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Situação atual da formação de professores no Brasil

No documento ANGÉLICA DA FONTOURA GARCIA SILVA (páginas 49-53)

NOVOS DESAFIOS PARA A PROFISSÃO PROFESSOR

2.1 A LEGISLAÇÃO E A FORMAÇÃO DE PROFESSORES

2.1.3 Situação atual da formação de professores no Brasil

Observamos que o nível de formação dos professores no Brasil tem melhorado nos últimos anos. Na tabela abaixo, é possível perceber que, de 1999 a 2005, houve um acréscimo de 747.031 professores com formação em nível superior e que, no mesmo período, diminuiu o número de professores com nível fundamental ou médio:

Tabela : Formação docente no Brasil Ano Fundamental

completo

Nível médio Superior completo e sem Licenciatura Total 1999 130.949 1.022.257 1.208.632 2.361.838 2000 116.798 1.062.341 1.300.188 2.479.327 2001 89.883 1.106.184 1.387.201 2.583.268 2002 53.502 1.133.517 1.491.904 1678923 2003 37.992 1.096.790 1.642.039 2.776.821 2004 28.257 1.005.831 1.788.172 2.822.260 2005 25.144 904.538 1.955.663 2.885.367 2006 1.665.341 795.816 2.143.430 4.604.587

1) O mesmo docente pode atuar em mais de um nível/modalidade de ensino e em mais de um estabelecimento.

2) O mesmo docente de ensino fundamental pode atuar de 1.ª a 4.ª e de 5.ª a 8.ª série.

Fonte: MEC-INEP

Entretanto, é importante salientar que essa situação está longe da legalidade. A nova LDB (Lei 9.394/96), assim dispõe sobre a formação de profissionais de educação em seu artigo 62:

A formação de docentes para atuar na educação básica far-se-á em nível superior, em curso de licenciatura, de graduação plena, em universidades e institutos superiores de educação, admitida, como formação mínima para o exercício do magistério na educação infantil e nas quatro primeiras séries do ensino fundamental, a oferecida em nível médio, na modalidade Normal.

Oficialmente a LDB (artigo 62) prevê que a formação docente para os profissionais que atuarão na educação infantil e nas quatro primeiras séries do ensino fundamental deve ocorrer em curso normal superior ou em curso de nível médio, “flexibilizando” a trajetória de formação dos professores.

Ainda, com relação à questão do nível de formação, em 1999 o Decreto 3.276/99, numa tentativa de garantir a questão do ensino superior, estabelecia que a formação de professores para educação infantil e séries iniciais se faria exclusivamente em cursos normais superiores. Entretanto, tal expressão foi posteriormente modificada. O Decreto 3.554/2000 alterou o “exclusivamente” para a palavra “preferencialmente”.

Por fim, embora legalmente haja a determinação de que o patamar mínimo de formação do professor seja o nível médio,27 existe consenso quanto à importância de se buscar a formação de todos os professores em nível superior. Esse fato foi confirmado pelo Plano Nacional de Educação (PNE), com a Lei 10.172, de 9 de janeiro de 2001, que defende a melhoria da qualidade do ensino no País e reconhece que esta somente poderá ser alcançada com a “valorização dos profissionais da educação. Particular atenção deverá ser dada à formação inicial e continuada, em especial dos professores”. Esse documento ainda chama a atenção para a importância de se garantir “condições adequadas de trabalho, entre elas o tempo para estudo e preparação das aulas, salário digno, com piso salarial e carreira de magistério”. Ou seja, defende que melhorar a qualidade de ensino inclui propiciar aos professores, além das boas condições de trabalho e salário, também boas propostas de formação inicial e continuada.

No documento que discute o desenvolvimento profissional permanente desses professores, formados em nível médio, consta que ele será realizado em programas de formação continuada, incluindo modalidades à distância. Isso nos parece ser uma proposta emergencial para o problema e nos leva a crer que poderá comprometer a qualidade da formação desses profissionais.

Outro caso tratado pela legislação refere-se aos graduados em nível superior mas sem habilitação para o exercício do magistério que queiram dedicar-se à educação básica. Estes poderão adquirir habilitação por meio de programas de formação pedagógica oferecidos por instituições de nível superior.Quanto à formação, Brzezinski (2002) entende

27 A artigo 62 da LDB prevê que poderá ser admitida a formação de docentes para atuar na educação infantil e

nas quatro primeiras séries do Ensino Fundamental, inclusive a “ oferecida em nível médio, na modalidade de Normal”. Esse nível de ensino equivale ao Ensino Médio profissionalizante.

que o inciso II do artigo 6328 é um retrocesso e questiona a preocupação oficial relacionada a questões da especificidade e identidade da profissão docente ao permitir tal formação aligeirada.

E, finalmente, vejamos o artigo 67,29 que trata da questão da formação continuada. Carneiro (1998) observa que, no cumprimento do que estabelece o texto legal: “a Constituição Federal determina a obrigatoriedade de admissão de professores somente por concurso público – além da existência de plano de carreira e piso salarial (Art. 206, inc. V). O texto legal em análise ratifica o mandamento constitucional e determina que haja um aperfeiçoamento contínuo dos professores, a exemplo do exigido na legislação anterior (lei 5692/71, Art. 38). Além disso, que disponibilize o tempo para o planejamento de ensino e forneça condições adequadas de trabalho”30 (p. 152).

Por último, no âmbito do que está posto no artigo 67 da LDB, fica estabelecido que o professor conduz sua própria formação, refletindo sobre a prática e tomando decisões sobre ambientes de aprendizagem que concretizam o projeto pedagógico elaborado pelo coletivo da escola. Nesse sentido, o professor, ao se tornar sujeito da formação, torna-se também promotor de sua própria valorização.

Do que foi exposto, observamos que temos uma legislação que procura valorizar a questão da reflexão da prática e registra a importância de condições favoráveis para que isso ocorra. Todavia, devemos considerar que a lei não é suficiente para fornecer condições ideais de trabalho ao professor. Da nossa parte, pretendemos estender um pouco mais

28 “Art. 63. Os institutos superiores de educação manterão: I – cursos formadores de profissionais para a

educação básica, inclusive o curso normal superior, destinado à formação de docentes para a educação infantil e para as primeiras séries do ensino fundamental; II – programas de formação pedagógica para portadores de diplomas de educação superior que queiram se dedicar à educação básica; III – programas de educação continuada para os profissionais de educação dos diversos níveis.”

29

“Art. 67. Os sistemas de ensino promoverão a valorização dos profissionais da educação, assegurando-lhes, inclusive nos termos dos estatutos e dos planos de carreira do magistério público: I – ingresso exclusivamente por concurso público de provas e títulos; II – aperfeiçoamento profissional continuado, inclusive com licenciamento periódico remunerado para esse fim; III – piso salarial profissional; IV – progressão funcional baseada na titulação ou habilitação, e na avaliação do desempenho; V – período reservado a estudos, planejamento e avaliação, incluído na carga de trabalho; VI – condições adequadas de trabalho. Parágrafo único. A experiência docente é pré-requisito para o exercício profissional de quaisquer outras funções de magistério, nos termos das normas de cada sistema de ensino.”

30 Ver Constituição Federal, artigo 206, inciso VII, que define como um dos princípios do ensino a garantia de

nossos estudos com relação à Reflexão, a fim de entender melhor o contexto dessa garantia legal, já que, segundo o artigo 61 da LDB, um dos fundamentos da formação dos profissionais da educação é a reflexão sobre a prática, que possibilita a reorientação da ação docente. Trataremos, pois, da relação entre a formação continuada do professor e a reflexão sobre a prática.

Zeichner,31 por exemplo, já em 1992, ao proferir uma palestra sobre o professor como prático reflexivo no 11th annual University of Wisconsin Reading Symposium, questionava o uso do termo “prática reflexiva” nos processos de reforma educativa, dizendo que “em vez de dar aos professores mais controle sobre suas condições de trabalho, o discurso da reflexão produz, de forma sutil, novos dispositivos de controle e de dependência do corpo docente” (p. 10).

2.2 O DESENVOLVIMENTO PROFISSIONAL DO PROFESSOR, A FORMAÇÃO

No documento ANGÉLICA DA FONTOURA GARCIA SILVA (páginas 49-53)