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4 CONTROLE DE LEGALIDADE DO ATO ADMINISTRATIVO DE

4.1 Lançamento tributário e a teoria dos atos administrativos

4.1.2 Pressupostos do ato administrativo de lançamento

Os pressupostos do ato administrativo são fundamentais para o reconhecimento da legalidade do lançamento. Consistem em atos externos ao ato, e alguns deles são precedentes à própria expedição. Suas marcas poderão ser encontradas na enunciação-enunciada, bem como na relação existente entre alguns elementos descritos no enunciado-enunciado.

Nesta senda, consideramos como pressupostos do lançamento os seguintes aspectos:

      

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GUERRA, Cláudia Magalhães. Lançamento Tributário e sua Invalidação. 2. ed. Curitiba: Juruá, 2008, p. 74.

338 MARTINS, Ricardo Marcondes. Efeitos dos Vícios do Ato Administrativo. São Paulo: Malheiros, 2008, p. 239 (Coleção Temas de Direito Administrativo, v. 19).

(i) Competência: É aspecto da enunciação-enunciada da norma individual e concreta e diz respeito ao sujeito produtor do ato, devendo ser agente público investido de competência específica para fazê-lo. SEABRA FAGUNDES adverte que “[…] a competência vem rigorosamente determinada no Direito Positivo como condição de ordem para o desenvolvimento das atividades estatais e, também, como meio de garantia para o indivíduo que tem na sua discriminação o amparo contra os excessos de qualquer agente de Estado339“. “Destarte, vício de competência existirá sempre que houver uso desconforme ou ausência de permissão legal para a prática de determinado ato”340.

(ii) Motivo341: De acordo com LUCIA VALLE FIGUEIREDO, “[…] podemos conceituar motivo como o pressuposto fático, ou acontecimento no mundo fenomênico, que postula, exige ou possibilita a prática do ato. Difere do motivo legal, que é o pressuposto descrito na norma”342. O motivo é o suporte fático da motivação ao ser vertido em linguagem competente. Ou seja, é na motivação que se encontra a descrição do motivo em linguagem competente, a partir das provas apresentadas. Assim, no lançamento, o motivo343 refere-se ao evento que preenche as       

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FAGUNDES, Seabra. Controle dos Atos Administrativos pelo Poder Judiciário. 4. ed. Rio de Janeiro: Forense, 1967, p. 68.

340 FIGUEIREDO, Lucia Valle. Curso de Direito Administrativo. 9. ed. São Paulo: Malheiros, 2008, p. 183.

341

O motivo representa o evento demarcado – no fato jurídico administrativo (antecedente do ato) – pela autoridade administrativa como relevante para o interesse público, seja diante da hipótese da norma legal, seja perante critérios de conveniência ou oportunidade do próprio agente. Não se confunde com o motivo legal – a norma legal que serve de fundamento de validade para o ato administrativo – nem com a motivação – requisito procedimental muito relevante para o controle dos atos administrativos. Assim, sendo “Pressuposto de direito é o dispositivo legal em que se baseia o ato. Pressuposto de fato, como o próprio nome indica, corresponde ao conjunto de circunstâncias, de acontecimentos, de situações que levam a Administração a praticar o ato”. (DI PIETRO, Maria Sylvia Zanella. Direito Administrativo. 25. ed. São Paulo: Atlas, 2012, p. 22).

342 Op. cit., p. 184. 343

De acordo com ESTEVÃO HORVATH, “[…] no lançamento tributário, sempre teremos como motivo de sua prática a ocorrência, no mundo fenomênico, daquele fato previsto hipoteticamente na norma jurídica tributária, isto é, o fato imponível. A ocorrência do fato imponível é, portanto, a situação que deve ser tomada em conta para a prática do ato

características descritas na RMIT. Ocorre que, como evento, “[…] o motivo perde-se no tempo, o acesso a ele dá-se mediante a descrição inserta na motivação: o motivo não compõe o enunciado- enunciado, mas, sim, apenas a motivação (antecedente normativo que encerra sua descrição em linguagem competente)”344.

(iii) Formalidades procedimentais: São os requisitos referentes ao rito a ser observado pelo sujeito produtor do ato, portanto são anteriores à produção do lançamento. Nos dizeres RICARDO MARCONDES MARTINS, as formalidades ou requisitos procedimentais “[…] são atos jurídicos que devem ser previamente praticados, pelo particular ou pela Administração, antes da prática do ato administrativo.”345 De outra banda, por meio da enunciação- enunciada, conjugada ao exame das provas, como destaca FABIANA DEL PADRE TOMÉ346, é possível verificar se foram cumpridos os requisitos procedimentais previstos em lei, para a legalidade do ato.

(iv) Finalidade: A finalidade constitui o objetivo que se pretende alcançar com a prática do ato administrativo. No caso do lançamento, está expressamente prevista na regra-matriz de incidência, e o que se pretende é a cobrança de tributo. É possível verificar a finalidade do ato administrativo “[…] a partir da indicação, no enunciado-enunciado, da norma geral e abstrata que lhe serviu de fundamento.347“

(v) Causa: A causa é o nexo entre o motivo do ato e seu conteúdo, cujo reconhecimento se dará com a observação de dois aspectos do       

administrativo de lançamento.” (Lançamento Tributário e “Autolançamento”. 2. ed. São Paulo: Quartier Latin, 2010, p. 62-63).

344 GUERRA, Cláudia Magalhães. Lançamento Tributário e sua Invalidação. 2. ed. Curitiba: Juruá, 2008, p. 204.

345

MARTINS, Ricardo Marcondes. Efeitos dos Vícios do Ato Administrativo. São Paulo: Malheiros, 2008, p. 106 (Coleção Temas de Direito Administrativo, v. 19)

346 A prova no direito tributário. 3. ed. São Paulo: Noeses, 2011, p. 325-326. 347 GUERRA, op. cit., loc. cit.

enunciado-enunciado, quais sejam, a motivação (fato jurídico tributário) e a parte prescritiva da norma. Especificamente, no lançamento, de acordo com ESTEVÃO HORVATH, será “[…] a relação de pertinência entre a ocorrência do fato imponível e a declaração da formalização da obrigação tributária, tudo isso tendo por finalidade possibilitar ao Estado que exercite seu direito à percepção do crédito tributário”348. Desta forma, o vício de causa é um vício material e gera a nulidade do ato administrativo, in casu, o lançamento tributário.

De forma resumida, podemos dizer que os elementos do ato administrativo envolvem aspectos essenciais e internos à sua estrutura, ao passo que os pressupostos indicam feições exteriores e, na maior parte deles, precedentes à sua formação.

Tal abordagem é indispensável para a aferição da legalidade do lançamento, como ato administrativo. Assim, queremos dizer com isto, como bem nos alerta RICARDO MARCONDES MARTINS, que

[…] o aferimento da sua regularidade se dará da mesma forma que com os demais atos administrativos, podendo estar viciado em qualquer dos seus elementos, independentemente da existência de vícios nos atos aos quais ela atribui eficácia. Em outras palavras, o lançamento e/ou o auto de infração podem estar rigorosamente dentro daquilo determinado pela lei correspondente, e o débito tributário não poder ser exigido por defeito no ato de notificação.349

Ora, se o lançamento pertence à categoria dos atos jurídicos administrativos, repise-se: é forçosa a conclusão de que os vícios acaso nele existentes devem ser investigados à luz da mesma estrutura: elementos e pressupostos, conforme explanaremos adiante.

      

348

Lançamento Tributário e “Autolançamento”. 2. ed. São Paulo: Quartier Latin, 2010, p. 62- 63.

349 Efeitos dos Vícios do Ato Administrativo. São Paulo: Malheiros, 2008, p. 81 (Coleção Temas de Direito Administrativo, v. 19).

4.2 Processo administrativo tributário e o controle de legalidade do ato