• Nenhum resultado encontrado

Download/Open

N/A
N/A
Protected

Academic year: 2021

Share "Download/Open"

Copied!
110
0
0

Texto

(1)

Pontifícia Universidade Católica de Goiás Pró-Reitoria de Pós-Graduação e Pesquisa

Escola de Ciências Sociais e da Saúde

Programa de Pós-Graduação Stricto Sensu em Psicologia

Mulheres em situação de violência:

uma intervenção arteterapêutica por meio da dança

Veigma Lacerda e Silva

Orientador: Prof. Dr. Fábio Jesus Miranda

(2)

Pontifícia Universidade Católica de Goiás Pró-Reitoria de Pós-Graduação e Pesquisa

Escola de Ciências Sociais e da Saúde

Programa de Pós-Graduação Stricto Sensu em Psicologia

Mulheres em situação de violência:

uma intervenção arteterapêutica por meio da dança

Veigma Lacerda e Silva

Dissertação apresentada ao Programa de Pós Graduação Strito Sensu em Psicologia da PUC Goiás como requisito parcial para a obtenção do título de Mestre em Psicologia.

Orientador: Prof. Dr. Fábio Jesus Miranda

(3)

S586m Silva, Veigma Lacerda

Mulheres em situação de violência: uma intervenção arteterapêutica por meio da dança [manuscrito] : Veigma Lacerda e

Silva.-- 2018. 110 f.; il.; 30 cm

Texto em português com resumo em inglês. Dissertação (mestrado) - Pontifícia Universidade Católica de Goiás,

Programa de Pós-Graduação Stricto Sensu em Psicologia, Goiânia,

2018.

Inclui referências, f. 81-88

1. Arte-terapia - dança - Aspectos psicológicos. 2. Violência contra as mulheres - arteterapia - Psicologia.

I.Miranda, Fábio Jesus.

II.Pontifícia Universidade Católica de Goiás. III. Título.

CDU: Ed. 2007 -- 159.9:616.8-085.85(043)

(4)

Silva, V. L. (2018). Mulheres em situação de violência: uma intervenção arteterapêutica

por meio da dança. Orientador: Prof. Dr. Fábio Jesus Miranda

Esta Dissertação foi submetida à banca examinadora:

____________________________________ Prof. Dr. Fábio Jesus Miranda

Pontifícia Universidade Católica de Goiás Presidente da banca

____________________________________ Profª. Drª. Mara Rúbia de Carmargo Alves Orsini

Universidade Federal de Goiás Membro convidado externo

____________________________________ Profª. Drª. Juliany Gonçalves Guimarães de Aguiar

Pontifícia Universidade Católica de Goiás Membro convidado interno

____________________________________ Profª. Drª. Vannuzia Leal Andrade Peres Pontifícia Universidade Católica de Goiás

(5)

“Que a arte nos aponte uma resposta, mesmo que ela não saiba. E que ninguém a tente complicar, porque é preciso simplicidade para fazê-la florescer”

(6)

À menina Maya, fruto do meu ventre, gerada, gestada e nascida junto a este trabalho.

(7)

Agradecimentos

Agradeço primeiramente a Deus por me permitir saúde, leveza e o resgate das boas energias durante a produção deste trabalho, mesmo frente às adversidades que fizeram parte da minha jornada.

À minha mãe, mulher que muito me ensinou sobre força e sensatez. Pela prestimosa colaboração na tentativa de suprir minhas ausências maternas, me permitindo a possibilidade de trabalhar, estudar, “maternar” e ainda dançar. A ela minha mais profunda gratidão, sempre!

A meu pai, que não mede esforços para me permitir chegar sempre onde desejo. Meu mais ávido incentivador nos estudos. Responsável não só pelos árduos investimentos financeiros, mas principalmente pelo exemplo de caráter que é para mim e meus irmãos.

Ao partner que escolhi para dançar a vida comigo, por compartilhar das melhores conquistas ao meu lado e ter colaborado, mesmo em meio a tantos infortúnios (e justamente por eles), a entender mais sobre o amor.

À minha trajetória em análise, que, por meio do manejo e posição de minha analista – a quem admiro devido o notável trabalho dedicado à causa analítica -, vem me permitindo a reinvenção de novos saberes.

À dança, meu mais intenso objeto de amor. É nela onde me perco e, às vezes, como que por fortuito, me encontro. Louvo e agradeço a essa linguagem artística por ter me escolhido!

À Cia de Dança Noah, berço que me acolhe desde meu ingresso na vida acadêmica, me permitindo criar minhas mais estimadas produções artísticas. Espaço onde pude desvelar sobre as profundas possibilidades corpóreas e compartilhar meus conhecimentos da Psicologia à Dança, compreendendo que arte e ciência são grandes parceiras.

(8)

Agradeço ao meu orientador, Professor Dr. Fábio Jesus Miranda, por acreditar e creditar na força do meu trabalho, pela paciência nos meus momentos de frustração e, mais ainda, por dividir comigo seus valiosos conhecimentos.

À Martha Diniz, secretária do Programa de Pós Graduação em Psicologia da PUC Goiás, pela sua prestatividade e excelência em me ajudar, sempre que necessitei.

À equipe da Assistência Social de Hidrolândia. Não só por fornecer campo de pesquisa para a produção de novos conhecimentos, mas por auxiliar e propiciar todo o conforto e demais possibilidades para que a pesquisa fosse realizada, atribuindo votos de confiança em meu trabalho.

Às minhas alunas/monitoras por terem assumido as rédeas quando minha ausência nas atividades dos meus locais de trabalho se fez necessária. Aos meus amigos que me auxiliaram de alguma forma. E às amigas pesquisadoras que dividiram seus conhecimentos comigo durante o processo de construção deste estudo.

E não posso deixar de agradecer imensamente à disposição das participantes deste estudo, que permitiram o acesso à intimidade de cada uma, que concederam a aproximação a suas histórias de vida e que se dispuseram a diligenciar relatos e vivências na dança. Agradeço a essas mulheres que, de maneira abnegada, se prestaram a fornecer os subsídios necessários para a construção deste trabalho, para além de suas dores e receios. A elas, meu profundo respeito!

A todos que de alguma forma, contribuíram para a minha caminhada, auxiliando para a conclusão de mais esta etapa. Por acreditarem que eu seria capaz, colaboraram para o bom fluxo de energia aqui investida.

(9)

RESUMO

O objetivo geral desse estudo consiste em saber se a linguagem artística da dança, enquanto instrumento arteterapêutico, pode ser capaz de fornecer melhoras significativas quanto aos aspectos psicológicos vivenciados por essas mulheres. O cenário do estudo foi o Centro de Referência em Assistência Social de Hidrolândia-GO. A pesquisa foi desenvolvida com um grupo de nove mulheres com idade entre 18 e 37 anos com histórico de violência de natureza sexual, física, psicológica e/ou obstétrica. O grupo arteterapêutico foi desenvolvido em oito sessões com diferentes temáticas envolvendo os princípios básicos da Dança Moderna. Os dados de pesquisa foram coletados por meio do preenchimento da ficha de dados sóciodemográficos, entrevistas e desenhos livres nas fases pré e pós processo arteterapêutico, e observação das sessões de arteterapia. A análise e a conclusão dos resultados foram consideradas à luz da teoria e da interpretação psicanalítica. Os dados da pesquisa sinalizam que as mulheres que participaram dos encontros arteterapêuticos apresentaram progressos quanto às suas produções verbais, quanto à representação projetiva a respeito de si mesma e, principalmente, quanto à movimentação expressiva de seu corpo, ressignificando seu Eu corporal. Destaca-se, portanto, a indispensável ação multidisciplinar frente a esse fenômeno propondo o trabalho de grupos arteterapêuticos como uma das alternativas de ação possíveis, junto à prática profissional dos psicólogos, ampliando a comunicação de diferentes áreas de atuação a serviço desse universo.

(10)

ABSTRACT

The general objective of this study is to know if the artistic language of dance, as an art therapy instrument, can be able to provide significant improvements in the psychological aspects experienced by these women. The research was conducted at the Reference Center of Social Assistance in Hidrolândia, Goiás, with a cohort of women aged 18-37 years who have experienced some form of physical, psychological and/or sexual violence by an inti-mate partner or non-partner in their lifetime. The art therapy group activities consisted in eight multi-thematic sessions involving the basic principles of Modern Dance. Data was collected by a sociodemographic data sheet, personal interviews and freehand drawing pre and post the art therapy process as well as during the sessions, and then analyzed through psychanalytic interpretation. The results indicate that the women in the group showed sig-nificant improvement in verbal communication skills, self-representation and expression through movement, all linked with the perception and resignification of their bodily self. This emphasizes both the key importance of multidisciplinary actions and the role of art therapy combined with professional practices of psychologists as a useful alternative to address the issue of violence against women, and at the same time provides opportunities for collaboration and interchange from diverse fields.

(11)

LISTA DE TABELAS

Tabela 1 – Dados sóciodemográficos... 52 Tabela 2 – Dados referentes à tipologia da violência... 54 Tabela 3 – Participação nas etapas de pesquisa... 74

(12)

LISTA DE SIGLAS1

CAPES: Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior CLACSo: Conselho Latinoamericano de Ciências Sociais

CRAM: Centro de Referência de Atendimento à Mulher CRAS: Centro de Referência em Assistência Social

CREAS: Centro de Referência Especializado em Assistência Social DDM: Delegacia de Defesa da Mulher

DEAM: Delegacia Especializada em Atendimento à Mulher DM: Delegacia para a Mulher

DP: Delegacia de Polícia

DSD: Dados Sóciodemográficos

EVA: Ethil Vinil Acetat (Etileno Acetato de Vinila – tapete emborrachado) GEOSP: Gerência do Observatório de Segurança Pública

LiLACS: Literatura Latinoamericana e do Caribe em Ciências da Saúde NAC: Núcleo de Análise Criminal

PEPsic: Portal de Periódicos Eletrônicos de Psicologia PSI: Plataforma de Sistemas Integrados

RAI: Registro Integrado de Atendimentos

Redalic: Rede de Revistas Científicas da América Latina e Caribe, Espanha e Portugal RISP: Região Integrada de Segurança Pública

SciELO: Scientific Electronic Library Online (Biblioteca Científica Eletrônica Online) SEAP: Superintendência Executiva de Administração Penitenciária

1

(13)

SPM: Secretaria de Políticas para Mulheres

SPTC: Superintendência de Polícia Técnico-Científica SSP: Secretaria de Segurança Pública

SSPAP/GO: Secretaria de Segurança Pública e Administração Penitenciária do Estado de Goiás

TCLE: Termo de Consentimento Livre e Esclarecido TEPT: Transtorno de Estresse Pós Traumático

(14)

SUMÁRIO

Introdução... 14

Capítulo I: Revisão da Literatura... 22

1.1 Procedimentos da pesquisa de literatura... 22

1.2 Resultados da pesquisa de literatura... 23

1.3 Violência contra a mulher... 24

1.4 Arteterapia e a Dança... 28

Capítulo II: Método... 33

2.1 Participantes... 33

2.2 Local da pesquisa... 34

2.3 Instrumentos... 36

2.4 Procedimentos... 39

2.4.1 Procedimentos iniciais da pesquisa... 39

2.4.2 Procedimentos Pré Processo Arteterapêutico... 40

2.4.2.1 TCLE e Ficha DSD... 40

2.4.2.2 Entrevista... 40

2.4.2.3 Desenho Livre... 41

2.4.3 Processo Arteterapêutico... 43

2.4.4 Procedimentos Pós Processo Arteterapêutico... 48

2.4.4.1 Desenho Livre... 49

2.4.4.2 Entrevista... 49

2.4.5 Procedimentos de análise de dados... 50

Capítulo III: Resultados e Discussão... 51

3.1 Dados sóciodemográficos e tipológicos... 51

3.2 Perspectivas Pré Processo Arteterapêutico... 55

3.3 Produções durante o Processo Arteterapêutico... 59

3.4 Mu(danças) Pós Processo Arteterapêutico... 65

3.4.1 Entrevista... 65

3.4.2 Análise comparativa dos desenhos... 68

3.4.2.1 Desenhos de Ana... 69

(15)

3.4.2.3 Perspectivas gerais dos desenhos... 73

3.5 Sobre desistências e resistências... 73

Considerações Finais... 77

Referências Bibliográficas... 81

Apêndice A – Termo de cessão de espaço físico... 89

Apêndice B – TCLE (modelo)... 90

Apêndice C – Ficha DSD... 92

Apêndice D – Roteiro de Entrevista Semiestruturada Pré Processo Arteterapêutico 93

Apêndice E – Roteiro de Entrevista Semiestruturada Pós Processo Arteterapêutico 94

Apêndice F – Folha de Desenho Livre (modelo)... 95

Apêndice G – Termo de Consentimento da Instituição... 96

Apêndice H – Termo de Autorização CREAS... 97

Apêndice I – 1º Encontro de Arteterapia... 98

Apêndice J – 2º Encontro de Arteterapia... 99

Apêndice K – 3º Encontro de Arteterapia... 100

Apêndice L – 4º Encontro de Arteterapia... 101

Apêndice M – 5º Encontro de Arteterapia... 102

Apêndice N – 6º Encontro de Arteterapia... 103

Apêndice O – 7º Encontro de Arteterapia... 104

Apêndice P – 8º Encontro de Arteterapia... 105

Anexo A – Declaração de especificação de espaço físico... 106

Anexo B – Desenhos de Ana... 107

(16)

INTRODUÇÃO

Como fosse um par que nessa valsa triste se desenvolvesse ao som dos bandolins e como não, e porque não dizer que o mundo respirava mais se ela apertava assim? Seu colo e como se não fosse um tempo em que já fosse impróprio se dançar assim, ela teimou e enfrentou o mundo se rodopiando ao som dos bandolins...

(Bandolins - Oswaldo Montenegro)

A motivação para a elaboração deste estudo surgiu da experiência com a temática a respeito da Representação feminina e a Arte na disciplina de Psicanálise e Gênero cursada pela pesquisadora deste estudo durante a graduação no curso de Psicologia. Diante da construção do trabalho da disciplina acima citada, alguns questionamentos foram despertos a respeito da feminilidade na dança e como essa linguagem artística poderia contribuir com novas possibilidades de expressão de angústias e desejos das mulheres que dançam.

A dança é um dos instrumentos capazes de aliviar “a sensação de mal-estar provocada pela repressão dos movimentos do corpo” (Laban, 1990, p. 25). Pode ser então, o contato com a dança, um dos meios possíveis de expressão, engendrando novas formas de viver além das limitações subjugadas no corpo, podendo fornecer melhoras significativas quanto aos aspectos psicológicos vivenciados pelo indivíduo. Diante disso, o presente estudo trouxe essa perspectiva para o coletivo de mulheres em situação de violência, visto que esse fenômeno afeta a “mulher em seu ser, em seu estar no mundo e em sua corporeidade” (Merleau-Ponty, 1999, citado por Oliveira, Viegas, Santos, Silveira & Elias, 2015, p.198).

(17)

Segundo o Artigo 1 do Capítulo 1 da Convenção Interamericana para Prevenir, Punir e Erradicar a Violência contra a Mulher2, a expressão “violência contra a mulher” é definida como “qualquer ato ou conduta baseada no gênero, que cause morte, dano ou sofrimento físico, sexual ou psicológico à mulher, tanto na esfera pública como na esfera privada” (Brasil, 1994, p.2). Além das tipificações de violência anteriormente citadas, a Lei nº 11.340/2006, conhecida como Lei Maria da Penha, identifica mais dois tipos de violência - moral e patrimonial - que, junto às violências de natureza física, sexual e psicológica previstas na Convenção de Belém do Pará, totalizam as cinco formas de violência contra a mulher, conforme definidas no Artigo 7° dessa Lei (Brasil, 2006).

De acordo com os dados estatísticos3 presentes no site da Secretaria de Segurança Pública do estado de Goiás divulgados pelo Observatório de Segurança Pública4, de 2016 a 2018, o estado teve um aumento significativo referente à quantidade de casos de violência contra a mulher registrados na Lei Maria da Penha, Artigo 42.

De Janeiro a Abril de 2018 foram mais 1.325 casos registrados nessa Lei, relacionados especificamente ao Artigo 42, em todo o estado de Goiás (Fonte: Análise Criminal do Registro Integrado de Atendimentos – (RAI) – SSP/GO, 2018)5. Segundo o Atlas da Violência (Cerqueira, Lima, Bueno, Valencia, Hanashiro, Machado & Lima, 2017), durante o ano de 2015 4.621 mulheres foram assassinadas no Brasil, o que

2

Também conhecida como “Convenção de Belém do Pará”, essa convenção foi adotada em Belém do Pará (BR), em 6 de junho de 1994, no Vigésimo Quarto Período Ordinário de Sessões da Assembleia Geral. 3

Dados estatísticos por abrangência do Núcleo de Análise Criminal da região do estado de Goiás, pesquisado por meio do filtro RISP (Região Integrada de Segurança Pública), segundo direcionamento fornecido pela Gerência do Observatório de Segurança Pública (GEOSP) via e-mail, na pessoa do Sd. Makley, Analista Criminal da Coordenação de Análise Criminal.

4

O Observatório de Segurança Pública da SSPAP/GO é o órgão responsável pela divulgação de informações da área de Segurança Pública do estado de Goiás, centralizando a coleta e a auditagem dos dados estatísticos. (...) Desde 2016, “as informações passaram a ser divulgadas através do site da SSPAP/GO de forma eletrônica e não mais através de relatórios” (Kahn, 2016, p.4).

5

O RAI (Registro Integrado de Atendimentos) é a base da Plataforma de Sistemas Integrados (PSI). Inte-gram essa base: a Polícia Militar, a Polícia Civil, o Corpo de Bombeiros Militar, a Superintendência de Polí-cia Técnico-Científica (SPTC) e a SuperintendênPolí-cia Executiva de Administração Penitenciária (SEAP) (Kahn, 2016).

(18)

corresponde a uma taxa de 4,5 mortes para cada 100 mil mulheres. Nesse mesmo ano, até a tipificação do crime segundo a Lei nº 13.104/2015, conhecida como Lei do Feminicídio, os estados de Roraima, Goiás e Mato Grosso se encontravam no topo da lista de maior prevalência de homicídio contra mulheres (Cerqueira et al, 2017).

Ainda em 2018, o estado de Goiás mantém a segunda posição entre os estados com maior número de feminicídios proporcionalmente à população, se aproximando do primeiro lugar, ocupado por Roraima6. Constata-se diante dos dados estatísticos apresentados nos últimos anos, a relevância do tema desta pesquisa para o estado de Goiás.

Visando a implantação de estratégias de prevenção (programas de sensibilização nas escolas; debates na comunicação social; etc.) e de políticas para esses casos, foram criados, entre o período de 1985 e 2002, serviços especializados de atendimento como as Casas-Abrigo/Serviços de Abrigamento; os Centros de Referência de Atendimento à Mulher; os Serviços de Responsabilização e Educação do Agressor; os Juizados de Violência Doméstica e Familiar contra a Mulher; as Defensorias da Mulher; e as Delegacias Especializadas de Atendimento à Mulher (Brasil, 2011).

Segundo a Política Nacional de Enfrentamento à Violência Contra as Mulheres, a partir de 2003, com a criação da Secretaria de Políticas para Mulheres (SPM), as ações de enfrentamento à violência contra a mulher têm um “maior investimento e a política é ampliada no sentido de promover a criação de novos serviços e de propor a construção de Redes de Atendimento às mulheres em situação de violência” (Brasil, 2011, p.16).

6

Os dados são referentes aos levantamentos do Anuário da Segurança Pública, Mapa da Violência, Balanço do 180 e da Agência Patrícia Galvão, compilados pela Secretaria Nacional de Políticas para Mulheres encon-trados no site http://www.compromissoeatitude.org.br

(19)

Sabe-se, então, que as instituições públicas voltadas ao acolhimento de mulheres vítimas de violência contam, em princípio, com serviços especializados a essa tipologia. No entanto, de acordo com Silva, Padoin e Vianna (2015), as práticas assistenciais de intervenção a esses casos ainda se pautam no modelo biológico predominando a atenção às lesões orgânicas e ações dirigidas ao corpo físico. Segundo essas mesmas autoras, a escuta, o acolhimento e a orientação fornecidos às vítimas de violência por meio da prática psicológica é uma das estratégias de intervenção que possibilitam, para além do cuidado biológico e de medicalização, a tarefa de elaboração dos danos psicológicos causados.

Meneghel, Bairros, Mueller, Monteiro, Oliveira e Collaziol (2011) afirmam que a prática da escuta nos casos de violência contra a mulher tende a ser de caráter paliativo, onde o profissional ouve a história das vítimas e depois as encaminham para outro serviço. Segundo Fernandes (2011), a atuação das instituições indica a necessidade de observar e não apenas escutar o que as mulheres têm a dizer sobre as situações de violência vividas. É imprescindível que a escuta acolha algo além do que possa ser ouvido. Esta autora afirma:

O trabalho cotidiano das instituições de saúde em geral mostra que não podemos “escutar” sem “ver”. O “escutar-ver” é ainda mais necessário quando, muitas vezes, nos deparamos com situações nas quais as palavras pouco ou nada conseguem dizer, além de evocar imagens confusas de um cenário frequentemente violento. (Fernandes, 2011, p.35).

Beiras, Moraes, Rodrigues e Cantera (2012) sinalizam a importância de órgãos, políticas públicas e serviços especializados para o acesso à justiça e às medidas protetivas às vítimas de violência dessa tipologia. No entanto, alguns questionamentos foram considerados por esses mesmos autores, os quais ressaltaram a relevância de práticas psicoeducativas e/ou terapêuticas agregadas às sanções legais.

Segundo Freud (1905 ou 1906; 1942/2006), assim como nas linguagens artísticas literárias, a dança também “presta-se a dar vazão a uma sensibilidade intensa e variada” (p.293). À luz dessas evidências, uma das possibilidades de intervenção propostas por este

(20)

estudo, na tentativa de poder contribuir com as diferentes aplicações e métodos de tratamento a essas mulheres, é o contato com a dança, em caráter arteterapêutico.

A dança como composição de movimento pode ser comparada à linguagem oral. Assim como as palavras são formadas por letras, os movimentos são formados por elementos; assim como as orações são compostas de palavras, as frases da dança são compostas de movimento. Esta linguagem do movimento, de acordo com seu conteúdo, estimula a atividade mental de maneira semelhante, e talvez até mais complexa que a da palavra falada. (Laban, 1990, p. 32).

A dança, enquanto ferramenta arteterapêutica, “contribui no processo da autobiografia, no sentido da libertação de nossas amarras psíquicas” (Emming, 2014, p. 123). E o que aqui se propõe é a aplicação da Dança Moderna como recurso arteterapêutico fruindo-se de seus fundamentos básicos. Este novo estilo de movimentar-se trouxe consigo a tentativa do alcance da liberdade expressiva do corpo.

Isadora Duncan, precursora deste estilo, propôs viver a dança em sua plenitude, promovendo o resgate da fluidez (Portinari, 1989). Sua dança propunha acima de tudo uma harmonia com a natureza, o que foi estendido à prática deste modo de movimentar-se, em geral. “Eu viera à Europa (...) para revelar a beleza e sanidade do corpo humano através da expressão dos seus movimentos” (Duncan, 1989, p. 67). Laban (1990), conhecido como o teórico do movimento, mencionou Isadora:

Numa época em que a ciência, especialmente a Psicologia, procurava abolir radicalmente qualquer ideia de alma, esta bailarina teve o valor de demonstrar, com êxito, que existe no fluxo do movimento humano um princípio ordenador que não se pode explicar mediante os costumeiros fundamentos racionalistas. Como educadora, interessou-se especialmente na influência que a execução reiterada de movimentos similares tem na atitude interna e externa do homem diante da vida (p. 13).

Atualmente a Dança Moderna, como técnica de expressão, estendeu suas práticas estando além da esfera pedagógica, encontrando-se também no plano psicológico. Segundo Fahlbusch (1990), este estilo permite o “crescimento pessoal do indivíduo, com possibilidades de extroversão do seu próprio mundo, e de comunicação ampla e humana com os demais” (p. 114). O uso do movimento e da dança expressiva promove desta

(21)

forma, a ampliação das possibilidades de comunicação do indivíduo e torna-se uma alternativa viável às práticas terapêuticas. Neste estilo de dança são propostas novas formas de sentir e fluir da movimentação do corpo. Fahlbusch (1990) afirma que:

(...) a Dança Moderna, sob o enfoque Psicológico, tem um compromisso irreversível com o corpo. Através da dança o indivíduo busca a naturalidade interior e espontaneidade original. Sob esse aspecto cria um clima que facilita cada um regular seu envolvimento, podendo experimentar novas formas de comunicação (p. 113).

Nos casos de violência contra a mulher, o corpo serve como objeto da agressão e da supremacia sobre a vítima. Sendo assim, “o corpo passa a ser também veículo ou meio de expressão da dor e do sofrimento” (Fernandes, 2011, p.21). O mesmo se deteriora, seja em sua dimensão corpo biológico ou corpo psicológico, e por meio dele manifestará as mais variáveis experiências.

Segundo Souza, Drezett, Meirelles e Ramos (2013), o ato de violência dirigida à mulher a afeta em sua relação com a própria imagem, sua autoestima e suas relações afetivas. A afeta em seu Eu. “O Eu é, primeiro e acima de tudo um Eu corporal; não é simplesmente uma entidade de superfície, mas é, ele próprio, a projeção de uma superfície” (Freud, 1923/2006, p. 39). O movimento criativo experimentado por essas mulheres a partir do encontro com seu Eu corporal propiciará novas formas de enfrentamento, possibilitando-as ocupar a posição de criadoras, transformando a realidade em que vivem (Santos, 2016).

As propostas de intervenção arteterapêuticas possibilitam a reflexão a respeito do Eu (Emming, 2014). Portanto, à luz da experimentação dos movimentos dançantes, numa atuação de gestos independentes, supõe-se que essas mulheres encontrarão com a prática dançante a liberdade para criar e produzir algo de acordo com sua subjetividade.

A essência da arte “é a de estetizar o dejeto, de idealizá-lo, ou como dizemos em psicanálise, de sublimá-lo” (Miller, 2010, p. 2). Na tentativa remota de produzir algo

(22)

próximo ao que se faz um artista, pretende-se que essas mulheres possam dar ou ao menos reconhecer um novo sentido para o Eu corporal e para o sofrimento nele inscrito. É tentar produzir uma forma de lidar com algo que poderia ser penoso de se dizer, propiciando, inclusive, um tipo diferente de satisfação, o que, segundo Freud (1927/2006), “é concedido aos participantes de uma unidade cultural pela arte” (p.23).

Um dos fundamentais propósitos que aqui se acredita, “é ajudar o ser humano por meio da dança a achar uma relação corporal com a totalidade da existência” (Ullmann, 1990, p.107). Entende-se, diante disso, que essas mulheres terão a oportunidade de experienciar, por meio dos movimentos dançantes, seu corpo violentado sob novas possibilidades. Poderão, em consequência disto, viver e sentir um corpo não mais visto apenas como fragmentado, consumido e afeiçoado à dor. Essas mulheres poderão vivenciar a dança revelando a beleza e a sanidade do próprio corpo por meio da expressão dos movimentos. Afinal “o estímulo criativo e a consciência da influência libertadora e vivificante do movimento da dança é tudo o que se deseja” (Laban, 1990, p.53).

Para Freud (1913b/2006, p. 188), “as forças motivadoras dos artistas são os mesmos conflitos que impulsionam outras pessoas à neurose”. Sendo assim, pode-se lançar mão da dança como instrumento arteterapêutico auxiliando na ressignificação pessoal de mulheres violentadas? Pode-se permitir a essas mulheres a possibilidade de produzir e elaborar algo a respeito do seu próprio corpo por meio da arte?

Diante da realidade dessas mulheres, dos tratamentos fornecidos e das intervenções características, o objetivo geral desse estudo consiste em saber se a linguagem artística da dança pode ser capaz de fornecer melhoras significativas quanto aos aspectos psicológicos vivenciados por essas mulheres. Destarte, o objetivo específico baseia-se na aplicação da dança, enquanto instrumento arteterapêutico, visando auxiliar mulheres com histórico de

(23)

violência a experienciar e ressignificar seu Eu corporal por meio da expressão simbólica das experiências corporais vividas.

Reis (2014) aponta para a relevância de produzir novas metodologias que sirvam como alternativas ao trabalho com as vítimas de violência dentro do campo de ação da Psicologia, ampliando as estratégias de intervenção. Apoderando-se das palavras de Ullmann (1990),

(...) se em nossos ensinamentos ajudamos as pessoas a enfrentar seus temores e adquirir confiança para se comunicar livremente com sensibilidade e imaginação e se conseguimos que, inclusive em pequena medida, tomem consciência de seu próprio potencial e dos demais, teremos então conseguido um êxito considerável. (p. 128).

No intento de alcançar os objetivos propostos, essa dissertação está estruturada em três capítulos. O primeiro refere-se à Revisão da Literatura dos últimos quatro anos concernentes aos temas da presente pesquisa: arteterapia, dança, psicologia e violência contra a mulher. A segunda parte trata-se de um capítulo empírico contendo o método de pesquisa. O terceiro capítulo aborda os resultados, contendo os dados mais relevantes à pesquisa; bem como a discussão acerca dos efeitos fomentados a partir da realização da pesquisa junto à análise dos resultados sob a perspectiva da teoria Psicanalítica.

(24)

Capítulo I

VIOLÊNCIA CONTRA A MULHER E ESTRATÉGIAS DE INTERVENÇÃO: UMA REVISÃO DA LITERATURA

Este capítulo tem por objetivo apresentar o levantamento e a análise da literatura a respeito dos constructos Violência contra a mulher, Arteterapia e Dança, todos abordados sob o enfoque da Psicologia. Para tanto, serão considerados os seguintes aspectos presentes na literatura: definição dos principais conceitos; objetivos traçados; método e instrumentos utilizados; resultados das pesquisas realizadas; e conclusões acerca das temáticas pesquisadas.

1.1 Procedimentos da pesquisa de literatura

Este estudo contemplou a busca avançada de artigos eletrônicos no Portal de periódicos da CAPES, incluindo toda a base de dados disponível no mesmo. A pesquisa foi realizada em fevereiro de 2018, sendo utilizados os seguintes descritores articulados entre em 6 diferentes grades de combinação: Arteterapia e Dança; Arteterapia e Violência contra a mulher; Arteterapia e Psicologia; Dança e Violência contra a mulher; Dança e Psicologia; e Violência contra a mulher e Psicologia.

Atendendo ao critério de inclusão para realizar o levantamento dos estudos das áreas investigadas, foram considerados: pesquisas disponíveis on-line; apenas produções em formato de artigo revisado por pares; artigos publicados em periódicos nacionais ou internacionais, em qualquer idioma, sendo selecionados posteriormente apenas artigos publicados em língua portuguesa, espanhola e inglesa; e acesso gratuito da publicação na íntegra.

Foram levantados artigos dos últimos quatro anos a serem contados segundo o gerenciamento de cronologia retroativa a partir do ano de 2018, ou seja, artigos publicados

(25)

entre o ano de 2014 a 2017. Os filtros de pesquisa permitiram encontrar artigos nas bases de dados CLACSo, LiLACS, PEPsic, ProQuest, Redalic e SciELO.

Foram excluídas: bibliografias que fogem ao formato de artigo; artigos repetidos em diferentes bases; artigos em outros idiomas distintos ao critério de inclusão; artigos que, apesar de terem sido apontados nos resultados, não correlacionavam os descritores em seu estudo; e artigos associados aos agressores, em razão deste estudo focar-se exclusivamente às vítimas de violência.

A seleção dos artigos encontrados foi realizada por duas pesquisadoras7 da área de Psicologia, obedecendo aos critérios de inclusão e exclusão definidos pelo protocolo da presente pesquisa. Os artigos selecionados foram, então, lidos, categorizados e analisados segundo o ano de publicação e autores, definição dos conceitos abordados, objetivo principal de cada pesquisa, instrumentos utilizados, método de análise, resultados e conclusões dos estudos.

1.2 Resultados da pesquisa de literatura

Por meio da busca inicial foram obtidos 596 textos em diferentes formatos. Após a fase de refinamento, respeitando os critérios de inclusão e exclusão estabelecidos a priori por esta pesquisa, foram selecionados para formar a base da análise deste estudo 22 artigos.

Todos os artigos selecionados estão dispostos neste capítulo, organizados e apresentados segundo o grau de pertinência dos descritores previstos por este estudo. A partir dos resultados desta pesquisa bibliográfica constituíram-se duas categorias temáticas: Violência contra a mulher; e Arteterapia e a Dança.

7

Pela autora do presente estudo, graduada em Psicologia e mestranda em Psicologia. E pela pesquisadora Thalia Gabriella de Sousa, graduanda em Psicologia.

(26)

1.3 Violência contra a mulher no cenário brasileiro

Quanto ao descritor “Violência contra a mulher” combinado ao descritor “Psicologia” a pesquisa obteve 343 resultados sendo selecionados 12 artigos. Combinado ao descritor “Dança”, foram alcançados 86 resultados, e apenas um artigo selecionado. Combinado ao descritor “Arteterapia” atingiu-se apenas dois resultados, mas nenhum artigo selecionado. Essa quantidade de artigos alcançados revela a originalidade do tema deste estudo e a necessidade de mais pesquisas na área. Portanto, dos artigos selecionados por esta revisão, 13 deles tratam a respeito do tema de violência contra a mulher em combinação com os demais descritores presentes na pesquisa bibliográfica.

Quanto à tipologia dos artigos elencados por essa revisão, três dizem respeito a artigos teóricos e 10 à pesquisa de caráter empírico. Desses 10, três tiveram suas pesquisas desenvolvidas no estado de Goiás e sete em outros estados brasileiros. Concernentes ao aporte de pesquisa, 10 dizem respeito à metodologia qualitativa, enquanto três à metodologia quanti-qualitativa.

Alguns autores (Souza & Sousa, 2015); Souza & Faria, 2017; Gomes, Erdmann, Stulp, Diniz, Correia & Andrade, 2014; e Machado & Grossi, 2015) trazem a definição do termo violência contra a mulher baseados na categorização estipulada pelo Artigo 5º da Lei Maria da Penha, como qualquer ação ou omissão baseada no gênero que lhe cause morte, lesão, sofrimento físico, sexual ou psicológico e dano moral ou patrimonial (Brasil, 2006).

Zanardo, Nadal & Habigzang (2017) definem a violência obstétrica como um dos tipos de violência especificados pela Organização Mundial da Saúde, sendo a “imposição de um grau significativo de dor e sofrimento evitáveis” (p.4), destacando a violência obstétrica como um tipo específico de violência contra a mulher. Farinha & Souza (2016) definem de acordo com o Ministério da Saúde, sendo “entendida como qualquer ação que

(27)

envolva o uso intencional de força física ou de poder, sendo real ou ameaça, contra si ou contra o outro” (p.67). Os demais artigos abordam a problemática dessa tipologia de violência sem trazer à tona a sua definição.

Apenas os autores Zanardo, Nadal e Habigzang (2017) abordam sobre a temática de violência obstétrica. Os demais autores especificam a situação de agressão sob a insígnia da violência conjugal, conhecida também por violência por parceiro íntimo ou por violência doméstica.

Quanto ao ano de publicação destes artigos, a maioria data o ano de 2015 (cinco publicações) e 2017 (quatro publicações). Nos anos de 2014 e 2016 há apenas duas publicações em cada. No tangente à autoria, a maioria dos artigos que tratam sobre violência contra a mulher foi produzida por dois autores, sendo deles oito artigos. Produzidos por três autores ou mais contam-se cinco artigos. Nenhum dos artigos pesquisados é de autoria única.

As técnicas de coleta de dados de pesquisa utilizadas nos artigos elencados nesta revisão foram: entrevista (seis), questionário (dois), pesquisa documental (dois), pesquisa bibliográfica (três), observação (um), postagens virtuais (um) e relatos de experiência (dois). Quanto ao tratamento e à análise dos dados coletados nas pesquisas, destacam-se: a análise de conteúdo; a Teoria Fundamentada nos Dados; a revisão narrativa; e a revisão integrativa da literatura. Os locais que mais aparecem para condução de pesquisa são: DEAM (quatro), CREAS (um), Juizado de Violência Doméstica e Familiar contra a mulher (um), Universidades (um), Unidades de Saúde (um) e Projetos Sociais (dois).

De acordo com os resultados das bibliografias pesquisadas, o fenômeno de violência contra a mulher tem sua complexidade e multiplicidade características (Guimarães & Pedroza, 2015), permitindo investigações em suas diferentes categorias de análise. Há uma predominância nos estudos (Peixoto & Heilborn, 2016; Guimarães &

(28)

Pedroza, 2015; Farinha e Souza, 2016; Oliveira, Araújo, Silva, Crispim, Lucindo & Oliveira, 2017; e Dourado & Noronha, 2015) em analisar, problematizar, articular e avaliar sobre os efeitos causados em mulheres que vivem sob o signo da violência, seja por seus parceiros íntimos ou por demais, como no caso da violência obstétrica.

Articulando a violência contra a mulher à dimensão do gênero como um fator preponderante quanto a esse fenômeno, compreende-se a violência dessa tipologia como algo marcado pela supremacia masculina sobre a mulher. Não apenas pela demarcação de poder, como também pela negação e pela opressão ao gênero feminino. Segundo Fanini, Santos e Gnoato (2017), o discurso social corriqueiro da “identidade masculina instituída como viril, guerreira, forte” (p. 147) ainda serve de justificativa ao comportamento violento do homem para com as mulheres, em especial, suas parceiras.

No entanto, a violência contra a mulher, apesar de expressiva em sua natureza doméstica e conjugal, necessita ser compreendida como um fenômeno macroscópico que ultrapassa a esfera quanto ao gênero. As suas consequências estão para além do corpo abusado, dos danos físicos, da alteração fisiológica e da devastação sexual. É um episódio social que causa, segundo alguns autores, danos psicológicos irreparáveis na vida da vítima (Oliveira, Araújo, Silva, Crispim, Lucindo & Oliveira, 2017).

Quanto à denúncia, os autores Oliveira, Araújo, Silva, Crispim, Lucindo e Oliveira (2017) trouxeram à tona a dificuldade de identificação do caráter violento da relação, a vergonha de exposição da mulher vítima da violência e o medo do agressor. Algumas vítimas levam até anos para prestar queixa contra o cônjuge, e, em alguns casos, retiram a denúncia. O profissional de Psicologia, apto ao atendimento a essas vítimas com um olhar diferenciado para o acolhimento da situação de angústia e o encaminhamento a redes de enfretamento ainda encontram-se escassos nas DEAM(s) (Farinha & Souza, 2016).

(29)

Faz-se necessário, portanto, diante dos resultados das bibliografias pesquisadas, a inserção da prática psicológica nas DEAM(s). Essa necessidade foi defendida e apoiada por psicólogos, bem como por profissionais de outras áreas de saúde como enfermeiros e médicos (Gomes, Erdmann, Diniz, Correia & Andrade, 2014).

Para além dessa inserção, encontrou-se também nos artigos pesquisados por esse estudo (Souza & Faria, 2017; Farinha & Souza, 2016; e Gomes, Erdmann, Diniz, Correia & Andrade, 2014) a necessidade de discutir o papel do profissional da Psicologia diante desse evento social.

Os artigos acima mencionados, preocupados em discutir a respeito da prática do psicólogo, trouxeram como objetivos: identificar o perfil profissional dessa área; avaliar as bases epistemológicas norteadoras da prática; articular com os modelos teóricos vigentes; e problematizar as metodologias aplicadas em sua atuação.

Estes estudos que tratam a respeito da atuação dos(as) psicólogos(as) frente às mulheres vítimas de violência, trazem à luz a compreensão do significado do apoio psicológico fornecido em instituições de saúde, de assistência social e delegacias. Discutem também a respeito dos diferentes desafios enfrentados nessa prática, das dificuldades a que são expostos e das potencialidades de ação experienciados por esses profissionais diante da realidade do contexto de violência contra a mulher, bem como diante das vítimas.

As diferentes estratégias de ação, junto aos relatos de acadêmicos e de psicólogos(as) atuantes na área revelou que a prática psicológica é um desafio constante e de alta complexidade, visto a escassez de diretrizes para a atuação (Souza & Faria, 2017). Diante dos resultados da pesquisa sobre a prática profissional, consideram-se imprescindíveis as alterações quanto às práticas assistenciais vigentes, não apenas da

(30)

atuação da Psicologia, como também o fortalecimento das ações interdisciplinares e intersetoriais.

Uma das práticas trazidas pelos artigos que abordam sobre o tema de violência contra a mulher (Peixoto & Heilborn, 2016; e Santos & Silveira, 2015) é a ação terapêutica, esta como mecanismo interdisciplinar de prevenção e de enfrentamento quanto ao fenômeno da violência. As práticas promovidas pelo grupo Mulheres da Paz (de caráter preventivo), como do grupo Mulheres que Amam Demais (caráter assistencial) revelaram conquistas significativas com a implementação de grupos de apoio às vítimas.

Um dos recursos mencionados na pesquisa bibliográfica desta revisão é a dança em seu caráter terapêutico promovendo a ressignificação dos valores das mulheres vítimas de violência (Peixoto & Heilborn, 2016). No entanto, apenas as narrativas das participantes do grupo a respeito da situação de violência com seus cônjuges foram consideradas. Dessa forma, a intervenção por meio da dança, na literatura em questão, não foi descrita e/ou analisada em seu conteúdo ou como meio de intervenção.

1.4 Arteterapia e a Dança como estratégias de intervenção

A respeito dos descritores “Arteterapia” e “Psicologia”, 20 artigos foram encontrados, selecionando-se posteriormente apenas dois. Em relação aos descritores “Dança” e “Psicologia” foram levantados 144 artigos, resultando em sete artigos selecionados por esta pesquisa. Assim sendo, concernente aos descritores anteriormente mencionados, a presente pesquisa obteve, ao final de seu refinamento, nove artigos.

Quanto à tipologia dos artigos a respeito de Arteterapia e Dança, três são pesquisa de cunho teórico e seis referem-se à pesquisa de caráter empírico. Desses seis artigos, cinco tiveram suas pesquisas desenvolvidas em diferentes estados brasileiros e um em

(31)

âmbito internacional. Concernentes ao aporte de pesquisa, todos os artigos elencados por essa revisão dizem respeito à metodologia puramente qualitativa.

Quanto à autoria, a maioria dos artigos que tratam sobre a dança foi produzida por três autores ou mais, sendo deles quatro artigos. Produzidos por dois autores contam-se dois artigos. E três artigos são de autoria única.

As técnicas de coleta de dados de pesquisa utilizadas nos artigos elencados nesta revisão foram muito distintos entre si: pesquisa documental (dois); observação (quatro); relato de experiência (um); pesquisa-ação (um); e aprendizagem inventiva (um).

No tangente ao tratamento e à análise dos dados coletados nas pesquisas, destacam-se: análise de conteúdo, análise documental e análise comparativa. Os locais que mais aparecem para condução de pesquisa são: grupos independentes ou institucionais (quatro), Universidades (um) e Oficinas Arteterapêuticas (um).

Segundo a definição da Associação Brasileira de Arteterapia, citado por Reis (2014) arteterapia é “um modo de trabalhar utilizando a linguagem artística como base da comunicação. Sua essência é a criação estética e a elaboração artística em prol da saúde” (p.143). Utiliza-se de variadas formas de expressão artística com a finalidade terapêutica.

Trazendo questões a respeito de diferentes linguagens artísticas cabíveis ao mecanismo da arteterapia, Reis (2014) discorre especialmente a respeito da relevância de produzir novas metodologias que sirvam como alternativas ao trabalho com as vítimas de violência dentro do campo de ação da Psicologia.

Oliveira (2014) cita as linguagens desconstrutivas, como por exemplo a arte, como uma das alternativas de ação junto à prática dos Psicólogos, ampliando a comunicação de diferentes áreas de atuação a serviço desse universo.

A importância da comunicação interdisciplinar com a equipe de Psicologia é trazida pelas bibliografias pesquisadas (Gonsalves, Moura, Santos, Messina & Carvalho,

(32)

2017; Perez, María, Cuadrado & Santiago, 2015; e Rodrigues & Menezes, 2014). Pois, “tanto na arte, quanto na clínica, o exercício é o de alargar a relação com as formas e passar a se relacionar com elas como forças” (Resende, Macerata, Barbosa, Moraes & Fractal, 2017, p. 142).

Em especial, a dança surge em meio a essas pesquisas como uma linguagem artística que, fundamentada sob a prática terapêutica, contribui, para “a construção da imagem corporal da pessoa que a pratica” (Perez, María, Cuadrado & Santiago, 2015, p.37). Segundo Monteiro e Paletta (2016), os resultados das pesquisas corroboram a asserção de que a dança é um dispositivo artístico que permite a produção de corpos e subjetividades de seus praticantes, sendo um dos meios responsáveis por efetivar mudanças significativas nas vidas dessas pessoas, tornando-se “um veículo potencializador de ações de mudanças sociais” (Rodrigues & Meneses, 2014, p.713).

Nenhum corpo se movimenta como o outro, por mais que a técnica utilizada seja a mesma e as repetições se realizem (Monteiro & Paletta, 2016). Sendo ele, o corpo, o aspecto físico e palpável da personalidade ele se manifesta por meio do movimento; no caso desse agente artístico, do movimento dançante.

Uma das autoras (Farah, 2016) afirma em sua pesquisa ser a dança, utilizada como recurso terapêutico, uma linguagem artística que possibilita a seus praticantes reafirmar a nossa condição corporal, “seja para tratar dos processos corpo-raiz ou para tratar dos processos psíquicos, ou ainda, ambos simultaneamente no imbricamento de suas relações” (p. 542).

A pesquisa conduzida por Gonsalves, Moura, Santos, Messina e Carvalho (2017) apontou que o trabalho com a dança sendo conduzido em grupo possibilita a troca e a partilha de situações que as mulheres vítimas da violência quase não falavam: “À medida que os encontros avançavam, os assuntos se desenvolviam e as falas e lembranças de

(33)

episódios de violência ou privações financeiras, bem como seus anseios e frustrações diante da vida, apareciam” (p. 21).

Aplicada em seu caráter arteterapêutico, a dança se apresentou eficaz quanto aos trabalhos de condução grupal (Monteiro & Paletta, 2016; Perez, María, Cuadrado & Santiago, 2015; Liberman, Maximino & Fractal, 2017; Rodrigues & Menezes, 2014; Gonsalves, Moura, Santos, Messina & Carvalho, 2017; e Resende, Macerata, Barbosa, Moraes & Fractal, 2017) e de correspondência com outras áreas de atuação e intervenção aos casos de violência contra a mulher e também a outros casos distintos.

A dinâmica de condução a respeito da intervenção arteterapêutica da dança para sujeitos em situação de risco, seja em instituições sociais ou de saúde, também se mostrou eficaz quanto à formatação grupal. O grupo em funcionamento com ações similares quanto à técnica de condução, à estética proposta e os objetivos esperados exige um esforço coletivo empático. Na pesquisa conduzida por Resende, Macerata, Barbosa, Moraes e Fractal (2017), foi corroborado que:

Este esforço pode ser análogo ao esforço do espectador ao se deparar com uma obra de arte contemporânea, do crítico de arte ao abordar ações artísticas ou de um psicanalista no processo de escuta e registro das dramaturgias múltiplas construídas por seu paciente (p. 142).

Cada encontro dos grupos e das oficinas conduzidas nos estudos pesquisados possibilitou um avanço quanto à percepção de si mesmo, o refazer de si a partir do contato consigo e com o outro, o ajuste de novas possibilidades, e inclusive ampliando a comunicação verbal.

Contemplando o que os resultados das pesquisas sinalizam a respeito dos efeitos produzidos pela dança como agente arteterapêutico, o presente estudo utiliza-se das palavras de Farah (2016), que diz que o sujeito é “um sujeito-corpo que fala. E se a palavra trocada entre analisando e analistas pode tocar o corpo, o corpo em movimento pode impulsionar o verbo” (p. 550).

(34)

Sendo assim, como apresentam as bibliografias pesquisadas, a dança, utilizada como método de intervenção em casos específicos, pode servir a seu praticante como um recurso que possibilita o sujeito a se reinventar diante de alguma problemática social. Aliado a outras áreas de conhecimento, principalmente à Psicologia, esse mecanismo artístico adquire forças de ação ratificando ser um método de intervenção eficaz também ao caso de mulheres em situação de violência.

Apesar de ainda haver poucos estudos correlacionando arteterapia e a dança aos casos de violência contra a mulher é pertinente a execução desta pesquisa, tendo em vista os muitos benefícios que estas modalidades possibilitam às suas praticantes.

(35)

Capítulo II MÉTODO

Este capítulo objetiva apresentar os procedimentos metodológicos deste estudo, elaborados à luz da pesquisa qualitativa, permitindo a compreensão a respeito dos aspectos subjetivos implicados na vivência artística dançante entre as participantes.

2.1 Participantes

Para participação do grupo arteterapêutico foi definido como preceito: (a) ser do gênero feminino; (b) ter tido contato inicial (por meio dos grupos terapêuticos e/ou atendimentos emergenciais) com a Equipe de Psicologia da instituição conveniada à pesquisa; (c) ter idade acima de 18 anos; (d) ter histórico de situação de violência passada ou ainda vivenciada; e (e) concordância em participar durante o período completo de realização deste estudo. Os critérios a respeito da faixa etária e da quantidade de participantes no grupo foram construídos a partir dos interesses dessa pesquisa e de outras encontradas na literatura (Santos, 2016; Martins, 2015; e Peixoto & Heilborn, 2016).

Inicialmente foram vinculadas à pesquisa, para a participação do grupo arteterapêutico, nove mulheres com idades entre 18 e 37 anos e histórico de violência passada ou ainda vivenciada. Entre as mulheres participantes deste estudo as naturezas de violência vividas dizem respeito a: violência sexual na infância e/ou na adolescência, violência obstétrica, violência física e psicológica.

Para este estudo as participantes receberam nomes fictícios (Ana, Beatriz, Cláudia, Daniela, Elaine, Flávia, Geovana, Ivana e Hortência) como forma de preservar a integridade das mesmas quanto ao sigilo e confidencialidade previstos no artigo 9º do Código de Ética do Psicólogo (Conselho Federal de Psicologia, 2005).

(36)

2.2 Local da Pesquisa

A pesquisa foi realizada em uma instituição pública de Assistência Social, Centro de Referência de Assistência Social (CRAS), localizado no Município de Hidrolândia, microrregião goiana. De Janeiro de 2016 a Abril deste ano, 18 casos foram registrados na Lei 11.340/2006, Artigo 42, no município de Hidrolândia - GO (Fonte: Análise Criminal do Registro Integrado de Atendimentos – (RAI) – SSP-GO, 2018)8.

Apesar de haver atualmente mais de 300 instituições distribuídas pelos estados brasileiros que atendem mulheres vítimas de violência - dentre elas Delegacia de Defesa da Mulher (DDM), Delegacia para a Mulher (DM) e Delegacia Especializada de Atendimento à Mulher (DEAM) (Souza & Faria, 2017) - o município de Hidrolândia não conta com nenhuma delegacia especializada para este tipo de atendimento. As vítimas dispõem apenas dos serviços prestados pela DP do município. Segundo dados colhidos em entrevista, a Assistente Social do CREAS de Hidrolândia afirmou que este município não tem, em sua política de rede de enfrentamento e de atendimento às mulheres vítimas de violência, serviços especializados para acolher os casos de violência contra a mulher.

Outra informação colhida em entrevista com a Assistente Social diz respeito ao fato de muitas mulheres buscarem os serviços de atendimento do CRAS de Hidrolândia ao invés de recorrerem ao CREAS de Hidrolândia. No CRAS é realizado o acolhimento emergencial e, em seguida feito o encaminhamento ao CREAS. No entanto, muitas dessas usuárias não forcejam a busca ao CREAS, interrompendo os procedimentos de acolhimento e atendimento para o caso de violência da qual se queixam. Desta forma, o

8

Dados estatísticos por abrangência do Núcleo de Análise Criminal pesquisado por meio do filtro RISP (Região Integrada de Segurança Pública) referente ao Município de Hidrolândia, segundo direcionamento fornecido pela Gerência do Observatório de Segurança Pública (GEOSP) via e-mail, na pessoa do Sd. Makley, Analista Criminal da Coordenação de Análise Criminal.

(37)

CRAS acaba por atender inicialmente, e em alguns casos exclusivamente, a maioria das ocorrências de violência contra a mulher registradas no município.

Por não haver DEAMs no município, a DP de Hidrolândia é que fica responsável por registrar os casos de violência contra a mulher na Lei Maria da Penha, nº 11.340/2006. Antes havia uma Psicóloga na DP de Hidrolândia responsável por acolher os casos que inicialmente compareciam no local e, em seguida, realizar o encaminhamento ao CREAS. Contudo, não há mais nenhum(a) profissional da área para acolher mulheres vítimas de violência que chegam à delegacia9.

Visto a escassez de redes de atendimento e de enfrentamento, bem como de serviços especializados a esta tipologia de violência no município em questão e a alta demanda atendida emergencialmente no CRAS de Hidrolândia, o estudo se faz considerável nesse local. Incorpora-se a esse fator, a condição de haver grupos terapêuticos previamente formados pela Equipe de Psicologia com temas que se aproximam à realidade investigada pela presente pesquisa. Soma-se também a circunstância de a pesquisadora prestar serviços ao CRAS enquanto professora e coordenadora do Núcleo de Dança possibilitando o acesso aos usuários dessa instituição, sendo esse mediado pela Equipe de Psicologia.

Quanto ao espaço físico, a Coordenadora do CRAS de Hidrolândia autorizou a aplicação de todos os procedimentos na Sala de Dança da instituição, visto que a mesma contempla todas as necessidades das etapas da pesquisa. Por meio do preenchimento e assinatura do Termo de Cessão de Espaço Físico (Apêndice A), foi disponibilizado o

9

Todas as informações a respeito dos procedimentos de acolhimento, atendimento e encaminhamento fornecidos pelo município, que constam na sessão 2.2 deste capítulo, foram colhidas em entrevista concedida à pesquisa pela Assistente Social do CREAS de Hidrolândia, Cárita Urzêdo.

(38)

espaço físico. Foi concedida também à pesquisa a Declaração de Especificação do Espaço Físico Solicitado (Anexo A) contendo as descrições detalhadas do espaço, os recursos disponíveis e os serviços adicionais.

2.3 Instrumentos

Para este estudo foram utilizados os seguintes instrumentos: Termo de Consentimento Livre e Esclarecido - TCLE (Apêndice B), Ficha de Dados Sóciodemográficos – Ficha DSD (Apêndice C), Roteiro de Entrevista Semiestruturada Pré Processo Arteterapêutico (Apêndice D); Roteiro de Entrevista Semiestruturada Pós Processo Arteterapêutico (Apêndice E); Folha de Desenho Livre (Apêndice F); e Roteiro de Entrevista Semiestruturada CREAS.

O TCLE foi elaborado pela pesquisadora deste estudo a partir do modelo fornecido pelo Comitê de Ética em Pesquisa da PUC Goiás10. A Ficha DSD foi construída a partir dos dados encontrados na literatura presente neste estudo (Santos, 2016) e reformulados de acordo com os interesses da pesquisa em questão. Foram levantados os dados pessoais e sóciodemográficos das participantes (sexo, idade, escolaridade, estado civil, condição de moradia, etc.); bem como dados específicos pertinentes à pesquisa (tipo de violência sofrida, informações sobre o agressor, quantidade de queixas policiais, etc.). Ao final também foi disposto um campo para assinatura da participante confirmando a veracidade dos dados concedidos à pesquisa.

O roteiro para condução das entrevistas foi desenvolvido em duas versões: a versão aplicada antes de iniciar o grupo, denominado Roteiro de Entrevista Semiestruturada Pré Processo Arteterapêutico e a versão após a finalização do grupo, denominado Roteiro de

10

(39)

Entrevista Semiestruturada Pós Processo Arteterapêutico. Na fase Pré Processo esse instrumento cumpriu o papel de “sondagem, a fim de conhecer o caso” (Freud, 1913a/2006, p. 139). As duas versões realizadas permitiram analisar os possíveis contrastes percebidos entre as respostas nelas coletadas.

Esses roteiros foram elaborados a partir dos pressupostos manifestos nas literaturas (Martins, 2015; Santos, 2016; e Peixoto & Heilborn, 2016) presentes neste estudo. As perguntas das entrevistas foram construídas também se atentando aos objetivos aqui delineados, no intento de coletar dados relevantes e significativos a respeito de cada participante, que possam vir de encontro aos motes de pesquisa aqui presentes.

De acordo com Araújo (2007), “o desenho livre é um recurso auxiliar da entrevista, muito utilizado para levantar informações sobre vários aspectos da personalidade” (p.136). Sendo assim, a Folha de Desenho Livre, como instrumento de caráter projetivo, foi utilizado neste estudo com a finalidade de permitir a expressão gráfica das participantes a respeito de si mesmas. Em uma folha havia o campo em branco para desenhar, em outra folha havia um espaço subtraçado para descrição escrita a respeito do desenho produzido. Esse formato foi construído levando-se em conta o procedimento de descrição do desenho após esse ter sido feito, que também se encontra presente nas literaturas (Santos, 2016; e Martinelli & Azevedo, 2014). Quando o desenho está associado a estórias referentes ao mesmo, ele se torna um método de investigação muito útil na prática terapêutica (Araújo, 2007).

Esse instrumento foi desenvolvido em uma única versão a ser aplicada antes do início do Processo Arteterapêutico e depois, ao final deste processo. A aplicação da mesma versão nesses dois momentos distintos surgiu com o intuito de investigar a possibilidade de haver progresso gráfico dos desenhos produzidos pelas participantes após o contato com a dança, mediante uma análise comparativa entre os dois desenhos produzidos. Visto

(40)

que, junto à prática artística dançante, a atividade expressiva do desenho propõe ampliar “as possibilidades dos usuários dialogarem com a mente e o corpo para a produção de subjetividade no campo do sensível” (Martinelli & Azevedo, 2014, p. 60).

Como, segundo Castro (1992), o profissional “que trabalha através da dança usa como instrumento o corpo e o movimento em vez da comunicação puramente verbal” (p. 20), fez-se necessária a observação dos Encontros de Arteterapia, técnica também encontrada na literatura (Martins, 2015). Para tanto, a pesquisadora fez uso do recurso de vídeogravação para que a observação dos conteúdos comportamentais de interesse à pesquisa pudesse ser realizada posteriormente a cada encontro, permitindo assim, a fiel análise dos dados.

“A imagem vem sendo há muito tempo uma ferramenta para registrar o movimento, ou seja, as ações e comportamentos” (Belei, Gimeniz-Paschoal, Nascimento & Matsumoto, 2008, p. 192). O uso da vídeogravação permitiu, por meio dos registros, a observação subsecutiva ao encontro, possibilitando a verificação ampla e iterativa. Ainda segundo os autores anteriormente citados (2008), é fundamental observar e registrar o conteúdo a ser observado. E o conteúdo refere-se, em suma, aos movimentos produzidos pelo corpo das participantes.

O corpo fala por meio de gestos, ações e movimentos. Freud (1915/2006) nos evidencia que o inconsciente se manifesta no corpo, fazendo dele palco de suas ações. Observando-se os movimentos corporais, é possível a análise e a interpretação da subjetividade por eles manifesta. Portanto, o método da observação torna-se fundamental quanto à verificação e análise dos resultados desta pesquisa associados aos conteúdos coletados por meio da fala e também do desenho. Afinal, “o corpo narra o que mostra” (Fernandes, 2011, p.43).

(41)

2.4 Procedimentos

2.4.1 Procedimentos iniciais da pesquisa

Inicialmente foi contatada a Coordenadora do CRAS de Hidrolândia para apresentação do Projeto de Pesquisa, ressaltando os objetivos do mesmo, as etapas e a descrição dos procedimentos. Após a ciência desta profissional a respeito da pesquisa, foi solicitado a ela o preenchimento e assinatura do Termo de Consentimento da Instituição (Apêndice G) permitindo a execução da pesquisa neste local, sendo autorizado também o acesso aos documentos, dados e informações necessárias sob a supervisão e acompanhamento da psicóloga da Equipe de Psicologia, caso se fizesse necessário.

A pesquisadora solicitou uma reunião com a Assistente Social do CREAS para a realização da entrevista acerca de informações relevantes a respeito dos atendimentos e encaminhamentos dos casos de violência contra a mulher. Esta profissional respondeu às questões apresentadas por meio do Roteiro de Entrevista Semiestruturada CREAS e assinou o Termo de Autorização CREAS (Apêndice H) para uso dos dados informados.

Em seguida, foi solicitado à psicóloga do CRAS um momento para apresentar e descrever a ela os procedimentos de cada etapa da pesquisa. Esta profissional relatou ter atendido alguns casos de violência que contemple os critérios de inclusão de participantes e que poderia entrar em contato com as usuárias por ela atendidas requerendo a elas seus contatos telefônicos, caso tivessem interesse de conhecer a respeito deste estudo.

Durante as reuniões e encontros familiares dos grupos do CRAS de Hidrolândia, a pesquisadora compareceu informando decorosamente a respeito da pesquisa e fornecendo seus contatos telefônicos às que se interessassem em participar. Em seguida, a pesquisadora elencou os contatos telefônicos das usuárias dessa instituição que os forneceram espontaneamente em caso de interesse em participar da pesquisa. Foram fornecidos para esta pesquisa os contatos telefônicos de 17 usuárias. Dentre esses, apenas

(42)

13 contatos foram efetivamente realizados, ocorrendo a identificação da pesquisadora e dos objetivos da pesquisa. Desses, 12 mulheres confirmaram sua participação na pesquisa agendando um horário individual com a pesquisadora.

2.4.2 Procedimentos Pré Processo Arteterapêutico 2.4.2.1 TCLE e Ficha DSD

Após realizados os agendamentos, iniciou-se a fase de coleta de dados. De 12 mulheres que confirmaram o agendamento via contato telefônico, nove compareceram ao encontro combinado se dispondo a receber as informações detalhadas sobre a pesquisa. De acordo com cada um dos agendamentos, foi realizado então o Rapport descrevendo e explicando verbalmente os objetivos e procedimentos da pesquisa.

Em seguida foi apresentado o TCLE, impresso e verbalmente, a cada uma das usuárias do CRAS de Hidrolândia, pontuando as informações nele contidas. Após formalizar a participação no estudo integrando-se à pesquisa como participante foi entregue a cada uma delas a Ficha DSD. Esta ficha foi apresentada de forma impressa e foi disponibilizada a possibilidade de ser conduzida verbalmente pela pesquisadora, caso a participante assim preferisse. Ao final do preenchimento da Ficha DSD, foi agendada a etapa de Entrevista Semiestruturada com cada uma das participantes.

2.4.2.2 Entrevista

Essa etapa foi realizada individualmente de acordo com os dias e horários combinados. Foi fornecida uma nova possibilidade de agendamento para a etapa de

Rapport, apresentação do TCLE e preenchimento da Ficha DSD às três mulheres que não

conseguiram comparecer aos dias e horários agendados anteriormente. Mesmo com a possibilidade de novo agendamento, não compareceu nenhuma dessas usuárias.

(43)

Foi dada condução aos procedimentos seguintes da pesquisa com as nove participantes confirmadas para o estudo. Todas elas (Ana, Beatriz, Cláudia, Daniela, Elaine, Flávia, Geovana, Ivana e Hortência) compareceram à etapa de Entrevista Semiestruturada. Com cada uma das participantes foi realizado, de forma individual, o

Rapport desta etapa, esclarecendo sobre o sigilo das informações ali colhidas, o direito a

não responder qualquer uma das perguntas e a prerrogativa da livre desistência, caso assim elas quisessem.

Para conduzir esta etapa foram utilizados o Roteiro de Entrevista Semiestruturada Pré Processo impresso. Todas as entrevistas foram gravadas em formato de áudio e posteriormente transcritas em sua forma literal. A transcrição foi feita na íntegra e as falas das participantes não foram alteradas nem editadas, com o intuito de manter a confiabilidade das produções verbais realizadas durante essa fase.

O prazo de duração da entrevista foi livre, permitindo a liberdade da participante em falar durante o período que necessitasse, sem limite de tempo estipulado. A entrevista com maior tempo de duração foi da participante Ana, totalizando 29’05”, a entrevista mais curta foi da participante Daniela, totalizando 2’34”. Após a realização de cada entrevista, foi informado às participantes a respeito do 1º Encontro de Arteterapia. As datas e horários dos encontros obedeceram à disponibilidade do espaço físico e também da pesquisadora. Todas as participantes estiveram de acordo com o cronograma de encontros confirmando participação nos mesmos.

2.4.2.3 Desenho Livre

A etapa de Desenho Livre foi agendada para ocorrer no mesmo dia do 1º Encontro de Arteterapia, antes que este se iniciasse. Compareceram para este dia sete participantes: Ana, Beatriz, Cláudia, Daniela, Flávia, Geovana e Ivana. A participante Elaine justificou

Referências

Documentos relacionados

In this context, the aim of the present work was to chemically characterize the essential oil obtained from Ammodaucus leucotrichus fruits (EOALF), growing in Algerian Sahara, and

O modelo sistêmico, na Ciência Cognitiva possibilita a formulação da hipótese de que os processos cognitivos são resultantes das interações que ocorrem entre um organismo e seu

23 Tal como os autores supracitados, Bronckart (2001) também sugere o trabalho através de sequências didáticas que tomam como elemento estruturador o género, considerando, tal

Os resultados permitiram concluir que a faculdade de utilização de coparticipação, como mecanismos de regulação financeira, por parte das operadoras de planos de saúde, cumpre

Through the combined analysis of mtDNA (control region – D-Loop) and nDNA (RAG1, RAG2 and CMOS) markers, we evalu- ated if: 1) the use of multiple markers enhances the detection

No entanto, o meca- nismo permite a execução na memória de diferentes blocos de operações (transações) de forma especulativa e fora-de-ordem. As questões e desafios

BEM planejado a sequência didática foi de extrema importância pra que minhas aulas ocorressem bem Santos: Surpreendente seria a palavra que: resume por que:: no começo da/ da/

Diante dessas informações, pensando em contribuir com a redução das práticas de violência escolar e índices de discriminação contra alunos em situação de inclusão, bem