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2 PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS OU MATERIAIS E MÉTODOS

The Teleworking as an Instrument of Judicial Provision: a Study From the Cruz Alta Judicial Subsection

2 PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS OU MATERIAIS E MÉTODOS

1 CONSIDERAÇÕES INICIAIS OU INTRODUÇÃO

O teletrabalho é uma modalidade de trabalho praticada mediante o emprego da tecnologia de informação e comunicação. Comumente utilizada pela esfera privada, ganhou notariedade devido sua ampla implantação em empresas nos Estados Unidos, a partir dos anos 1990. Em que pese a crescente implantação do teletrabalho no mundo todo, no Brasil essa prática ainda é algo novo e desconhecida da maioria da população, principalmente nas instituições públicas.

Para além da perspectiva privada, a concepção de teletrabalho foi adotada pelo Poder Judiciário brasileiro, como o Tribunal Superior do Trabalho (TST), Superior Tribunal Federal (STF), bem como por órgãos administrativos, como o Tribunal de Contas da União (TCU). Assim, a inserção do regime de teletrabalho na Administração Pública se deu, essencialmente, devido aos ganhos inerentes da modalidade, podendo ser mencionadas a otimização do tempo e a redução dos custos e dos impactos ambientais. Ademais, o interesse de pesquisa mais aprofundado sobre a temática, por parte destes pesquisadores, ocorreu em razão da realidade presenciada a partir da atividade laboral realizada junto à Justiça Federal- Subseção Judiciária de Cruz Alta/RS.

Dessa forma, a presente pesquisa justifica-se na medida que essa forma de produção inova as relações de trabalho. Abre-se um espaço para inúmeras discussões acerca dos reflexos de sua implementação, como a qualidade de vida do teletrabalhador, as diferenças de laborais entre o trabalhador do ambiente de trabalho comum e aquele que trabalha remotamente, além dos impactos normativos de sua aplicabilidade.

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A metodologia utilizada para o desenvolvimento deste trabalho é essencialmente exploratória e qualitativa, desenvolvida a partir do método hipotético-dedutivo. Consoante Mezzaroba e Monteiro (2009, p. 110), a pesquisa qualitativa, antes de medir seus dados, busca identificar suas naturezas. Desse modo, a compreensão das informações é realizada de uma forma generalizada e inter-relacionada com múltiplos fatores.

No que tange à técnica, utilizou-se pesquisa bibliográfica, que, de acordo com Prodanov e Freitas (2013, p. 54), é aquela “elaborada a partir de material já publicado, constituído principalmente de: livros, revistas, publicações em periódicos e artigos científicos, jornais, boletins, monografias, dissertações, teses, material cartográfico, internet”. Assim, a pesquisa fundamenta-se em artigos científicos, dissertações, legislação e dados estatísticos relacionados à temática do teletrabalho aplicado ao Poder Judiciário, especificamente, à Justiça Federal da 4ª Região.

O teletrabalho como instrumento da prestação jurisdicional: um estudo a partir da subseção judiciária de Cruz Alta

3 RESULTADOS E DISCUSSÕES

O teletrabalho ou “home office”, como é usualmente conhecido no Brasil, foi idealizado por Jack Nilles, físico da Nasa (Agência de Administração Nacional da Aeronáutica e Espaço do Governo Federal dos Estados Unidos), quando buscava superar a crise do petróleo, na década de 1970. A concepção da ideia de “levar o trabalho ao trabalhador e não o trabalhador ao trabalho”, materializou-se em 1982, com a fundação da “JALA”, primeira empresa de consultoria de teletrabalho do mundo, criada por Nilles (OLIVEIRA, 2016). Apesar disso, a implementação do teletrabalho em maior escala somente se deu no século XXI, com a evolução das tecnologias e a expansão da internet.

Entretanto, conforme Fincato (2016, p. 05) as origens do teletrabalho remontam à época do surgimento do telégrafo óptico pelo engenheiro cientista francês, Claude Chappe, no século XVIII, anterior ao telégrafo elétrico. O telégrafo óptico baseava-se em um sistema de sinalização de semáforos, formado por lunetas e código de transmissão, de modo que uma série de torres eram dispostas em sequência e em lugares altos, como montanhas.

O sistema tinha viés militar, em que o operador de uma torre anunciava para o operador subsequente a chegada ou saída de navios ou de invasores. Os princípios, como o distanciamento entre o gestor e os prestadores de serviço (critério geográfico), organização hierárquica e operacional, além do uso da tecnologia como mediadora da relação a distância, caracterizam a modalidade do teletrabalho (FINCATO, 2016, p. 06).

Conforme Melo (2011, p. 09), “o termo ‘Teletrabalho’ vem da união da palavra grega “Telou”, que significa “longe”, e da palavra latina “Tripaliare”, que significa “trabalhar”. Com efeito, a definição de teletrabalho não é unânime. Encontra-se na literatura, tanto nacional quanto estrangeira, a utilização de diferentes termos para se referir ao mesmo tema e de um mesmo termo para reportar a diferentes especificidades (SAKUDA, 2001 apud AMADOR; ROCHA, 2018, p. 153). Nessa perspectiva, Lima (2018), ao observar os pontos em comum entre os diversos autores que se propuseram a definir a temática, conceituou o teletrabalho como a atividade realizada a distância, remotamente e viabilizada pelos recursos das Tecnologias da Informação e Comunicação (TICs), realizada predominantemente no domicílio dos teletrabalhadores

Segundo Fincato (2016, p. 08), “o surgimento do teletrabalho está intimamente relacionado à evolução das tecnologias de comunicação e à possibilidade de, via mensagens que por estas trafegavam, enviar o trabalho ao trabalhador”. Nesse sentido, na Sociedade da Informação, em que a tecnologia faz parte da vida dos indíviduos, seja na esfera profissional, social ou educacional, faz-se necessário que o Poder Judiciário se adapte ao novo arranjo social que se apresenta, cujo contexto baseia-se na realidade virtual (SILVA, Q. 2013).

Dessa forma, graças à implementação da Lei 11.419/2006, da Informatização do Processo Judicial, a qual dispõe sobre o processo eletrônico e dá outras providências, foi possível deixar de trabalhar com processos em autos físicos, medida fundamental para o desafogamento do Poder Judiciário, bem como de maior economicidade e celeridade no trâmite processual (SILVA, Q.

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2013). Destaca-se que a criação da referida Lei faz parte do chamado Pacto Republicano, que se refere a uma série de reformas infraconstitucionais do processo, com objetivo de promover sua razoável duração e a eficiência na entrega da prestação juridiscional (SILVA, Q. 2013).

No Brasil, até a entrada em vigor da Lei n. 13.467/2017, o teletrabalho não era regulamentado pela legislação trabalhista, no entanto, já era praticado por empresas e órgãos públicos. O capítulo II – A, dessa Lei incluiu a modalidade de teletrabalho à Consolidação das Leis do Trabalho (CLT), aprovada pelo Decreto-Lei no 5.452, de 1º de maio de 1943, passando a vigorar com a seguinte redação:

Art. 75- B. Considera-se teletrabalho a prestação de serviços preponderantemente fora das dependências do empregador, com a utilização de tecnologias de informação e de comunicação que, por sua natureza, não se constituam como trabalho externo. Em sede do Poder Judiciário, a Resolução n. 227/2016, editada pelo Conselho Nacional de Justiça (CNJ), regularizou o teletrabalho, conquanto alguns tribunais já houvessem implantado programas com regulamentações próprias (LIMA, 2018, p. 19). O Tribunal Superior do Trabalho (TST) foi o pioneiro do trabalho remoto na esfera judiciária, com a implantação do modelo em 2011. Consoante o ministro Barros Levenhagen, presidente do TST à época, verificou-se, após um projeto piloto, que o resultado foi extremamente positivo, uma vez que a produtividade dos servidores que participaram da experiência aumentou consideravelmente. Assim, desde 2014, a Corte Trabalhista autoriza que até 50% de seus servidores trabalhem em domicílio (ANDRADE, 2018).

No âmbito da Justiça Federal, o Tribunal Regional Federal da 4ª Região (TRF4), por intermédio da Resolução n. 134, de 12 de dezembro de 2016, foi o precursor na regulamentação do teletrabalho. Entre os aspectos analisados para a edição da supramencionada resolução, destacam-se: a implantação do processo eletrônico judicial; as vantagens e benefícios advindos do teletrabalho para a administração, para o servidor e para a sociedade, bem como a relevância da prevenção e do monitoramento dos fatores de risco associados às mudanças na organização do trabalho; a melhoria do clima organizacional e da qualidade de vida dos servidores.

Com isso, salienta-se a existência dos princípios norteadores da Administração Pública, os quais justificam a implementação de tal modalidade de trabalho na esfera pública. Dentre os princípios previstos na Constittuição Federal de 1988 destacam-se o princípio da eficiência, qual seja:

Art. 37º. A administração pública direta e indireta de qualquer dos Poderes da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios obedecerá aos princípios de legalidade, impessoalidade, moralidade, publicidade e eficiência e, também, ao seguinte: (Redação dada pela Emenda Constitucional nº 19, de 1998).

De acordo com Oliveira (2016, p. 10) “eficiência, segundo o Dicionário Aurélio, é a capacidade de um administrador obter resultados ou de ter o funcionamento esperado com

O teletrabalho como instrumento da prestação jurisdicional: um estudo a partir da subseção judiciária de Cruz Alta

uma maior economia de recursos e/ou tempo”. Outrossim, as motivações da implementação se referem ao direito à saúde e à segurança no trabalho (artigos 6º, 7º, inciso XXII, e 39, § 3º) e, por fim, a equiparação dos efeitos jurídicos do trabalho realizado a distância àqueles decorrentes da atividade laboral exercida mediante subordinação pessoal e direta.

Nesse sentido, a Resolução n. 134, do Tribunal Regional Federal da 4ª Região, conceitua o teletrabalho para a Justiça Federal de 1º e 2º grau como a atividade laboral facultativa, que é executada de modo parcial ou totalmente em local diverso do ambiente de trabalho presencial, fazendo uso de tecnologia da informação e comunicação para o desempenho das atividades. Além disso, disciplina duas formas possíveis de teletrabalho: em domicílio, realizado na residência do servidor, localizada no município sede na unidade judiciária de lotação ou em localizada próxima e o distribuído, que se diferencia apenas na questão de maior distância entre o domicílio do servidor e sua unidade de lotação.

Insta ressaltar que é vedada a modalidade aos servidores que estejam nos dois primeiros anos do estágio probatório; tenham subordinados ou ocupem cargo em comissão. Apresentem contraindicações por motivo de saúde (constatadas em perícia médica); tenham sofrido penalidade disciplinar nos dois anos anteriores à indicação e estejam fora do país, salvo na hipótese de servidores que tenham direito à licença para acompanhar o cônjuge.

Observa-se que o número de servidores que realizam teletrabalho não pode ser superior a 40% da lotação efetiva de servidores da respectiva unidade, de forma que tal porcentagem pode ser majorada mediante pedido fundamentado à Presidência do Tribunal ou à Direção do Foro da Subseção e desde que o aumento do número de pessoas em teletrabalho não prejudique o andamento do trabalho da unidade judiciária.

Ademais, deve o servidor participante do regime de teletrabalho atender as convocações para comparecimento às dependências da Unidade, bem como o desempenho de trabalho presencial a cada período máximo de quinze dias, a fim de socializar com os colegas e se reunir com a chefia. Além disso, metas são estipuladas como meio de avaliação, sendo que é exigido do servidor que seu desempenho seja igual ou até 10% superior àquele estabelecido para os servidores que executarem as mesmas atividades nas dependências da Justiça Federal de 1º e 2º Graus.

O monitoramento e controle do teletrabalho tem como responsáveis os gestores das unidades e a Comissão de Gestão do Trabalho, a qual objetiva a análise dos resultados dos participantes, realização de relatório anual com parecer e proposição de diretrizes no que tange às práticas do regime de teletrabalho. Outrossim, o acompanhamento e a capacitação dos servidores e gestores é feito por meio da Secretaria de Gestão de Pessoas e os Núcleos de Acompanhamento e Desenvolvimento Humano (NADH), consoante artigo 12 da Resolução. Dados71do Tribunal Regional Federal da 4ª Região, do ano de 2019, demonstram que

há, atualmente, 83 servidores que trabalham em regime de teletrabalho, parcial ou integral, na 7 Dados retirados do site do Tribunal Regional Federal da 4ª Região. Disponível em: https://www.trf4.jus.br/trf4/

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sede do Tribunal, situada no município de Porto Alegre/RS. Em um levantamento8feito pelo Tribunal, no ano de 2016, havia463 servidores da Justiça Federal de 1º e 2º grau da 4ª Região (Rio Grande do Sul, Santa Catarina e Paraná) que trabalhavam de forma remota.

Na Subseção Judiciária de Cruz Alta,9 o quadro funcional é composto por 1 Juiz Federal; 26 servidores; 6 estagiários, além dos colaboradores terceirizados, responsáveis pelos serviços gerais e de vigilância. No que diz respeito aos servidores, das 26 pessoas mencionadas, 9 trabalham na modalidade de teletrabalho, dos quais, 8 em regime integral e apenas 1 em regime parcial.

Nessa perspectiva, os servidores em regime de teletrabalho têm algumas obrigações a serem cumpridas, como: em relação ao pessoal de Secretaria, a obrigatoriedade de comparecimento quinzenal na Vara e comparecimento mensal para servidores ocupantes de função de Gabinete. Não obstante, todos devem comparecer à Unidade sempre que forem chamados. Também há a obrigatoriedade de manutenção de uma estrutura ideal para o trabalho em domicílio; permanecer logado ao sistema de comunicação interno, no horário de expediente; o cumprimento das metas estipuladas na entrevista inicial, além de regularmente alimentar os relatórios mensais de produtividade junto ao Sistema de Eletrônico de Informações (SEI).

Todavia, essa modalidade laboral ainda sofre preconceitos e receios, essencialmente em órgãos do Poder Judiciário, tendo em vista que é uma prática relativamente nova na administração pública brasileira. De acordo com Silva, A. (2015), o tema ainda causa desconfiança na dinâmica do funcionalismo público, corroborado pelo imaginário de que o servidor, com a possibilidade de permanecer em sua residência, não trabalhará.

Observa-se que a qualidade de vida dos servidores é um dos fatores determinantes para a utilização do teletrabalho. Segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), qualidade de vida é “a percepção do indivíduo de sua inserção na vida no contexto da cultura e sistemas de valores nos quais ele vive e em relação aos seus objetivos, expectativas, padrões e preocupações”. Isso quer dizer que a escolha do servidor por trabalhar em tal regime representa a capacidade de satisfazer suas necessidades pessoais de acordo com sua atividade na organização na qual está inserido (CHIAVENATO, 2004 apud SILVA, Q. 2013, p. 15).

Nesse sentido, é indubitável que o trabalho remoto permite ao trabalhador mais liberdade para gerir o seu tempo e programar as suas atividades, além de reduzir custos com alimentação, transporte e vestuário, o que influi diretamente na qualidade de vida do indivíduo. Consoante Maria Regina Junqueira e Silva, diretora da Divisão de Gestão de Pessoas do Tribunal Regional Federal da 4ª Região:

O teletrabalho permitiu conciliar tudo isso, possibilitando que os servidores se organizem da melhor forma para desenvolver suas tarefas sem sair de casa, otimizando sua vida e melhorando sua qualidade de vida, sem prejuízo da qualidade e celeridade na execução do trabalho.

8 Dados disponíveis em: https://www.jornaldocomercio.com/_conteudo/2017/06/cadernos/jornal_da_lei/568628-

teletrabalho-e-desenvolvido-por-463-servidores-do-trf-4.html.

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Em contrapartida, Viecili et al. (2019, p. 05) destaca algumas desvantagens advindas do teletrabalho observadas pela doutrina, tais como o desenvolvimento de problemas ergonômicos relacionados à exposição do teletrabalhador a condições e postura inadequadas; o aumento de custos em relação à compra e à manutenção de equipamentos, bem como ao uso de energia elétrica e, principalmente, o risco de isolamento social causado pela carência de contato com os colegas.