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Produção de saberes numa equipe colaborativa

No documento ANGÉLICA DA FONTOURA GARCIA SILVA (páginas 65-69)

NOVOS DESAFIOS PARA A PROFISSÃO PROFESSOR

2.4 SABERES DO PROFESSOR

2.4.2 Produção de saberes numa equipe colaborativa

Muitos autores estudam a importância do trabalho colaborativo entre professores, para o seu desenvolvimento profissional. Para Ponte (1997), por exemplo, trata-se de investigar com os professores, em vez de investigar sobre os professores. Saraiva e Ponte (2003) afirmam que em Projetos colaborativos em que intervenham professores e

investigadores é necessário haver o objetivo de atender às “necessidades fortemente sentidas pelos professores e desenvolver-se de acordo com o seu ritmo”. Afirmam, ainda, que tais trabalhos podem constituir ótimas oportunidades de desenvolvimento profissional. Para tanto, afirmam os autores ser necessário um tempo maior para garantir os “interesses comuns de todos os participantes e desenvolver-se no quadro uma relação de confiança mútua. Os interesses pessoais de cada um dos participantes (professores e investigadores) não têm de ser os mesmos, mas têm de ser articulados no decurso das actividades desenvolvidas que, elas sim, precisam de ter objectivos comuns” (p. 31).

Serrazina (1998), ao pesquisar a capacidade de reflexão dos professores de matemática com quem trabalhou, observou que há uma relação entre a autoconfiança e os conhecimentos específicos da área. Segundo observações da pesquisadora, a capacidade de refletir a própria prática “tornou-se mais profunda à medida que aumentava a sua autoconfiança que, por sua vez, estava ligada ao aprofundamento dos seus conhecimentos de Matemática”. Afirmam ainda que tal situação pode gerar um certo desconforto, “pois as suas certezas [do professor reflexivo] são muitas vezes abaladas. Neste caso, a existência de uma equipa colaborativa, onde todos possam discutir pode ser muito útil” (Oliveira e Serrazina, 2004, p. 12).

Diante do exposto, consideramos, assim como a autora, que o fato de priorizarmos a pesquisa que propicie ao professor um espaço para a discussão mais aprofundada do conteúdo pode permitir uma maior profundidade também nas reflexões efetuadas durante e depois da pesquisa. Assim, apoiados nas idéias de Serrazina (1998, 2004), escolhemos estudar o significado da representação fracionária dos números racionais a partir de uma pesquisa de intervenção com o objetivo de garantir um maior aprofundamento das reflexões. Apoiamo-nos também em pesquisas da autora, entre outras, para focar nosso trabalho num campo específico do conhecimento – a matemática – , e num conteúdo determinado – a representação fracionária dos números racionais.

Ainda sobre a questão da reflexão específica no ensino de matemática, Oliveira e Serrazina afirmam que,

... quando se pensa em ensino da Matemática, a reflexão pode partir de diversos

aspectos, uns relativos à organização e gestão da sala de aula, outros relativos à compreensão da matemática, isto é, à medida que se ‘conversa reflexivamente com a situação’ vai-se sendo capaz de tornar explícito o seu conhecimento matemático – falar sobre os procedimentos e não apenas descrevê-los (2004, p. 5).39

A análise desses aspectos parece-nos de fundamental importância neste trabalho, já que trataremos do desenvolvimento profissional docente e pretendemos fazer das entrevistas não só uma descrição de procedimentos, mas um momento de reflexão sobre esses e outros aspectos, para tentar explicitar não só o conhecimento matemático, ou até mesmo didático, sobre determinado assunto, mas principalmente, suas relações com a docência.

Outra questão não menos importante que deverá ser levada em conta é a do tempo necessário para que esse processo realmente se efetive. Mais uma vez observamos em estudos de Oliveira e Serrazina (2004), que se baseiam nas idéias de teorias em ação (Schön, 1983), que estes chamam a atenção para o fato de ser necessário destinar um tempo para que os professores explicitem e avaliem essas teorias, ou seja:

Para isso têm de começar por explicitar as suas teorias defendidas (o que dizem sobre o ensino) e as suas teorias em uso (como se comportam na sala de aula). Só avaliando as compatibilidades e incompatibilidades que existem entre estes dois elementos da sua teoria de acção e os contextos nas quais ocorrem serão os professores capazes de aumentar o seu conhecimento do ensino, dos contextos e de si próprios como professores. Pode dizer-se que a reflexão contribui para a consciencialização dos professores das suas teorias subjectivas, isto é, das teorias pessoais que enformam a sua acção (Oliveira e Serrazina, 2004, p. 8).

Isto posto, acreditamos ser necessário que a formação tenha uma certa rotina no que se refere à prática reflexiva. Não será perceptível o que realmente acontece nesse desenvolvimento profissional se realizarmos poucas sessões de trabalho. Parece-nos, porém, ser importante tentar estabelecer essa “rotina” de vivências e reflexões.

39 Artigo apresentado como texto base da Palestra do dia 03 de agosto, “Reflexão e práticas reflexivas”, no

Em relação ao ensino da disciplina, ao considerar o professor de matemática e a equipe escolar, Oliveira e Serrazina (2004) afirmam que é preciso garantir ao professor, no seu contexto social e cultural, espaço no qual seja possível: “... analisar a situação concreta, perceber os alunos com que está a trabalhar, o que se espera que eles aprendam em Matemática, o que se entende hoje por aprender e ensinar Matemática e o seu papel na formação pessoal e social do aluno” (p. 8), o que lhe garantirá uma maior autonomia. As autoras justificam, assim, a importância da reflexão numa equipe colaborativa.

Concluem que, por meio dessa equipe colaborativa, a reflexão “... funciona como o espaço onde se colocam e discutem as questões que resultam da prática, onde se sentem novas necessidades e se constroem novos conhecimentos” (2004, p. 6 – grifos nossos).

À luz dessas idéias, podemos afirmar que a formação de uma equipe colaborativa é fator essencial para que a reflexão sobre a prática realmente ocorra. Assim, concordamos com Oliveira e Serrazina (2004) sobre a importância do trabalho com Equipes Colaborativas, quando afirmam que “... nessa sociedade plural em que se vive, caracterizada pela conflitualidade, incerteza e complexidade, os professores precisam desenvolver uma prática reflexiva, no sentido de transformar a sala de aula [e] que essa situação complexa pode ser enfrentada a partir de um trabalho Colaborativo” e que o mesmo pode “constituir um modo de lidar com a incerteza, encorajando a trabalhar de modo competente e ético” (p. 13).

Ao compartilharmos dessas idéias, consideramos que nossa pesquisa necessitará de uma equipe colaborativa a fim de haver mais segurança e cumplicidade entre professores.

Em face das considerações feitas até aqui e da necessidade de uma real transformação em sala de aula, evidencia-se a importância de uma prática reflexiva. Nesse sentido, compreender todas as questões que perpassam essa prática parece ser de fundamental importância, sejam elas fundamentadas em estudos de Schön, cuja valorização da pesquisa na ação constituiu-se em base para o que se convencionou chamar de professor pesquisador, seja em contribuições de Zeichner, quando chama a atenção para a importância da consideração do contexto social como objeto de reflexão e análise, seja nos estudos de Shulman, que chama a atenção para o conhecimento pedagógico do conteúdo,

ou, ainda, considerando a importância da reflexão a partir do trabalho colaborativo, envolvendo equipes de professores, como defendem Oliveira e Serrazina.

No documento ANGÉLICA DA FONTOURA GARCIA SILVA (páginas 65-69)