspectos envolvendo a produção e consumo dos alimentos (LABELLE, 2004), incluindo a possibilidade de contribuir socialmente e economicamente para os produtores por meio da compra. Nesse sentido, os membros do Slow Food em geral compram produtos orgânicos o máximo possível por questões de saúde, sustentabilidade ambiental e

justiça social com relação aos pequenos produtores (GERMOV; WILLIAMS; FREIJ, 2010; LEE; SCOTT; PACKER, 2014; SINISCALCHI, 2013; TAVANTI, 2010), o que se confirmou para o estudo do Slow Food como prática sustentável no âmbito da prática de compra.

O estágio de vida em que a prática de preparação de Slow Food está presente na figura 20.

Figura 20 – Estágio da prática de preparação de Slow Food

Fonte: Elaborada pela autora com base na adaptação de Shove, Pantzar e Watson (2012).

As práticas de preparação de alimentos incluem as ferramentas para fazer a comida, os significados atrelados à pratica e as competências necessárias para desempenhá-la (MALLER, 2015; O’NEILL et al., 2019; TORKKELI; MÄKELÄ; NINA, 2018).

Desta forma, a prática de preparação de Slow Food se encontra em estágio de proto- prática (SHOVE; PANTZAR; WATSON, 2012) pois nem todos os entrevistados compartilham do significado de prazer na atividade de cozinhar, critério fundamental para constituição desta prática, considerando que os membros do Slow Food afirmam sentir prazer na atividade, apreciam cozinhar para si e para outras pessoas (LEE; SCOTT; PACKER, 2014; PETRINI, 2007; VAN BOMMMEL; SPICER, 2011).

Preocupações com desperdícios de alimentos na preparação também não foram compartilhadas por todos os integrantes do grupo entrevistado (significado) assim como o fato de não saberem aplicar a lógica slow à preparação de comidas características de fast food (competência), por exemplo, preparando um hambúrguer com ingredientes mais saudáveis. Neste enfoque, a pesquisa de Rombach, Nellen e Bitsch (2016) revela que os membros do Slow Food se preocupam com desperdícios de alimentos, buscando evita-los durante a preparação, e costumam utilizar da logica de uso de ingredientes “slow” na preparação de alimentos com traços de fast food, o que não se confirma para essa prática.

Lee, Scott e Packer (2014) afirmam que as cozinhas dos membros do Slow Food são espaçosas e bem equipadas em termos de utesilios pois são uma forma de demonstrar a apreciação pela atividade. A principio, esse critério quanto aos elementos materiais envolvidos na prática de preparação de Slow Food foi adotado nesta pesquisa. Todavia, os entrevistados, mesmo tendo cozinhas não tão espaçosas e pouco sortidas de dispositivos (eletrodomésticos), demonstraram ter tudo o que precisam para a realização da prática (e.g. panelas, frigideiras, cuscuzeiras, colheres e espátulas de silicone para o manuseio dos alimentos) conforme o tipo de alimentação que preparam, simples e saudável. Por isso, foi considerado que todos têm infraestrutura, dispositivos e recursos (SHOVE, 2016), de origem sustentável, que viabilizam a realização da prática de preparação, permeada pelo significado de prazer na atividade, o qual foi compartilhado pela maioria dos entrevistados, mas não por todos.

Foi notado, ainda, que dispositivos como microondas e airfryer não estavam presentes na cozinha dos participantes da pesquisa ou estavam e não eram utilizados, também por questões de preocupações com a saúde. Outro estudo sobre o Slow Food aponta como os seus membros normalmente evitam o uso de dispositivos como microondas por considerarem que eles podem fazer mal à saúde, prejudicando a preparação de alimentos e pratos mais saudáveis (HSU, 2014).

Os recursos envolvidos na prática em geral eram sustentáveis e advindos da feira, a exemplo de frutas, legumes e verduras de origem orgânicas/agroecológia, ou alimentos e pratos regionais. Atrelado à isso, significados de bom alimento e alimento sustentável no âmbito da preparação. Todos demonstraram conhecimento sobre aspectos sensoriais relativos à apreciação do gosto dos alimentos orgânicos (BENTIA, 2014), de saúde, de sustentabilidade ambiental (i.e. conhecimentos sobre a origem dos alimentos preparados, de produtor local, sobre a produção que prejudica a natureza e não envolve agrotóxicos) e social (TENCATI; ZSOLNAI, 2012; VAN BOMMMEL; SPICER, 2011) com relação ao entendimento desses tipos de alimentos, os quais fazem referência aos princípios do alimento bom, limpo e justo do

Slow Food. Dessa forma, se mostraram cientes da fonte dos ingredientes ou alimentos utilizados na prática de preparação (e.g. MUNJAL; SHARMA; MENON, 2016), mais nutritivos, saudáveis, sustentáveis ambientalmente e socialmente.

A prática de consumo de Slow Food se encontra em estágio de vida de proto-prática conforma ilustrado na figura 21.

Figura 21 – Estágio da prática de consumo de Slow Food

Fonte: Elaborada pela autora com base na adaptação de Shove, Pantzar e Watson (2012).

A prática de consumo de Slow Food se encontra em estágio de proto-prática, uma vez que nem todos os entrevistados sentem prazer com relação ao ato de comer. Este critério para a acorrência desta prática representa o que é difundido na literatura sobre os membros do Slow Food estarem envolvidos com o prazer na atividade de consumo, eles relatam gostar de comer, sentem prazer em comer (e.g. LEE; SCOTT; PACKER, 2014).

O significado de momento de cuidado e partilha não foi comum à todos os entrevistados. Tavante (2010) indica que a ideia de compartilhar o alimento durante as refeições à mesa é característica do Slow Food. A ideia é de que, por meio do cuidado de si e do outro