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4.2 Processo civil estrangeiro e ordem pública processual

4.2.2 Processo Civil Italiano

Fonte de grande influência para o sistema processual civil brasileiro, principalmente quando da elaboração do Código de Processo Civil de 1973,468 o processo civil italiano, em que pese bastante garantista e dogmático,469 não categoriza determinadas normas processuais como de ordem pública. Da mesma forma que no processo civil português, somente destaca como normas processuais e questões que, em face de determinado grau de interesse público, os magistrados podem suscitar de ofício470 e em determinado momento do processo.

465 “Verificada a causa do impedimento, o juiz tem o dever de se declarar impedido, mas, se não o fizer, as partes

podem, até à sentença, requerer a declaração de impedimento”. (RODRIGUES, Fernando Pereira. O novo

processo civil: os princípios estruturantes. Coimbra: Almedina, 2013, p. 204).

466 “Artigo 628 (Noção de trânsito em julgado) A decisão considera-se transitada em julgado logo que não seja

suscetível de recurso ordinário ou de reclamação”. (PINTO, Rui Gonçalves. Notas ao Código de Processo

Civil. 1ª Ed. Coimbra: Coimbra Editora, 2014, p. 404).

467 “Artigo 643 (Reclamação contra o indeferimento) 1 – Do despacho que não admita o recurso pode o

recorrente reclamar para o tribunal que seria competente para dele conhecer no prazo de 10 dias contados da notificação da decisão”. (PINTO, Rui Gonçalves. Notas ao Código de Processo Civil. 1ª Ed. Coimbra: Coimbra Editora, 2014, p. 420).

468 “Serviram-lhe de paradigma os códigos da Austria, da Alemanha e de Portugal; nesses diplomas, bem como

nos trabalhos preparatórios de revisão legislativa feitos na Itália, foi o legislador brasileiro buscar a soma de experiência e encontrar os altos horizontes, que a ciência pudera dilatar, a fim de construir uma sistemática de profundos resultados práticos”. (PACHECO, José da Silva. Evolução do Processo Civil Brasileiro. Rio de Janeiro: Editor Borsoi, 1972, p. 126).

469 “Il c.p.c. del 1942 ha carattere dommatico, come del resto non poteva non essere ove si pensi che esso fu

opera prevalentemente di professori universitari (Piero Calamandrei, Francesco Carnelutti, Enrico Redenti; è da ricordare però anche il contributo determinante di un magistrato, Leopoldo Conforti)”. (PISANI, Andrea Proto.

Lezioni di Diritto Processuale Civile. 3ª ed. Napoli: Jovene Editore, 1999, p. 19).

470 “No direito italiano, o Código de Processo Civil faz referência a questões que o juiz conhece de ofício,

impondo ao juiz o dever de comunicar às partes todo o universo de questões que pode levar em consideração quando do julgamento”. (APRIGLIANO, Ricardo de Carvalho. Ordem Pública e Processo: o tratamento das questões de ordem pública no direito processual civil. São Paulo: Atlas, 2011, p. 108).

O atual processo civil italiano foi posto em 28 de outubro de 1940, porém, depois de um alongado período de vacatio legis, entrou em vigor no período da guerra, precisamente em 21 de abril de 1942. Notadamente, esse texto processual durante o seu desenvolvimento e aplicação sofreu várias alterações, as quais registramos as principais feitas em 1950, 1973, 1990, 1991, 1994 e 1995.471

O Código de Processo Civil italiano é dogmaticamente dividido em quatro grandes livros, o primeiro relacionado as disposições gerais (Disposizioni generali), o segundo ao processo de conhecimento (Del processo di cognizione), o terceiro ao processo de execução (Del processo di esecuzione) e o quarto aos procedimentos especiais (Dei

procedimenti speciali). O que revela a grande influência na construção do Código de Processo

Civil brasileiro de 1973, destcatando uma dualidade mais forte entre processo de conhecimento e execução (art. 270, do CPC de 1973).472

Esta estrutura dogmático-metodológica do Código italiano acaba por permitir a identificação rápida e fácil de princípios gerais, os quais, em regra, também se coadunam com atual processo civil brasileiro, dentre eles o da demanda (art. 99 – Principio della

domanda)473 e do contraditório474 (art. 101 – Principio del contraddittorio),475 por exemplo.

Em que pese a doutrina italiana centralizar o exercício da jurisdição como função do Estado,476 marca da metodologia brasileira da instrumentalidade do processo,477 o

471 “Importanti modifiche al testo originario sono state introdotte, con la tecnica della novellazione, dalla l. 14

luglio 1950 n. 581 e dal d.p.r. 17 ottobre 1950 n. 857 (d’ora in poi chiamati <<novella del 1950>>), dalla l. 11 agosto 1973 n. 533 relativa alle controversie individuali di lavoro e di previdenza e assistenza obbligatoria, e sono in via di introduzione tramite le leggi 26 novembre 1990 n. 353, provvedimenti urgenti per il processo civile, e 21 novembre 1991 n. 374, istitutiva del giudice di pace (leggi, queste ultime due, entrate integralmente in vigore il 30 aprile e il 1 maggio 1995, sia pure con le modifiche previste dalle leggi 633/1994 e 534/1995”. (PISANI, Andrea Proto. Lezioni di Diritto Processuale Civile. 3ª ed. Napoli: Jovene Editore, 1999, p. 19).

472 “Art. 270. Este Código regula o processo de conhecimento (Livro I), de execução (Livro II), cautelar (Livro

III) e os procedimentos especiais (Livro IV)”.

473 “Art. 99 – Principio della domanda 1 – Chi vuole far valere un diritto in giudizio deve proporre domanda al

giudice competente”. Consulta em 16.07.17 ao site http://www.ipsoa.it/codici/cpc/l1/t4.

474 “L’art. 101 enuncia il principio del contraddittorio (audiatur et altera pars) cioè un principio fondamentale

del processo civile (in via di espansione anche nel procedimento amministrativo e, per il tramite delle clausole genereli della correttezza e della buona fede, nell’attività giuridica privata)”. (PISANI, Andrea Proto. Lezioni di

Diritto Processuale Civile. 3ª ed. Napoli: Jovene Editore, 1999, 217).

475 “Art. 101 – Principio del contraddittorio 1 – Il giudice, salvo che la legge disponga altrimenti, non può

statuire sopra alcuna domanda, se la parte contro la quale è proposta non è stata regolarmente citata e non è comparsa”. Consulta em 16.07.17 ao site http://www.ipsoa.it/codici/cpc/l1/t4.

476 “L’<<amministrazione dela giustizia>> (nozione più generale dalla quale dunque dobbiamo prender ele

mosse) si vede menzionata in modo esplicito nell’art. 101 ss., titolo quarto, parte seconda, della constituzione, dedicato alla magistratura. In sintesi è l’attività con cui si explica e si attua una funzione típica dello Stato, denominata a sua volta giurisdizionale, come nell’art. 102, o giurisdizione (in senso funzionale, come nella rebrica della sezione seconda del titolo quarto sempre della constituzione (dal latino iurisdictio nel senso che noi diamo all’espressione). Inoltre di <<tutela giurisdizionale dei diritti>> parla la rubrica del titolo quarto del libro sesto del codice civile”. (REDENTI, Enrico; VELLANI, Mario. Diritto Processuale Civile – Nozioni e Regole

processo civil italiano fomenta um contraditório efetivo, ainda que se trate de questão que o magistrado possa decidir de ofício (art. 101, 2),478 com determinado grau de interesse público, ao contrário do Código de Processo Civil brasileiro de 1973, o qual não tinha tal previsão, fortalendo a ideia de ordem pública ligada ao exercício da jurisdição estatal.

Assim, como regra, o processo civil italiano fomenta a proteção contra a decisão surpresa, conforme verificamos também no texto normativo do processo civil brasileiro de 2015 (art. 10).479 Aliás, está já perfaz um aspecto do Direito europeu, inclusive com o

fortalecimento da perspectiva de o processo defender os direitos privados como forma de efetivação da sua função como de interesse público, chamado pelos ingleses de private law enforcement.480

O direito processual civil italiano, ainda que defenda o interesse público e a indisponibilidade na incompetência absoluta, admite a sua preclusão481 caso não seja alegada pelas partes ou suscitada pelo juiz de ofício até a primeira audiência com as partes (art. 183 – prima comparizione delle parti e trattazione della causa), conforme disciplina o art. 38, 3, do Código de Processo Civil italiano.482

Além disso, o processo italiano, por influência francesa, passou a admitir a fixação do calendário processual (art. 81 – Bis, disposizioni di attuazione del codice di procedura civile),483 não como um negócio jurídico processual, em que pese a possibilidade de pedido das partes para a prorrogação do prazo fixado pelo magistrado.

477 DINAMARCO, Cândido Rangel. A Instrumentalidade do Processo. 15ª ed. revista e atualizada. São Paulo:

Malheiros, 2013, p. 65.

478 “Art. 101 [...] 2 – Se ritiene di porre a fondamento della decisione una questione rilevata d’ufficio, il giudice

riserva la decisione, assegnando alle parti, a pena di nullità, un termine, non inferiore a venti e non superiore a quaranta giorni dalla comunicazione, per il deposito in cancelleria di memorie contenenti osservazioni sulla medesima questione”. Consulta em 16.07.17 ao site http://www.ipsoa.it/codici/cpc/l1/t4.

479 “Art. 10. O juiz não pode decidir, em grau algum de jurisdição, com base em fundamento a respeito do qual

não se tenha dado às partes oportunidade de se manifestar, ainda que se trate de matéria sobre a qual deva decidir de ofício”.

480 HESS, Burkhard; JAUERNIG, Othmar. Manual de Derecho Procesal Civil (Zivilprozessrecht). 30ª ed. trad.

Eduardo Roig Molés. Madrid: Marcial Pons, 2015, p. 38.

481 CABRAL, Antonio do Passo. Convenções Processuais. Salvador: Juspodivm, 2016, p. 314.

482 “Art. 38 - Incompetenza. [...] L’incompetenza per materia, quella per valore e quella per territorio nei casi

previsti dall’articolo 28 sono rilevate d’ufficio non oltre l’udienza di cui all’articolo 183”.; “Per individuare ipotese di preclusioni, basta dare uno sguardo a queste pagine; abbiamo, ad es., analizzato: a) l’art. 38, 2º”. (VERDE, Giovanni. Diritto Processuale Civile – Parte Generale. 3ª ed. Torino: Zanichelli Editore, 2012, p. 252).

483 “Art. 81 Bis – Calendario del processo. 1 – Il giudice, quando provvede sulle richieste istruttorie, sentite le

parti e tenuto conto della natura, dell'urgenza e della complessità della causa, fissa, nel rispetto del principio di ragionevole durata del processo, il calendario delle udienze successive, indicando gli incombenti che verranno in ciascuna di esse espletati, compresi quelli di cui all'articolo 189, primo comma. I termini fissati nel calendario possono essere prorogati, anche d'ufficio, quando sussistono gravi motivi sopravvenuti. La proroga deve essere richiesta dalle parti prima della scadenza dei termini. 2 – Il mancato rispetto dei termini fissati nel calendario di cui al comma precedente da parte del giudice, del difensore o del consulente tecnico d'ufficio può costituire

Desta forma, como vimos, não há uma defesa de uma ordem pública inquestionável no processo civil italiano, somente questões afetas ao interesse público e que podem ser suscitadas de ofício, no entanto, submetidas a vários fenômenos jurídicos, inclusive à preclusão.