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A Prelazia de São Félix: a Igreja dos pobres contra os poderosos nos anos 1970

Capítulo III: O ATUAL MOMENTO DA TL A PARTIR DA PRELAZIA DE SÃO FÉL

3.2. A Prelazia de São Félix: a Igreja dos pobres contra os poderosos nos anos 1970

O nordeste do Mato Grosso, região na qual se localiza a Prelazia de São Félix do Araguaia, teve o seu processo de povoamento pela população branca começado há não muito tempo, a partir do início do século passado. Antes da chegada de forasteiros à região, ela era habitada por indígenas que nos dias de hoje possuem um pequeno contingente populacional nesse espaço geográfico. A partir da década de 1960, algumas empresas agropecuárias passaram a se instalarem na região, intensificando o processo de ocupação que já estava ocorrendo e dando início a uma série de conflitos pela posse da terra.

Foi também durante esse período que começaram a desembarcar no Brasil um importante número de religiosos europeus que, sob a luz das deliberações do Concílio Vaticano II, tomou o rumo do nordeste mato-grossense. Dentre esses religiosos podemos destacar as ações do francês François Jentel – que ficou conhecido na região como “Francisco Jentel” – e do espanhol Pedro Casaldáliga que se pautaram pela identificação com a situação dos posseiros, os quais estavam em luta contra as empresas agropecuárias, e ainda a defesa dos direitos e da cultura dos indígenas. Para otimizar a ação de seus religiosos, o Vaticano decidiu criar a Prelazia de São Félix do Araguaia que passou a existir a partir do decreto Quo commodius assinado pelo Papa Paulo VI. Segundo esse decreto os limites da prelazia seriam estes:

Ao norte, os confins da Prelazia de Conceição do Araguaia, que atualmente delimitam os Estados do Pará e Mato Grosso; ao leste os confins da Prelazia de Cristalândia, e ao Oeste os da Prelazia de Diamantino, ou seja, os rios Araguaia e Xingu; ao sul a linha traçada em direção noroeste desde a confluência dos rios Curuá e da Mortes; e daí em linha reta até a confluência dos rios Couto de Magalhães e Xingú47.

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Citação extraída da descrição geográfica da região da prelazia realizada em Uma Igreja da Amazônia em conflito

com o latifúndio e a marginalização social. Disponível em: http://www.prelaziasaofelixdoaraguaia.org.br/uma-

Pedro Casaldáliga em Uma Igreja da Amazônia em conflito com o latifúndio e a

marginalização social48 traçou um quadro sobre as características dos habitantes da região. Tratava-se de um povo essencialmente sertanejo, de vida retirante e acostumado ao trabalho duro. Ao mesmo tempo, era um povo hospitaleiro, simples e corajoso frente às dificuldades que lhes eram impostas; Era uma população extremamente religiosa, tendo em Deus a força e a motivação para seguirem em frente com suas vidas. Ali, entretanto, a superstição marca profundamente o imaginário popular com suas crenças e mitos. Casaldáliga quando traça o panorama da ação sócio-pastoral observou também que a falta de nível cultural, ou seja, a falta de escolas e bons professores na região, e de conscientização sócio-política afetava gravemente as relações ecumênicas. A partir dessa constatação de Pedro Casaldáliga é possível notar que a ação política de sua vida pastoral pautava-se não só pelo envolvimento com as questões políticas da região, mas também pela ação junto aos seus habitantes para que eles também se envolvessem nos assuntos de seus interesses.

A Prelazia de São Félix do Araguaia sob o comando de Pedro Casaldáliga assumia, assim, o compromisso de agir em favor dos empobrecidos e oprimidos de sua região. Contudo, essa postura se chocaria com os interesses de duas forças poderosas à época: o Estado militar que dirigia o país naquele momento e que tinha como uma de suas principais diretrizes a perseguição a qualquer pessoa ou instituição que atentasse contra seus interesses e que também nutria profunda aversão à atividade comunista no Brasil; outro grande adversário da prelazia eram as empresas agropecuárias que estavam se instalando na sua região – empresas financiadas por órgãos governamentais como a SUDAM e a SUDECO49 que visavam “desenvolver” a Amazônia – que em sua luta pela terra contra os posseiros e indígenas da região viu nos religiosos da prelazia grandes inimigos dos seus interesses. A “Igreja dos Pobres” pensada por teólogos da libertação como Gustavo Gutiérrez e Leonardo Boff tomava corpo nas ações dos religiosos da Prelazia de São Félix do Araguaia, marcada pela incansável defesa dos oprimidos e pelo destemor

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Mais além de procurar descrever um perfil dos habitantes da região, nesse trabalho Casaldáliga fala sobre a luta pela terra na região, faz sua descrição geográfica e fala sobre sua ação pastoral.

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Respectivamente, Superintendência do Desenvolvimento da Amazônia e Superintendência do Desenvolvimento da Região Centro-Oeste.

diante das forças políticas e econômicas que tantos problemas traziam à população mais pobre de sua região.

A situação ficou extremamente tensa na região da Prelazia de São Félix do Araguaia quando o governo dos militares começou a se incomodar com a ação pastoral dos religiosos em favor dos posseiros e indígenas. Tarcísio Padilha, homem do regime militar que observava atentamente as movimentações dos religiosos envolvidos com a Teologia da Libertação, criticava a “‟teologia da violência‟ e a „participação de religiosos em movimentos subversivos‟” (SERBIN, 2001, p.29). Assim é que pelo fato da equipe da Prelazia assumir a causa dos oprimidos no nordeste do Mato Grosso, seus religiosos foram taxados de subversivos e inimigos do Estado brasileiro e, dessa forma, recairia sobre eles uma violenta repressão das forças militares.

Um dos casos mais conhecidos da violência contra os religiosos da Prelazia de São Félix foi o episódio de Ribeirão Cascalheira. Duas mulheres estavam sendo torturadas na delegacia da cidade, situação que chamou a situação dos habitantes da cidade que pediram o auxílio de Pedro Casaldáliga e João Bosco Penido Burnier. Estes, ao chegarem à delegacia, iniciaram uma tensa conversa com os policiais que, por sua vez, responderam com um tiro no padre Burnier, o qual morreria horas mais tarde. Na realidade, os policiais tinham em mente tirar a vida de Pedro Casaldáliga, porém como Burnier se exaltou e discutiu com os policiais – inclusive com Dom Casaldáliga tentando controlá-lo −, o padre acabou sendo atingindo naquele momento. Mesmo com todos os perigos, Pedro Casaldáliga continuava intocável na região.

Francisco Jentel foi outro religioso que sofreu por conta de sua ação pastoral engajada na luta pelos oprimidos. Na cidade de Santa Terezinha instalou-se a empresa CODEARA (Companhia de Desenvolvimento do Araguaia) beneficiada por subsídios públicos. O choque com a população local foi inevitável e após um violento confronto na cidade, o padre Jentel foi acusado de incitar a população local contra as forças de segurança da cidade e, por conta disso, foi convidado a sair do Brasil, passando ele um período em sua terra natal – a França. Francisco Jentel retornaria ainda para o Brasil, contudo, sua presença não era tolerada pelo regime dos militares que o considerava uma pessoa perigosa para o país. Pedro Casaldáliga, bispo de São Félix do Araguaia, relata os últimos momentos que se tem notícia de Jentel:

Quando retornou [Jentel], com toda a documentação necessária, foi violentamente sequestrado, chaqualhado. Inclusive pegaram-no pelos testículos, deixando-o praticamente sem sentidos , quando deixava a residência de D. Aloísio Lorscheider, em

Fortaleza. Foi imediatamente expulso, por decisão do Presidente Geisel. (CASALDÁLIGA apud MARTINS, 1979, p. 191)

A ação pastoral da Prelazia de São Félix do Araguaia durante a década de 1970 foi marcada pelo contexto de sua época, ou seja, pela inspiração teológica da Teologia da Libertação e pelo contexto político da ditadura militar. Ao optarem pelos pobres, seus religiosos tiveram que enfrentar as grandes forças políticas e econômicas de sua região, situação que teve como consequência a perda da liberdade e até mesmo da vida de alguns deles. Por assumirem tal postura, os religiosos da prelazia desfrutavam de grande simpatia com os habitantes locais que celebravam a teologia que buscava a libertação e tratavam os religiosos como mártires, daí se compreende a fúria dos habitantes de Ribeirão Cascalheira que destruíram a delegacia onde o padre Burnier pereceu.

Boa parte da simpatia para a equipe da Prelazia de São Félix do Araguaia se explica pelo respeito ao seu bispo: o espanhol Pedro Casaldáliga. Quando chegou a São Félix do Araguaia, Casaldáliga se deparou com um povo que sofria várias privações, como fome, violência, doenças e outras dificuldades. Diante do quadro social que viu não região, esse religioso não mediu esforços para aliviar o sofrimento da população local, seja enfrentando os funcionários das empresas agropecuárias, seja denunciando os abusos cometidos contra os posseiros e indígenas. Tal postura o colocou como inimigo número um de forças poderosas tanto em nível local e nacional, e em 1973, Pedro Casaldáliga exclamou: “Eu e minha equipe nos declaramos uma Igreja perseguida” (CASALDÁLIGA, Apud, MARTINS, 1979, p. 53).

Mas não era apenas na esfera político-social que Pedro Casaldáliga tinha que defender suas convicções. Como apresentamos no capítulo anterior, a Igreja Católica se constitui por várias tendências a respeito do seu papel na sociedade, havendo um intenso embate entre os mais conservadores e os radicais. Um desses conservadores foi o arcebispo de Diamantina (MG) Dom Geraldo de Proença Sigaud, o qual travou uma luta – segundo ele – contra a invasão “comunista” dentro da Igreja dos católicos. Sigaud produziu diversos textos fazendo denúncias contra os religiosos mais engajados com a questão social e envolvidos com a política, tanto para o Estado brasileiro quanto para a Santa Sé. Assim é que em um texto publicado em vários jornais do país ele afirmava: “Há infiltração comunista em todas as partes e também na Igreja (SIGAUD Apud, MARTINS, 1979, p.120)”. Pedro Casaldáliga foi contra quem o arcebispo de Diamantina lançou

os mais fortes ataques, qualificando-o como um estrangeiro que agia contra os interesses da nação. Contra esses textos com tais acusações, Pedro Casaldáliga se defendia: “É um simples apanhado tendencioso de textos mutilados e que não expressam o meu pensamento e atitude, corretamente. É evidente que os meus escritos só tem valor probatório se publicados na íntegra e dento de seu contexto”. (CASALDÁLIGA Apud, MARTINS, 1979, p.126).

Dom Pedro se manteve fiel às ideias da Teologia da Libertação quanto a não causar uma cisão dentro da Igreja, mas defendendo arduamente sua ação pastoral e sem deixar que críticas e questionamentos abalassem a sua opção por aqueles que eram oprimidos na sociedade. O exemplo de Pedro Casaldáliga é precioso para mostrar que as preocupações com a política intra- eclesial não impedem uma ação política extra-eclesial mais intensa no campo político-social. Assim foi que mesmo com as ameaças dos jagunços das grandes fazendas agropecuárias, os constantes pedidos de políticos locais para que o bispo da Prelazia deixasse São Félix do Araguaia e as movimentações de religiosos católicos contrários à sua ação pastoral, Casaldáliga manteve-se intocável em sua posição à frente da Prelazia de São Félix do Araguaia.

Pedro Casaldáliga é um dos religiosos que melhor encarnou a ideia de ação pastoral libertadora que privilegiava o apoio incondicional aos empobrecidos. Ao fazer essa opção de vida – mais além de uma escolha religiosa ou pastoral −, Casaldáliga e sua prelazia se chocaram contra os grandes detentores de poder durante a década de 1970, quais sejam, o Estado militar brasileiro que traçou planos políticos e econômicos para a região e as grandes empresas agropecuárias que se instalaram por lá e que em sua busca por lucros não teve nenhuma consideração com os interesses dos habitantes da região. Assim é que o primeiro bispo de São Félix do Araguaia teve consciência de sua escolha e as consequências de sua ação pastoral para afirmar: “Seremos cada vez mais perseguidos, porque optamos. Nos colocamos no ponto de vista do oprimido” (CASALDÁLIGA Apud MARTINS, 1979, p. 55).

A Prelazia de São Félix do Araguaia, portanto, assumiu de modo efetivo os princípios da Teologia da Libertação. Sob o comando de Pedro Casaldáliga, ela foi o maior exemplo de “Igreja dos Pobres” concebida por teólogos como Leonardo Boff, Gustavo Gutiérrez e outros, atuando em favor dos oprimidos contra poderosas forças que, durante a década de 1970, trouxeram grandes problemas sociais ao nordeste mato-grossense. O engajamento nas questões político- sociais era a tônica de sua ação pastoral, estando seus religiosos lutando contra as grandes

empresas agropecuárias que estavam expulsando os indígenas e posseiros da região e, como consequência, sofrendo duras represálias das forças do Estado brasileiro.

Em um contexto político marcado pelo autoritarismo do governo militar que vigorou entre 1964 e 1985, a Prelazia de São Félix não se intimidou com as adversidades e caracterizou sua ação pastoral pela atuação política intensa nas questões sociais. Resta-nos saber agora se com o fim do regime dos militares e a redemocratização da política no Brasil e – mais importante – com a renúncia de Pedro Casaldáliga de suas funções de bispo (por causa do fato de que em 2005 ele completou 75 anos e foi compulsoriamente aposentado), se a Prelazia de São Félix mantém a intensidade de sua atuação pastoral políticas e sociais da atualidade. É com o seu estudo de caso que se segue é que poderemos ter ciência de que se o modelo de Igreja dos Pobres ainda é viável nos dias de hoje.

3.3. A Prelazia hoje: o desafio de manter uma ação militante no atual contexto

O fim do governo dos militares no Brasil, para além de representar uma vitória da oposição a esse regime, significou um grande marco para a sociedade civil brasileira. Apesar de toda a repressão sofrida, o setor mais engajado na luta pelos direitos humanos e pela volta da democracia teve o mérito de envolver uma boa parte da população brasileira em torno dessas causas, mobilizando todo o país na ação política. O setor progressista da Igreja Católica – representado em sua maioria pela Teologia da Libertação – desempenhou um papel importante na coordenação desse movimento e, como demonstramos, o final do governo dos militares também significou o início de um lento processo de desmobilização política, tanto da sociedade civil quanto de parte do seu clero. Essa situação pode ser percebida com o caso da Prelazia de São Félix do Araguaia.

Para entendermos esse processo se faz necessário problematizar a ação política na pastoral da Prelazia. Como ilustramos no tópico anterior, a ação pastoral dos religiosos chocou-se com os interesses políticos e econômicos que o Estado tinha para a região, situação que fez com que as autoridades se voltassem contra a Prelazia. Em reportagem do Jornal da Tarde de setembro de

1973 foi noticiada a insatisfação do governador à época, José Fragelli, o qual, a respeito da expulsão do padre Francisco Jentel, dizia que “a paz” só voltaria à região se todos os padres fossem expulsos do nordeste do Mato Grosso. A mesma reportagem – assinada por José Maria Mayrink − também noticia:

A polícia, os políticos e os fazendeiros viram então que o problema não estava resolvido: os padres mostravam-se dispostos a impedir a implantação dos projetos agropecuários, aconselhando os posseiros a não abandonarem as terras que eles ocupavam e que foram compradas pelas fazendas (Jornal da Tarde, 1973)

Na verdade a postura assumida pelos religiosos da Prelazia incomodava profundamente a esfera política brasileira tanto no contexto local como nacional. Pedro Casaldáliga se tornara inimigo público da classe política ao assumir a causa dos oprimidos, situação que ele não temia. Em entrevista, concedida a este pesquisador, Casaldáliga conta como que ele começou a sua luta em favor dos empobrecidos contra as poderosas forçar políticas e econômicas da época:

A situação era grave. Você tinha que lutar necessariamente pelos índios, posseiros e peões. Ao lutar pelos índios, posseiros e peões nos colocamos abertamente contra a política oficial, que era uma política de Marcha Para o Oeste e com as fazendas que desfrutavam de incentivos fiscais (Entrevista Pedro Casaldáliga, São Félix do Araguaia, 14/09/2012).

Assim é que Pedro Casaldáliga entrou diretamente na luta contra a política desenvolvida pelo Estado militar brasileiro que tinha seus próprios planos para a região. O meio político brasileiro ficou por muito tempo agitado pelas ações do bispo de São Félix suscitando a ira de vários políticos. O ex-presidente da Confederação Nacional da Agricultura – e também Senador Federal – Flávio Brito disse certa vez para uma plateia de empresários que “se puder, mato bispo”, pois, segundo ele, “capangas do bispo” tentaram matá-lo e ele não hesitaria em fazer o mesmo (O Estado de São Paulo, 1985). Fato é que o meio político brasileiro estava imensamente desconfortável com a presença de Pedro Casaldáliga no Brasil e pressionavam para que o religioso deixasse o país. Outro político também se posicionou de forma agressiva contra Pedro Casaldáliga: o deputado pelo Rio de Janeiro Amaral Neto disse que pediria ao governo:

Que tome vergonha na cara e ponha para fora essa canalha comandada por d. Pedro Casaldáliga e por todos esses bispos estrangeiros que se metem a dar ordens aos brasileiros, quando não tiveram moral nem para pregar em sua terra (O Estado de São Paulo, 1986).

Pedro Casaldáliga tornou-se assim assunto de Estado no Brasil, com as principais esferas da política brasileira tanto em nível legislativo como executivo procurando conter a influência do bispo espanhol. Entretanto, não só sofrendo ataques que o nome de Casaldáliga esteve envolvido na política. Em meio a inúmeras polêmicas, houve também quem se posicionasse a favor dos religiosos perseguidos e que agiam para o bem dos empobrecidos. Uma dessas manifestações em favor dos religiosos católicos progressistas foi uma nota assinada pelo ex-presidente do PDT, Leonel Brizola, que dizia:

A Comissão Nacional do PDT vem manifestar a sua solidariedade aos prelados da Igreja Católica, vítimas de uma campanha sistemática de agressões e ameaças, pelo fato de pregarem e promoverem a justiça social e a defesa dos direitos humanos, colocando-se, incisivamente, ao lado das grandes maiorias marginalizadas, oprimidas e exploradas do povo brasileiro.

Preocupa-nos as investidas contra D. Pedro Casaldáliga, preparando sua expulsão do país; os ataques e as violências verbais contra D. Paulo Evaristo Arns, D. Hélder Câmara, D. Quirino Schmitz, D. Adriano Hipólito, D. Cláudio Humes e D. Estavão Avelar Brandão [...] (Tribuna da Imprensa, 1980).

Essa nota é de grande importância para mensurarmos a importância da Teologia da Libertação e seu impacto no meio político brasileiro, tanto ela sofrendo críticas e gerando insatisfação como recebendo algum tipo de apoio. Assim é que se percebe que a ação política na pastoral da TL foi extremamente acentuada, com seus religiosos sendo nomes constantes dentro da política brasileira. É importante destacar que no regime de exceção que foi o governo dos militares, no qual o povo teve subtraído o seu poder político, o setor progressista da Igreja Católica – na medida em que foi possível – atuou diretamente na política, como as reuniões da bipartite são exemplo. A teologia dos oprimidos desfrutava nas décadas de 1970 e 1980 de grande popularidade devida em parte não só a contundência de seu discurso crítico, mas como a inserção de seus seguidores nos principais campos de discussão da sociedade – e as falas dos congressistas citados refletem bem a influência desses religiosos na política. É necessário demonstrar ainda que essa participação não foi apenas indireta, com as ações de religiosos repercutindo no campo político; os próprios religiosos se envolviam no processo eleitoral, como o caso da Prelazia de São Félix ilustra bem.

Em nossas conversas com a equipe da Prelazia de São Félix do Araguaia, questionamos nossos entrevistados sobre o envolvimento dos agentes da prelazia com a política, bem como a opinião deles sobre o tema. De início podemos constatar que a Prelazia de São Félix teve contato direto com a política da região, inclusive, de acordo com os depoimentos colhidos, havendo uma identificação tácita entre a Prelazia e a figura de Pedro Casaldáliga com partidos como o PT e o PMDB50, situação que perdura até os dias de hoje na cidade de São Félix na visão de parte da