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Processo Arteterapêutico

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Capítulo II: Método

2.4 Procedimentos

2.4.3 Processo Arteterapêutico

Esta etapa diz respeito aos Encontros de Arteterapia propostos por esse estudo. De acordo com os critérios iniciais do projeto de pesquisa, foi definida a estrutura grupal para a ocorrência dos encontros, de acordo com as literaturas (Martins , 2015; Santos, 2016; e Peixoto & Heilborn, 2016). O indivíduo estando em grupo é receptivo a influências de seus membros e a formação grupal permite “a ‘exaltação ou intensificação de emoção’ produzida em cada membro dele” (Freud, 1921/2006, p. 95).

por semana até o 2º Encontro. Houve a paralização dos encontros durante duas semanas por motivo de falta das participantes. Para obedecer ao cronograma encerrando o grupo na data inicialmente acordada com as participantes e com a Coordenação de Assistência Social, a frequência se alterou sendo duas vezes por semana a partir do 3º encontro.

A frequência e quantidade de encontros foram determinadas a partir de dados da literatura (Santos, 2016; Martins, 2015; e Altermann, Bratz, Porto Silva, Stracke & Duarte, 2011) e do cronograma de atividades dessa pesquisa. Esta estrutura convergiu à maneira como são conduzidos os grupos terapêuticos do CRAS de Hidrolândia, com média entre cinco a dez encontros por oficina/grupo em andamento11.

Os encontros aconteceram na Sala de Dança do CRAS de Hidrolândia, cuja instalação é apropriada para o tipo de ação fomentada por esta etapa da pesquisa, conforme consta toda a descrição do espaço na Declaração de Especificação do Espaço Físico Solicitado, já mencionado. A descrição detalhada (data, temática, etapas, etc.) a respeito de cada um dos encontros está presente do Apêndice I ao Apêndice P.

Em relação às movimentações vivenciadas, essas foram pautadas apenas por orientações compatíveis com o estilo proposto, por meio da verbalização e/ou da demonstração corporal da pesquisadora. Os delineamentos de movimentação propostos surgiram com a finalidade de encorajá-las à experimentação do corpo e a manter o caráter arteterapêutico da linguagem artística utilizada como recurso. A proposição desse formato é que, mesmo em meio à estruturação básica de cada encontro, as participantes pudessem viver o seu corpo em suas diversas dimensões de forma livresca e genuína. “A representação simbólica do movimento nada mais é que o encenar, através do corpo, o que

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Informações concedidas pela psicóloga Letícia Tereza de Arruda, responsável pela condução dos grupos/oficinas coordenados pela Equipe de Psicologia do CRAS de Hidrolândia.

mais tenho de profundo, atravessando a couraça da própria pele, da musculatura, e as couraças do interno” (Emming, 2014, p. 125).

Cada encontro foi delineado por este estudo para acontecer no período de uma hora total. Os primeiros 45 minutos foram destinados ao momento de Laboratório Vivencial e os 15 minutos finais reservados ao momento de Expressão Verbalizada. “O Arte-Terapeuta estabelece um plano de trabalho a desenvolver pela população alvo, de acordo com as necessidades desta e de acordo com a gradiente expressão/aprendizagem” que se deseja trabalhar (Emming, 2014, p. 124). A seguir são detalhados os dois momentos previamente estruturados para os Encontros Arteterapêuticos delineados por esta pesquisa:

Primeiro momento - Laboratório Vivencial: Nesta etapa as participantes foram convidadas à prática da expressão corporal de acordo com o trabalho especificado para cada um dos encontros. As temáticas propostas para cada encontro foram previamente estabelecidas, estando sujeitas a alterações durante o acontecimento das atividades e/ou após a ocorrência de cada encontro. Assim foi feito permitindo que a estrutura dos encontros pudesse ser moldada de acordo com o perfil do grupo e com as necessidades e intercorrências que pudessem aparecer durante todo o processo, do 1º ao 8º encontro.

Após brevemente compartilhada a temática do dia com as participantes, essas foram induzidas ao 1º momento, intitulado “Despertar”, onde foi realizado o alongamento dos principais grupos musculares solicitados ao movimento durante o laboratório, com o intuito de despertar o corpo à prática e protegê-las de possíveis lesões. Em seguida, no momento intitulado “Imersão” foram repassadas às participantes as informações sobre o que seria feito permitindo a elas a imersão quanto às experimentações propostas para o encontro do dia. Assim elas puderam tomar conhecimento do que seria trabalhado, fornecendo a elas segurança e participação ativa durante o encontro.

Em seguida, foi realizado o momento de “Exercícios Específicos” elaborados à luz da temática do dia. Houve a possibilidade do uso de diferentes instrumentos de auxílio como, por exemplo, colchonetes, barras móveis, etc. O uso dos instrumentos pôde ser de forma isolada ou combinada, dependendo da necessidade do exercício. Esse era o único momento em que as movimentações eram pautadas em modelos especificados pela pesquisadora, embora se saiba que “nenhum corpo se movimenta como o outro, por mais que a técnica utilizada seja a mesma e as repetições se realizem” (Monteiro & Paletta, 2016); elas se expressavam de forma subjetiva.

Posteriormente, ocorreu a “Dinâmica Temática” de abordagem lúdica. Este momento assim foi delineado com o intuito de aproximação das participantes e avaliação, por parte da pesquisadora, das características pessoais e do perfil do grupo. Considerando o caráter lúdico deste momento, ele se aproxima do jogo do brincar. Segundo Volich (2000), “para que o brincar com o corpo seja possível, a criança precisa de um companheiro de jogo. Sem a presença de um outro, (...), nenhuma brincadeira é possível” (p. 129). Portanto, em todos os encontros esta etapa foi conduzida em formação de duplas.

No 5º momento, intitulado “Expressão Corporal” houve a potencialização da ação dançante. “A arte é sempre um potencial para a produção do novo, do devir, da diferença” (Almeida, 1997, p.13). Foi, então, incitada às participantes a experimentação livre do corpo e a sensação da fluidez dos movimentos corporais. Esse momento foi construído para materializar a percepção de mundo possibilitando a manifestação simbólica das representações psíquicas. “Para transmutar em símbolo a minha queixa latente, ao invés de verbalizar (...) terei que criar e recriar a relação ressignificante” (Emming, 2014, p. 124).

Finalizando o Laboratório Vivencial, o momento “Relaxamento” foi conduzido para a recuperação do fluxo respiratório regular, o alívio imediato das tensões geradas durante o ato dançante e o retorno do corpo ao estado natural de ação. Esse momento

também teve como intuito a transição do Laboratório Vivencial à Expressão Verbalizada, afinal, segundo Farah (2016), “o corpo em movimento pode impulsionar o verbo” (p. 550). Segundo momento - Expressão Verbalizada: Ao encerrar o momento do Laboratório Vivencial, o encontro foi conduzido para o momento de Expressão Verbalizada, onde houve a possibilidade das participantes comunicarem verbalmente a respeito das suas próprias percepções acerca do que foi vivenciado no momento anterior. Gonsalves, Moura, Santos, Messina e Carvalho (2017) apontaram que o trabalho com a dança sendo conduzido em grupo possibilita a troca e a partilha de situações que as mulheres vítimas da violência quase não falavam.

A libido teve a possibilidade de ser convocada a comparecer, levando o sujeito a entrar num curso regressivo, recordando materiais passados (Freud, 1912/2006), assim como ocorre na produção artística, onde o artista, na confecção de sua obra, expressa as mais variadas experiências vividas em um passado remoto. “Nossa psique está registrada no corpo. Ao trabalhar o corpo nos conectamos diretamente com essa memória, trazendo lembranças de sensações e, às vezes, de conteúdos esquecidos.” (Baptista, 2003, p.2).

Além das experiências específicas de sofrimento corporal essas mulheres encontraram conforto para dizer algo íntimo. As situações enunciadas foram acolhidas, qualificadas e tratadas com respeito e sigilo. Coube à pesquisadora, com seu conhecimento e a orientação devida, realizar a condução desta etapa, pois foi neste momento que emergiu diferentes lembranças de vivências corporais. Sabe-se que é recordando que o sujeito estará vivendo de alguma forma suas fantasias mais primevas (Freud, 1914b/2006).

As falas aqui produzidas serviram de dados a esta pesquisa e para a compreensão

por parte das participantes a respeito das ações corporais por elas praticadas. Esse recurso aparece “de tal forma que o acontecimento que toca o corpo não fique privado de possibilidades metafóricas” elaboradas por elas mesmas (Fernandes, 2011, p.135). Sendo

assim, esse momento foi de extrema importância ao processo, mesmo que para as participantes ele tenha servido como um meio de esvaziamento ou apenas outra via de expressão daquilo que foi experimentado no corpo.

Não houve a tentativa de elucubrar um sistema simbólico imediato por meio da fala em torno do acontecimento do corpo que se presentificou na ação dançante das participantes. Cogitou-se, inclusive, que pudesse haver a ausência de produção verbal. Nos casos em que não ocorreu nenhuma fala das mulheres do grupo, a pesquisadora iniciava a comunicação. Essa alternativa apareceu como facilitadora para o início da conversação, visto que a proposta, próxima à técnica da associação livre, era de deixar que elas escolhessem por onde começar (Freud, 1913a/2006).

Outra finalidade dessa prática da fala foi a tentativa de amortecer a provável tensão gerada pelo silêncio e de oferecer às participantes algum suporte para as questões em aberto sobre suas experiências em grupo. Afinal, a multiplicidade de sentidos se forma também a partir dos discursos verbais (Fernandes, 2011). Dessa forma, elas não se despediram do encontro deixando um hiato sobre possíveis elucidações.

“A eficácia do trabalho corporal é uma forma de acesso ao inconsciente” (Arévalo & Samudio, 2013, p.151). A Expressão Verbalizada surgiu pluralizando as diferentes formas de significação, possibilitando “interpretar acontecimentos expressos nos comportamentos e nas narrativas dos participantes da pesquisa” (Albuquerque, 2007, p.64).

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