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Princípio da comunhão das provas 65

PARTE II ASPECTOS RELACIONADOS À PRODUCÃO DA PROVA PELO

4   PODERES PROBATÓRIOS E PRINCÍPIOS PROCESSUAIS 47

4.6.   Princípio da comunhão das provas 65

Nesse particular, é de suma relevância registrar que o princípio da comunhão das provas186( também chamado princípio da aquisição) serve a legitimar a atuação oficiosa do magistrado.

Por esse princípio a prova pertence ao processo, pouco importando se o responsável por sua introdução nos autos tenha sido autor, réu, ministério Público ou juiz. Assim, ela não pertence à parte, tanto que, uma vez juntada aos autos poderá se utilizada em desfavor de quem a tenha produzido, ela não possui, portanto, identidade subjetiva.

Daniel Amorim Assumpção187, ao se reportar ao princípio da Comunhão das provas, traz importante lição de Rui Portanova:

“Sendo o fim da prova levar a certeza à mente do juiz, para que possa falar conforme a justiça, diz Echandia, há um interesse indubitável e manifesto em razão da função que desempenha no processo. É o princípio do interesse público na função da prova. É evidente, cada parte persegue, com suas próprias forças, um benefício próprio e imediato. Contudo, há de se considerar, ainda, o interesse público mediato que está acima dos benefícios específicos das partes. Em consequência, a prova nunca pertence a uma ou outra parte, mas ao juízo. Por igual, o benefício que se retira do elemento probatório não se vincula somente ao interesse da parte que produziu tal prova. É o princípio da comunhão ou comunidade da prova, também chamado da aquisição”.

184 PINHO, 2010, p. 49-92.

185 OLIVEIRA, 2004, p. 89-121, nota 135.

186 Esse é argumento apresentado pelo autor Geovany Jeveaux no exame de qualificação do curso de Mestrado

em Direito Processual Civil, da Universidade Federal do Espírito Santo, em 02 de set. 2011.

187ASSUMPÇÃO, Daniel Amorim Neves. O princípio da comunhão das provas. Disponível em:

Nessa seara, como a prova pertence ao processo, a partir do momento de sua produção ela passará a integrar a relação jurídica processual, permitindo ao juiz “extrair as consequências do fato provado, pouco importando como tenha chegado ao processo188”. Por decorrência lógica desse princípio, uma vez introduzida a prova nos autos, não cabe à parte prejudicada requerer seu desentranhamento dos autos, pois a eficácia da prova se desvincula de quem a produziu.

Completando esse raciocínio, Barbora Moreira189 anota que:

[...] A prova, depois de feita, é comum, não pertence a quem a faz, pertence ao processo; pouco importa a sua fonte, pouco importa sua proveniência. E, quando digo pouco importa a sua proveniência, não me refiro apenas à possibilidade de que uma das partes traga a prova que em princípio competiria a outra, senão também que incluo aí a prova trazida aos autos por iniciativa do juiz.

Seguindo a mesma orientação Eduardo Cambi190 obtempera que:

As provas, depois de ingressarem ou serem produzidas no processo, tornam-se públicas e passam a integrar um único conjunto, em que o resultado das atividades processuais são comuns a ambos as partes, não se levando em consideração o litigante que trouxe ou produziu o meio de prova. Assim, as provas, ao ingressarem no processo, são subtraídas da disposição das partes, que as introduziram ou produziram-nas [...].

Pelas razões expendidas até aqui concluimos que cabe ao juiz, frente à moderna sistemática processual, analisar globalmente o conjunto probatório, sem perquirir a quem competiria o ônus de provar. Isso porque não importa saber quem produziu a prova, mas se os fatos integrante do thema probandi foram demonstrados, posto que o processo objetiva sobretudo dirimir os conflitos de interesses, por meio da correta aplicação do direito. Logo, a prova serve a reconstruir fatos relevantes da causa. Nesse caso, se o julgador tem elementos suficientes a formar sua convicção, pouco importa auferir a procedência da prova191.

De outra sorte, poderá o juiz determinar de ofício as provas necessárias ao deslinde do caso, visto que, à luz do princípio da aquisição da prova elas pertencem ao processo, tanto que os meios probatórios trazidos por um dos litigantes podem vir a beneficiar o outro. Em suma, a prova não aumenta ou diminui seu valor em razão quem a tenha introduzido no processo, pois, depois de colhida ela passará a ser comum.

188 WAMBIER, Luiz Rodrigues. ALMEIDA, Flávio Renato Correia. TALAMINI, Eduardo. Curso Avançado

de Processo Civil. Teoria Geral do Processo e Processo de Conhecimento. 4. Ed. São Paulo: Revista dos

Tribunais, 2001, p, 501-502.

189 BARBOSA MOREIRA, 1984, p. 181, nota 152. 190 CAMBI, 2006, p. 319, nota 34.

Nesse contexto, da interpretação sistemática do artigo 355 do Projeto de Novo Código de Processo Civil ( similar ao artigo 131 do Código em vigor), infere-se o princípio da livre convicção do juiz e, o que por ora nos interessa, o princípio da comunhão das provas, ao constar a expressão: “independente do sujeito que a tiver produzido.

Art. 355. O juiz apreciará livremente a prova, independentemente do sujeito que a tiver promovido, e indicará na sentença as que lhe formaram o convencimento.

Os juristas que elaboraram o projeto de Lei nº 166/2010, que repercutirá no novo Código de Processo Civil, cientes da necessidade de flexibilizar a técnica processual, a fim de prestar a tutela justa, avançaram no sentido de fazer constar expressamente o princípio da aquisição, o que representa um incremento dos poderes do juiz, autorizando a produção probatória por qualquer sujeito do processo, incluindo o juiz.

Essa compreensão da prova também torna o mecanismo processual menos rígido, pois qualquer parte pode assumir a responsabilidade de produzir a prova de um fato obscuro, não importa ser autor ou réu, independentemente de como será valorada pelo juiz. Em contrapartida, se o princípio da aquisição processual não fosse adotado pela sistemática processual, o juiz ficaria impedido de valorar as provas em desfavor do litigante não agravado com o ônus de sua produção192.

Por derradeiro, o princípio da comunhão das provas implica reconhecer amplos poderes ao juiz no tocante à produção de prova de ofício. Como interessa a todos o desfecho do processo, com a entrega da solução justa para o caso, é forçoso reconhecer que a prova pertence ao processo, o que eleva o dever cooperativo dos atores processuais no sentido de aclarar os fatos postos em julgamento.