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CAPÍTULO 3 PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS DE SELEÇÃO E ANÁLISE

3.2 Procedimentos de análise do corpus

Esta pesquisa, conforme já mencionamos, tem como objetivo identificar as características definidoras de um exemplar do gênero tragédia (adaptado) com a finalidade de contribuir para a construção de um modelo didático desse gênero e o desenvolvimento de capacidades de linguagem (de ação, discursiva, linguístico-discursiva e linguístico- estilística26) voltadas para a leitura. Em seguida, realizamos o levantamento das características

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Protágoras de Abdera foi um dos vários pensadores gregos do século quinto (incluindo também Górgias, Hípias e Pródico) conhecidos coletivamente como os sofistas mais velhos, um grupo de professores que viajam ou intelectuais que eram especialistas em retórica (a ciência da oratória) e assuntos relacionados (tradução nossa), publicação consultada no site http://www.iep.utm.edu/protagor/#H1, Internet Encyclopedia of Philosophy – IEP, “Naturalistic Epistemology,” by Chase B. Wrenn, The Internet Encyclopedia of Philosophy, ISSN 2161-0002, http://www.iep.utm.edu/, em 05/10/2013.

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Benjamin Franklin Ramiz Galvão (1846-1938), o Barão de Ramiz, foi professor de grego no Colégio D. Pedro II e sua tradução do Prometeu acorrentado foi reeditada por Haroldo de Campos e Trajano Vieira (ALMEIDA, Guilherme de; VIEIRA, Trajano. Três tragédias gregas. São Paulo: Perspectiva, 1997. p. 255-286). João Cardoso de Menezes Sousa (1827-1915), o Barão de Paranapiacaba, possui publicadas duas versões do

Prometeu acorrentado feitas a partir de uma tradução literal de D. Pedro II (cf. PARANAPIACABA, Barão de.

Prometheu acorrentado: parte II. Revista do Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro, Rio de Janeiro: Imprensa Nacional, tomo 67, 1906).

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Luiz Antonio Aguiar é escritor e mestre em Literatura Brasileira pela PUC-RJ, como tradutor foi indicado para a lista de Honra do IBBY, pela tradução de Os Corvos de Pearblosson, de Aldous Huxley e selecionado entre os White Ravens, pela biblioteca de Livros para Jovens de Munique, em 2007, com Sonhos em Amarelo.

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de acordo com o modelo de produção e análise proposto por Bronckart (1999/2007) e identificamos suas características ensináveis.

Os procedimentos para a construção do modelo didático de um exemplar do gênero tragédia se configurou em três etapas. As duas primeiras, como passos que levaram à construção do modelo didático, e a terceira, à construção propriamente dita. Na primeira etapa escolhemos o gênero, levando em consideração os seguintes aspectos: que fosse um gênero pertencente à atividade artística e literária e cujo ensino possa levar o aluno a ter contato com aspectos sociais, históricos, culturais, simbólicos e míticos presentes na mitologia grega e contribuísse para o desenvolvimento e a ampliação das possibilidades de comunicação, como também a vivência de práticas de linguagem, como a leitura.

Um gênero de texto que fosse importante para o processo educacional do aluno, pois traz consigo valores essenciais do comportamento humano, gerando uma profunda reflexão ao abordar questões sociais, morais, políticas, religiosas, cívicas, psicológicas, de entretenimento, etc.. Essa escolha recaiu sobre o gênero tragédia, que, a priori, segundo a hipótese levantada, apresentaria as características cujo ensino levaria ao desenvolvimento das capacidades de leitura desejadas, levantamento bibliográfico e estudo da literatura especializada da área.

Na segunda etapa, buscamos identificar as características do gênero segundo o modelo de produção e análise do ISD. Seguimos, portanto, os seguintes passos:

a) identificação dos aspectos do contexto de produção do texto que influenciaram na produção do exemplar do gênero tragédia: o suporte, o contexto sócio-histórico mais amplo, o contexto linguageiro imediato e o intertexto;

b) a análise do texto seguindo os três níveis da arquitetura textual. No primeiro nível, o da infraestrutura, identificamos o plano global dos textos, o conteúdo temático, os tipos de discursos e dos tipos de sequências. No nível dos mecanismos de textualização, fizemos o levantamento dos mecanismos de conexão, coesão nominal e coesão verbal. E, finalmente, no nível dos mecanismos enunciativos, identificamos as modalizações e as vozes.

Na terceira etapa, identificamos as características ensináveis de um exemplar do gênero tragédia adaptada e evidenciamos as contribuições para a construção do modelo didático, levando em consideração o conjunto de operações de linguagem que devem ser mobilizadas pelos alunos para que eles desenvolvam capacidades de linguagem (ação, discursiva, linguístico-discursiva e linguístico-estilística) voltadas para a leitura.

Essa etapa constitui-se, primeiramente, do estabelecimento da correlação entre as características do gênero, de acordo com os níveis de produção e análise propostos no modelo do ISD, e as operações de linguagem que o produtor mobiliza para realizar a leitura e do levantamento das características ensináveis do gênero e a elaboração do modelo didático.

Essa análise está organizada nos elementos que podem influenciar na produção do texto, tais como: o contexto sócio-histórico mais amplo em que o texto é produzido, em que circula e é usado, o suporte em que o texto está sendo veiculado, o contexto linguageiro imediato, o intertexto, os contextos físico e sociointeracional.

Em relação às condições de produção, identificamos a relação do texto com a atividade e o suporte: a influência da linguagem do gênero tragédia nas escolhas lexicais e sintáticas, o contexto sócio-histórico mais amplo na composição do conteúdo temático; a influência do contexto linguageiro imediato para a compreensão do gênero; a situação de produção: as representações do produtor sobre os parâmetros físicos e sociossubjetivos.

Em relação ao nível organizacional analisamos o plano global, os tipos de discursos e os tipos de sequências. No nível dos mecanismos enunciativos, analisamos a conexão (presença ou ausência de organizadores lógico-argumentativos e organizadores temporais, as anáforas), a coesão nominal e a coesão verbal. No nível dos mecanismos enunciativos, analisamos as modalizações e as vozes e seu uso no movimento interativo do texto. No nível dos mecanismos estilísticos, analisamos alguns recursos expressivos da linguagem, como as metáforas e a personificação e os efeitos de sentido no texto. Evidenciamos a realização de operações de linguagem conceituais, transferências e projeções de analogias, com profusão de elementos lexicais (polissemia, famílias lexicais, campos semânticos e terminologias), além dos outros mecanismos estilísticos como a metonímia, hipérbole, sinestesia, ironia, entre outros. Nesta seção, discutimos os procedimentos metodológicos de análise e construção do modelo didático. Na próxima seção, para melhor compreendermos, faremos uma breve contextualização do início das adaptações e traduções literárias no Brasil, discutiremos tradução e adaptação objetivando compreender também os fatores que auxiliaram na constituição do corpus da pesquisa: a tragédia adaptada.